Sexta-feira, 18.03.16
------ ANAC volta a subir salários dos seus administradores (tendo por referência de cima a remuneração do governador do BdP e de baixo a do PM ...) !!
------ "Social-democracia, sempre!" (-por josé simões,17/6/2016, derTerrorist)
«Governo fez as contas e atribuir os extintos passes sociais/estudantes "4-18" e "sub 23" a todos os jovens portugueses, independentemente das respectivas condições socioeconómicas, "custaria 20 milhões de euros", diz o ministro do Ambiente ».
«Governo dá 17 milhões aos taxistas [...]. Segundo eles, [os taxistas] o Governo dá "um pacote que pode ir até aos 22 milhões» «... mas abre claramente a porta a uma nova regulamentação que pode deixar a Uber a operar legal/livremente no mercado. Taxistas não gostaram.
Do partido do táxi ao partido do taxista vai um bocadinho assim.
Palavras chave: Milhões de Euros, Impostos, Contribuintes, Impostos, Orçamento do Estado, Impostos, Corporações, Impostos.
Quinta-feira, 09.07.15
(de: Fernando Lopes Graça & José Gomes Ferreira)
Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz
Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações
Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!
(- Sondagem Público 8/7/2015, via derTerrorist)
O estado da nação é muito simples
(08/07/2015 por j. m. cordeiro, Aventar, fonte: Banco de Portugal) Privatização de tudo o que gera receita no estado e do que tem receita garantida via orçamento de estado. Negócios com prejuízo foram reorganizados por forma a vender a parte com receitas, ficando a parte com prejuízo para o estado.
Para quê? Esqueça a tese de termos gasto acima das nossas possibilidades. Olhe para si e conclua. Estas receitas serviram apenas para pagar os juros da dívida do empréstimo que tirou a banca da falência.
O resultado? Estamos pior do que no início da legislatura. Recorde-se qual era o objectivo da austeridade: reduzir a dívida pública e controlar o défice. Este continua sem chegar aos valores exigidos pelo euro e a primeira aumentou significativamente. O défice diminuiu graças ao colossal aumento de impostos e a dívida disparou devido aos custos com os juros.
Menos saúde, menos educação, menos justiça, mais horas de trabalho, mais impostos, menos salário. Este é o (mau) estado da nação. (e do/s desgoverno/s)
Vêm aí melhores tempos? Nada para aí aponta. Não podemos continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes.
Da guerra «sem quartel» à pobreza e às desigualdades (por N.Serra, 9/7/2015)
Depois de lançar no desemprego centenas de milhares de pessoas, de convidar jovens e adultos a emigrar, de cortar nos salários, em pensões e prestações sociais, Pedro Passos Coelho diz que é chegada a hora de travar uma «
guerra sem quartel às desigualdades de natureza económica e social». Não estranhem: o primeiro ministro que apresenta esta promessa eleitoral é o mesmo primeiro ministro que acha que não foram as medidas de austeridade que «
aumentaram o risco de pobreza» e que os mais pobres «
não foram afectados por cortes nenhuns». E de nada serve que organizações insuspeitas, como a
OCDE, critiquem as políticas sociais do governo, reprovando os cortes efectuados no RSI ou o facto de a austeridade pesar muito mais para as famílias de menores rendimentos.
Do que talvez a OCDE não se aperceba, em matéria de políticas de combate, «sem quartel», à pobreza e às desigualdades, é que não se trata apenas de uma questão de cortes orçamentais mas sim, e sobretudo, do
regresso à miséria moral da caridade e à sopa como política social. Os números são claros: se tomarmos como base o ano de 2010, os beneficiários do RSI passaram a representar 61% do número de beneficiários existentes naquele ano, ao mesmo tempo que as pessoas assistidas pelo Banco Alimentar Contra a Fome (BACF) aumentaram em 29 pontos percentuais. Em 2014, aliás, ocorre um facto inédito: o número de pessoas apoiadas pelo BACF (384 mil) supera o total de beneficiários de RSI (321 mil).
Com o debate sobre o estado da nação em pano de fundo (Entre as brumas...)
MARCADORES: acordai,
cidadania,
democracia,
desgoverno,
desigualdade,
economia,
empobrecer,
fome,
mentiras,
política,
portugal,
rsi
Terça-feira, 12.11.13
A FOME !
Com bons modos, mas sem deixar margem para protestos ou pedidos especiais, apareceu sempre alguém para mandar-me sair porque
só os doentes podem entrar no refeitório, as visitas estão proibidas de fazê-lo. A proibição justifica-se por razões de organização interna, espaço, ruído, etc. A
razão principal só se sabe ao fim de alguns dias a passear pelos corredores: enquanto puderam entrar no refeitório,
era frequente as visitas comerem as refeições destinadas aos doentes. Sentavam-se ao lado dos pais, avós, irmãos, maridos ou mulheres e iam debicando do seu prato, ou ficando com a parte de leão.
À minha ingénua indignação inicial, seguiram-se muitas histórias de miséria que ajudam a explicar como se pode chegar aí. Só quem, como eu, nunca a passou, demora a entender que a fome pode roubar tudo a um ser humano. Rouba-lhe a solidariedade até com os do seu sangue, a dignidade, o respeito, tudo aquilo que o faz ser gente. E pelo retrato que vi nesse hospital público do Porto, há fome nos nossos hospitais. Doentes que pedem ao companheiro do lado o pão que lhe sobrou, a laranja que não lhe apeteceu comer, a sopa que deixou a meio. Há quem diga que prefere comer um pão simples, ao lanche, para esconder na fímbria do lençol o pacote da manteiga ou da compota para mandar para os catraios lá de casa.
Há quem não anseie pelo dia da alta porque, pelo menos ali, come as refeições todas. Há quem vá de mansinho à copa perguntar se dos outros tabuleiros sobrou alguma coisa que lhe possam dispensar. Fica-se com um nó na garganta com tudo o que se vê e vira-se a cara para o lado com vergonha. Vergonha por ser parte disto, por não ter gritado o suficiente, por não ter sido parte da mudança que se reclama há tanto.
E depois estão os caixotes de lixo remexidos pela noite fora, as filas para as carrinhas de distribuição de alimentos, o passeio do albergue cheio de gente, gente que vagueia como sonâmbula, que discute por uma moeda de vinte cêntimos ou por um portal onde dormir. E estão – a nossa maior vergonha – as cantinas escolares que têm de abrir nas férias para garantir a única refeição diária de tantas crianças, as mesmas cantinas que sabemos que estarão encerradas à hora do jantar. A fome reduz-nos à biologia, despoja-nos de qualquer ideal, impede-nos de dizer não ou de levantar um dedo acusatório, e será pela fome que, como num passado não tão remoto assim, procurarão dominar-nos.
Quando se fazem campanhas eleitorais distribuindo benesses sob a forma de electrodomésticos, medicamentos que a miserável reforma de um velho não pode comprar, ou mandando matar porcos para apaziguar a fome nos bairros sociais, o que aparece mascarado de acção solidária não é mais do que a manipulação despudorada da necessidade alheia, necessidade a que, aliás, estas pessoas foram sendo condenadas, por décadas de injustiça social, corrupção, gestão ruinosa, e todos os etcs. que conhecemos demasiado bem mas a que nem por isso somos capazes de pôr fim.
E se nos distrairmos ainda acabamos a apontar o dedo aos excluídos, a fazer contas ao rendimento mínimo do vizinho, a aplaudir o corte no salário, na pensão, no subsídio, como se a igualdade se fizesse rebaixando, como se a solução fosse difundir a miséria em vez de democratizar as condições para uma vida digna.
Confesso que sinto o imperativo moral de pagar uma refeição a quem ma pede, mas tenho dificuldades em lidar com essa pessoa. Porque quero que fique claro que a relação entre nós, se se pode chamar relação, apenas deve ser de respeito mútuo e, sendo certo que em qualquer momento futuro as nossas imposições podem inverter-se, temos, um para com o outro, a mesma obrigação. Mas sinto-me sempre desconfortável com a mendicidade do outro, com a sua posição de aparente debilidade, com a minha ilusória superioridade. A fome de uns é a fome de todos e já é hora de a sentirmos assim, mesmo que não nos aperte o estômago, mesmo que não nos roube a nossa dignidade.» -(- Carla Romualdo, via A.B.Guedes, 6/11/2013)
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A FALÁCIA ! - nem todos pagam a crise ! (-por A.B.Guedes, 5/11/2013)
A ideia de que a crise atual afeta todo o povo português é uma das maiores falácias da atualidade! Os governantes e ajudantes, bem como os diversos comentadores procuram incutir esta ideia no povo português mas é um engano e visa objetivamente colocar a crise como uma espécie de epidemia que afeta toda a gente e pela qual ninguém é responsável ! Ainda esta semana numa revista a mulher do primeiro- ministro dizia «que todos estamos a sentir a crise na pele»! Imaginem !
Se estivermos atentos ao dia a dia veremos que, pelo contrário, existe uma minoria de portugueses que está melhor e até ganha com a presente crise. Existência de preços mais apetecíveis em alguns bens e serviços, autoestradas limpas para eles, restaurantes de topo sem as classes médias e negócios ligados a determinados setores de exportação e de investimento em capital. Isto para não falar em pessoas particularmente privilegiadas como desportistas de alta competição, altos dirigentes do Estado e do governo, gestores/administradores do privado e das empresas públicas. Há sempre beneficiados de uma certa política implementada. O orçamento do Estado para 2014 é claramente um Orçamento virado para cortar nos serviços públicos afetando os respetivos funcionários e os mais pobres. Um orçamento é o mais importante documento de um governo porque aí se definem as políticas e a distribuição para as mesmas. Neste orçamento gasta-se quase oito mil milhões para juros e amortizações da dívida que está sempre a crescer! A educação é muito penalizada e, embora menos, também o Serviço Nacional de Saúde. As grandes empresas e os bancos são poupados e pensam em descer o IRC para as empresas! Entretanto, os deputados da maioria e respetivos governantes choram lágrimas de crocodilo dizendo que os portugueses, sempre no geral, são heróis por aguentarem tantos sacrifícios! Ora há, de facto, muita gente a passar muito mal. Todavia, são muitos os portugueses que escondem a sua situação de pobreza. A nossa sociedade foi bombardeada nas últimas décadas com o discurso do sucesso. Quem não tem sucesso e empobrece sente-se muito mal e até culpado! Tal como procura esconder a morte, a doença e a velhice a sociedade capitalista de consumo e hedonista procura esconder a pobreza e a miséria com os holofotes do falso sucesso culpabilizante!
Terça-feira, 24.09.13
«Vá visitar os seus impostos !» (-por Nuno Serra, Ladrões de Bicicletas)
O cartaz publicitário de uma agência de viagens sediada em Karlsruhe, ..., não podia ser mais claro, ao promover férias nos «PIIGS» com uma frase seca e lapidar: «Vá visitar os seus impostos!» («Besuchen Sie doch ihre Steuern!» - rodeada das referências a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) -(povos sugados com impostos/cortes e juros agiotas e convencidos a comprar bens e serviços 'externos'... - só a sua união e revolta poderá recusar a chantagem austeritária e alterar as regras neoliberais e desreguladoras, que favorecem este saque e massacre !!).
De facto, a retumbante vitória de Merkel em muito deve à persistência, junto da opinião pública alemã, da narrativa fraudulenta do «norte que trabalha» e do «sul irresponsável e esbanjador».
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"Os pupilos de Merkel no Brasil" (-via F.Tourais, OPaísDoBurro)
«... Merkel jogou para a esfera da moralidade aquilo que remete aos defeitos da matriz neoliberal que fundou e afundou a União Europeia. Quais sejam: a viciosa combinação de mercados desregulados e pró-cíclicos, o desarmamento fiscal e o liberou geral entre credores e tomadores no ciclo de alta liquidez internacional.
... junta preconceito e interesses de mercado, estala o relho do desemprego nas costas de mais de 27 milhões de pessoas no continente europeu neste momento. Um círculo vicioso de arrocho social, demência fiscal e privilégio às finanças promove o réquiem da iniciativa política num continente onde a política estendeu o mais longe possível as prerrogativas do Estado do Bem Estar Social. A fome está de volta à sociedade que imaginava tê-la erradicado com a exuberância da produção agrícola do pós-guerra, associada à rede de proteção social.
... O contingente dos deserdados (pobres na UE) pode crescer entre 15 e 25 milhões até 2025, adverte a organização, se a austeridade não for derrotada. As taxas de desemprego triplicaram na Espanha e na Grécia nos últimos seis anos. Elas atingem 42% entre os jovens em Portugal; 56% na Espanha e 59% na Grécia. ...
A busca do equilíbrio fiscal galopa uma aritmética classista, que ...obedece à seguinte proporção: de cada 100 unidades de redução do déficit, 85 devem resultar de cortes em gastos sociais e investimentos. Apenas 15 apoiam-se na elevação de impostos sobre os mais ricos. Para que a conta de chegar se efetive, o conservadorismo britânico prevê cortar 1 milhão e 100 mil empregos do setor público até 2018.
A exceção alemã numa terra devastada, ademais de suspeita, assenta igualmente em mecânica perversa. Frau Merkel gaba-se de ter acrescentado 1,4 milhões de vagas ao mercado de trabalho germânico no século 21. O feito encobre uma aritmética ardilosa. Desde 2000, a classe trabalhadora alemã perdeu 1,6 milhões de vagas de tempo integral, com direitos plenos. Substituídas por 3 milhões de contratações em regime precário, de tempo parcial. O salário mínimo (hora/trabalho) do semi-emprego alemão só não é pior que o dos EUA, de Obama.
É no alicerce das ruínas trabalhistas que repousa o sucesso das exportações germânicas, cantadas em redondilhas pelo jogral conservador aqui e alhures. Exportando arrocho, o colosso alemão consegue vender mais do que consome internamente. A fórmula espalha desemprego e ‘bons costumes’ ao resto do mundo. Como se vê, também dá votos e prestígio a Merkel.
O ‘modelo alemão’, todavia, traz no DNA o traço de um esgotamento histórico que o torna inimitável: se todos acionarem o moedor de carne de Frau Merkel, quem vai comprar o excesso de salsicha?
A ortodoxia brasileira se recusa a fazer as contas. E insiste em trazer ao país a caixa de ferramentas made in germany. A América Latina já provou dessa poção. Com resultados desastrosos. Sob o efeito sequencial da crise da dívida externa, anos 80, e do ajuste neoliberal na década seguinte, capitaneado aqui pelo PSDB, a renda per capita latino-americana regrediu, em média, 15 anos. Em 2000, a taxa desigualdade regional atingiu seu recorde histórico: a porcentagem de pobres saltou de 40,5%, em 1980, para cerca de 48%. Até 2005, as taxas de pobreza permaneciam em níveis superiores às de 1980. Ou seja, a América Latina levou 25 anos para recuperar o patamar de pobreza anterior à crise da dívida externa, lembra a mesma Oxfam. Soa desconcertante, assim, após uma década de avanços econômicos e sociais, que o conservadorismo nativo – a exemplo de Frau Merkel—tente reduzir os desafios atuais do desenvolvimento brasileiro a uma questão moral. Nossos ‘gregos’, segundo eles, seriam os ’mensaleiros’. Desobrigam-se assim de discutir questões substantivas para as quais as respostas são um tanto mais complexas . Entre elas, como assegurar certa estabilidade cambial em uma quadra em que a manipulação da liquidez pelos países ricos incide direta e abruptamente sobre as contas externas e os índices de preços das nações e desenvolvimento.
A omissão tem lógica. Combinar
estabilidade cambial com a sacrossanta mobilidade de capitais e a autonomia monetária constitui uma espécie de ‘cubo mágico’ do capitalismo. Uma combinação imiscível nos seus próprios termos. Uma impossibilidade intrínseca às economias de mercado avessas à coordenação pública da economia e ao
papel indutor do Estado no desenvolvimento. Justamente o
modelo preconizado pelo conservadorismo como panaceia para os problemas brasileiros. O economista e estudioso da globalização,
Dani Rodrik, sobrepõe a esse dilema clássico outro de natureza política, que condensa
a falência da agenda conservadora em nosso tempo. Rodrik chama a atenção para a
incompatibilidade histórica entre globalização, democracia e soberania nacional. O que o prestigiado economista turco está dizendo é que o cuore da
liberalização financeira e comercial é incompatível com soberania econômica e democrática da sociedade. Esse desassossego entre as urnas e os livres mercados --que torna imprescindível a presença do Estado na agenda do desenvolvimento-- impede que os seguidores nativos de Merkel, a exemplo da inspiradora, discutam seriamente os desafios econômicos atuais. Resta-lhes o campo do moralismo. Nele,
a caça às bruxas resume, figurativamente, a aderência de suas ideias à realidade» –
Saul Leblon, no
Carta Maior.
Sábado, 06.04.13
Desempregado reclama na justiça o direito de não pagar impostos [- A. Sanches e C. Viana, publico.pt, 02-04-2013]
Entre deixar os filhos passar fome e pagar ao Fisco, um desempregado decidiu não pagar. Alcides Santos, um gestor de sistemas informáticos que está no desemprego há dois anos, entrega nesta terça-feira na Provedoria da Justiça uma carta onde explica o seguinte: vai deixar de pagar impostos. Nem IMI, pela casa onde habita, nem IRS e IVA, sobre um biscate que fez há uns meses. Invoca o artigo 21 da Constituição da RP — que define o Direito de Resistência — para defender a legitimidade da sua decisão. Alega que acima dos seus deveres como contribuinte está o dever de não deixar os filhos passar fome.
... “E o que pode fazer uma pessoa que é taxada por um imposto que não pode pagar, que é obrigada a cumprir o que não pode cumprir, senão resistir?”, contrapõe o juiz jubilado do STJ, A.Colaço : esta é uma opção constitucional para um “desempregado que está no limiar da pobreza, que tem pessoas a cargo, e que já não pode fazer nada mais para inverter a situação de penúria em que se encontra”.
... “exige que eu faça o necessário para garantir a sobrevivência física dos meus filhos, dos meus pais e de mim próprio, a qual estará sempre acima das obrigações fiscais ....”
Este desempregado vive com a mulher e os dois filhos, numa casa que está a pagar ao banco: 400 € por mês. O prazo do subsídio de 1150 € que recebia acabou no mês passado. ( ... e pediu o subsídio social de desemprego, que pode suceder o de desemprego). Este mês, diz, a família tem 600 € para sobreviver — o ordenado da mulher, que trabalha num call center. Desse bolo, 400 vão para pagar a casa e sobram 200 para tudo o resto. Com um filho de 15 anos, a frequentar o ensino secundário, e outro de 23, que está na faculdade, Alcides ... usa o cartão de crédito para pagar coisas básicas — “Estou a viver acima das minhas possibilidades porque não quero que os meus filhos passem fome”,...
... “O Governo não está a cumprir com o artigo que assegura o Direito ao Trabalho” e que incumbe o Estado de executar políticas de pleno emprego, argumenta. ...
A acção deste desempregado estará mais próxima da desobediência civil, ... Gomes Canotilho consegue ler nela o “desencanto e o desespero” face a uma “tributação que atingiu quase níveis usurpatórios” e que, em conjunto com as taxas que devem ser pagas por serviços como a água e a electricidade, se impõem como “intervenções restritivas, que têm de ser justificadas quanto à sua necessidade, utilidade e proporcionalidade”.
... o Direito de Resistência se aplica apenas a “situações limite”. Aquelas em que, em simultâneo, a Administração Pública age contra a lei e em que os cidadãos não têm tempo útil para recorrer aos tribunais: por exemplo, se agentes policiais decidissem retirar alguém à força de sua casa sem qualquer motivo legal.
Já A.Colaço insiste que o Direito de Resistência existe quando se trata de defender “um bem ou para evitar um mal maior” do que a situação que o motivou. ...justifica-se por se destinar a evitar o que lhe pode sobrevir: a miséria e actos desesperados, como o suicídio.
... “o mercado mudou” e os informáticos já não têm a mesma saída. “Até porque há miúdos a trabalhar de graça.”
... Em Portugal, foi a invocação do direito de resistência, na sua interpretação mais lata, “que legitimou juridicamente a Restauração do 1.º de Dezembro de 1640”, ... “a comunidade ou os indivíduos directamente ameaçados podem resistir e destituir os governantes”. ... no século XVII o direito de resistência era entendido como uma reacção aos tiranos, a quem não governasse para o bem comum.
Sexta-feira, 09.11.12
BANCO ALIMENTAR: A ENGORDA DA IGREJA CATÓLICA (-por Serafim Lobato)
Os meios de comunicação social dominantes e os piedosos moralistas defensores da especulação caritativa deram azo à sua veia "humanista", neste últimos tempos, enaltecendo o "trabalho" de uma entidade chamada Banco Alimentar contra a Fome por uma recolha "monumental" de produtos alimentares que, segundo os seus promotores, serão entregues a 2116 "instituições de solidariedade social" com quem aquele mantém "acordos".
De onde vieram os produtos? dos próprios contribuintes. Boa malha.
Chama-se isto "auto-abastecimento" para ser distribuído pelas "capelas".
Porque não recorreu o Banco Alimentar aos dividendos dos accionistas dos bancos, aos chorudos lucros dos capitalistas para "ajudar" quem passa fome?
É o Banco uma instituição idónea, independente? Não. Os três directores executivos para o triénio de 2012-2014, são Isabel Jonet, José Manuel Simões de Almeida e Sérgio Augusto Sawaya, que foi até, há alguns anos atrás, administrador do Banco BPI (que curiosamente tem como principal accionista a catalã La Caixa, ligada à Opus Dei).
Convém explicar, até com pormenor, qual a razão prática da inutilidade destes Bancos "moralistas", que são, apenas, instituições privadas, que não produzem riqueza, nem fomentam o emprego produtivo, nem educam as massas populares para exigirem os seus direitos, que são deles próprios, porque fazem descontos, logo, pagam impostos.
É função do Estado - e não de qualquer empresa privada, apelidada de de "solidariedade", ou de "caridade" - de prover o bem-estar dos seus cidadãos.
A chamadas Instituições de Solidariedade Social - na sua esmagadora maioria, imensamente esmagadora - estão sob controlo financeiro, político e social da Igreja Católica portuguesa. O dinheiro não provem da sua acção. É o Estado que transfere os dinheiros públicos para os homens-fortes dessas instituições (IPSS, Misericórdias, e outras) os hierarcas religiosos, que dependem dos bispos. E a dotação orçamental do Estado (OE), repito do Estado ultrapassou em 2011 os 1,2 milhões de euros.
Além do mais os utentes, nos casos dos lares, entreguem ainda até 80 por cento das suas reformas. Um duplo ganho para os cofres da Igreja Católica.
Do ponto de vista do progresso humano, da evolução societária, não podemos ser cúmplices das falsificações dos tipos de solidariedade colectiva social e das próprias relações sociais que atravessam todo o sistema da actividade humana.
É natural que numa situação de empobrecimento real da população, que busca, em primeiro lugar, a sobrevivência, as pessoas - e são em número elevado - pensem na sua "barriga" e na alimentação, ainda que mínima, e dos seus próximos.
Naturalmente, os apaniguados da caridade, como reacção, lançar-se-ão, como leões esfaimados, contra aqueles que denunciam os manipuladores da miséria, os hipócritas do bem fazer, encobertos com a perfídia de evitar que os instigadores do empobrecimento do povo, sejam apontados e severamente castigados.
O Banco Alimentar contra a Fome (BACF) é "uma grande empresa e tem de ser gerido como uma grande empresa", confessa à revista da CIA norte-americana "Selecções Reader's Digest", numa entrevista conduzida por uma senhora chamada Anabela Mota Ribeiro à Presidente da Direcção da citada entidade, Isabel Jonet.
Consultado o relatório do BACF de 2010, verifica-se que o grosso da distribuição de produtos se espalha, essencialmente, por "conferências vicentinas", "centros paroquiais", "centros sociais" e "associações", umbilicalmente, ligadas à Igreja Católica portuguesa.
Naturalmente, o BACF tem, ao seu serviço, muitos voluntários, mas igualmente trabalha com "profissionalismo", ou seja há um sector que recebe dos "donativos" para seu favor. Como sempre, em instituições da Igreja Católica, os valores monetários são "enrolados", obscurecidos, como por encanto.
Vamos referir e enquadrar a parte a que isso diz respeito no relatório de actividades de 2010, que tem a assinatura principal de Isabel Jonet.
Circulam, portanto, produtos, mas também dinheiro - não sabemos quanto, porque o relatório não o divulga.
"Em 2010, registou-se um grande acréscimo (19,7%) no total de produtos angariados relativamente ao ano anterior, resultante sobretudo da dotação orçamental extraordinária aprovada pelo Conselho de Ministros da UE para o Programa Comunitário de Ajuda a Carenciados (excedentes da União Europeia), em resposta à crise vivida na União Europeia e à qual Portugal não escapou", assinala o Relatório, ou seja a UE deu dinheiro ao Banco.
No mesmo relatório, pag. 12, são explanadas, em traços, largos, as contas, em dinheiro, repito, em dinheiro, que são "movimentadas", não sabemos como!!!, com os títulos gerais "Custos" e "Proveitos". Os primeiros, no total, ascendem, em 2010, a 17.500.303,38 euros, e os "Proveitos" somam 17.510.470,89 euros.
Dos produtos, doados pelas grandes empresas, como Pingo Doce, SONAE, entre outras, recebem os "restos", bem como do MARL, ao fim do dia, ou seja quando se encontram, provavelmente, no limite do prazo de validade.
Estamos perante uma domesticação grosseira das necessidades das pessoas carenciadas. Roubam-se salários, roubam-se pensões, lançam no desemprego milhões de pessoas, e depois entregam o dinheiro a uns "seres morais" que, privadamente, com o dinheiro público e as doações populares, servem as refeições aos esfomeados. O desprezo mais repugnante pela condição, a hipocrisia do falso moralizador que, hipocritamente, se intitula em salvador e em benfeitor. ...
Carta aberta a Isabel Jonet,
Não pude deixar de ficar chocada com as suas declarações em como «devemos empobrecer» e que «não podemos comer bife todos os dias» e «que vivemos acima das nossas possibilidades».
O boletim do INE (Balança Alimentar Portuguesa 2003-2008)[1] lembra-nos que a dieta dos Portugueses está cada vez menos saudável. A fome, escreveu um dos seus maiores estudiosos, o médico e geógrafo Josué de Castro, pode ser calórica ou específica, isto é, pode-se comer muitas calorias e mesmo assim ter fome. Hoje os reis são elegantes e os pobres gordos, num padrão histórico inusitado. Os Portugueses estão a comer uma quantidade absurda de hidratos de carbono. O consumo de papas aumentou 7% com a crise, com consequências graves para a saúde – diabetes, doenças degenerativas, obesidade – porque se trata de açúcares simples. As pessoas alimentam-se apenas de forma a garantir a energia necessária para continuarem a produzir. Sentem-se saciadas, mas manifestam carências alimentares de vitaminas, nutrientes, sais minerais e proteínas de qualidade. Os Portugueses têm uma alimentação hipercalórica – média de 3883 kCal por dia – pobre em peixe e carne, proteínas de origem animal, essenciais, porque são de digestão lenta e indispensáveis ao sistema nervoso.
O peixe era um dos raros alimentos na viragem do século XIX para o século XX que os pobres comiam mais que os ricos. Agora, o peixe chega à lota e é imediatamente colocado em carrinhas de frio em direcção à Alemanha e à Suíça, embora umas caixas fiquem na mesa dos ricos e do Governo que a senhora defende. O mesmo começou a passar-se com os medicamentos – o paraíso das exportações é um inferno para quem vive do salário e empobrece.
No Norte da Europa os trabalhadores foram convencidos a comer «sandes» ao almoço para aumentar a produtividade e quase só a alta burguesia tem acesso a restaurantes. Comer de faca e garfo nos países nórdicos é fine dining. ...
Com o aumento das rendas, diminuição dos salários, perseguição da ASAE e saque fiscal, os restaurantes populares fecham portas na mesma proporção que aumentam as filas do Banco Alimentar.
A fome é um problema cuja origem reside única e exclusivamente no sistema capitalista. Hoje, há tecnologia, terras e conhecimento para que o homem não esteja dependente das vicissitudes Natureza para se alimentar. É aliás isso que distingue o homem dos outros animais, domar a Natureza, através do trabalho, e superar o reino da necessidade, isto é, comer todos os dias e poder compor música ou escrever um livro. Isso é a liberdade.
A fome em Portugal deve-se única e exclusivamente a escolhas políticas pelas quais a senhora é co-responsável, com a sua defesa da política de «empobrecimento». A fome deve-se:
1) à manutenção de salários abaixo do limiar de subsistência, abaixo do cabaz de compras, o que torna os sectores mais pobres dependentes das instituições que os alimentam;
2) ao encerramento de fábricas, empresas e aos despedimentos para elevar a taxa de lucro na produção;
3) ao desvio de investimentos para a especulação em commodities, entre elas, grãos;
4) à deflação dos preços na produção, ou seja, se não obtêm uma taxa média de lucro que considerem apetecível, as empresas de produção de alimentos preferem não produzir.
Mas a fome deve-se ainda a um factor mais importante tantas vezes esquecido, a questão da propriedade da terra. Enquanto mercadoria produzida para gerar lucro, a produção de alimentos deve render um lucro médio ao proprietário da produção semelhante ao lucro alcançado na indústria. Para além desse lucro médio temos que arcar também com a renda da terra (um pagamento inaceitável por aquilo que a natureza nos deu de borla). É também essa renda responsável pela existência de subsídios à produção. Porque a agricultura é menos produtiva do que a indústria, a renda da terra é subsidiada. Com a crise do crédito, esses subsídios diminuem e o preço dos alimentos dispara até preços incomportáveis. Por isso, sem emprego e expropriação de terras (reforma agrária) sob controle público, a fome só irá aumentar.
Quem percorre Portugal percebe também que se aqui há fome não é por falta de terras, máquinas ou pessoas para trabalhar. Em Portugal, 3 milhões de pessoas são consideradas oficialmente pobres. Produzimos uma riqueza na ordem dos 170 mil milhões de euros (PIB português que poderia ser bem maior não fosse a política de desemprego consciente do governo) e temos de “empobrecer”?! Para onde vai este dinheiro, dona Isabel Jonet? 170 mil milhões de euros produzem os Portugueses juntos e não podem comer bife?
As tropas de famintos são uma mina de ouro para as instituições que vivem à sombra do Estado a gerir a caridade: os nossos impostos, em vez de serem usados para o Estado garantir o bem-estar dos que por infortúnio, doença ou desemprego precisam (solidariedade), são canalizados para instituições dirigidas sobretudo pela Igreja católica (caridade). A solidariedade é de todos para todos, a caridade usa a fome como arma política. Por isso nunca dei um grão de arroz ao Banco Alimentar contra a Fome. A fome é um flagelo, não pode ser uma arma para promover o retrocesso social que significa passarmos da solidariedade à caridade(zinha).
A sua cruzada, dona Isabel Jonet, lembra infelizmente os tempos do Movimento Nacional Feminino e as suas campanhas de socorro «às nossas tropas». As cartas das «madrinhas de guerra» e os pacotes com «mimos» até podiam alegrar momentaneamente o zé soldado, mas destinavam-se a perpetuar a guerra. Os pacotes de açúcar e de arroz do seu Banco Alimentar aliviam certamente a fome das tropas de destituídos que este regime, o seu regime, está a criar todos os dias. Mas a senhora e as políticas que defende geram fome, não a matam.
(-por Raquel Varela, historiadora, coordenadora do livro Quem Paga o Estado Social em Portugal? (Bertrand, 2012)
(-por Quino, via Sérgio Lavos)
Terça-feira, 02.10.12
... se ao genocídio em curso na Síria, somarmos o histórico (mas não relativizável) drama da Palestina, as crises sociais (que são, incontornavelmente, económicas e políticas) da Grécia, de Portugal e da Espanha e as que ameaçam a Itália ou a França... temos ou não temos, um mar incendiado, aqui mesmo aos nossos pés ...
«Por favor, deixem pão e comida fora do contentor» (daqui) Entretanto, os três líderes da coligação governamental (grega+troika) reuniram-se para um último acordo sobre as novas trinta medidas a serem aplicadas e que, em resumo, parecem apontar para ( + 'cortes' em salários e pensões ... + despedimentos, ...):
Mais contentores serão necessários em Atenas (e Lisboa, Porto, Madrid, ...) – destinados apenas a restos de comida.
Terça-feira, 21.12.10
O flagelo Neoliberal consiste num conjunto de políticos enfeudados ao grande poder económico e financeiro, que empobrecem milhões de europeus e também gente de outros continentes.
… se puser diante da televisão ou ler os jornais, notará que é constante a lavagem ao cérebro, e que a mentira repetida já se tornou numa verdade consentida. Falam sempre os mesmos, escrevem sempre os mesmos, por isso temos uma perspectiva da crise e da sua resolução através somente das opiniões dos Corifeus enviados pelo sistema, uma visão diferente não tem lá lugar.
Estamos entregues aos latifundiários da comunicação social, [...]
[…] uma afirmação do Senhor Presidente da República, dizendo que os restaurantes deveriam dar as sobras da comida aos pobres. Vamos brincar à caridade? Ou vamos lutar contra as causas da pobreza? Governem para dar os recursos económicos aos mais pobres, sem os quais é impossível manter uma vida digna. Ouçam os pedidos de justiça dos mais humildes, e não as exigências da oligarquia económica e financeira, escutem os que votam, e não os que só têm dinheiro.
Lembrei-me, ao ouvir esta frase de Cavaco Silva, dos finais dos anos cinquenta e princípios dos de sessenta aqui na então vila do Sabugal. Nos dias de mercado, os pobres vindos de algumas terras do Concelho, vinham bater às portas das casas ricas para que lhes matassem a fome. Isso era quase sempre à hora do almoço. Então os donos das casas diziam às criadas para lhes darem fatias grandes de pão centeio. Assim era feito, os pobres de mãos postas e a gemer pai nossos e ave marias, agradeciam essa caridade para com eles. Este era o Portugal, logicamente também o Concelho, rural, feudal e católico, ainda estamos a pagar, pelo menos nas mentalidades, esse domínio da Igreja Católica, que tem na sua doutrina, uma das principais orientações que é a caridade. Isto fez de Portugal um País social e economicamente atrasado. Parece mentira? Mas é verdade.
Pessoalmente, considero o Professor Cavaco Silva um dos guardiões da Ortodoxia Neoliberal em Portugal.
António Emídio [Capeia Arraiana]
Segunda-feira, 13.12.10
O Presidente da República considerou que os portugueses têm de se sentir “envergonhados” por existirem em Portugal pessoas com fome, um “flagelo” que se tem propagado pelos mais desfavorecidos de forma “envergonhada e silenciosa”.
Se há alguém se se deva sentir envergonhado por haver quem passe fome em Portugal não são os portugueses, mas sim aqueles que nos últimos anos tiveram a responsabilidade de estar à frente do estado e nada fizeram para o evitar. Pior, impuseram políticas e soluções económicas que não só não evitaram a fome e a pobreza como contribuíram para o seu aumento. Quem lutou por menos direitos, menores salários e maior precariedade no emprego é que se deve sentir envergonhado pelas culpas que tem no cartório. Eu, não é vergonha que sinto por haver quem passe fome, mas uma vontade enorme de contribuir para o fim das acusas que a criaram, ou seja correr com a corja que se tem alimentado e engordado à custo do que devia ser distribuído por todos. Certamente que o Sr. Silva não se lembra dos que passam fome quando oferece os grandes banquetes com copos de cristal e talheres de prata, nem quando mostra satisfação pela realização de grandes cimeiras, como a da NATO que custou muitos milhões a Portugal. Certamente não era no problema dos que passam fome que pensa quando abraça os Dias Loureiros deste país. Vergonha devia ter quando recebe as confederações patronais e lhes sorri quando estes afirmam que as empresas não podem pagar mais 80 cêntimos por dia a quem recebe o ordenado mínimo.
Mas, realmente há uma coisa de que nós portugueses podemos e devemos ter vergonha, é a de termos como Presidente da República uma pessoa como o Sr. Silva. Disso tenho vergonha, muita vergonha.
[wehavekaosinthegarden]