Os incidentes que têm vindo a ser reportados na Central Nuclear de Almaraz, em território espanhol, (no rio Tejo,) muito próximo da fronteira portuguesa, não tiveram nenhuma gravidade, mas tal facto não é razão para deixar o Governo despreocupado, disse esta manhã na Assembleia da República o ministro do ambiente, Matos Fernandes.
Durante uma audição conjunta das comissões parlamentares do Ambiente e Economia sobre o Orçamento do Estado para 2016, Matos Fernandes anunciou que o Governo português já diligenciou, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o pedido de obtenção "do máximo de informação possível" sobre o funcionamento dessa central.
No último mês, depois de notícias de que inspectores do Conselho de Segurança Nuclear espanhol têm alertado para falhas no sistema de arrefecimento de serviços da central nuclear, partidos da oposição e associações ambientalistas transmitiram preocupação com as consequências para Portugal.
"Temos tido relato do que tem acontecido”, referiu João Matos Fernandes, acrescentando, "sem querer minorar" o caso, que a autoridade espanhola que segue o sector classificou na sua escala de análise com "zero"- "A autoridade espanhola reconhece a existência destes incidentes, mas, numa linguagem simples, nem incidentes são", referiu o governante. "Não tem qualquer tipo de gravidade, mas não é razão para não estarmos preocupados ", disse ainda João Matos Fernandes.
Passaram trinta e cinco na passada terça-feira desde que em 12 de Abril de 1976 os habitantes de Ferrel se rebelaram contra a possibilidade de aí se construir a primeira central nuclear portuguesa, como recordou a Gazetas das Caldas.
A existência de uma fractura sísmica na zona de Ferrel juntou-se aos restantes argumentos contra os perigos da energia nuclear.
Nessa altura os defensores do nuclear sublinharam os progressos tecnológicos verificados, que em sua opinião tornavam segura a opção pelo nuclear.
Passados anos, o trágico acidente nuclear, ocorrido em 26 de Abril de 1986, em Chernobyl, veio demonstrar que a segurança afirmada era manifestamente exagerada.
Posteriormente os defensores do nuclear passaram, de novo, ao ataque. O seu grande argumento consiste no enorme desenvolvimento tecnológico que se verificou desde Chernobyl que teria tornado ainda mais seguras as centrais nucleares. A sucessão de trágicos acontecimentos que se têm verificado no Japão, veio demonstrar, com clareza, as ameaças que a opção nuclear implica para a vida, segurança e saúde dos cidadãos.
Como sublinhava o Expresso: “…mais de um mês depois do terramoto e do tsunami (…) o nível de alerta da catástrofe de Fukushima Daiichi passou de cinco para sete, devido à quantidade de produtos radioactivos já libertados na atmosfera”, que corresponde ao máximo da escala de segurança, “o que significa simplesmente que a situação está fora de controle, à semelhança do que aconteceu em Chernobyl e que não se podem ainda prever as consequências da actual situação. Ninguém ignora que são invulgares as situações de desastre natural que contribuíram para esta situação. Também não podemos ignorar a evolução tecnológica, a cooperação científica e tecnológica que se tem verificado para apoiar os responsáveis japoneses, nem o elevado nível de organização social que se verifica no Japão. Apesar disso e do tempo já decorrido a situação permanece com a gravidade que se conhece.
Não foi, por acaso, que Angela Merkel mandou encerrar um conjunto de centrais nucleares e que tantos milhares de cidadãos promovem no Facebook uma campanha contra a utilização do nuclear a nível da Europa exigindo um referendo sobre esta matéria. Portugal está numa posição privilegiada, porque os governos socialistas de José Sócrates não só têm recusado a opção pelo nuclear, como têm estimulado o desenvolvimento das energias renováveis (eólica, fotovoltaica) e da energia hídrica.
Portugal é hoje um exemplo a seguir, um país em que o consume de electricidade renovável proveniente dos pequenos produtores descentralizados é maior do que o das grandes centrais térmicas a carvão e a gás natural. Neste momento de depressão, provocada pela crise da dívida soberana, é fundamental ter consciência que esta é uma marca de desenvolvimento sustentável baseado em fontes alternativas de energia. É verdade que a produção de energia renovável tem sido subsidiada por todos nós através das facturas de electricidade, mas os subsídios estão a diminuir e deixarão de existir a partir de 1029.
Não se pode ignorar, além disso, que a aposta nas renováveis tem diminuído a nossa dependência energética e os gastos na compra de energia ao exterior, tendo permitido gastar menos 800 milhões de euros na importação de energia em 2010.
Também não podemos ignorar as conclusões de uma simulação de um acidente nuclear como o de Fukushima, realizada na Escola Prática de Engenharia do Exército, em Tancos, um acidente em Portugal. Segundo o Público, de 17/04/2011l, concluiu-se que a radioactividade chegaria a 12 mil Km2, afectaria 1,6 milhões de pessoas em 48 horas, dos quais 1671 teriam de receber cuidados de saúde.
Os riscos e os custos da energia nuclear têm sido sistematicamente subestimados. É lamentável que só acidentes como o de Fukushima obriguem a opinião pública a tê-los em conta. Nesta matéria é sintomática a forma como se esquecem no dia-a-dia os riscos e os custos do armazenamento dos resíduos nucleares.
É significativo, que no mesmo jornal, Carlos Pimenta, ex-Secretário de Estado do Ambiente, recorde que uma fuga grave de radioactividade na central nuclear espanhola de Almaraz, o tenho levado nessa altura a quase ordenar o corte do abastecimento de água a Lisboa. Por tudo isto devemos recordar a revolta dos habitantes de Ferrel e saudá-la, bem como o facto dos governos socialistas de José Sócrates, como já referimos, terem sempre apoiado o desenvolvimento das energias renováveis e recusado a opção pelo nuclear.
José Leitão [Inclusão e Cidadania]
Aqueles evangelistas do lucro que, à boleia do ideário de Passos Coelho, regressam agora a pregar contra o que de mais decente José Sócrates fez por Portugal (a aposta nas energias renováveis) dizendo que a energia nuclear é "limpa", demonstram ter conceitos de higiene que não merecem qualquer credibilidade. Alguém acredita que esta gente queira agir em prol do bem comum? Será assim tão difícil adivinhar que interesses se movem por trás da insanidade e da ganância destes irresponsáveis? Não falemos de Three Miles Island ou de Chernobyl mas vejamos, num exemplo muito recente, de que "limpeza" e "segurança" estamos a falar:
No Expresso de 12 de Julho de 2008 , lia-se na pág 41 que «360 quilos de urânio provenientes das instalações nucleares francesas de Tricastin (Avinhão) contaminaram terça-feira dois afluentes do Ródano, devido a uma fuga de água. Entetanto, no norte da Alemanha, em Asse (Baixa Saxónia), foi detectada outra fuga radioactiva, esta numa antiga mina de sal onde eram guardados resíduos nucleares.»
Reportou depois Daniel Ribeiro, o enviado do Expresso (25 de Julho 2008, 1º caderno, pág. 31) ao local, que a contaminação produzida na sequência das fugas radioactivas na central nuclear de Tricastin não só contaminou 100 funcionários como provocou ainda, nas vilas e aldeias em redor, um desastre social, pois este acidente, envolvendo a perda de 360 quilos de urânio - ou "apenas" 74, segundo outros cálculos - aconteceu no momento em que se veio a saber que os lençois freáticos que abastecem de água toda a região, estão contaminados desde há vinte anos, devido aos detritos de uma base militar de enriquecimento de urânio existente também em Tricastin. Por toda a região, os produtores de vinho, frutas e legumes, assim como o comércio, os restaurantes e os hotéis estão em desespero de causa, pelas consequências que isto trouxe para a região.
Energia limpa e segura? Quem quererá acreditar nestes porcalhões?
Apenas os cosmocratas, os demagogos e os iluminados do empreendedorismo, que em tudo vêem "oportunidades" de negócio. A esta nova burguesia planetária, se lhes envenenarem a mãe, os filhos e os netos, esfregarão as mãos de contentes, pela oportunidade de crescimento que isso representará para os seus negócios.
Os porcalhões domésticos - que, ao que parece, estão à direita, ao centro e à esquerda e tanto devem usar o cilício como o avental - esperam, certamente, assegurar o retorno dos seus investimentos. E, como sempre, cá estarão depois os contribuintes para pagar as derrapagens orçamentais e os roubos dos barões, dos duques e dos condes; o titubeante sistema de justiça (?) para alimentar a sempiterna novela da corrupção servida nos telejornais à hora do jantar logo a seguir aos resultados do futebol, esse grande desígnio nacional; os oceanos para depositar os resíduos perigosos (servirá para isso o alargamento da plataforma continental?...), como quem varre o lixo para debaixo do tapete; e as gerações vindouras para lutar contra o cancro, as leucemias, o desastre ambiental, o holocausto higiénico que nos propõem...
Na foto acima, da autoria de Matthew Schneider, vê-se a torre de arrefecimento de uma central nuclear americana - Trojan, no Oregon - cujo processo de desmantelamento se iniciou em 1993 e ainda não terminou (há vários clips no You Tube que mostram a implosão desta torre). Ao longo da sua existência teve várias fugas de água contaminada, a quantidade de energia que produziu foi diminuta face às necessidades de abastecimento no estado do Oregon e, ainda por cima, revelou-se um verdadeiro desastre financeiro.
Para termos uma ideia do que é trabalhar numa central nuclear, recomendo vivamente o filme Silkwood, de 1983, com a grande Meryl Streep. Trata-se de uma história verídica que retrata a luta de uma sindicalista e trabalhadora de uma central nuclear do estado de Oklahoma - Karen Silkwood (1946-1974), de seu nome, morta em circunstâncias pouco claras.
- por Francisco Oneto em 1.4.10 Ladrões de Bicicletas
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2010/04/nuclear-nao-obrigado.html
Antes ser activo hoje do que radioactivo amanhã
Criação de empregos graças à energia nuclear
Ele há formas de energia que não lembram ao Diabo!...
Quando o editorial do Diário Económico de 5 de Abril defendeu que o debate sobre o nuclear “não pode ficar refém de um preconceito“, fazendo assim eco do já velho estribilho da “discussão sem tabus” sempre gargarejado pelos adeptos da energia nuclear, não deveremos pensar só em açordas de sável radioactivo servido nas tascas pegachas – do Pego, em Abrantes, uma das localizações prováveis para a construção de uma central nuclear (e onde os 33 que assinam o tal manifesto certamente escolherão construir as suas novas moradias…) – mas, antes, em resíduos. Os resíduos da indústria nuclear de que Mira Amaral não irá falar ao Presidente da República quando, em representação dos interesses do grande capital e desse poderoso alfobre de ciência e de influência que é o Instituto Superior Técnico (onde nasceu o tal manifesto) lhe for apresentar as razões do seu lobby.
O urânio, para servir de combustível a um reactor nuclear tem que ser enriquecido, mas depois de cumprida a sua função produtiva fica pobre e passa a ser conhecido internacionalmente por DU (depleted uranium). Nem assim, contudo, perde a sua utilidade, pois para além da possibilidade de se encerrar este perigosíssimo resíduo em contentores de chumbo e cimento e de o lançar para os abismos oceânicos, restará ainda, talvez, a possibilidade de aliviar a estrutura de custos do empreendimento com uma oportunidade de negócio: vendê-lo para o fabrico de munições, como as que foram utilizadas na ex-Jugoslávia e no Iraque onde, tal como na sequência do desastre de Chernobyl, causaram o aumento exponencial dos casos de cancro e leucemias, para além dos muito reportados fenómenos teratogénicos: o elevado número de nasciturnos gravemente doentes e com malformações. Serão essas crianças, as suas famílias e os médicos que os tratam, reféns de um preconceito?
Mais do que a mera contabilidade das dezenas ou centenas de mexias (unidade equivalente a 3.000.000 €…) que arrecadarão os apóstolos do nuclear (deixando os prejuízos, como já é hábito, para o erário público que subsidiará abundante e prolongadamente os ganhos destes abutres), ou dos mesquinhos problemas políticos e de gestão em torno do preço da energia eléctrica, é para as imagens das crianças de Chernobyl, Vranje ou Fallujah que devemos olhar – e olhar, sim, sem preconceito e sem tabus, como tanto reclamam os que anseiam pelo advento do nuclear. Porque o patamar em que se colocam os problemas deste tipo de fonte de energia não é apenas o dos negócios dos Patricks Monteiros de Barros deste mundo, nem o da (ir)racionalidade de uma política energética destinada a incentivar a competitividade na economia (isto é, o desperdício), como nos querem fazer crer, mas, sobretudo, o da extensão e da irreversibilidade dos danos ambientais e humanos decorrentes do uso desta tecnologia.
- por Francisco Oneto, em 10.4.10 Ladrões de Bicicletas
Num comentário a este post de Henrique Pereira dos Santos, escreve o Engº Jorge Pacheco de Oliveira, um dos autores e redactores do tal manifesto dos 33: «queria elogiar a sua sagacidade ao descobrir a energia nuclear num Manifesto em que o termo “nuclear” não aparece uma única vez. Estou a ironizar, é óbvio, mas se estivesse no seu lugar teria tido a mesma clarividência. Qual a alternativa à política energética do pseudo engenheiro que empata o cargo de Primeiro Ministro, senão a opção nuclear? (…) Aliás, devo dizer-lhe que, pela minha parte, eu teria explicitado a proposta do nuclear no Manifesto. Votei vencido, mas enfim, em Portugal é difícil reunir um grupo capaz de afrontar o politicamente correcto de peito feito».
Se dúvidas houvesse quanto às intenções do dito manifesto, já estamos esclarecidos. Mas atenção, que isto não é só uma guerra de engenheiros a ver quem é que quer ser califa no lugar do califa. Há uns anos atrás, defendia o supracitado Engenheiro:
«Aquilo que critico à Administração norte-americana na invasão do Iraque é o facto de não ter utilizado uma força muito mais destruidora para aniquilar todas as veleidades do inimigo. Quando se vai para uma guerra não se pode deixar o inimigo em condições de retaliar e de matar os nossos soldados da forma inglória a que se assiste no Iraque. Se eram necessárias armas nucleares tácticas, pois que fossem utilizadas.»
E o malandro do Amadinejad, também deve estar a pedi-las, hein?!!!... Temos aqui, portanto, um elixir mágico à base de urânio enriquecido para a resolução dos grandes conflitos internacionais (não custa nada, é só carregar no botãozinho) e, melhor ainda, para o problema nacional da competitividade. E palpita-me que o código de procedimentos vem escrito na nossa 2º língua oficial.
É ver quem mata mais barato! Quais tabus, qual quê?!
- por Francisco Oneto, em 3.4.10, http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/
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