Um tribunal do trabalho no Reino Unido determinou que a UBER não pode considerar que os condutores que para ela trabalham são empregados por conta própria. Esta decisão resultou de uma acção movida por dois motoristas que trabalhavam para a Uber. Esta decisão pode ser decisiva para devolver alguma justiça ao cada vez mais liberalizado mercado de trabalho do Reino Unido.
Os cerca de 40 mil condutores que trabalham para a UBER no Reino Unido passam agora a ter de receber subsídio de férias, receber pelo menos o salário mínimo nacional , ter direito a férias e aos outros direitos que os trabalhadores por conta de outrém têm direito nos termos da lei.
Estas prácticas adoptadas pela UBER são utilizadas no Reino Unido por outras empresas que dessa forma recorrem a cerca de 460 mil trabalhadores, classificados como empregados por contra própria, evitando pagar em impostos e contribuição para a segurança social cerca de 350 milhões de euros por ano. Nada mau para a economia dita colaborativa. A Uber argumenta que não é uma empresa de transportes apenas e só uma empresa tecnológica. Quem transporta são os empregados por conta própria que recorrem aos serviços da Uber. Nada de novo nesta argumentação. As (empresas de/com) plataformas electrónicas recorrem a esta linha de argumentação quer o seu negócio seja os transportes urbanos quer seja o arrendamento de curto prazo (ex: AirBnB).
Os consumidores nesta fase colocam-se normalmente do lado destas empresas. Há uma lógica (individualista e) de benefício de curto prazo que prevalece sobre os valores da justiça, do respeito pelos direitos dos trabalhadores, do direito a relações laborais justas e outras que ajudaram a fundar a civilização moderna. A coberto destas novas tecnologias ensaiam-se novas formas de radicalizar a exploração e a opressão e de consolidar um novo mundo baseado na desigualdade extrema.
PS - a referência à economia colaborativa surge sempre que se fala na actividade promovida pelas plataformas electrónicas. Os ingleses, a propósito da Uber, recorrem ao termo "gig economy" que se pode traduzir como "economia do biscate". Entre os dois venha o diabo e escolha.
----- Apesar de tudo, acho "economia do biscate" muito melhor (ainda que possa contribuir para manter a ilusão de que os trabalhadores (/'colaboradores') da Uber serão "trabalhadores por conta própria").
---- Também os chineses? A Didi, depois de passar a perna à Uber, enfrenta as autoridades chinesas. (- Segundo o DN de hoje a Didi Chuxing, a versão chinesa da Uber, enfrenta um conjunto de medidas, decretadas hoje pelas autoridades chinesas, que incluem, pasme-se, a obrigatoriedade de a empresa pagar impostos, motoristas que tenham carta de condução há pelo menos três anos - não poderão ser três dias, vejam lá isso - e que não tenham o hábito de se emborracharem ou de andarem a acelerar e a provocar acidentes, entre outras bagatelas.
A Didi Chuxing que comprou a Uber - forçada a retirar-se do mercado chinês depois de ceder a posição ao concorrente local - mobilizou financiamentos de importantes empresas internacionais, nomeadamente da Aplle, que apoiou com mil milhões de dólares a compra da Uber, para dominar o jogo. Claro que a empresa já reagiu à decisão das autoridades chinesas e declarou os enormes prejuízos que estas medidas irão provocar aos cidadãos chineses. O costume. A preocupação com os consumidores está no coração destas empresas.
Está a alastrar este tipo de intervenção dos governos promovendo a regulação destas actividades fortemente desreguladas.
Naturalmente há mercados muito mais importantes que outros. Bem recorda a Didi que mais de 90 milhões de chineses podem ter que deixar o conforto e a modernidade que ela lhes oferecia para se acolherem, forçados, nos braços, salvo seja, dos tradicionais, e old-fashion, taxistas do império do meio.
---- Danos Irreparáveis: Nova Yorque contra a Airbnb. The times are a changing. Não deixa de ser uma ironia. Uma das cidades mais injustas do mundo, Nova Yorque, aprovou uma lei, no passado dia 20 de Outubro pela mão do Governador do Estado, Andrew M. Cuomo, que obrigou a plataforma digital de alojamento Airbnb, a intentar uma acção federal para a anular. Esta lei impõe pesadas multas aos proprietários que anunciem as suas residências no site da Airbnb, multas que vão até 7500 dólares. Quem o escreveu foi o New York Times na sua edição internacional do passado dia 24 de Outubro. Percebe-se o transtorno que tudo isto está a causar à plataforma electrónica. Segundo a Airbnb esta lei irá provocar danos irreparáveis à empresa e, segundo as fórmulas muito em voga em Portugal, à "economia colaborativa" que a plataforma estimula incessantemente. O negócio da empresa em Nova Yorque vale mil milhões de dólares por ano. Percebe-se que seja motivo para lutar contra todas as formas de regulação que o Estado queira promover. Que isso aconteça no coração do capitalismo puro e duro é uma ironia. Que isso seja protagonizado pelo poder politico de uma das cidades mais injustas existentes à face da terra, quando as comparamos segundo os critérios da equidade, da democracia e da eficiência das politicas públicas urbanas é ainda maior motivo de espanto.
O que levou o Governador do Estado e o Presidente da Câmara de Nova Yorque, o democrata Bill de Blasio, a colocarem-se na linha de tiro dos advogados da Airbnb? Muito simples. Em Nova Yorque, como em todo o lado, a entrada, no mercado do arrendamento de curto prazo, destas plataformas determinou que o pouco alojamento destinado ao arrendamento de longa duração tivesse desaparecido e que o arrendamento social esse, pura e simplesmente, sumiu. Esta situação penaliza os nova-iorquinos de mais baixos rendimentos e coloca os interesses dos turistas, cujos períodos de permanência na cidade são muito curtos, acima dos interesses dos seus habitantes. O arrendamento de média ou longa duração quase desapareceu, atingindo o ainda disponível preços elevadíssimos. Claro que fica bem lembrar que os turistas não são nossos inimigos, como é costume escutar nestas alturas. Pois não, mas os "empresários" da tal economia colaborativa se calhar são inimigos de uma ideia básica de direito à cidade, ainda que seja apenas o direito a viver na cidade em que nascemos e trabalhamos.
Há várias opiniões a defrontarem-se neste momento de guerra aberta.
Pelo lado da empresa a acção movida no Tribunal Federal argumenta que a lei aprovada pelo governador Cuomo irá causar danos irreparáveis à empresa. Esta lei, que tanto transtorno está causar à plataforma electrónica, impõe pesadas multas, que vão até 7500 dólares, aos proprietários que anunciem as suas residências no site da Airbnb. Uma estratégia que parece ter sido desenhada para evitar que a empresa viesse a obter decisão judicial favorável por pretensa limitação da actividade empresarial por meios digitais. A lei pune os que recorrem ao site da empresa para divulgar a sua oferta de alojamento. Com um objectivo claro. "New York is taking a bold step that will hopefully set a standard for the rest of the country and other countries in the world that are struggling with the impact of Airbnb on affordable housing" .
Claro que nesse caso a empresa fica obrigada a não divulgar alojamentos cujos proprietários tenham sido objecto de acção legal por parte das autoridades. Um porta-voz do Governador Cuomo afirmou que: "Airbnb can´t have it both ways: it must either police illegal activity on its own site, or government will act to protect New Yorkers."
A plataforma argumenta que não lhe compete a ela fiscalizar a legalidade dos actos daqueles que utilizam a plataforma para divulgar os seus alojamentos. Desde 2010 que existe legislação que ilegaliza a oferta de alojamento por períodos inferiores a 30 dias a todos os que não exercem a actividade de hotelaria. Esta medida era ignorada pelas próprias autoridades. Agora esse tempo terá acabado. O porta-voz do presidente da Câmara Bill de Blasio veio afirmar que: "We would apply this tool, just as we do our current ones, to hold bad actors accountable. (...) illegal rentals compromise efforts to maintain and promote affordable housing by allowing those units to be used as unregulated hotels".
Pois é, os tempos estão a mudar e para melhor. Mesmo que essas mudanças venham do coração do capitalismo, lá onde os direitos dos mais fracos são muitas vezes esmagados.
O Jornal de Noticias publicou em 05.03.2011, uma notícia sobre o Palacete na Quinta das Conchas, reportagem efectuada pelo jornalista Cristiano Pereira.
O Grupo Municipal do Partido Ecologista “Os Verdes” enviou um requerimento à presidente da Assembleia Municipal, Simonetta Luz Afonso, com vista obter esclarecimentos sobre o assunto. Resumidamente, os ecologistas pretendem que se clarificado os motivos que levaram a CML a não proceder a obras de requalificação de intervenção efectuadas em 2005 e quais as diligencias que prevê a autarquia fazer com vista a requalificação do imóvel. Fonte do Gabinete do Vereador Sá Fernandes disse que “ esta a ser estudada uma solução que seja viável”.
Em relação ao corte de árvores e segundo a CML, aquelas estavam doentes desde 19 de Janeiro. Vai ter lugar uma intervenção na vegetação para limpar o arvoredo deste espaço e melhorar as condições de segurança e que se está a proceder à remoção de árvores mortas, ou identificação como o risco de queda e a realizar trabalhos de limpeza de ramos secos, de controlo de infestantes e de desrame de árvores em desequilíbrio, ou a prejudicar o desenvolvimento saudável de outros exemplares.
Lisboa e em particular o Lumiar, ficam a aguardar notícias sobre a solução desejável, que passa na minha opinião pela requalificação do Palacete e, continuo achar que não ficava nada mal à CML, junto das entradas/saídas colocar informação, sobre as actividades a desenvolver na Quinta, para evitar mal entendidos.
João Carlos Antunes
O Estado Português quer vender a sua actual participação maioritária no capital da Tobis, o estúdio histórico do cinema português, localizado no Lumiar, em Lisboa. A base de licitação para a operação pode aproxima-se dos sete milhões de euros.
O anúncio da venda já saiu em Diário da República, com a indicação de que as propostas de aquisição deverão ser entregues junto do Instituto de Cinema e Audiovisual, até 9 de Março próximo. Nesse mesmo dia, as propostas recebidas serão abertas em sessão pública.
Gostaria de deixar um pouco da sua história, é sempre bom reviver momentos de ouro do cinema Português e da sua ligação ao Lumiar.
Em 1920 – Francisco Mantero vende terreno com antigas edificações da Quinta das Conchas, mediante escritura de 5 de Janeiro, à empresa Técnica Publicitaria Film Gráfica Caldervilha.
Em 1932 – A companhia Portuguesa de filmes sonoros Tobis Klangfilm é constituída a 3 de Junho. Um mês de depois, adquire uma parcela de terreno da Quinta das Conchas, outrora vendido por Francisco Mantero à empresa Técnica Publicitaria Film Gráfica Caldervilha e aqui nascia o primeiro estúdio da companhia Portuguesa de filmes sonoros Tobis Klangfilm.
Em 1934 A companhia Portuguesa de filmes sonoros Tobis Klangfilm, que entretanto mudou a sua designação para Tobis Portuguesa, inaugura a 17 de Agosto o novo estúdio, aqui viriam a ser filmados obras como:
A Canção de Lisboa, realizado por Cottinelli Telmo (com Beatriz Costa, Vasco Santana, António Silva e… Manoel de Oliveira). (1933),
As Pupilas do Senhor Reitor, de Leitão de Barros, segunda longa-metragem. (1935),
Maria Papoila, de Leitão de Barros. (1937),
João Ratão, de Jorge Brum do Canto, apresentado com o filme cultural Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul de Fernando Fragoso e Raul Faria da Fonseca. (1940),
O Pai Tirano, de António Lopes Ribeiro ou O Pátio das Cantigas produzido por António Lopes Ribeiro e realizado Francisco Ribeiro (Ribeirinho). (1941),
O Costa do Castelo, de Arthur Duarte. (1943),
A Menina da Rádio, de Arthur Duarte,
O Leão da Estrela, de Arthur Duarte, com António Silva, Milú, Erico Braga, Curado Ribeiro, Laura Alves, Artur Agostinho, Maria Olguim. (1947).
A Tobis, teve um papel importante no âmbito da indústria cinematográfica nacional, na sua contribuição para o desenvolvimento do cinema em Portugal e na sua inserção no contexto mais geral da história contemporânea portuguesa; próximo de 80 anos de história na fabricação de cinema em Portugal, está a viver uma página negra na sua história, o futuro para os 66 trabalhadores não está fácil, a maioria com mais de 25 anos de casa, não são excepção no que toca por vezes ao pagamento dos salários em atraso.
Os estúdios estão integrados numa malha urbana, bastante apetecível aos especuladores imobiliários, vamos ver o que este filme nos reserva, esperando que tenha um final feliz.
João Carlos Antunes
Para quem está na cidade de Lisboa e passa na Av. Fontes Pereira de Melo, vai encontrar três edifícios emparedados, mas com desenhos surpreendentes sobre os suportes das fachadas e alçados laterais.
Desenhos que expressam algumas emoções, através dos elementos que compõem as várias obras ali gravadas, associado a um ideal de belo, conseguem absorver a nossa atenção, ficando para segundo plano o facto de os edifícios estarem devolutos.
Esta arte urbana é um produto da evolução da humanidade que expressa as suas experiencias e emoções criando este tipo de diálogo intencional, conseguindo interferir na Cidade, especialmente se considerarmos a paisagem urbana de Lisboa, abandonada, este tipo de arte, na minha opinião deixa a cidade menos tristes e monótona.
João Carlos Antunes
Situado na freguesia do Lumiar, à Alameda das Linhas de Torres, a Quinta das Conchas é um espaço verde nasceu da recuperação de duas quintas do século XVI, tendo sido instalada por Afonso Torres.
Após ter passado por várias famílias de proprietários acaba por ser adquirida a 22 de Fevereiro de 1899, por Francisco Mantero, importante roceiro em S. Tomé e Príncipe, também chamada dos Mouros, propriedade de D. Maria Juanna da Conceição Alcobia Tavares.
Em 1966, a Quinta das Conchas e dos Lilases são vendidas à Câmara Municipal de Lisboa (CML), pelo valor de 85 milhões de escudos, mediante escritura celebrada a 14 de Fevereiro.
A Quintas das Conchas foi alvo de uma recuperação importante nos meados do ano 2005, intervenção essa que foi programada a partir de estudos efectuados sobre os sistemas de composição da Quinta, que sustentou uma proposta que assegurasse a sua existência cultural, social e funcional através da recuperação, valorização e gestão do património que a constitui.
Podemos hoje encontrar neste local, duas simpáticas placas a informar “edifício encontra-se em risco de ruir, Por favor não se aproxime, agradecendo à nossa compreensão”.
Peço desculpa, mas por mais compreensão que se possa ter, não consigo compreender, por que razão este palacete até aos dias de hoje ainda não foi recuperado, na perpetuação da sua essência histórica.
João Carlos Antunes
Na principal artéria na Freguesia do Lumiar em Lisboa, na Alameda das Linhas de Torres, aos n.º 24 ao 30, mora gente, gente que não devem conhecer grandes confortos.
Este é o Lumiar, que já ninguém acredita que existe. Foram-se as barracas, mas continuam a existir estes casebres, aqui o tempo parou.
A poucos metros do complexo Alvalade XXI, que custou quase 154 milhões de euros, vive gente que corre perigo de derrocada, um cozinhado que cheira a tragédia com gente dentro.
Não é preciso ser especialista para adivinhar o que pode acontecer com as telhas esburacadas que encontramos no telhado, as águas da chuva esgueirar-se por entre os buracos, a fachada, não indicia outra coisa senão a vida de outros tempos; diante das quais quem por ali passa não pode ser insensível, a janela não abre e quem ali mora não pode ver o mundo, do mesmo modo deve esconder o que se poderia ver se a janela se abrisse.
Este post, ninguém pediu para o fazer, não é um caso de política, mas de falta de sensibilidade de quem pode fazer mais e melhor, um comportamento que é apanágio da nossa nação e que existe a necessidade reverter.
Estou a falar de gente!
João Carlos Antunes
Este edifício localiza-se no centro do Lumiar, entalado entre dois edifícios modernos, junto do Centro Comercial na Alameda das Linhas de Torres, teimosamente resiste, dando apenas neste momento abrigo aos pombos que por lá fazem a sua vida.
Em 2007 suspeitava-se que iria ser substituído por mais um bloco de cimento, pois o estado de degradação era tal que colocava em risco à data, a segurança de quem por ali passava.
Passados quatro anos, como devem calcular o risco aumentou consideravelmente, embora tenha sido colocado uma protecção junto ao passeio, para evitar males maiores.
Este edifício foi em tempos aula infantil, cantina e balneário e pertenceu à Sociedade Instrução e Beneficência José Estêvão fundada em 1911, perfazendo agora o seu centenário.
O Lumiar irá perder mais um ponto de interesse local e assim se apaga a história.
Aproveito o momento para falar dos centros escolares republicanos que fazem parte da riquíssima história do associativismo, tão vigoroso na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX e o Lumiar faz parte deste roteiro Republicano.
Fenómeno também europeu o associativismo oitocentista visava responder aos problemas e solicitações sociais decorrentes de transformações muito importantes, então vividas tanto na sociedade portuguesa como nas demais sociedades dos países ocidentais.
Entre essas transformações, merece referência particular o fenómeno do desenvolvimento das cidades, decorrente do crescimento demográfico e das intensas migrações do campo para as cidades.
É neste contexto historicamente inédito que se assiste ao declínio de formas tradicionais de sociabilidade, à proletarização de camadas importantes da sociedade, à emergência de formas novas de pobreza e mesmo ao agravamento de formas de comportamentos desviantes como o alcoolismo, a vadiagem e a prostituição. Da imensa variedade de todos esses problemas decorre a infinita variedade das associações então criadas, muito diversas quanto à sua natureza, às suas finalidades e às qualidades e condições sociais dos seus associados.
As associações surgem assim como resposta a problemas sociais graves de desenraizamento e de sociabilidade, pois visam o reenquadramento social do indivíduo, sobretudo urbano, numa determinada “associação”, que pode ter objectivos meramente bairristas, ou então sérias motivações profissionais, culturais, filantrópicas, cívicas, políticas, recreativas ou mesmo explicitamente educativas.
A pujança do associativismo oitocentista acaba por envolver todas as camadas sociais, embora seja de longe mais intenso nas cidades, entre as classes médias e as camadas mais pobres da sociedade.
Sabemos que a generalidade das associações tinha objectivos estritamente laicos e era muitas vezes politicamente progressista. Muitas das associações criadas entre nós no último quartel do século XIX tinham, porém, uma importante acção cultural e educativa.
Era necessário e urgente acudir ao gravíssimo problema social proporcionado pela existência de amplas camadas infanto-juvenis vítimas da pobreza, da orfandade, do abandono e do analfabetismo. Face à falência ou à inoperância dos sistemas assistenciais e educativos do Estado, muitas associações procuraram contribuir, cada uma de acordo com a sua natureza, os seus fins e os seus meios para a resolução, sempre pontual e localizada, dos problemas sociais vividos pelas crianças e jovens da comunidade em que se integravam e que serviam. Por isso, muitas das associações então criadas procuravam contribuir para a criação e sobretudo para a educação das crianças desprotegidas, de modo a transforma-las em verdadeiros cidadãos, devidamente escolarizados, portadores de uma eficiente formação profissional, como hoje diríamos e, enfim, úteis à comunidade.
Por outro lado, face às fragilidades do sistema oficial de ensino, nomeadamente ao nível do ensino primário, havia que procurar alternativas mais ou menos informais e até improvisadas mas que respondessem, mesmo que parcialmente, a alguns dos problemas inerentes à deficiente escolaridade dos portugueses e em particular ao problema do analfabetismo. Assim, desde pelo menos o início dos anos 80 do Século XIX que se vão improvisando e ensaiando, promovidos por entidades particulares, modelos organizativos de escolas e de cursos alternativos à escola oficial e às suas graves deficiências. Visava-se quer o combate às carências escolares de sectores importantes da população, quer o ensaio de modelos escolares e pedagógicos alternativos, eventualmente conducentes a uma praxis e a uma escola “nova” e mesmo “republicana”.
Pela sua origem, pela sua natureza, pelos seus objectivos e até pelos seus estatutos, os Centros Escolares Republicanos distinguem-se de outras associações e sociedades da época, mesmo quando estas também tivessem, embora sempre subsidiariamente, objectivos educativos. Com efeito, os Centros Escolares Republicanos, pelos seus estatutos, tinham como objectivo determinante uma função escolar, proporcionando educação e formação a segmentos importantes da comunidade em que se inseriam e que serviam. Os Centros Escolares Republicanos distinguem-se, do mesmo modo, dos chamados Centros Republicanos, pois estes tinham essencialmente objectivos políticos e partidários.
João Carlos Antunes
Mais uma artéria da cidade de Lisboa, na freguesia do Lumiar, um corredor importante de ligação do Alto do Lumiar ao centro da freguesia, podemos aí encontrar um núcleo habitacional à espera de melhores dias, teimosamente vão resistindo, mas o abandono a que estão votadas, dificilmente vão conseguir evitar a sua degradação e o tempo irá ditar o seu destino, possivelmente a do colapso.
É triste assistir ao abandono deste património, vivendas a serem engolidas pela vegetação outrora ali plantadas como adorno, fazendo agora lembrar um ramalhete gigante.
Quem sai do metro vai dar de caras com uma casa fechada à mais de 20 anos, embora emparedada, o telhado ameaça ruir a qualquer momento, não deve resistir a muitos mais invernos.
Deviam ser tomadas medidas tendentes a evitar que a degradação deste património assuma consequências irreversíveis, medidas essas que permitiriam uma intervenção tendo em vista a execução da respectiva reabilitação destes imóveis, considerando que estes fazem parte da identidade local.
João Carlos Antunes
Quem fala sobre a história da freguesia do Lumiar, não pode esquecer, este núcleo habitacional antigo na rua do Lumiar.
Este núcleo habitacional quando nasce, ainda o Lumiar era uma aldeia dominada por nobres quintas, olivais e vinhas, sendo os principais frutos da terra o vinho, trigo, cevada e azeite, desenvolvido em torno de uma propriedade régia rural que evoluiu a partir do século XVI.
Hoje quando visitamos a rua do Lumiar e impossível passar indiferente a este desalento e abandono que tomou conta destes edifícios.
Podemos encontrar, edifícios setecentistas, edifício pombalino destinado à habitação e ao comércio, a apresentar uma planta rectangular simples com dois pisos, sótão e águas furtadas. Na fachada principal, destacam-se as janelas rectilíneas com molduras de cantaria salientes e, na fachada lateral direita, uma mansarda totalmente revestida a telha.
Podemos encontrar, edifícios de habitação oitocentista, a apresentar uma planta rectangular regular com dois pisos e águas-furtadas nas coberturas. A sua arquitectura é apalaçada, destacando-se os panos de muro totalmente cobertos com azulejos e as guardas das janelas de sacada em ferraria ornamental.
Podemos encontrar, edifício novecentista com decoração revivalista, construído para habitação e comércio. Apresenta uma planta rectangular com dois pisos e águas-furtadas, sendo a fachada principal rematada por cornija e ampla platibanda plena.
Hoje. Século XXI o Lumiar encontra-se numa capital europeia, muito se fala da cultura e na preservação da história, como é possível tratar deste modo o nosso património, como é possível coleccionar o desalento e tristeza numa só rua.
Artigo de João Carlos Antunes também publicado em AMBCVLumiar blog
Os medos existem e estão instalados, ao colocar estas questões, não estou à procura de respostas, mas apenas quero contribuir para a sua reflexão, outras questões podiam-se levantar, mas já temos matéria suficiente para analisar.
Parto do princípio que os problemas de segurança, são transversais a qualquer cidadão, existe também esta ideia generalizada de uma crescente desmotivação, de um crescente desacreditar, de um crescente deixa andar, de um crescente não vale a pena.
Muito se fala dos Bairros Sociais, como sendo um foco que provoca nos grandes centros urbanos sentimentos de insegurança.
Bairros Sociais, quem tem medo de que e de quem?
Porque que se tenta rotular com a categoria de criminosos, todos os moradores de um determinado bairro social?
Será que a comunicação social tem responsabilidade sobre esta rotulação, Na perspectiva de limitar e definir uma visão desajustada da realidade, criando um universo de ideias, criando uma distância entre o real e o imaginário?
Porque que existe desvalorização da venda dos imóveis, quando este se encontram próximos dos Bairros Sociais?
Será pelo facto dos Bairros Sociais constituírem territórios populacionais mais “temidos” pelas outras classes sociais?
Será que este quadro agudo de pobreza e miséria, de desigualdades, de individualismo, de desumanização, de desprezo pela vida ou sobrevivência dos excluídos crescente em Portugal, vai contribuir para este aumento destes receios?
O estado Português terá condições para criar formas de protecção que possam auxiliar a segurança individual e colectivo dos nossos bairros e das nossas cidades?
Será que os profissionais de segurança estão motivados, imunes e impermeáveis à corrupção?
Será que a maioria da população sofrerá a repressão e somente alguns poderão comprar segurança?
Que estratégias de sobrevivência devem ser adoptadas nesta arquitectura de violência?
Quem são os detentores de duas nádegas, que nada temem? Será que são aqueles que têm um cadastro impecável?
Quem são aqueles que desafiam as autoridades, rompendo com os códigos e normas estabelecidas pela sociedade, movendo-se e regendo-se pelas suas causas?
Será que são apenas os moradores de bairros sociais?
Aquilo que o cidadão comum sabe para estar seguro é preciso, não ser cúmplice, estar livre de perigos, de incertezas, de riscos eventuais, sem ter o que temer e poder gozar de efectiva tranquilidade.
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