Quinta-feira, 07.05.15

Netanyahu anuncia o  fim da «solução de dois Estados»  (-Thierry Meyssan,   )

      ...   Durante a sua campanha eleitoral, Benjamin Netanyahu (que voltou a ganhar embora por margem reduzida) afirmou que, enquanto ele vivesse, jamais os Palestinianos teriam o seu próprio Estado (da Palestina, e que recentemente foi criado e reconhecido por muitos países). Ao fazê-lo, pôs fim a um «processo de paz» que prolongadamente se arrasta, desde os acordos de Oslo (entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat ),há mais de 21 anos. Assim se acaba a miragem da (pacífica) «solução de dois Estados» (Israel e Palestina).   

     Netanyahu apresentou-se como um “rambo”, capaz de assegurar a segurança da colónia judia esmagando para isso a população autóctone.    Os eleitores escolheram a sua via, a da lei da força.  ... isso é pouco glorioso e não tem futuro.

     Netanyahu substituiu a força de paz das Nações Unidas pelo ramo local da Al-Qaida, a Frente Al-Nusra. Ele providenciou-lhe um apoio logístico transfronteiriço e fez-se fotografar com os chefes terroristas, num hospital militar israelita. No entanto, a guerra contra a Síria mostra-se uma armadilha trágica para todos, para as populações locais, mas também para o Ocidente e para os países árabes (sunitas e wahhabitas) do Golfo. Segundo a ONU, a República Árabe da Síria só consegue garantir o contrôlo de 60% do seu território, mas, este numero é enganoso já que o resto do país é um terreno totalmente desértico, por definição incontrolável. Ora, segundo as Nações Unidas, os «revolucionários» e as populações que os apoiam, quer sejam jiadistas ou «moderados» (...), não atingem mais que 212 mil entre os 24 milhões de sírios. Quer dizer, menos de 1% da população.

     O ataque contra o Hezbolla na fronteira do Golã, matando algumas personalidades incluindo um general dos Guardiões da Revolução e Jihad Moghniyé, mas ele foi imediatamente vingado. Enquanto Netanyahu afirmava que a resistência libanesa estava atolada na Síria e não conseguiria replicar, o Hezbolla, com uma fria precisão matemática, matou, alguns dias mais tarde, à mesma hora, o mesmo número de soldados israelitas na zona ocupada das granjas de Chebaa. Ao escolher as granjas de Chebaa, a zona mais guardada pelo Tsahal (significa Forças de Defesa de Israel), o Hezbolla lançava uma mensagem de poderio, claramente, dissuasora. O Estado hebreu compreendeu que não era, mais, o senhor absoluto do jogo, e encaixou esta chamada à ordem.

     Finalmente, o PM Netanyahu foi desafiar o presidente B. Obama denunciando, no Congresso dos EUA, os acordos que a sua administração negoceia com o Irão. Os Estados Unidos negoceiam com o Irão uma paz regional, que lhes permita retirar a maior parte das suas tropas. A ideia de Washington é a de apostar no Presidente Rohani, para fazer de um Estado revolucionário xiita uma "normal potência" regional. Os Estados Unidos reconheceriam/ aceitariam a influência/ poder iraniano no Iraque, na Síria e no Líbano, assim como também no Barein e no Iémene, em troca do qual Teerão deixaria de exportar a sua Revolução para África e para a América Latina. O abandono do projecto do Imã Khomeini seria garantido por uma renúncia ao seu desenvolvimento militar, especialmente, mas não apenas, em matéria nuclear (continuam a afirmar que não se trata da bomba atómica, mas de motores de propulsão nuclear). A exasperação do presidente Obama é tal, que o reconhecimento da influência do Irão poderia chegar até à Palestina.   ...

      As bravatas de Netanyahu visam mascarar o impasse no qual ele mergulhou os colonos judeus. Tendo ganho tempo, durante os últimos seis anos, em vez de aplicar os acordos de Oslo, ele só aumentou a frustração da população indígena. E, assim, vangloriando-se que conseguiu empatar a Autoridade palestina, para nada, ele provoca um cataclismo.

Desde logo, Ramallah anunciou que cessaria toda a cooperação securitária com Telavive se Netanyahu fosse, de novo, nomeado Primeiro-ministro, e aplicasse o seu novo programa. Se uma tal ruptura ocorrer, a população palestina da Cisjordânia, e a de Gaza certamente, deverão ter, de novo, de se enfrentar com o Tsahal (FDI). Isto daria a 3ª "Intifada".

     A população israelita não deseja guerra contínua nem nova intifada e os principais oficiais superiores, na reserva, do Tsahal (FDI) formaram uma associação, os Commanders for Israel’s Security (Comandantes pela Segurança de Israel), que não parou de alertar contra a política belicista e de afrontamento do Primeiro-ministro. Na realidade, é o exército, em conjunto, que se opõe à sua política. Os militares compreenderam, muito bem, que Israel poderia ainda estender a sua hegemonia, como no Sudão do Sul e no Curdistão iraquiano, mas que ele não poderia, mais, expandir o seu território. O sonho (sionista) de um Estado colonial do Nilo ao Eufrates é irrealizável, e pertence a um século passado.

    Ao recusar a «solução de dois Estados», Netanyahu acredita abrir a via para uma solução mas isso não é viável. O Primeiro-Ministro pode celebrar a sua vitória, mas ela será de curta duração.
    Na realidade, a sua cegueira abre a via a 2 opções: quer uma solução à argelina, quer dizer a expulsão de milhões de colonos judeus, dos quais muitos não têm nenhuma outra pátria para os acolher, ou uma solução à sul-africana, quer dizer a integração da maioria palestina no Estado de Israel segundo o princípio «um homem, um voto»; a única opção humanamente aceitável.

----- O general W. Clark revela que o Daesh é um projecto israelita    (26/2/2015)

     O general Wesley Clark, antigo comandante supremo da OTAN (NATO), disse à CNN que o  Emirado Islâmico (dito «Daesh» ou movimento terrorista "Estado islâmico"/ISIS /Califado Islâmico) tinha sido «criado pelos nossos amigos e aliados para derrotar o Hezbolla» (partido político-milícia libanesa xiita apoiada pelo Irão; e para desestabilizar/ derrubar o regime Sírio de Assad; ...).
     O general Clark punha, assim, claramente, em causa a responsabilidade de Israel.  Desde 2001, o general Clark é o porta-voz de um grupo de oficiais de alta patente que se opõem à influência israelita sobre a política externa dos Estados Unidos (e logo também da U.E., da NATO e  ONU),  aos seus desenvolvimentos imperialistas agressivos e à remodelagem do «Médio-Oriente Alargado». Ele opôs-se à implantação de tropas no Iraque e às guerras contra a Líbia e contra a Síria.
----- Notas:
. Israel é uma ocidentalizada democracia (a única, numa região de 'autocracias'/...) onde a origem étnica-social-religiosa/seitas de muitos cidadãos (imigrados dos 'países de leste/Rússia', do 'ocidente/EUA-Europa', 'África/outros', e os 'palestinos/árabes') é um factor importante nas opções político-eleitorais, sendo que a ortodoxia judaica/hebraica é mais militarista e direitista (e sionista). A rede/diáspora e o lobby judaico nos EUA e Europa tem grande poder e influência  financeira, mediática e político-governativa.
. Síria (e em parte o Líbano), embora com problemas de governação (interna e também fomentados do exterior), tem/tinha 'aceitável' convivência/tolerância  entre diferentes religiões/ seitas (xiitas, sunitas, drusos, cristãos ortodoxos, latinos/católicos, arménios, melquitas, ...), sob um regime republicano 'laico', e servindo de base a diversos movimentos/milícias (de belicosa actuação interna e/ou externa).
. Jordánia tem bastante homogeneidade étnica-social-religiosa  e um regime (monárquico ocidentalizado) moderado, mas sendo fortemente influenciada pela  guerra Israel-Palestina  e os movimentos de refugiados, tal como os outros vizinhos.
.. Estados  (e suas agências, militares, políticos, lobbies)  e  entidades privadas (especialmente multinacionais e oligarcas)  apoiam um e/ou outro lado (governo, partido, seita,  milícia, ...), favorecendo o continuar do  conflito e  instabilidade regional  (e  beneficiando com isso, tanto em influência  (política, militar, religiosa, exportação de ideias/crenças/fiéis), como  em lucrativos negócios  (de  armas,  petróleo, "reconstrução/ajuda", investimentos/ moeda$£€, ...), e desviando a atenção e críticas  dos seus próprios  problemas internos e má governação)... (Ver também o 'post' « Guerra e destruição é  oportuno  filão para a  plutocracia  e  máfias»).


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Quinta-feira, 05.09.13

Por razões de estupidez, Damasco usou o gás sarin para facilitar a invasão do país

 Fotos fazem crer numa revolta de militares americanos ... Estava anunciado há muito que, se o regime sírio usasse armas químicas contra os rebeldes, os EUA não tinham outro remédio senão intervir militarmente, derrubar, o actual governo,  em defesa dos da liberdade e da democracia.

      O governo de Damasco, sabendo isto, e estando desde há meses na mó de cima na luta contra os insurgentes sírios, decidiu por razões de estupidez, atacar um bairro dos arredores da capital com gás sarin e assassinar indiscriminadamente 1300 civis, incluído muitas crianças que a imprensa, TVs e Internetes de todo o mundo mostraram revoltando contra Damasco a humanidade (que lê ou vê estas notícias) ... Veio mesmo a calhar porque a decisão de intervir já estava em preparação mas era necessário ter o apoio da massa ignara que dá os votos de vez em quando.
     Talvez, talvez, talvez, que daqui por uns anos, quando a administração norte-americana, vencidos os prazos, abrir à consulta a sua documentação secreta, lá venha a informação que hoje nos escapa :  os serviços secretos israelitas, a pedido da CIA, forneceram a uma célula da Al Qaeda X (ou dos opositores ao regime) doses de gás sarin para ajudar os nossos amigos, democratas e amantes da liberdade, a verem-se livres do horrível ditador Bashar Al-Assad eliminando uns 1300 desgraçados, nos arredores de Damasco. Infelizmente havia muitas crianças mas paciência. Ou tanto melhor, dado que uma muito bem conseguida  campanha de informação atribuiu a responsabilidade do crime ao presidente da Síria.
    Talvez. Talvez. Não é que o campo oposto não fosse capaz de um crime daquele jaez mas os ideais do imperialismo apenas se medem em dólares ou euros, petróleo ou outras riquezas naturais. É claro que já não vivemos tempos tão propícios aos mandantes e poderosos como aqueles em que aniquilaram milhões de seres humanos para lhes roubarem tudo, como sucedeu, por exemplo, na conquista das Américas, ao ponto de povos e civilizações inteiras terem sido destruidos na totalidade. Depois a ”nobreza do dinheiro” teve  de se ir conformando com as conquistas da plebe, consequência de grandes e vitoriosas lutas do “terceiro estado”  e tem de lidar com essa chatice das eleições e dos votos. Mas conseguiram, controlando a educação, a comunicação social, corrompendo, mentindo, falsificando, por vezes de forma tão monstruosa que ninguém de boa consciência pode sequer admitir que se trate de falsidades.
    Na realidade não sei quem cometeu o crime monstruoso nos arredores de Damasco.  É certo que já em Maio passado, a ex-Procuradora do Tribunal Penal Internacional e membro da comissão de inquérito da ONU sobre as violações dos Direitos Humanos na Síria, Carla del Ponte dissera, numa entrevista à Rádio Suíça italiana que: "De acordo com as provas que recolhemos, os rebeldes utilizaram armas químicas, fazendo uso do gás sarin" [Link].”  Mas se ele só aproveitaria a quem quer a intervenção militar, admitindo que Damasco não é um manicómio, tudo parece apontar para uma operação montada para justificar a intervenção armada na Síria. Mas seriam as potências ocidentais, cristãs, democratas, paladinas da defesa dos direitos humanos, capazes de uma monstruosidade destas, numa atitude de os fins justificam todos os meios?
    O que se passou com o Iraque, as provas forjadas, ou apenas enunciadas das armas nucleares que o Iraque tinha, provas tão evidentes que até Durão Barroso as viu nas mãos de W. Bush deixa qualquer pessoa no seu juízo de pé atrás com as políticas dos imperialistas (e das multinacionais 'atrás da cortina').    Afinal o truque, se é que esta chacina é de facto uma armadilha, é velho. Em 1939 Hitler vestiu uma fardas polacas a militares alemães despejou-os do outro lado da fronteira, na Polónia, eles dispararam uns tiros para o lado de cá, contra a pátria sagrada dos nazis e Hitler cheio de razão e apoiado por muitos alemães, justamente indignados com o traiçoeiro ataque dos polacos, invadiu a Polónia e foi por aí fora acabando a suicidar-se 6 anos e 50 milhões de mortos depois, no Reichstag. Já antes Hitler tinha mandado incendiar o Reischtag (o Parlamento) para acusar do crime os comunistas alemães e assim, com a moral do seu lado, ilegalizar o PC alemão e de caminho os socialistas.
    ...
    As guerras de rapina por vezes, no curto prazo, dão prejuízo financeiro. Mas é ao país! Os custos são pagos pelo contribuinte e os grandes, os gigantescos, os inimagináveis lucros são de quem investiu… na guerra.
    Não sei se a realidade da Síria é esta que aqui apresento. Mas não me espantaria. Não é nada que não possa ser feito por quem apoiou a criação do exército taliban no Afeganistão, protetor e apoiante da Al Qaeda (parceria EUA/Arábia Saudita/Paquistão). Era para combater o regime meio comunista lá instalado, que deu liberdade a metade do país – as mulheres, que passaram a poder ir à escola, a poder andar na rua sem a trela de um homem, etc, mas era uma regime que só conseguiu o poder com o apoio da União Soviética. Para o derrubar valia tudo. O pior foi que a hidra virou-se contra o seu criador.
Petróleo, negócio de armas (que convém tirar aos russos possuidores do mercado da Síria), geoestratégia. Direitos humanos, petróleo, liberdade, negócio de armas, democracia, petróleo, oleodutos, petróleo, petróleo.


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