Segunda-feira, 07.03.16
----- O nosso "dia" (-por Helena Sacadura Cabral, 08.03.2015) Gosto de ser mulher. Não invejo os homens e quanto mais velha sou, mais tenho consciência dos seus (in)justificados receios. Mas não gosto de quotas ou comemorações de género porque elas representam que os "outros" ainda as consideram necessárias.
O que eu quero é que não haja (assédio nem) violência sobre elas, que o seu salário não seja inferior ao do seu semelhante, que as suas oportunidades sejam iguais, que a maternidade seja encarada como uma opção séria e não um obrigatório modo de vida, que os filhos sejam uma escolha de dois e não apenas de um.
Ou seja, quero poder ser diferente do homem sem por isso ser discriminada ou menos respeitada. Quero, enfim, ter direito a ser mulher (livre e com direitos) e fazer parte do meu género sem que compita aos homens concederem-me uma parte desse direito.
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Ui, ui hoje é o meu dia ! (-por Teresa Ribeiro, em 08.03.15) Quando me perguntam se gosto de ser mulher, respondo que não. Lamento, mas neste aspecto não soube evoluir. Desde que percebi, ainda na primeira infância, que o mundo é dos homens, este sentimento ficou-me colado aos ossos e não há campanha publicitária de pensos higiénicos que me faça mudar de ideias.
Esta rejeição, que cresceu comigo, nada tem a ver com problemas de identidade sexual. Gosto de cor-de-rosa, de bebés e de sapatos, portanto não há qualquer dúvida, sou muito estereotipada, o que paradoxalmente só veio agravar a relação conflitual que tenho com o meu género desde que me conheço.
Gostava em menina de brincar com bonecas, mas não da terna displicência do meu avô, que só tinha conversas com o meu primo, mas não sabia do que falar comigo. Identificava-me com as princesas das histórias de encantar, mas detestava que me apontassem as regras de comportamento "próprias de uma menina" - sempre mais restritivas que as dos meninos - e ainda mais que fossem a minha mãe, as minhas tias e a minha avó a ditá-las. Gostei de crescer com estas mulheres, mas revoltou-me perceber que, por razões diferentes, todas abdicaram de uma maneira ou de outra do que podiam ter sido só pelo facto de terem nascido com um par de ovários.
Na vida adulta pus-me à prova. De um lado os meus ressentimentos e reivindicações feministas, do outro a realidade, esse tapete onde caí tantas vezes por KO. E tem sido esta a minha vida. Sempre a sopesar o que sou e o que somos. Eu e as mulheres. Eu e elas. Eu que sou elas. Admiro as mulheres que dizem que se orgulham de ser mulheres, mas quando as oiço não consigo iludir a tristeza funda que me nasce da consciência de que o fazem pela necessidade de se afirmarem como iguais. A misoginia, a doença infantil do homem das cavernas, continuará a discriminar, segregar, matar, estropiar e escravizar milhões de mulheres (e meninas) em todo o mundo. E é a consciência disto que me mata à nascença o prazer de pertencer à tribo e ainda mais de festejar esta data. Festejar o quê?
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No Dia Internacional da Mulher uma confissão machista:
não dou grande importância ao dia. Cumpro os rituais habituais:
desejo um bom DIdM
às mulheres importantes na minha vida, coloco um post no blog ou facebook, compro possivelmente uma flor para a minha mãe. Vejo contudo o dia como
pouco mais que uma nova versão do Dia dos Namorados:
sem significado a não ser dizer que existe.
Vejamos as coisas por este prisma: para quem - como eu - entenda que as mulheres e os homens têm que ter uma efectiva igualdade de direitos e que a sociedade tem que criar condições para que estes existam (atendendo a que há diferenças muito reais entre homens e mulheres), o dia não tem grande importância. Eu - e muitos outros como eu - não necessito de ser recordado da importância de lutar pela igualdade de direitos. Para quem esteja no pólo oposto, a questão é ainda mais simples: o dia não fará qualquer diferença. Para quem esteja algures no meio, dizer que o dia 8 de Março é o Dia Internacional da Mulher, sem mais, também pouco adiantará.
O Dia Internacional da Mulher parece-me então ser uma espécie de esmola: dão-se os parabéns às mulheres e siga a vida como sempre que a consciência está aliviada.
Os direitos das mulheres, embora mereçam um dia para serem recordados, devem ser conquistados (e defendidos e usufruídos) todos os dias, geração a geração, entre pequenos gestos e grandes acções. Um dia como este só faz sentido se for usado da mesma forma que os feriados civis nacionais o são: com actividades que chamem a atenção para o assunto. De outra forma, qualquer dia teremos as televisões a anunciarem os descontos do Dia Internacional da Mulher para quem compre uma dúzia de lírios.
(-
por Luís A.-Conraria,8/3/2015, http://destrezadasduvidas.blogspot.pt/2015/03/quotas-femininas.html)
QUOTAS FEMININAS
Nesta excelente entrada, a Sara P. diz que leva a sério o seu preenchimento da quota feminina neste blogue. É um assunto sempre muito debatido, devem as quotas ser impostas ou não? (Sim, enquanto não se atingir um nível digno de literacia e de igualdade liberdade e solidariedade).
No ano passado, depois de algumas conversas com uma amiga (feminista), a verdade é que me fui tornando um activista da causa feminista e a considerar a hipótese de fazer parte de um movimento nesse sentido. Talvez por isso tenha ficado mais alerta. E houve um dia em que reparei que este blogue com sete co-autores não tinha uma mulher. E, verdadeiramente, pareceu-me absurdo.
Por essa altura, decidi convidar 4 mulheres para fazerem parte do blogue. A Sandra M., a Sara P., a Vera G.B. (que por motivos profissionais teve de abandonar o blogue) e a Rita C.. Diga-se de passagem que eu já tinha pensado convidar cada uma delas antes. Apenas não o tinha feito porque pensava que não estariam interessadas. Mesmo assim, senti-me um pouco envergonhado ao convidá-las por atacado. Ainda por cima, a Sara P. reagiu logo a perguntar-me se eu a estava a convidar para preencher a quota feminina. Fiquei sem saber o que responder.
Quase em simultâneo, e apenas por coincidência, fui convidado a escrever na Maria Capaz. E fui convidado precisamente para preencher a quota masculina dessa plataforma feminina/feminista.
Tudo isto das quotas pode parecer a muitos um pouco absurdo. Mas a verdade é que alguns dos melhores artigos da Maria Capaz foram escritos por homens (incluindo o meu, diga-se). No caso deste blogue, permitam-me, mais uma vez, a falta de modéstia, a diferença foi fabulosa. Ganhou uma vivacidade, poder de choque e uma qualidade que não tinha graças às novas autoras.
Talvez um dia, quando as empresas forem pressionadas a ter mais mulheres em lugares de topo, percebam isto mesmo. Só têm a ganhar. Não porque as mulheres sejam melhores (ou piores) do que os homens, mas, simplesmente, porque, ao considerarem a possibilidade de recrutar mulheres para lugares de topo, verão duplicada a sua base de recrutamento. E, obviamente, o melhor de entre 100 homens não poderá ser melhor do que a melhor pessoa de entre 200.
Um bom Dia da Mulher para todas e para todos. Mas, em especial, para a minha mulher, que já percebeu que tem um tecto de vidro invisível para quebrar, e para as minhas duas filhas.
----------- IsabelPS:
Uma vez fiz parte dum júri, melhor dizendo, fui assessora dum júri constituído só por homens: corrigi provas escritas e fiz perguntas nas orais de acordo com as minhas capacidades linguísticas, mas só eles tinham direito de voto.
Para meu grande espanto constatei que quando eu fazia uma pergunta a um homem era frequente que ele respondesse duma forma para mim inesperada, quando os meus colegas faziam uma pergunta a uma mulher, acontecia muitas vezes o mesmo: a resposta delas, que me parecia perfeitamente razoável, era visivelmente muito surpreendente para eles.
Tornou-se-me evidente (por isto e por outras coisas que não tinham a ver com género) que os "grupos" tendem a seleccionar quem seja semelhante a eles. Não é por mal, nem é de propósito, mas pura e simplesmente quem seja diferente corre um altíssimo risco de não ser escolhido/ entendido nas suas respostas.
Logo aí decidi que, se eu mandasse, os júris da minha instituição teriam de ser obrigatoriamente constituídos por homens e mulheres. E desde então olhei para as quotas com outros olhos.
----------- Zé T.:
À parte a justeza de acesso e participação das mulheres ...- convém introduzir as Quotas também para salvaguardar o acesso dos HOMENS, sim para proteger os FUTUROS candidatos do outro género a qualquer coisa, pois as mulheres (na sociedade portuguesa e ocidental) estão a conquistar/ obter a maioria dos lugares em várias profissões e categorias:
mais licenciadas, mais professoras, mais enfermeiras e médicas, mais dirigentes, ... mais vendedoras de loja, mais nas caixas de supermercado, ...
Actualmente, nas listas eleitorais (de vários partidos) tem de existir uma pessoa de outro sexo/género em pelo menos 1 em cada 3 lugares (33%) ... - por mim está bem, no mínimo legal deveria ser sempre 1 em cada 5 (20%) para o outro género e poderia ir até 1 em cada 2 (50%) - mas devendo o lugar desta quota mínima ser na 2ª posição ou intercalada ... e nunca no fim (pois nessa posição geralmente fica de fora, em lugar dificilmente elegível, viciando o objectivo).
--- + Contratação Colectiva para diminuir Exploração (de mulheres e de homens) (-por j.simões,8/3/2015, http://derterrorist.blogs.sapo.pt/ )
8 de Março de todos os anos, num país e sociedade que se quer melhor
É por isso que é importante (a melhoria e defesa da legislação laboral/ código do trabalho,) a CONTRATAÇÃO COLECTIVA (e a respectiva acção dos sindicatos e a inspecção da ACT/Estado), porque lá vem, preto no branco, as categorias profissionais, as funções, as condições... e que para determinada categoria profissional corresponde determinada remuneração, independentemente do sexo, e da única vez em que a palavra "mulher" aparece é num capítulo do acordo de trabalho que diz "alínea xis, gravidez".
Faz-me confusão, muita confusão, quando ouço ou leio que as mulheres ganham menos que os homens para trabalho igual. (só pode ser) Nas empresas privadas, dos empresários criadores de emprego e mui liberais, a famosa rigidez patronal. Só pode.
E sem Contratação Colectiva, sem Direitos Laborais, (e com a merd.. desta selvajaria neoLiberal, desreguladora, "flexível", ...) a EXPLORAÇÃO salarial não é limitada aos trabalhadores do género feminino (trabalhadoras) mas estende-se em especial aos "estagiários", aos precários (sem contrato ou com contrato de curta duração), aos "externos" das Empresas de Trabalho Temporário, ... aos mais fracos ou sem poder de negociação nem defesa legal efectiva.
... Da difícil, contínua e indefetível luta pelos Direitos Humanos das Mulheres, temos o exemplo simbólico no facto de só em 1975, a ONU ter proclamado o dia 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres.
Quanto à justeza da persistência desta luta, são tantos os argumentos, em pleno século XXI, que basta referir alguns dos problemas com que, nesta matéria, nos debatemos nas sociedades ocidentais:
. desigualdades salariais, desigualdades de tratamento,
. violência de género, violência doméstica, violência sexual,
. assédio sexual, tráfico de seres humanos para efeitos de exploração/ prostituição,
. exposição a estereótipos consumistas (publicidade, 'modelos') de mercados masculinizados
e tantas, tantas outras, maiores e menores formas de expressão de "machismos" e "micro-machismos"!...
Isto sem falar na urgência de solidariedade que é preciso reforçar e promover, por esse mundo fora, noutras esferas civilizacionais, em que as mulheres não têm direito de voto, nem de estudar, não podem conduzir, não podem circular nas ruas sem estarem sujeitas à humilhação e falta de dignidade -que, muitas vezes, as próprias não reconhecem!- de cobrirem completa ou parcialmente o seu corpo, onde lhes é negado o direito ao livre-arbítrio, imposto o casamento forçado, a mutilação genital, a impossibilidade de determinar o seu futuro... e onde são, simplesmente!, consideradas, nada mais, nada menos, do que mero património familiar e propriedade patriarcal.
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Portugal e direito ao voto das mulheres Hoje não é o «meu» dia coisíssima nenhuma: é de todos, homens e mulheres, que lutaram, e têm de continuar a lutar, pela não discriminação de metade da humanidade.
Quanto a direito ao voto feminino, em Portugal foi assim:
Tudo começou com o decreto 19.692, de 5 de Maio de 1931. Mas com excepções, como a de Carolina Beatriz Ângelo (na foto) que foi a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto (nas constituintes de 28.05.1911), concedido por sentença judicial, após exigência da condição de chefe de família, dada a sua viuvez.
Em 1933 e em 1946 foram levantadas algumas restrições, mas só quase no fim de 1968, já durante o marcelismo, é que acabaram por ser removidas quaisquer discriminações para a eleição de deputados à Assembleia Nacional. (Depois do 25 de Abril 1974, o direito universal de voto passou a aplicar-se também às eleições presidenciais e autárquicas.)
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Feminismo e anti-sexismo (-J.Vasco, 24/2/2016, EsquerdaRepublicana)
E se é verdade que a implicação inversa não é necessariamente verdadeira, é fácil constatar que a esmagadora maioria das/dos
feministas são-no por serem antes de mais anti-sexistas. Só uma ínfima minoria de feministas não é anti-sexista.
Por outro lado, é possível ser-se anti-sexista sem ser feminista, mas isso exige um enorme grau de desconhecimento da realidade: uma imagem muito distorcida/equivocada a respeito da sociedade actual. Já tomei contacto com pessoas nesta categoria:
dizem-se anti-sexistas e afirmam
querer um mundo justo onde os homens não são privilegiados - e eu acredito nelas -
mas não se consideram feministas pois não consideram que as mulheres sejam significativamente mais injustiçadas/prejudicadas que os homens no contexto em que vivemos. Nalguns casos reconhecem algumas injustiças para com as mulheres, mas contrapõem outras injustiças sexistas para com os homens (por exemplo, em relação à custódia dos filhos) e alegam que as
injustiças num sentido e noutro têm uma importância e gravidade semelhante, ou resultam apenas das escolhas livres feitas pelas mulheres.
Importa pois desfazer este profundo equívoco. Independentemente de pequenos rituais de etiqueta para os quais pode existir uma pressão social mais forte ou mais fraca consoante o contexto, ou algumas situações extremas (e raras) onde as diferentes expectativas sociais podem ser mais ou menos favoráveis a um sexo/género que outro, devemos
centrar a discussão sobre a desigualdade naqueles aspectos que determinam grande parte dos recursos (em tempo e dinheiro) da esmagadora maioria da população:
as tarefas domésticas e os ordenados. Sobre a primeira questão, os dados são claros (para Portugal:
17h de diferença; para vários países da União Europeia:
cerca de 14h de diferença; para os EUA:
cerca de 10h de diferença) - em média as
mulheres passam muito mais horas que os homens a realizar trabalho doméstico. A discrepância é elevada o suficiente para que não a possamos atribuir exclusivamente a alegadas diferenças relativas a gostos ou preferências. Os indícios a respeito de uma pressão social inescapável e consequente são significativamente claros. Não posso deixar de destacar que estes são valores médios, e que existirão casos onde a discrepância será muito superior a esta. Vale a pena também destacar que os valores apresentados correspondem à carga semanal - cerca de 750h anuais
é algo com um impacto tremendo na vida de qualquer um.
Já no que diz respeito aos salários, sabe-se que existem
disparidades salariais significativas (na UE
podem oscilar entre os 3.2% na Eslovénia, 13% em Portugal ou 29.9% na Estónia, para uma média geral de 16.3%; nos EUA
rondam os 22%), e mesmo que algumas delas possam ser atribuíveis a diferentes escolhas pessoais ou características físicas, é
bastante clara a existência de uma
discriminação sexista que não dá as mesmas oportunidades a todos. A este respeito não posso deixar de falar de três estudos elucidativos (entre muitos outros):
. A partir do momento em que as audições para contratações de músicos esconderam o sexo/género do candidato,
a contratação de mulheres aumentou significativamente. Grande parte desse aumento deveu-se a esta alteração no processo de selecção.
Perante o conhecimento destes factos (e muitos outros), qualquer indivíduo que mantenha a convicção de que não existe um desequilíbrio na nossa sociedade que desfavorece as mulheres ao nível dos direitos e oportunidades está simplesmente em negação. Se continua sem ser feminista, não é certamente anti-sexista. ---
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Segunda-feira, 25.05.15
Universidade de Verão: «É tempo de governar?» (-N. Serra, 23/5/2015)
No esteio das edições de anos anteriores, a
Associação Fórum Manifesto promove mais uma
Universidade de Verão, que se realizará na Pousada da Juventude de
Almada nos próximos dias
29 e 30 de Maio.
Este ano, o evento é dedicado a um conjunto de debates que se perspectivam como fundamentais no ciclo de governação que se avizinha, mantendo-se os traços de abertura, encontro e pluralismo que marcam, desde o seu início, as universidades de Verão da Manifesto.
A
entrada é livre e as inscrições podem ser feitas
aqui. Apareçam e divulguem. São todos muito bem-vindos.
Reduzir a TSU dos trabalhadores: o início de uma reforma subversiva (-J.Bateira)Nos
anos '50, a Universidade de
Chicago (
'escola' neoLiberal) participou num programa de
ajuda do governo dos EUA visando formar um grupo de economistas de alto nível para ensinarem na Universidade
Católica de Santiago (do Chile) e
enfrentarem a teoria económica de esquerda, preponderante na América Latina daquele tempo. (...)
Começaram a defender publicamente
o monetarismo e, anos mais tarde, no regime
ditatorial de Pinochet, com a ajuda de colegas dos departamentos de economia de grandes universidades americanas, foram elaborando propostas para uma
viragem radical na política económica do Chile [incluindo uma
reforma das pensões]. (...) O novo sistema eliminou a velha segurança social
substituindo-a por contas privadas individuais [descontos para si mesmo]. Quem tinha contribuído para o sistema anterior recebeu ‘títulos de dívida’ do Estado que foram depositados nas contas e rendiam quatro por cento. As receitas do novo sistema foram
geridas por fundos de pensões privados. A taxa do desconto para a pensão foi fixada em 10% do salário, adicionada de 3% para um seguro de vida e invalidez. Isto reduziu substancialmente os descontos e aumentou o montante do
salário líquido, o que tornou o novo sistema muito
popular entre as classes trabalhadoras. ... -(
Mitchell Orenstein, 2005)
Um outro importante
revés na campanha de privatização das pensões veio do Chile, aquele muitíssimo simbólico lugar, onde um governo de centro-esquerda da Presidente Michelle
Bachelet iniciou em 2006 uma grande reforma do pioneiro sistema privado de pensões. Na introdução ao Relatório da Comissão de Reforma das Pensões, Bachelet anunciou que o
sistema privatizado tinha “baixa cobertura ... pouca concorrência e grandes encargos em comissões ... e discriminava as mulheres”, uma incrível confissão para um país cujo sistema de pensões se tinha tornado um
modelo internacional. -(
Mitchell Orenstein, 2011)
De lá para cá e de cá para lá (-J.Rodrigues, Ladrões de B.)
"Syriza tem que fracassar, senão, como os governos dos outros países da União Europeia continuarão dizendo a seus povos que não há alternativa?" Vale a pena seguir o
Blog do Emir, ... sobre o que se passa do lado de lá e do lado de cá. ... ao contrário de cá,
lá as forças progressistas tiveram, apesar de todas as dificuldades, vitórias significativas desde a viragem do milénio. Cá, as derrotas têm-se sucedido. Uma das razões é indirectamente apontada por
Sader: “Uma certa esquerda europeia tem dificuldade de
compreender o caráter nacionalista, antimperialista, popular, dos governos pós-neoliberais.” Uma certa esquerda europeia ainda dominante não acerta na
chave ganhadora da política nas semiperiferias e nas periferias do sistema mundial. Entretanto, o Syriza, claro, não tem de fracassar: basta só
levar o seu carácter objectivamente nacionalista,
antimperialista e popular até às suas consequências mais óbvias.
Precisamos mesmo no lado de cá de governos pós-neoliberais, ou seja,
de governos que reconquistem a margem de manobra que só a
reconquista de instrumentos de política (monetária, financeira e económica) pode conceder.
---- Noruegueses, esses comunas (J.Mendes, 25/5/2015, Aventar)
- O que faz com que a Noruega surja sempre no topo dos índices de desenvolvimento?
Vivemos em contacto com a natureza e beneficiamos da força do trabalho de homens e mulheres. Tomamos decisões políticas para dividir a riqueza gerada por toda a população. Assim, temos muito poucos ricos e muito poucos pobres, todos estão no meio. (uma enorme classe média.) Penso também que encontrámos um bom equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Quando tudo isto se soma explicam-se os nossos resultados elevados nos índices. (de desenvolvimento, de qualidade de vida). --Ove Thorsheim, embaixador da Noruega em Lisboa.
(O petróleo claro que ajuda, mas a cuidadosa gestão dos seus recursos, do seu Fundo soberano e os princípios humanistas, ambientalistas e social-democratas ... separam muitíssimo a Noruega dos outros países também produtores de petróleo/ riquezas naturais mas que têm aberrantes desigualdades económicas, políticas e sociais.)
Noruega. Os segredos da melhor sociedade do mundo. ... É o melhor país para se ser mãe, ideal tanto para os homens como para as mulheres ambicionarem carreiras de topo ou tranquilo para trabalhar só as horas necessárias, chegar a casa antes das 17h e dar atenção à família. ... forma como se educam as crianças: “Lá elas têm muito mais poder e liberdade. Não há testes ou notas nas escolas até terem 13 anos e são estimuladas a ter as suas próprias opiniões e tomar parte das decisões familiares.” ... é mais difícil viver em Lisboa porque se “trabalha mais horas por dia e se chega a casa muito mais tarde”.
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Quarta-feira, 29.04.15
Ritalina: hiperactividade, educação ou negócio ? (-por João Paulo, Aventar, 27/4/2015)
Em democracia não há territórios sagrados, apesar de existirem algumas reservas, na sociedade não médica, à entrada na esfera clínica. Normalmente, quem arrisca, leva com uma bateria de batas brancas em cima que, com argumentos quase sempre básicos, acaba por intimidar.
Aviso, portanto o leitor, de que não é minha intenção entrar na discussão médica sobre a Ritalina (fármaco 'contra' a 'hiperactividade'), até porque, ao ler parte da informação oficial disponível, fiquei suficientemente assustado, para nem tentar perceber o mecanismo da droga mais comum nas escolas, por estes dias. O meu olhar é o de Professor.
Nas nossas escolas a quantidade de crianças medicadas é absolutamente assustadora – quase não há turma em que dois ou três meninos não tome algum tipo de medicação para a hiperactividade. E, diz-me o senso comum, que não é possível que cerca de 10% das nossas crianças sejam portadoras desta “doença”. Não é possível.
E, parece-me que há três factores que contribuem para este manifesto exagero da Ritalina nas escolas:
a) a sociedade em geral e as famílias em particular, que não conseguem educar. Se até há uns anos, a sociedade depositava todas as responsabilidades formativas na escola, agora a situação tornou-se ainda pior com a destruição total que Pedro Passos Coelho promoveu junto da unidade nuclear da nossa sociedade – a família;
b) a escola de Nuno Crato (e...), que, com menos currículo, com menos diversidade, com mais exames e centrada nos conteúdos, afastou a escola dos alunos, das aprendizagens e promoveu a indisciplina, o conflito a instabilidade.
c) o negócio. O infarmed diz que em 2013 foram vendidas, em Portugal, duas?.. caixas de Ritalina. Mas, no mesmo documento onde se refere esta barbaridade, é também apresentado um valor – sete milhões e meio de euros é o total do negócio deste princípio activo.
Ora, perante isto, importa perguntar:
– se a Ritalina não serve às crianças, a quem interessa drogar os nossos alunos ? (e também os cidadãos em geral ?!)
-----xxx----- :
Hiperactividade (é doença?, mau comportamento?, falta de exercício físico?, falta de valores e regras? …) e seu combate com fármacos é um tema importante e oportuno.
.. Pelo que li, este grave problema não é só de agora nem só de Portugal, mas está a piorar e expandir-se…
..Tem uma componente social/ educacional (ou sua deficiência, até por também existir menos tempo disponível e disponibilizado para os filhos/ família, …), focada por JP.
.. Mas também tem uma componente ‘ambiental' e alimentar, pois os OGM e pesticidas (ver comentários), mais o processamento dos alimentos e seus aditivos (preservantes/ edulcorantes/ hormonas/ …), TAMBÉM influem no metabolismo das crianças/ jovens e no seu desenvolvimento e comportamento, na sua saúde e bem-estar ou sua falta.
.. Claro que a ‘moda’ das teorias/ ideias da psico/pedagogia mais o grande negócio dos fármacos para tudo … também ajuda a ‘visualizar/ enquadrar’ o problema.
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Quarta-feira, 25.06.14
DIREITO À GREVE AMEAÇADO? (-por A.B. Guedes)
O patronato mundial tem vindo nos últimos anos, nomeadamente em algumas instâncias internacionais como a OIT, a colocar em questão o direito á greve no âmbito da liberdade de associação sindical de ação coletiva dos trabalhadores. Pretendem no fundo dissociar o que é indissociável, ou seja a greve é essencial á liberdade individual dos trabalhadores se associarem e agirem coletivamente.
Esta estratégia patronal emergiu com a queda do Muro de Berlim e pretende confinar a liberdade de associação sindical a um tipo de liberdade igual á liberdade que um cidadão tem de se associar num grupo de escuteiros ou numa coletividade! Liberdade de se associar mas não de agir coletivamente e recorrer a uma arma, ainda essencial, a greve, para contrabalançar o desequilíbrio existente entre o poder patronal e o poder do trabalhador individualmente considerado. Este combate está novamente neste momento a ser travado na OIT e a Confederação Sindical Internacional está na frente desta luta.
O que se passa neste momento no Brasil, altura do campeonato de futebol, mostra bem quão poderosa pode ser ainda a arma da greve! Bem utilizada e nunca banalizada, a greve, para além de um direito fundamental dos trabalhadores, pode ser uma arma essencial na defesa dos direitos coletivos e objetivos de emancipação dos trabalhadores. Daí que em vários setores sociais, nomeadamente nos órgãos de comunicação social, em geral propriedade dos grupos económicos privados, exista um clima anti greve. Chama-se a atenção para as perdas económicas e incómodos da greve, para o seu cariz político e até para os seus efeitos negativos nas empresas. Para alguns editorialistas as greve seriam interessantes e aceitáveis se fossem folclóricas, ou seja, se não molestassem ninguém”.
Alguns escrivas são provocadores e vão esmiuçar a vida de um ou outro sindicalista ou dizer que um outro já é há muitos anos dirigente sindical, enfim, que é uma espécie de agitador, etc, etc. Temos que estar atentos porque no quadro da onda anti sindical atual, própria da ideologia económica neoliberal, existe e vai crescer a onda anti greve. Em breve teremos vozes a pedir uma revisão da lei da greve. Este governo tem claramente essa ideia na manga!
Todavia, os sindicalistas e militantes sindicais devem ser os primeiros a defender a greve. Esta para ser eficaz, deve ser assumida pelos trabalhadores ou, pelo menos, pela maioria dos trabalhadores. Assumida significa que, em geral, deveria ser votada pelos trabalhadores que vão entrar em greve. A tendência atual, fruto de vários constrangimentos e práticas sindicais, não vai muito por esse caminho. Mas, atenção, a greve é um direito e uma arma que pode ter dois gumes!
VERGONHA NACIONAL!
O Professor Joaquim Azevedo, coordenador do grupo de trabalho
sobre a natalidade denunciou á Antena 1 que existem empresas que
obrigam as mulheres a assinar declarações em que se comprometem a não engravidar nos próximos cinco anos. Tal denúncia corajosa é bem -vinda até porque, quem sofre tal
vexame e atentado aos direitos fundamentais, está frequentemente impedido de o fazer na devida altura.
O emprego em Portugal é escasso e os trabalhadores e trabalhadoras
calam e não se queixam às autoridades nomeadamente à Autoridade para as Condições do Trabalho e á CITE. O problema, tal como muitos outros do trabalho, não é fácil de resolver nos dias que correm em que o
desemprego atingiu taxas históricas em Portugal e a
precariedade cresce a olhos vistos em particular para as jovens gerações de trabalhadores tornando o mundo laboral português numa selva. Mas francamente,
haja vergonha! Se
queremos defender a família, a natalidade, fazendo eloquentes discursos sobre os
perigos do envelhecimento da população e a crise demográfica tomemos
medidas concretas para responder a estes desafios.
Medidas positivas que estimulem a natalidade e protejam as trabalhadoras que queiram engravidar. Não basta ter uma inspeção e uma comissão da igualdade.
É necessário que estas
entidades atuem e tenham capacidade operacional para o fazer! Mas este governo não tem essa preocupação. A sua política é a
proteção das empresas e não dos trabalhadores! Mas o mais grave desta questão no quadro das relações laborais é a
impunidade que reina no mundo das empresas privadas e nos próprios serviços do Estado.
É a
ideologia de que vale tudo para baixar os custos do trabalho, de que o trabalhador não tem direitos, e deve estar ao nosso serviço, da empresa,
sem condições. O trabalhador/a precisa de salário? Ok, pague-se
á hora e o mais barato possível! Precisa de descanso? Sim, mas quando for mais conveniente para a empresa! Pensa em ser mãe?
Não enquanto estiver ao nosso serviço! Precisa de formação? Que a
pague do seu bolso! Precisa de
férias? Sim, quando a empresa fechar ou não tiver trabalho! Um mundo laboral deste tipo é, sem dúvida, a utopia empresarial, o céu olímpico do patronato do capitalismo atual! É o
regresso ao velho capitalismo do seculo XIX. Um país a desfalecer (-por N.Serra, 24/6/2014, Ladrões de B.)
De modo mais ou menos dissimulado, tem-se assistido a um conjunto de
tentativas de branquear a relação entre a austeridade e o abismo demográfico em que o pais mergulhou, nos últimos anos. ...
... mesmo que reconheça, logo a seguir, que «não ter emprego, ou ter um emprego precário ou mal remunerado, ou não haver incentivos, incluindo na questão da educação nos três primeiros anos, são questões muitíssimo importantes». A entrevista dada por Joaquim Azevedo ao Público, no início de Abril, merece de resto ser lida na íntegra, pois é muito esclarecedora quanto à capacidade de relativizar (e portanto branquear) os impactos do ajustamento (e do «ir além da troika»), nas dinâmicas demográficas mais recentes.
A evolução dos números é contudo muito clara, demasiado clara. É a partir de 2010 que se regista uma
situação demográfica absolutamente inédita na sociedade portuguesa, com os
saldos natural e migratório a entrarem, em simultâneo, no negativo, arrastando consigo, para baixo e em ritmo acelerado, os saldos demográficos. Mais: é a partir de 2010 que o
saldo natural (diferença entre nascimentos e óbitos) conhece quebras sem paralelo histórico (uma média de -15 mil por ano entre 2011 e 2013, que contrastam com os cerca de -3 mil entre 2008 e 2010 e, mais ainda, com os valores positivos, em média anual, registados entre 1991 e 2007). E se é verdade que o
saldo migratório (diferença entre imigrantes e emigrantes) estava já em redução progressiva antes do início do ajustamento (mantendo-se contudo em valores positivos), o ritmo da sua retracção agudiza-se de modo muito significativo a partir de 2010, para o que contribui o incremento exponencial da
emigração e o aumento da saída de imigrantes do nosso país. É de facto preciso uma enorme ginástica intelectual para considerar que existe uma espécie de continuidade entre os cerca de
-33 mil residentes por ano, em média, registados entre 2011 e 2013, e os saldos positivos obtidos, também em média anual, entre 2008 e 2010 (cerca de +9 mil residentes) e entre 1991 e 2007 (cerca de +27 mil residentes por ano).
É de prever, aliás, que esta
ilusória cortina de fumo, que
procura mascarar - e dissolver num quadro temporal mais amplo - os brutais impactos demográficos da austeridade (como se a variação recente destes indicadores não fosse mais do que a continuação regular de dinâmicas previamente estabelecidas), possa ter correspondência num
conjunto igualmente ilusório de soluções para enfrentar o problema. Isto é, em soluções como as que a referida comissão multidisciplinar tem vindo a sugerir e que, sendo
importantes (como a flexibilização dos horários das creches, o aumento do trabalho em part-time, ou os incentivos fiscais, entre outras, no mesmo plano), estão
muito longe de ir ao fundo da questão: os salários e os rendimentos das famílias, o emprego e a estabilidade do emprego, o acesso a serviços públicos e a níveis minimamente razoáveis de bem-estar, a par da crucial questão da confiança, em Portugal e no futuro. Ou seja, tudo o que a gloriosa «transformação estrutural» do país, empreendida com denodado afinco pelo governo de Passos Coelho e Paulo Portas (a coberto do memorando da troika), tem vindo, deliberadamente, a esboroar.
MARCADORES: act,
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Terça-feira, 20.03.12
A Europa à Beira da Explosão Social... (Ana P.Fitas, A Nossa Candeia, 14.3.2012)
António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os
Refugiados, afirma que
a Europa está à beira da "explosão social" porque as prioridades políticas persistem em valorizar a economia e as finanças, em detrimento da dimensão social (
ler aqui).
De facto, seria no mínimo avisado que os países da Europa do Sul exigissem a atenção da União Europeia!... porque a realidade decorrente das altissimas taxas de desemprego que caracterizam, a sul, a actualidade e a que se associa um ritmo migratório que se não verificava há muitas e muitas décadas, em função dos incentivos a uma mobilidade viabilizada pelo elogio sem reservas a uma globalização desregulada, não pode ter outro resultado a não ser uma crise social (isto é, humana!) que, política e economicamente, nem os países mais ricos e aparentemente mais sustentados da UE, poderão enfrentar sem que isso signifique o colapso das condições de vida dos seus cidadãos e do modelo social que aí é, ainda!, vigente.
Não se compreende, por esta razão, o motivo em que assenta o efectivamente infundado "regozijo" com que alguma comunicação social tem a ligeireza de afirmar que "o pico da crise" terá sido ultrapassado !!???... onde ? para quem ???...
O mais dramático efeito da crise, aquele de que ninguém quer ouvir falar ou melhor, aquele em que ninguém quer pensar (até que a tragédia lhe bata à porta !!), está em curso na Grécia, onde se sucedem os casos de abandono dos filhos, por parte de pais sufocados pelo estrangulamento económico e social a que o país foi conduzido...
O
drama que hoje atinge as famílias gregas é
a mais negra sombra que paira sobre os cidadãos europeus... e o inequívoco
testemunho da crueldade cega de um capitalismo financeiro e político sem escrúpulos a que, para infelicidade de todos,
a Europa se rendeu (
LER AQUI).
Sexta-feira, 17.02.12
FUNÇÃO PÚBLICA - Nova forma de despedimento à vista ?
São muitos os sintomas de autoritarismo deste governo português. As últimas declarações do deputado do CDS ,João Almeida, sobre a mobilidade geográfica na Função Pública ultrapassam todos os limites da decência! Esta indecência só foi igualada pelo salazarismo que não admitia que um funcionário público tivesse a ousadia de reclamar de uma diretiva ministerial ! Pois estes são netos desse salazarismo miserável !
Para o deputado Joao Almeida, se os funcionários não aceitarem a mudança geográfica proposta têm uma saída que é a desvinculação! Assim! Nada de considerações humanas e constitucionais! Vê-se bem por aqui o tipo de pessoas que temos como deputados! Uns canalhitas! Hoje dizem estas barbaridades e amanhã choram lágrimas de crocodilo sobre o aumento dos divórcios, a baixa natalidade e a desagregação da família! A direita em todo o seu esplendor! Duros com as pessoas concretas, e em especial com os trabalhadores, solidários com abstrações como a «família» e, em particular, com algumas famílias !
Mas, porventura este jovem deputado trabalhou a sério em alguma coisa?! Estudou a história da administração pública, leu a constituição?! Colocou-se porventura na pele de um funcionário público português que de repente se vê confrontado com uma proposta de ir trabalhar para 100 ou 200 quilómetros de distância?! Sabe o que isso significa se a mulher/homem trabalha no privado e os salários dos dois são mesmo a curtar as unhas?
Sabe ele que esta é + uma forma de despedimento encapotada tal como estamos a verificar com a recente medida do Montepio que, ao adquirir o Finibanco propôs aos trabalhadores do Porto desta instituição, cerca de 200, para virem trabalhar para Lisboa? O Sindicato dos Bancários do Norte interpôs uma providência cautelar e o caso está, inclusive, no Tribunal Europeu para ser resolvido, dado que para qualquer jurista isto é despedimento? Que uma posição fundamentalista como esta abre as portas a que no privado se faça o mesmo?
Claro que sabe, mas na sua douta opinião isto são considerações de menor valia! Ele está num governo que quer «salvar a pátria» á custa dos trabalhadores que, com as suas famílias, são a maioria esmagadora dos portugueses! Todavia, o que ele quer salvar são os interesses de uma minoria de portugueses! Leu por uma cartilha teórica, a do neoliberalismo puro e duro! Gostaria de saber o que dizem alguns trabalhadores que eu conheço e se consideram democrata- cristãos! Penso sinceramente que não estarão de acordo com estas posições. Se há coisas que me custa a entender é a submissão do sindicalismo á política partidária! Tanto á direita como á esquerda!
Os sindicatos, quer da UGT quer da CGTP, não podem aceitar uma posição destas ! Negociar a mobilidade para melhor distribuir os funcionários é uma coisa, agora fazer dos trabalhadores coisas é que nunca!NUNCA!
Terça-feira, 25.10.11
FAMÍLIA, ESCOLA E CIDADANIA: QUAIS OS CAMINHOS?
[FLORIANÓPOLIS, SC / BRASIL] 2008
Palestra de Mário Sérgio Cortella [Filósofo, mestre e doutor em Educação pela PUC-SP]
Quarta-feira, 16.03.11
Titulo deveras sugestivo. Na verdade a sociedade não se constrói só em contestação, também, se muda em (e com) acção.
A iniciativa, levada a cabo por esta organização sediada em Coimbra, é bem ilustrativa de que alguma coisa com inovação se vai fazendo neste país.
Estão de parabéns os seus promotores e oxalá a adesão seja aquela que o evento merece.
Quinta-feira, 17.02.11
Os bons sentimentos e o que interessa
por Daniel Oliveira
Depois do caso de Augusta Martinho, a senhora que esteve morta em sua casa durante nove anos, sucedem-se na imprensa casos semelhantes, apesar de menos graves e sem a evidente negligência do Estado. Não que tenha havido um súbito surto de mortes de velhos solitários, mas porque o assunto se tornou moda. É assim que a imprensa funciona.
...
Vou então á política. A que interessa.
Se não queremos que as mulheres deixem de trabalhar e não queremos os nossos pais em lares ou abandonados e sozinhos em casa e os nossos filhos educados pela televisão, só há uma forma de resolver o problema: que, trabalhando homens e mulheres, ambos consigam ter mais tempo para a sua família. Para os filhos e para os pais. E já agora para o lazer, para os amigos, para o bairro onde vivem. Ou seja, que trabalhem menos. E que tenham empregos mais seguros para poderem dar tempo aos outros. Que tenham horários decentes, segurança mínima e direito a vida pessoal.
Que haja mais gente com emprego e empregos que nos tomem menos tempo e energia.
Não podemos às segundas, quartas e sextas querer famílias que dediquem mais tempo aos seus filhos, aos seus pais, ao bairro, à escola, à comunidade, e às terças, quintas e sábados explicar que o emprego para a vida é coisa do passado, que para sermos competitivos temos de nos matar a trabalhar e que o centro da nossa vida deve ser a nossa carreira, a medida de todos o nosso mérito como seres humanos.
Os velhos não estão sós porque nos tornámos mais insensíveis do que éramos. Uns são e outros não, como sempre foi. Estamos nós todos mais sós porque uma sociedade que vive apenas para produzir não deixa tempo para mais nada. Nem tempo, nem afetos, nem energia. Se quebramos a rede social do bairro, da empresa de uma vida e das relações pessoais porque tudo é temporário, não podemos querer que, por milagre, a família seja para sempre. Se tudo é precário na nossa vida como poderia ser a família segura? Se tudo se mede pelo que se produz e só quem produz é relevante, como poderíamos nós dar valor aos velhos?
Os consensos dos bons sentimentos são insuportáveis não por os sentimentos serem bons, mas por os consensos os tornarem inúteis. A sociedade que lamentamos resulta de escolhas. E a essas escolhas damos o nome de POLÍTICA, esse abjeto bicho que parece enojar tanta gente.
Quarta-feira, 22.12.10