-- olha para o que digo e não para o que faço (-H.Araújo, 15/1/2017, 2dedos de conversa)
--- olha para o que digo e não para o que faço (2) (-H.Araújo, 16/1/2017)
A propósito do
post anterior, transcrevo dois exemplos práticos de
como se ataca o mensageiro em vez de debater a mensagem. Não me entendam mal: não tenho nada contra confrontar as pessoas com os seus actos (desde que sejam realmente actos delas, e não torpes insinuações nossas). Mas quando se está a falar de uma questão concreta, deve-se falar apenas dessa questão concreta. Todos ganhamos se
aprendermos a debater as ideias independentemente do contexto das pessoas que as emitem.
1. Meryl Streep faz um
discurso no qual diz:
"And this
instinct to humiliate, when it’s modeled by someone in the public platform, by someone powerful, it filters down into everybody’s life, because it kinda gives permission for other people to do the same thing.
Disrespect invites disrespect, violence incites violence. And
when the powerful use their position to bully others we all lose. O.K., go on with it.
O.K., this brings me to the press. We need the principled
press to hold power to account, to call him on the carpet for every outrage. That’s why our founders
enshrined the press and its freedoms in the Constitution. So I only ask the famously well-heeled Hollywood Foreign Press and all of us in our community to join me in
supporting the Committee to Protect Journalists, because we’re gonna need them going forward, and they’ll need us to safeguard the truth."
No facebook escreve-se (como encontrei mencionado no mural de uma amiga - e também podia copiar para aqui inúmeros artigos em inglês que dizem mais ou menos o mesmo):
"
Eu entendo perfeitamente o desabafo de Meryl Streep na entrega do seu prémio. Ela pertence a uma classe privilegiada, de milionários de Hollywood, que deve sentir bastante empatia pela classe política de Washington. Tal como estes, os primeiros existem para as pessoas, de que dependem igualmente; vivem rodeados de toda a atenção mediática e de todos os luxos e acabam por ficar igualmente alienados e distantes dessas pessoas que os alimentam. São contra muros, mas o que conhecem do Mundo é limitado pelos muros que rodeiam as suas luxuosas propriedades e pela cortina que os separa da classe económica."
"
Hollywood é altamente subsidiada pelo estado, ao contrário do que muita gente pensa, que aquilo é tudo investimento privado e não sei o quê. É mais do que conhecida a proximidade dos Democratas com essa elite cheia de excentricidades, que dentro do seu pequeno mundo de mansões, iates e jactos privados, e idolatria onde quer que vão, fazem por influenciar a opinião das pessoas sempre no mesmo sentido, não conhecendo de todo a realidade dura do dia a dia dos seus próprios compatriotas. É muito fácil opinar favoravelmente ou contra algo, quando isso não nos atinge diretamente. A Meryl Streep tem direito a ter a sua opinião, mas só tenho pena que os mesmos não se tenham insurgido contra as guerras que o Obama criou, ou contra o incidente diplomático que podia ter tido consequências graves aquando da expulsão dos diplomatas russos, etc, só se interessam com "muros específicos", são muito selectivos."
"
Mas o meu post era algo simples. Uma reflexão apenas, dirigida aos fofinhos ditadores do pensamento único que ficam ofendidos quando alguém ousa pensar diferente. O teu comentário leva as coisas mais longe do que pretendia sequer. É que estava a tentar ser simpático para com a velha sonsa. haha Porque ela sendo uma grande actriz, conseguiu fazer passar muito bem a imagem de querida fofinha, apenas preocupada com o bronco que venceu as eleições. Na verdade, vivemos um momento de conspiração actual fantástico. Parece que ninguém reparou por exemplo no facto de nao terem passado imagens do Pontes de Madison County na montagem da Streep, filme onde ela até foi nomeada por melhor actriz. Nao será por o seu realizador ser o Republicano Clint Eastwood, claro, que nao... Hoje em dia cala-se o que nao interessa, com uma lata que faria corar qualquer censor anterior."
2. Marisa Matias publica no facebook um
post com imagens da situação desesperada dos refugiados apanhados sem abrigo num terrível inverno europeu, com este texto:
"Europa, 2017. Retrato de um
inverno que vem de dentro. Fila para o pão. Sem tecto. Abandono. Repito, 2017."
Comentários no seu mural:
"
Engraçado, por acaso nunca a vi a si nem a ninguem (com responsabilidade social) publicar fotos de nossos sem abrigo, na rua ao frio e à chuva e com fome!!!!! Porquê???? Não há????? Isto é para ficar bem perante o lugar que ocupa no PE ??????"
"essa senhora com o ordenado que imagino que recebe que o troque por comida para esses"
"Quem decide a sorte destes refugiados vive em palácios e entopem-se de comida.
Esses gravatinhas da UE deviam ser todos engaiolados, não têm vergonha na cara."
AS TROMBETAS DO PODER (-por J.Pacheco Pereira, Abrupto, 16/2/2015)
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(1)
O "jornalismo" "económico" em Portugal caracteriza-se por
não ser jornalismo. (
nem sério nem económico.) Há alguns jornalistas económicos que não merecem
aspas? Há sem dúvidas, mas são a excepção da excepção. E eles são os primeiros a saber que o são e como são verdadeiras as afirmações que aqui faço. Até porque fazer jornalismo na imprensa económica é das coisas mais difíceis nos dias de hoje. Fica-se sem "fontes", sem a simpatia dos donos e dos anunciantes
e pode-se ficar sem emprego. (que é
precário ou estagiário explorado, e daí também a
auto-censura, ameaças, assédio, ...)
A maioria que escreve na
imprensa "económica" fá-lo entre páginas e
páginas feitas por agências de comunicação, artigos enviados por auditoras e escritórios de advogados, fugas "positivas" de membros do Governo. Quase tudo
é pago nessa imprensa, mas esse pagamento não é o salário normal do jornalismo, mas o seu "modelo de negócio",
"vender comunicação" como se fosse jornalismo. É pago por
empresas, associações de interesse, agências de comunicação e marketing, por sua vez empregues por quem tem muito dinheiro para as pagar.
O
público é (mal) servido por "informação" que não é informação, mas publicidade (propaganda) e comunicação profissionalizada
de agências, dos prémios
de "excelência" disto e daquilo, destinados a
adornar a publicidade empresarial,
páginas encomendadas por diferentes associações,
grupos de interesse e lóbis, nem sempre claramente identificados, anuários sem que
só se pode estar se se pagar, organização
de eventos que
parecem colóquios ou debates, mas não são. Um cidadão que não conheça estes meandros
pensa que o prémio é competitivo e dado por um júri
isento, que as páginas especializadas são feitas pelos jornalistas e que quem é objecto de notícia é-o
pelo seu mérito e não porque uma agência de comunicação
"colocou" lá a notícia, que um anuário
é suposto ter todos os profissionais ou as empresas de um sector e não
apenas as que pagam para lá estar, e que um debate é para
ser a sério, ter contraditório e exprimir opiniões não para a
propaganda governamental ou empresarial. O
acesso ao pódio nesses debates
é cuidadosamente escolhido para não haver surpresas, e os participantes pagam caro
para serem vistos onde se tem de ser visto, num exercício de
frotteurisme da família das filias.
(2) Um dos usos que o poder faz deste tipo de imprensa é a "fuga" punitiva. Dito de outro modo, se o Governo tiver um problema com os médicos, ou com os professores, ou com os magistrados, ou com os militares, aparece sempre um relatório, ou uma "informação" de que os médicos não trabalham e ganham muito, que os professores são a mais e não sabem nada, que os magistrados são comodistas, e atrasam os processos por negligência, e que os militares são um sorvedouro de dinheiro e gostam de gadgets caros. E há sempre um barbeiro gratuito para o pessoal da Carris, ou uma mulher de trabalhador do Metro que viaja de graça, em vésperas de uma greve.
(3) A
luta contra a corrupção, seja governamental, seja empresarial, a
denúncia de "más práticas", os excessos salariais de administradores e gestores, a transumância entre entidades
reguladoras e advocacia ligada à regulação, entre profissionais de
auditoras e bancos que auditavam
e vice-versa, o embuste de tantos lugares regiamente pagos para "controlar", "supervisionar", verificar a "governance" ou a "compliance", para "comissões de remunerações", a miríade de
lugares ("tachos") para gente de estrita confiança do poder (ou a troca de favores e o nepotismo), que depois se verifica que não controlam
coisa nenhuma, nada disto tem um papel central na imprensa económica. A maioria dos grandes
escândalos envolvendo o poder económico foram denunciados pela imprensa generalista e não pela imprensa económica, que é suposto conhecer os meandros dos negócios. A
sua dependência dos grandes anunciadores em publicidade, as (grande) empresas
do PSI-20 por exemplo, faz com que
não haja por regra
verdadeiro escrutínio do que se passa.
(4) Esta imprensa
auto-intitula-se "económica", mas verifica-se que
reduz a "economia" às empresas e muitas vezes as empresas aos
empresários e gestores mais conhecidos. Os trabalhadores, ou "colaboradores", é como se não existissem. Um exemplo típico é Zeinal Bava, cuja
imagem foi cultivada com todo o cuidado pela imprensa económica. Agora que Bava
caiu do seu pedestal, como devemos interpretar as loas, os prémios, doutoramentos honoris causa, "gestor do ano", etc., etc.? A questão coloca-se porque muita da análise aos seus comportamentos como quadro máximo da PT é feita para um passado próximo, em que teriam sido cometidos os erros mais graves. Onde estava a imprensa económica?
A louvar Zeinal Bava, como Ricardo Salgado, como Granadeiro, como Jardim Gonçalves, como…
Até ao dia em que caíram e aí vai pedrada. (5) Dito tudo isto... ...a imprensa económica é uma das poucas boas novidades na imprensa em crise nas últimas décadas. Eu, em matéria de comunicação social, sou sempre
a favor de que mais vale
que haja do que não haja, por
muitas objecções que tenha
ao que "há". Eu não gosto em geral do modo como
se colou ao discurso do poder, servindo-lhe de trombeta, e isso pode vir a ser um problema, até porque esse discurso está em perda e os
tempos de luxo (e 'antena') para o "economês" já estão no passado.
O facto de ter havido um ascenso da imprensa económica ao mesmo tempo que estalava a
sucessão de crises, da crise bancária à crise das dívidas soberanas, impregnou-a do
discurso da moda, encheu-a de repetidores e propagandistas, colou-a ainda mais aos interesses económicos. Abandonou a
perspectiva política, social, cultural, sem a qual a
economia é apenas a legitimação pseudocientífica da política do poder e dos poderosos. Vai conhecer agora um período de penúria, em particular
de influência, e pode ser que isso leve a um esforço introspectivo sobre aquilo que se chamou nos últimos anos,
"danos colaterais", agora que caminha também para essa "colateralidade". ---
(url)

E o buraco? Era apetecível? Era grande ou apertado?
E depois de o mostrar, voltou para casa?

Será que mesmo assim houve consenso?
«…Temos de exigir que os novos líderes nos falem sempre a verdade. De mentiras estamos fartos. Ou os políticos nos falam sempre a verdade ou não os queremos. Temos de exigir que os novos líderes afastem para longe das áreas de decisão e da vida nacional todos os oportunistas que, após todas as eleições, se colam aos vencedores para encontrarem modo de beneficiarem pessoalmente das novas situações criadas. O povo não quer mais oportunistas perto de quem governa. É necessário que os sacrifícios que vamos ter de fazer nos sejam muito bem explicados e, sobretudo, que sejam muito bem repartidos, sendo maiores para quem mais pode. É necessário que aqueles que trabalham produzam o dobro para que, assim, se criem lugares para os que têm a infelicidade de não poder trabalhar. Assim como é necessário dizer aos preguiçosos, àqueles que não trabalham porque não querem, que não há mais lugar para preguiçosos em Portugal. É necessário criar um governo de competentes e não de vaidosos. Resumindo, é necessário que a sociedade portuguesa, a começar pelos governantes, se torne mais séria, mais responsável, mais trabalhadora.…»
[Magalhães Pinto | Poliscópio]
«…Será bom ver caras sinceramente dispostas a mudar Portugal. Encher o executivo de gente que apenas lá estão como retribuição de favores ao partido ou pela campanha, seria um péssimo sinal. Decidir cada ministro em função da proveniência – e não da competência – seria outro terrível sinal. Não compreender que o espaço à esquerda do PSD também deve estar comprometido com as duras tarefas que enfrentamos, seria outro desastroso sinal…»
[Henrique Monteiro | Expresso]
«…O ponto de partida para a mudança não é animador. O País está sobreendividado, a sociedade civil não é participativa nem exigente e todas as áreas de actividade encontram-se infestadas de práticas e interesses corporativos…»
[João Luís de Sousa | Vida Económica]
Espero que PPC nos surpreenda pela positiva. O que for bom para o País é bom para mim.
Até porque, lembro:
«A oposição nunca ganha as eleições. Quem está no governo é que as perde»
[W. Churchill]
Uma das evidências desta crise política é o estado catastrófico do PS.
Amarrado a uma liderança sem outro rumo que não seja o da autopreservação do poder, o PS é hoje um partido mergulhado num incompreensível autismo, sem capacidade para gerar um debate interno que o recoloque no seu espaço próprio, construído por valores de abertura, tolerância, transparência e liberdade de opinião.
O PS de Sócrates nada tem a ver com a herança de líderes como Soares, Sampaio, Guterres ou Ferro Rodrigues. É um partido barricado na falsa união, no unanimismo obediente, na defesa de privilégios e benesses típicos do exercício do poder de forma autocrática. Há porém um PS que está muito para lá das lógicas propagandísticas do aparelho medíocre construído por Sócrates e seus apaniguados.
Há um PS de eleitores que é muito mais do que o partido de militantes que conforta Sócrates nas suas maiores norte-coreanas eleições internas. E é esse PS de eleitores que está a abandonar o outro de militantes. Há gente que está a ver isso no largo do Rato mas permanece estranhamente silenciosa. Onde pára, afinal, esse outro PS? Sem sinais de respiração, o partido de eleitores também se vai desvanecendo. Sem esperança, o PS de eleitores vai dar mais de uma década de castigo ao outro, desenhado por Sócrates.
Por:Eduardo Dâmaso[Correio da Manhã]