

------ Até quando? (-Rui Silva, 7/3/2016, Manifesto74)
O presidente da (CIP) confederação dos patrões deu uma entrevista ao Diário Económico, jornal que tem uma greve de 24 horas decidida pelos seus trabalhadores para o próximo dia 10 - por motivo de degradação das condições de trabalho e de salários em atraso -, e nela afirmou a dado momento aquela já velhinha ideia, sempre renovada pelo constante uso, de que mais vale trabalho precário do que desemprego. O tema foi aberto e encerrado numa única pergunta e os jornalistas que conduziram a entrevista não sentiram necessidade de perguntar ao patrão dos patrões se a realidade se resume a uma das duas opções apresentadas (trabalho precário ou desemprego). Também não lhes ocorreu perguntar a António Saraiva se trabalhar sem vínculo decente, ou com horários desregulados, com salário reduzido ao osso e sistemas de prémios construídos à medida do empregador, não é uma certa forma de desemprego, na medida em que não estamos verdadeiramente a falar de um emprego.
Este "novo normal" institucionalizou-se, o que é naturalmente um perigo para a esmagadora maioria daqueles que vivem do seu trabalho, trapezistas sem rede num país em que gente como António Saraiva vai abanando a corda tanto quanto possível, gritando do lado de lá do abismo "antes corda aos ésses do que corda nenhuma". Não existirão outras opções? A precariedade imposta aos trabalhadores não é uma das razões fundamentais para o atraso de Portugal relativamente a outros países da Europa cuja competitividade da sua economia assenta precisamente em premissas inversas àquelas com que António Saraiva se parece conformar?
A leitura de entrevistas com os patrões deixa-me sempre à beira de um ataque de nervos, muito mais devido às perguntas que ficam por fazer do que às respostas que inevitavelmente surgem (curiosamente ninguém fala da "cassete patronal").
Por exemplo: relativamente ao miserável salário mínimo (SMN) praticado no nosso país, e que aproxima Portugal muito mais de países como a República Checa, a Polónia ou a Hungria do que do chamado "pelotão da frente" (o tal que integraríamos após a adesão ao marco-europeu, também conhecida como "euro"), diz Saraiva que "é exequível se tiver em conta ganhos de produtividade, factores de crescimento económico e inflação", acrescentando que "é bom que o valor que vier a ser negociado em sede de concertação para 2017, venha a ser definido com base na leitura conjugada dos três critérios e não por mera vontade política, uma vez que os salários são pagos pelos empresários" - que apresenta como aqueles que "diariamente constroem este País, pagam salários, criam riqueza e emprego" - "e não por decisões políticas".
Ora, se a questão da produtividade é constantemente colocada em cima da mesa como aspecto fundamental a ter em conta na discussão dos aumentos de salários em geral e do SMN em particular, seria relevante perguntar ao patrão dos patrões se não é verdade que esta depende em larguíssima medida de aspectos de gestão, investimento e organização do trabalho que transcendem completamente a esfera de intervenção dos trabalhadores na empresa.
Muitos patrões gostam de se apresentar como empresários, empreendedores que sacrificam de forma altruísta o seu tempo e dinheiro para criar riqueza e emprego, mas na verdade continuam a comportar-se como patrões clássicos, muito mais próximos do modelo de relações de trabalho do século XIX do que daquele que em tese afirmam defender para este início de século XXI. Agridem quem trabalha com uma mão e estendem cinicamente a outra, convidando para conversa mole quem se vê forçado a comer o pão que "sabe a merda" num país cada vez mais desigual. Fazem-no fundamentalmente porque nós - trabalhadores - deixamos. Até quando?
---- Virar a página no debate sobre trabalho e competitividade (I) (-N.Serra, 2/3/2016, Ladrões de B.)
(clique na imagem para aumentar)
Ora, se é assim, então por que é que o problema de competitividade reside na remuneração do trabalho e não na remuneração do capital? (e na organização/ direcção). A única interpretação lícita destes dados é que o aumento da remuneração do capital em Portugal tem prejudicado mais a competividade externa do que a evolução dos salários, pelo que, a bem da justiça social, é sobre o capital que deverão recair principalmente os sacrifícios a fim de aumentar a competitividade. Mais do que o trabalho, é o capital que tem vivido acima das suas possibilidades. Parafraseando Cavaco, é o factor capital que precisa de ajustamento.
Pedroso e a generalidade dos comentadores parecem acreditar, ou querer fazer-nos acreditar, que os preços são formados através da adição de um mark-up fixo aos custos salariais e que estes seriam a única ou principal variável que influencia os preços. Isso não é verdade. O que está em causa quando falamos da evolução dos custos do trabalho é, em grande medida, a questão da repartição do rendimento nacional entre trabalho e capital – no contexto da qual o capital, como se vê claramente em cima, tem ganho sistematicamente terreno no contexto daquele que é, nunca é demais recordar, o segundo país mais desigual da Europa.
Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. Lamento informar Paulo Pedroso que andar à procura de formas ‘menos más’ de comprimir a parte do trabalho no rendimento nacional não é uma posição de esquerda. Aceitar a premissa que o problema de competitividade português reside na evolução do custo do trabalho não é uma posição de esquerda. E aceitar que a maior parte dos sacrifícios seja imposta, de forma directa ou indirecta, aos trabalhadores e classes populares não é uma posição de esquerda. Ou então, que de uma tal esquerda nos vejamos nós livres.
----- Na terra dos empreendedores até os gambuzinos são felizes, ricos e bonitos
(R.Rostrom,6/8/2012, https://omaraofundo.wordpress.com/) [Da ideologia subjacente ao objectivo neoliberal]:
... ... O “empreendedorismo” é muito mais do que uma converseta inofensiva proveniente dos sectores aliados ao patronato. Esconde por trás um programa político de grande violência social, programa que já começou a ser posto em prática (para destruir direitos e condições laborais). Se existe área onde vai ser preciso empreender e inovar é nas formas de luta e resistência. (ver em comentários -->>)
----- Tratado sobre a promiscuidade
(ou como "estudos" são encomendados (outsourcing) para manipular a opinião e os cidadãos/ eleitores) . Um exemplo (*) da Seg.Social/ fundos de pensões e seguros privados:
«As contas sobre a sustentabilidade da segurança social, publicadas com a chancela do ministério, tem projecções até 2060 iguais às efectuadas por J.Bravo. Governo confirma que foi um estudo encomendado ao economista que esteve na base das suas conclusões.» (-1.bp.blogspot )
J.Bravo é economista. Na sua carteira de clientes, destacam-se os fundos de pensões e dos seguros, que há vários anos vêm defendendo (fazendo lobby para) um reforço dos descontos para os sistemas privados e que são parte interessada nas políticas públicas para a Segurança Social.
Como se vê, J.Bravo reúne as condições para ser o autor de um programa eleitoral que justifique a ida ao pote na área da Segurança Social. O PSD escolheu-o por isso para colaborar na elaboração do seu programa eleitoral (aqui e aqui).
Mas como a vida custa a (quase) todos, o Governo pagou a Jorge Bravo para que ele defenda que a Segurança Social é insustentável. Desta vez, saíram dos cofres do Estado 75 mil euros. Mas, já em 2013, Jorge Bravo, quando a direita procurava justificar os cortes nas pensões da Caixa Geral de Aposentações (e que foram chumbados pelo Tribunal Constitucional), recebeu do Governo 40 mil euros para fabricar um papel a atestar a insustentabilidade da Segurança Social.
Jorge Bravo conseguiu uma proeza de se lhe tirar o chapéu: é pago pelos fundos privados de pensões e dos seguros para defender os seus interesses; é também pago pelo Governo para defender os interesses desses fundos privados e reproduzi-los no programa eleitoral do PSD e do CDS (cujo parto, aliás, está a revelar-se uma empreitada ciclópica); e, apesar destes antecedentes, anda pelas televisões a defender o desmantelamento da Segurança Social, sendo apresentado como economista "independente" ( ! !! ).
[ (*) idem para ... diversos estudos/ pareceres/... adjudicados a consultores, gr.soc. de advogados, entidades e gabinetes privados ... e também por outras 'governações'. ]
Um poço sem fundo chamado BES (-por
Bons velhos tempos em que o boliqueimense mais famoso do PSD e do Palácio de Belém nos sossegava afirmando que era seguro confiar no Banco Espírito Santo. Ontem, por entre arrestos de bens e buscas às casas de algumas figuras de topo da antiga administração do BES,* surge uma notícia que dá conta de um fundo do Estado que perdeu 6 milhões de euros com a aposta no cavalo esbarrado que dá pelo nome de papel comercial, desta feita não da Rioforte mas do Espírito Santo International (ESI). O Fundo de Apoio à Inovação (FAI) é um organismo público criado pelo Estado para gerir um montante total de 40 milhões de euros que resultaram de contrapartidas dos concursos eólicos lançados no tempo do prisioneiro nº44, que teve a triste ideia de investir 6 desses milhões nas artimanhas do Dono Disto Tudo. Remontando a Novembro de 2013, a aplicação venceu a Novembro de 2014 mas a devolução do investimento nem vê-la.
Segundo nos conta Miguel Prado, do Expresso, esta aplicação nasceu do interesse do FAI em aplicar parte do montante que gere. Na altura, a comissão executiva do FAI dirigiu-se ao BES em busca de aconselhamento, e a sugestão que trouxe para casa foi a de investir em papel comercial do BES, que na verdade, e aparentemente sem conhecimento da administração do FAI, era afinal papel comercial do ESI. Tal não invalida, porém, uma conduta algo ingénua e irresponsável de quem no FAI aprovou este investimento naquele momento específico. Estávamos em Novembro de 2013, e um mês depois o Banco de Portugal emitia os primeiros alarmes sobre o desastre que se viria a revelar meses mais tarde.
Acontece que o FAI decidiu recorrer aos tribunais, e nem se importa se é o BES ou o Novo Banco a fazer o reembolso, que acrescido de juros de mora já vai em 6,4 milhões de euros. E o engraçado é que, independentemente da decisão acertada ou não dos tribunais, seremos sempre nós a pagar esta dívida. Se o FAI perder perde o Estado, se o FAI ganhar paga o BES ou o Novo Banco, ou seja o Estado. E independentemente do resultado, todas as custas com os processos ficam também a cargo do Estado, o que poderá incluir pagamentos astronómicos em assessorias a grandes escritórios de advogados onde trabalham pessoas ligadas a quem governa o Estado, algumas delas com assento no Parlamento e na linha da frente da propaganda mediática. Ontem, hoje e amanhã.
Dê lá por onde der, nós pagamos sempre as aventuras da quadrilha (financeira/ bangster) Espírito Santo. Tal como pagamos o banco dos burlões cavaquistas. O buraco cavado pelos terroristas financeiros é um poço sem fundo, permanentemente reenchido com transferências do erário público e à custa das mesmas pessoas que, paralelamente, são acusadas de viver acima das suas possibilidades enquanto lidam com mais um corte, mais um aumento de impostos e piores condições de acesso a apoios sociais, à Educação ou ao SNS. Em simultâneo, o que resta dos “anéis” vai sendo criminosamente vendido por tuta e meia para preencher estes e outros buracos. E a culpa lá vai morrendo solteira, ainda que em união de facto com o cidadão comum.
----* E’ preciso possuir-se uma enorme dose de 'ingenuidade' para acreditar que, meses após o rebentar do escândalo, o Ric.S./ DDT ia “deixar” algo de interesse para ser apreendido.!! (nem controlo de 'regulador', nem investigação diligente, nem media isenta/crítica, ... nem cidadãos interessados, ... isto não é a R.P. mas o «Parkistão Alienado e F...»!! )
Um eleitor indeciso (-por Daniel Oliveira, Arrastão e Expresso online, 27/9/2013- antevéspera de autárquicas)
Tenho por hábito falar de forma transparente do meu voto. A simulação de neutralidade de comentadores politicamente alinhados (como é natural que sejam os comentadores) sempre me irritou. Nada me obriga a dizer em quem voto. Mas prefiro assim. Tudo claro.
Fosse do Porto e a minha decisão estava tomada. Votaria, com toda a certeza, em José Soeiro e na lista do Bloco de Esquerda. Porque há ali uma forma diferente de olhar para a política e para o papel dos partidos na vida local. Fosse de Coimbra e faria mais do que votar: estaria seguramente envolvido na lista Cidadãos por Coimbra, onde se criou uma alternativa consistente à extraordinária mediocridade que uma cidade que produz inteligência tem tido como classe dirigente. Se fosse de Braga votaria na lista cidadãos e, acima de tudo, contribuiria para tirar da Câmara uma das mais vergonhosas gestões autárquicas do País, apadrinhada com afinco pelo Partido Socialista. Fosse de Loures e votaria no Bernardino Soares e na CDU, com uma candidatura sólida e capaz provocar uma mudança num dos mais maltratados concelhos limítrofes de Lisboa. Enquanto em Almada estaria provavelmente a votar contra a mesma CDU, que, do urbanismo à política fiscal, mais não faz do repetir os piores vícios da pior gestão autárquica. Muitas vezes com a conivência complexada da vereadora do Bloco de Esquerda. O que deixaria os dois partidos de fora da minha escolha. Já em Cascais, contribuiria, com o meu voto, para não permitir que o presidente da Associação Nacional de Farmácias, candidato do PS, levasse os seus negócios para a autarquia. Em Oeiras, onde quase todos parecem ter dificuldades em apresentar alternativas credíveis à trupe de Isaltino, votaria no Bloco e no seu candidato ecologista. E no Funchal, cidade com a qual tenho uma ligação emocional, votaria na candidatura liderada pelos socialistas, que junta grande parte da oposição madeirense e que pode retirar ao PSD a capital da Região Autónoma. E esgotaram-se aqui os concelhos sobre os quais tenho informação suficiente para imaginar como votaria. Só que não voto em nenhum deles e por isso a minha opinião vale muito pouco, podendo até estar a cometer algumas injustiças. Nasci, cresci, vivo, trabalho e voto em Lisboa. E conheço muito bem a minha cidade.
Serviu todo este exercício para tentar explicar, com exemplos práticos, o meu critério de voto. Nunca me abstenho. Raramente voto em branco ou nulo, porque me custa aceitar que, perante tantos candidatos, nenhum me mereça sequer o benefício da dúvida. A não ser numa situação absolutamente extraordinária, não voto em partidos contrários às minhas convicções políticas gerais. No atual contexto, com este governo, não votaria com toda a certeza. Bem sei que as eleições são autárquicas. Mas seria idiota ignorar as suas repercussões nacionais. Fora estas condições, e já não sendo eu militante de um partido, o meu voto decide-se tendo em conta a realidade local. Nem todas as listas independentes são livres, nem todos os candidatos da CDU são competentes, nem todos os candidatos do BE são inovadores, nem todos os candidatos do PS são uma opção aceitável. E sim, as pessoas, e não apenas os seus programas e as siglas partidárias que os apoiam, também contam.
Tal como aconteceu há quatro anos, decidi não participar em nenhuma campanha para a Câmara Municipal de Lisboa. Nada teve a ver com qualquer tipo de autolimitação imposta, por ser comentador. Considero isso um absurdo. Não sou nem nunca quis ser ou parecer neutral (politicamente). Por isso até participei na campanha dos Cidadãos por Coimbra e numa outra, o Move Alcântara, um movimento de cidadãos a uma freguesia lisboeta. Correspondem as duas ao que entendo que devem ser as listas independentes. Tenho 3 votos (: Câmara Municipal, Assembleia Municipal, e Assembleia Freguesia/ Junta) e 2 já estão destinados. É para a Câmara e para a sua presidência que (ainda) não me decidi. Acho que, em toda a minha vida, é a segunda vez que me encontro, tão próximo das eleições, nesse limbo deprimente onde habitam os indecisos (a outra foi na reeleição de Soares).
Como o voto no autarca profissional itinerante não é uma possibilidade e, nos pequenos partidos, não vislumbro nada com qualquer interesse, sobram três candidatos: João Ferreira, da CDU, João Semedo, do Bloco de Esquerda, e António Costa, do PS. Desculpem falar dos candidatos, mas as câmaras tem uma estrutura fortemente presidencialista. Ignorar os candidatos a presidentes é absurdo.
Quanto a João Ferreira, sei que foi eurodeputado e, ao que parece, razoavelmente competente. Mas desconheço em absoluto o seu pensamento sobre Lisboa. Ao ler as entrevistas que deu fiquei a achar que não sou o único. E com a leve sensação que a sua candidatura tem como único objetivo dar-lhe a notoriedade suficiente para que ele encabece a lista da CDU às próximas eleições europeias. Seja como for, não tenho ouvido da CDU, em Lisboa, um discurso alternativo consistente. A maior campanha que a coligação fez foi contra a redução de freguesias em Lisboa, assunto sem qualquer eco nas aspirações dos lisboetas (que me parece que até acharam muito bem, tendo em conta a absurda quantidade de freguesias na capital e o facto da Câmara se ter antecipado a burocráticas imposições externas) e que tinha como principais destinatários os próprios eleitos da CDU. De resto, concordando com várias críticas que fez à gestão de António Costa, a oposição foi permanente e sem critério, sem que, ao fazê-lo, se tenha demarcado do PSD e do CDS. Daqui a quatro anos logo se verá o que mudou e se estou a ser injusto na minha avaliação. A minha dúvida está, por isso, entre António Costa e João Semedo (para a Assembleia Municipal já reservei o meu voto para a Ana Drago).
Confesso que o meu voto em António Costa seria o natural. Foi, genericamente, um bom presidente de Câmara. Foi seguramente, com Jorge Sampaio, o melhor que Lisboa conheceu (tarefa relativamente facilitada). O seu trabalho é desigual e, em áreas como o urbanismo, deixa a desejar. Como nunca votei em candidatos perfeitos, o facto de ter resolvido os problemas financeiros da autarquia (o buraco de Santana e Carmona foi colossal) sem reduzir drasticamente serviços, mantendo a cidade a funcionar e até avançado com novos projetos, não despedindo trabalhadores e ainda integrando os que estavam a recibos verdes, seria mais do que suficiente para o meu voto. Em tempo de crise, António Costa mostrou que há formas de a contornar. E, quando tudo no País está pior, o que não depende do poder central em Lisboa está genericamente melhor. A esmagadora votação que as sondagens preveem e o apoio alargadíssimo que Costa conquistou, da direita à esquerda, resultam disso mesmo.
Teria boas razões para não votar no Bloco de Esquerda. Não me esqueço do seu comportamento no processo Sá Fernandes. Sou alfacinha apaixonado, daqueles que acham que ter nascido em Lisboa é uma sorte comparável a ganhar o totoloto. A política local diz-me muito. Foi aí que começaram as minhas divergências mais profundas com o Bloco. E que se confirmaram pelo comportamento dos eleitos na Assembleia Municipal, que, nos assuntos mais inacreditáveis, se puseram ao lado do PSD. Mas também não desconheço que a escolha de João Semedo (assim como a de Ana Drago) corresponde a um virar de página. E que o próprio já assumiu a vontade de ter o Bloco a participar no executivo, com pelouro. Uma mudança na política local pela qual batalhei, sem sucesso, durante anos. E que tem, nestas eleições, os protagonistas certos.
Felizmente, a minha indecisão não nasce da falta de escolha. É entre um presidente que merece o meu voto e um candidato que eu gostaria de ver como vereador, pelas enormes qualidades que lhe reconheço e para desembruxar de uma vez as convergências que se podem fazer à esquerda sem que ninguém seja obrigado a violentar-se. Dum lado, o que é justo, tendo em conta o passado: um bom presidente e um comportamento errático do Bloco. Do outro, o que posso esperar do futuro: uma maioria absoluta esmagadora que se pode tornar autista e um vereador capaz de assumir responsabilidades. É entre o que sei e o que espero que me decidirei. Sem nenhum apelo ao voto que não seja este: tudo menos Seara. Nem precisam de mais: passeiem por Sintra e vejam como se pode governar durante tanto tempo um concelho sem fazer seja o que for. Lisboa dispensa o regresso à mediocridade.
--------- [Reconhecendo o valor e missão própria da Freguesia, o programa e lista de candidatos para a Assembleia de Freguesia (de onde se escolherá o/a presidente de Junta) também deverá ter um processo de análise consciente, semelhante, sem "clubite/ carneirismos acríticos" ou simples voto 'repetido'/igual ao que é para os outros 2 órgãos autárquicos (do município)].
---- Ver também: As listas independentes e a demissão dos portugueses (-por D. Oliveira)
Que tem de novo a apresentação de independentes pelas listas do PSD para as eleições legislativas? A resposta é simples, já que a apresentação de candidatos independentes por parte de PS e PSD (e não só) tem acontecido com frequência em anteriores eleições para o parlamento: apenas o facto de Carlos Abreu Amorim, Francisco José Viegas e Manuel Meirinhos (Fernando Nobre é um caso muito diferente, já aqui analisado) surgirem como "cabeças de lista", o que reforça a sua notoriedade e, logo, a sua função de angariar votos fora do habitual leque de votantes no partido. Nada de ilegítimo, portanto: a sua estatura intelectual, coerência e preparação políticas são conhecidas e em democracia o governo decide-se pelo voto popular, que é necessário conquistar por via do combate político e ideológico.
Aqui chegados, convém, no entanto, notar algo de interessante: não me lembro de, uma vez eleitos, a actuação da maioria dos independentes (os tais oriundos da "sociedade civil") ter sido real e inteiramente bem sucedida - ou sequer perto disso. Por exemplo, nas últimas legislaturas o PS (e para que não digam só falo do PSD) elegeu Vicente Jorge Silva, Inês Medeiros, Mª do Rosário Carneiro, Teresa Venda, Matilde Sousa Franco e Miguel Vale de Almeida (e já não vou ao tempo de Sophia Mello Breyner Andresen pelo PS ou de Pulido Valente pelo PSD...). Por certo, estarei ainda a esquecer alguns outros. De todos estes, parece-me que talvez apenas no caso de Vale de Almeida, eleito com base numa agenda política muito específica (o casamento entre pessoas do mesmo sexo) se pode falar de alguém com um papel, de certo modo, melhor conseguido no trabalho parlamentar. Mesmo assim, esgotada essa agenda tratou, de imediato, de renunciar.
Que quero pois dizer com isto? Enfim, que nem tudo o que luz é oiro e que neste "trade-off" entre candidaturas partidárias e a tal "sociedade civil" talvez se percam bons comentadores, razoáveis comunicadores, activistas empenhados e agentes culturais reconhecidos em favor de parlamentares apenas medíocres. Um mau negócio, portanto.
JC [O Gato Maltês]
A “praga” das listas independentes aumentará, quer a partir do interior como do exterior dos partidos.
Se os partidos, sobretudo os seus aparelhos, e respectivos dirigentes dos diversos níveis da organização (nacional, federativo, concelhio e de base local ou sectorial) não modificarem os seus comportamentos internos, o surgimento de listas de independentes a, concorrer a autárquicas, será cada vez em maior número bem como serão elevados os índices de abstenção.
Não vale a pena a purga e a expulsão, se certas práticas internas de falta de rigor e de transparência democráticas continuarem a ser observadas pelos próprios responsáveis em vez de trazerem ao debate as questões internas que os militantes deveriam decidir, como seja a escolha dos cabeça de listas em eleições directas seja a que nível for e para o desempenho de qualquer cargo de natureza política.
Esta medida que a distrital do Porto do Partido Socialista diz pretender aplicar a cerca de 100 militantes, ainda que estatutariamente tenha legitimidade, na prática constitui uma grande hipocrisia e desonestidade visto que Manuel Alegre também concorreu contra o que foi a vontade do partido e nada lhe aconteceu como, de facto, não poderia ter acontecido.
Poderá argumentar-se que a eleição para a Presidência da Republica assume uma natureza de iniciativa pessoal mas, toda a gente que milita nos partidos sabe que os poderes partidários jogam com o trocadilho das palavras e só deixam cair ou empurram os militantes quando eles não têm ou deixaram de ter qualquer peso político e já não acrescentam valor aos interesses de quem controla as respectivas máquinas partidárias. Os adversários internos, quando não têm influência nas estruturas partidárias, são os primeiros a ser marginalizados. Não será assim que os partidos crescem nem dignificam a democracia muito menos o exercício de cidadania dos seus militantes em particular e dos cidadãos em geral.
É necessário que, concomitantemente, os militantes se não acomodem tanto nem se deixem manietar pelos detentores dos poderes internos.
São já mais de 50 as candidaturas independentes para as câmaras
Para uns será a resposta das populações à captura dos executivos autárquicos pelos aparelhos partidários, para outros apenas um escape para as divisões nos próprios partidos. Independentemente da forma como se possa encarar o fenómeno, o certo é que são já mais de meia centena as candidaturas independentes apresentadas para as câmaras municipais.
A abertura da lei às listas de cidadãos para as autarquias surgiu com a revisão constitucional de 1997 e teve a sua estreia nas eleições de Dezembro de 2001. Nesse ano foram 21 as candidaturas independentes concorrentes às câmaras, número que passou para 27 nas últimas autárquicas e dispara agora para cerca do dobro, havendo até casos de concelhos como Marco de Canaveses, Valongo e Marvão onde concorrem duas listas de independentes.
Em 2001, apenas a Câmara de Alenquer passou a ser governada por independentes, mas em 2005 foram seis os municípios que se lhe juntaram. Além de nova vitória naquele concelho ribatejano, as listas de grupos de cidadãos ganharam também as câmaras de Alvito, Redondo, Oeiras, Felgueiras, Gondomar e Sabrosa. A questão é que, com excepção de Sabrosa e Alvito, apenas mudaram as siglas, já que se mantiveram os mesmos presidentes de câmara. Tanto Fátima Felgueiras (PS) como Valentim Loureiro e Isaltino Morais (PSD) ou Alfredo Barroso (CDU) tinham sido rejeitados pelos respectivos partidos por estarem a contas com a justiça. No caso de Alcanena, também o independente Luís Azevedo tinha antes sido eleito nas listas do PS.
Apenas nos casos de Sabrosa e Alvito as candidaturas não resultavam de cisões partidárias, mas os respectivos movimentos parecem não ter resistido. O autarca do Alto Douro candidata-se agora pelo PS (reportagem ao lado) e o grupo de Alvito diluiu-se e não repete a candidatura. Segundo o presidente cessante, João Paulo Trindade, "o balanço é até bem positivo", mas depois de uma reflexão conjunta todos os membros da actual vereação decidiram optar "pela vida familiar e retomar as carreiras profissionais".
Com raras excepções, as candidaturas independentes identificam-se com facções ou cisões partidárias, sendo os casos mais mediáticos os de Matosinhos e Coimbra. Narciso Miranda quer voltar a ser o "senhor e Matosinhos", num confronto com o seu PS de sempre e aquele que há quatro anos indicou para lhe suceder na liderança da autarquia. Em Coimbra, Pina Prata (reportagem ao lado) candidata-se agora na pele de independente, depois de por duas vezes ter sido eleito pelo PSD e ter sido o "número dois" de Carlos Encarnação, com quem se incompatibilizou a meio do actual mandato.
A dissidência partidária é a regra e, ao todo, o Público contabilizou 51 candidaturas às câmaras, sendo que não há qualquer entidade a nível central que tenha um registo global. Quer porque são validadas pelos tribunais de comarca, competindo aos municípios a elaboração dos respectivos boletins de voto, quer ainda porque nem todos cumprem a obrigação de remeter os orçamentos à Entidade das Constas e do Financiamento Partidário. Da lista há dias divulgada por esta entidade constam apenas 33 Grupos de Cidadãos Eleitores, facilmente se verificando a falta de alguns dos mais conhecidos. [Público]
Notícia da Lusa, de 20 Agosto, dizia que o Movimento Intervenção e Cidadania pela Amadora (MICA) vai candidatar o luso-caboverdiano Francisco Pereira, de 29 anos, à presidência da câmara da Amadora, … para "fazer políticas com as pessoas", apostando numa equipa "com várias origens".
O candidato negou a ligação do seu Movimento com o MIC (Movimento Intervenção e Cidadania, fundado em 2006 por M.Alegre, e cujos estatutos não lhe permitem a participação em eleições), admitindo que a semelhança nos nomes “é apenas uma coincidência”.
Outras fontes noticiam que candidaturas independentes em Matosinhos e Valongo obtiveram o direito a usar símbolo próprio nos boletins de voto (e não o usual número romano).
Alguns exemplos de ‘independências’ concorrentes às próximas autárquicas de Outubro 2009:
· Cidadãos por Lisboa
· Coligação Oeiras à Frente
· Coragem a Mudar (Valongo)
· GCI- Grupo de Cidadãos Independentes (Nazaré)
· Independentes pelo Concelho de Alcanena
· Juntos pelo Concelho de Penedono
· MIA- Movimento Independentes de Alvito
· MIC- Movimento Independente de Cidadãos por Coruche
· MICA- Movimento Independentes Concelho de Almeirim
· MICA- Movimento Intervenção e Cidadania pela Amadora
· MICB- Movimento Independentes pelo Concelho de Belmonte
· MICM- Movimento Independentes Campo Maior
· MICRE- Movimento Independentes Concelho Redondo
· MIS- Movimento Independentes de Sabrosa
· MIS- Movimento Independentes por Sousel
· Movimento Odivelas no Coração
· Narciso M.- Matosinhos Sempre
· UPA- Unidos por Arouca
· UPC- Unidos pelo Concelho (Santa Cruz das Flores, Açores)
· Valentim L.- Gondomar no Coração (?)
…
Nestas associações cívicas/candidaturas parecem existir várias motivações: desde as legítimas aspirações a participar na gestão da sua autarquia de uma forma diferente, até cisões ou exclusões dos partidos existentes ou zangas com os respectivos dirigentes locais. Algumas já têm alguns anos de existência mas muitas são recentes, embora os seus membros muitas vezes já tenham experiência autárquica, seja como presidente, vereador ou membro de assembleia.
Apesar do desencanto de muitos eleitores com os partidos, o interesse pela política parece que ainda atrai muitos cidadãos … e, mesmo com o relativamente elevado esforço para montar uma candidatura independente, parece que os movimentos cívico-políticos estão a aumentar.
Se é verdade que «um político divide o ser humano em duas classes: instrumentos e inimigos» (Nietzche), também é verdade que todo o Homem é Político (mesmo quando se abstém de votar e de participar na 'Res Pública', deixando que outros decidam por si...
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