Segunda-feira, 18.07.16

Turquia: nem se imagina o que aí vem

 Erdogan prepara su respuesta: desmantela el poder judicial suspendiendo a 2.700 jueces.  «Erdogan prepara su respuesta y ya anunció mano dura a pocas horas de iniciarse el golpe. El primer ministro turco tiene un largo historial de políticas autoritarias y ha expresado su deseo de que los golpistas “paguen el precio más alto” por sus acciones.»

- “O presente de Deus” ao ditador islamista Erdogan  (J.Goulão,16/7/2016,MundoCaoH)

  O presidente da Turquia, Recep Payyp Erdogan, afirma que a tentativa de golpe militar de sexta-feira foi um “presente de Deus”: vai permitir-lhe “limpar” as forças armadas (e o resto: jornalistas, juízes, opositores, ... organizações políticas, cívicas e religiosas).

   Quem fala verdade não merece castigo, pelo que todos os deuses evitarão punir o autocrata turco, embora sabendo que muitos são os seus pecados.

   E “limpezas” são a especialidade deste padrinho e protector de uma miríade de grupos de mercenários e terroristas entre os quais se destacam, para os que não estão lembrados ou o ignoram, o Daesh ou Estado e Islâmico e a Al-Qaida nos seus muitos e variados heterónimos.

    Limpou o país da oposição, acusando os principais adversários de servirem os direitos nacionais curdos e ameaçando privá-los da nacionalidade turca. Para que não surgissem obstáculos à sua ascensão ao topo presidencial do poder fez manipular actos eleitorais através da propaganda, da censura e do medo, de tal modo que nem os observadores do Conselho a Europa e da OSCE, embora reconhecendo as irregularidades em privado, ousaram torná-las públicas e definitivas.

    Limpou o aparelho judiciário e militar saneando centenas de juízes e os procuradores que denunciaram a corrupção governamental e da família Erdogan, designadamente a sua familiaridade pessoal e financeira com o banqueiro saudita Yassim al-Qadi, próximo de Bin Laden e conhecido internacionalmente como “o tesoureiro da Al-Qaida”. Por essa razão, está sob a mira da ONU, o que não o impede de deslocar-se a Ancara em avião privado para conviver e gratificar generosamente a família presidencial.

    Vem limpando paulatinamente as forças armadas, mas este “presente de Deus”, como admitiu o próprio Erdogan, proporciona-lhe uma oportunidade de ouro para acelerar o processo. A partir de agora ruirá o maior obstáculo secular à confessionalização de um regime turco formatado em estrutura ditatorial e em teor fundamentalista islâmico.

    Erdogan fala claro, disso não tenhamos dúvidas. Há 20 anos, em plena ascensão na carreira política, iniciada entre os fascistas e supremacistas “lobos cinzentos”, definiu a democracia como “um eléctrico que abandonamos quando chegamos à nossa paragem”. Recentemente falhou a consulta para impor uma Constituição “inspirada em Hitler (*) – as palavras são suas – de modo a consolidar um poder presidencial absoluto.     A seguir a esse intuito por ora fracassado, Erdogan começou então a receber “presentes de Deus”.

    O atentado contra o aeroporto de Istambul parece ter sido um deles. Apesar da autoria não ter sido reivindicada, Erdogan atribuiu-o ao Daesh, por conveniência da sua própria imagem internacional; mas por que razão os protegidos iriam atacar no coração do protector? Provavelmente por convergência de interesses – uma mão lava a outra, não é o que se diz? Um atentado é, sem dúvida, oportunidade de ouro para reforçar poderes de excepção e perseguir inimigos internos vários, mesmo que nada tenham a ver com a violência.

   Quando ainda decorre o rescaldo do acto terrorista surge o golpe militar, com inegáveis debilidades de amadorismo num exército dos mais poderosos da NATO, precisamente com Erdogan ausente, “de férias”, circunstância excelente para um regresso triunfal, afirmativo, justificando limpezas. Deus não poderia ter sido mais generoso, em boa verdade.

    Enfim, é a este ditador turco que a União Europeia paga anualmente três mil milhões de euros confiscados aos nossos impostos para impedir que cheguem à Europa os refugiados das guerras que os donos da Europa provocam. Para que conste, não há um vínculo formal entre o conselho Europeu e Erdogan sobre esta verba; foi estipulada apenas em comunicado de imprensa dos chefes de Estado e de governo da União Europeia.

    Foi com este presidente turco que o governo francês negociou a garantia de não haver atentados do Daesh durante o Euro 2016, em troca do apoio à criação de um Estado curdo no Norte da Síria. Constatámos, da maneira mais trágica, que ao Daesh bastaram apenas quatro dias para se libertar do período de nojo, fazendo gato-sapato do securitarismo fanático e inconsequente de Hollande e Valls.

    É a este presidente turco que a União Europeia ainda reconhece credenciais de democrata (!), apesar de o próprio rei Abdallah da Jordânia ter revelado o apoio (daquele) ao Daesh, à Al-Qaida, ao contrabando de petróleo que serve de financiamento ao Estado Islâmico e de enriquecimento à mafia familiar de Erdogan.

     Foi comovente – e patético – o apoio de grande parte da comunidade mediática (tv, rádio, net, redes sociais... tudo controlado pelo governo) a Erdogan durante as vicissitudes da tentativa de golpe e ao uso dos seus apoiantes como escudos humanos e carne para canhão nas ruas, praças e pontes das principais cidades da Turquia.

     Entre a componente militar e a mafia governamental de Erdogan estavam em luta, durante a tentativa de golpe, dois conceitos de regime autoritário: um secular, outro fundamentalista islâmico. A democracia e os interesses populares não tinham nada a ver com aquela guerra entre elites interesseiras e pouco ou nada preocupadas com as pessoas.

     O terrorismo islâmico, a guerra e a anarquia no Médio Oriente, porém, têm muito a ganhar com a absolutização do poder de Erdogan em Ancara. Ou seja, é impossível estar simultaneamente contra o terrorismo islâmico e temer pelo futuro político de Erdogan. A democracia não passa por aí, mas também já pouco se sabe dela nesta União Europeia.

     Porém, quando a vida das pessoas está à mercê destes “presentes de Deus” é possível testemunharmos os acontecimentos e os ditos mais bizarros. (e horrores)

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   Curioso é também a Turquia ter assegurado (nas vésperas do 'golpe militar') acordos com Israel e com a Rússia... e agora acusar um líder islâmico rival, 'abrigado' nos EUA, de ser o instigador do golpe...  (*) lembrem-se que os Nazis também incendiaram o seu 'Reichstag'/parlamento e atribuiram o crime aos judeus e opositores...! e consolidaram o seu poder ... e seguiu-se + horror

    E  a U.E. não se demarca do autocrata turco (e do húngaro, ...) e dos movimentos, partidos e políticas de extrema direita que vão ganhando força na Europa ... (com apoio de governantes fantoches ditatoriais, tecnocratas neoliberais e/ou fanáticos religiosos...).

   C. Scarllaty:    Tudo não passou de uma Golpada de Erdogan para conseguir uma revisão constitucional que o torne único e perpétuo ditador eleito! - ... se analisarmos bem todo o "filme" é por demais evidente. Além disso, os militares que encabeçariam a rebelião... onde estavam? Nunca apareceram!!! - Os soldados foram mandados para a rua ao "Deus dará"(nem procuraram tomar/controlar mídia, infraestruturas estratégicas, ...- foram simples 'peões' enganados e mandadas para 'abate' **- tal como os 'camisas castanhas' nazis depois substituídos pelas SS de Hitler.) Uma conspiração a sério nunca teria esse final, daí que os EUA e a UE tenham vindo deitar logo 'água na fervura'! Demasiado evidente, até para um leigo.

----- É um islamofascista mas é o nosso islamofascista  (-j.simões, em 17.07.16, derTerrorist

turquia.jpgO primeiro dia da nova ditadura turca.

[A imagem é da primeira página do La Voz de Galicia]

  ----  O golpe de Erdogan   (-Carlos Fino, 18/7/2016, jornalTornado)

     Iniciada na passada sexta-feira, dia 15, e terminada em fracasso menos de 24 horas depois, a nova irrupção dos militares na cena política turca (a quinta, nos últimos 56 anos – uma por década), foi tão patética que deixou perplexo o mundo inteiro

… e levantou até suspeitas de que a aparente tentativa de golpe poderia afinal ter sido montada pelo próprio presidente do país.

    Eleito chefe de Estado em 2014, depois de 11 anos consecutivos no poder como primeiro-ministro, à la Pútin, Recep Erdogan embarcou desde então numa deriva autocrática cada vez mais acentuada e pode agora, a pretexto da tentativa de golpe, reforçar exponencialmente o seu poder.

     O imã muçulmano Fethullah Gulen, líder do Hizmet (Serviço), um movimento social e religioso com grande influência, que começou por apoiar Erdogan, mas depois se transformou num dos seus maiores opositores, foi um dos primeiros a levantar essa hipótese.   Do seu auto-exílio na Pensilvânia, onde se refugiou no final dos anos 90 para escapar da perseguição do regime, Gulen afirmou: “É possível que estejamos perante um golpe montado a fim de justificar mais acusações”.

             Inépcia ou engano?

     Os militares chegaram a atacar a sede do Parlamento(*) e um helicóptero disparou contra os populares que vieram para as ruas protestar.  Houve também aparentes tentativas de controlar a rádio e a televisão, mas – espantosamente! – a internet continuou a funcionar e foi através dela (FaceTime) que Erdogan se dirigiu aos seus apoiantes para virem para as ruas resistir.

   Se a tentativa de golpe foi genuína, os militares envolvidos deram provas de grande descoordenação e inépcia, mais parecendo estarem a executar um acto desesperado do que uma acção bem pensada e planeada. E no momento da verdade parece não terem tido estômago (ao contrário do general Al-Sisi, no Egipto, em 2013) para enfrentar e reprimir em grande escala a população que protestava.

    Ainda assim, dos confrontos resultaram quase três centenas de mortos, mais de cem entre os próprios militares, que baixaram as armas e passaram a ser perseguidos e atacados pelos populares.

    Mas também não é de excluir que muitos dos membros das forças armadas envolvidos tenham sido induzidos em erro quanto à finalidade da operação. No sábado, alguns afirmaram terem sido enganados, dizendo que antes de saírem dos quartéis lhes comunicaram que se tratava de um simples exercício…

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       Uma “dádiva dos céus”

   Real ou fictícia, a aparente tentativa de golpe conferiu a Erdogan um pretexto suplementar para intensificar a perseguição aos seus adversários que, numa espécie de golpe de Estado larvar, vem promovendo desde 2013, quando ainda primeiro-ministro, reprimiu violentamente as manifestações contra um polémico projecto urbanístico numa das praças centrais de Istambul.

     Quando, em Dezembro desse mesmo ano, rebentou um escândalo de corrupção em que estariam envolvidos membros da sua própria família (um esquema em que eram violadas as sanções americanas contra o Irão), Erdogan fez saneamentos em massa no aparelho de Estado, em particular na polícia, ministério público e judiciário e praticamente suprimiu a liberdade de expressão e de imprensa no país.  A Turquia é o quarto país do mundo com mais jornalistas presos.

     Por outro lado, Erdogan voltou a reprimir severamente o movimento pela autonomia dos curdos, ao mesmo tempo que intensificava a participação do país na guerra da Síria (de facto contra os curdos e resistentes ao Daesh...), o que levou à reação dos islâmicos radicais, traduzida em sucessivos atentados terroristas.

   Criou-se assim um clima de grande tensão e medo, com o país cada vez mais radicalizado e muito dividido entre os incondicionais do presidente e os seus adversários, quase em proporções idênticas.

    Agora, real ou fictícia, a tentativa de golpe confere a Erdogan uma oportunidade de ouro (“uma dádiva dos céus”, na sua própria expressão) para intensificar o seu domínio, afastando o que resta da oposição no aparelho de Estado e criando no país um clima de intolerância, em que não há mais adversários, mas apenas inimigos e que em toda a oposição é tratada como um vírus que precisa de ser extirpado.

    Desde que os militares regressaram aos quartéis, já foram detidas mais de 6000 pessoas e as autoridades estão inclusive a pensar alterar a lei para permitir a pena de morte para os golpistas, o que constituiria violação do princípio básico da não retroactividade do Direito. Também no sábado foram afastados quase três mil magistrados, incluindo pelo menos um do Supremo Tribunal.   O objectivo parece ser o de substituir o regime parlamentar vigente por um regime presidencialista (absoluto/ ditatorial), em que todo o poder estaria concentrado nas mãos do chefe de Estado.

     Depois da caça às bruxas e da limpeza radical da administração pública agora em curso, com as vozes da oposição silenciadas, Erdogan conta ter o caminho livre para fazer aprovar essa viragem, seja por votação no Legislativo, seja por via de um referendo, que no clima exacerbado actual certamente teria facilidade em ganhar.

    Mais fácil dizê-lo, no entanto, do que concretizá-lo. A ideia – fomentada por razões estratégicas pelos Estados Unidos – sempre desagradou a algumas elites europeias, em particular na França, e agora, com a deriva autoritária de Erdogan, esses planos parecem cada vez mais remetidos para as calendas gregas. (...)



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Domingo, 15.11.15

    A hipocrisia ocidental     (OJumento, 19/11/2015)
        Os serviços de segurança dos EUA conseguem escutar a senhora Merkel, os satélites americanos conseguem saber a marca do relógio de Putin, mas não conseguem saber que países fornecem os carros às centenas, os países que compram o petróleo ao ISIS ou os países irmãos do ISIS que lhes dão os recursos financeiros para contratar dezenas de milhares de mercenários?
      O terrorismo tem um ódio de morte a Israel mas ninguém consegue ouvir do ISIS a mais pequena referência àquele país, os terroristas não atacam nos Montes Golan, território sírio ocupado por Israel, e apesar de estarem em força na península do Sinai não há qualquer registo de incidentes entre terroristas e israelitas nas fronteiras com Israel?
      Os terroristas usaram livremente o território da Turquia para entrarem e saírem às dezenas de milhar, atravessando um Estado policial e fortemente militarizado e o governo turco nada tem que ver com o assunto?    Durante anos a Turquia não deixou os sírios fugir para o seu território, nem mesmo quando estavam a ser chacinados pelo ISIS e em poucos meses de 2015 centenas de milhares de refugiados atravessa tranquilamente a Turquia para se dirigirem para a costa próxima das ilhas turcas e gregas?  E logo de seguida a senhora Merkel vai à Turquia prometer o ingresso deste aliado duvidoso na UE?
        Será boa ideia bombardear a Síria, (ou) a melhor forma de atingir o ISIS não seria bombardear a Mossad, Riade ou Ancara ?

--... No princípio a diplomacia ocidental tentou fazer passar a ideia de que a Rússia não estaria a atacar o ISIS.  ...

--... Como agora se começa a perceber, a principal força que combate o EI / ISIS / Daesh no terreno é a Rússia, com a ajuda do Irão. Todos os outros ou arrastam os pés, ou dizem que atacam o terrorismo e aproveitam para matar uns curdos, outros apoiam os dois lados e dão apoio moral á França e dinheiro aos terroristas.
    Não admira que há uma semana todos condenassem a Rússia e agora a França já trata a mesma Rússia como um aliado no terreno. A Europa começa a perceber que o futuro não está em apoiar todos os que ataquem a Rússia e os seus aliados, sem querer saber se são terroristas, fascistas ou as duas coisas.   ...

----- Missionária, denuncia os autores da guerra da Síria  (via RPNarciso, puxapalavra, 25/11/2016)

A RTP transmitiu no telejornal de 2016-11-24 uma entrevista* dada por uma missionária católica argentina - a irmã Maria Guadalupe - a viver em Aleppo, aos seus correpondentes na Síria.

Maria Guadalupe - A Síria era um país muito tranquilo, muito calmo. Precisava de descansar e pedi aos meus superiores que me enviassem para a Síria para Aleppo. Cheguei lá em Janeiro de 2011 e em Março eclode a guerra.

Comentário da Jornalista - Ao longo de quase quatro anos assistiu a todos os horrores inerentes à guerra numa cidade onde a guerra espreita a cada esquina.

MG - Nas ruas, a todo o momento, caíam projécteis, mísseis, havia tiros, obuses… Tantos feridos, tantos mortos... E é algo quotidiano. Urge pensar que quando há um atentado na Europa, um só, fala-se disso toda a semana.

Comentário da Jornalista-  Podia ter deixado Aleppo mas preferiu ficar. Foram anos de dor que lhe deram outra perspectiva da guerra.

MG - O que acontece na Síria não é uma guerra civil, não é o povo que se levantou contra o governo; isso é uma mentira daquelas que promovem esta guerra e utilizam e manipulam os media e a informação para que no ocidente as pessoas acreditem que isto é o povo sírio a combater nas ruas, não…

Jornalista - Quem é ?

MG- São grupos armados do exterior da Síria, grupos terroristas, são grupos mercenários, grupos pagos. Ou seja os que estão a financiar esta guerra, países do Médio Oriente como a Arábia Saudita, e os países do ocidente que apoiam os rebeldes. Estão decididamente a apoiar o terrorismo. Por isso, precisamente, basta de vender armas, basta de vender armas à oposição moderada pois esta não existe e nunca existiu.

A única defesa do povo sírio nestes cinco anos, a única defesa foi o seu próprio exército nacional. E agora ultimamente a Rússia.

Jornalista - Seja como for, matam civis… Ou não?

MG - O que acontece aqui é que só se divulgam os erros de uma parte, e não os da outra. Eu falo do que vivi, do que vi com estes meus olhos…

-- * - vídeo em http://www.rtp.pt/noticias/mundo/missionaria-argentina-em-alepo-desde-2011_v964505.

 ---------------------------------------- ['postado' originalmente em 8/9/2015] : 

Ir à origem   do  'problema refugiados'   (-V.Moreira, 3/9/2015, CausaNossa)


  A declaração desta criança síria diz tudo:   a origem da vaga de refugiados que se dirigem à Europa está principalmente na guerra na Síria, que começou por deslocar milhões de pessoas dentro do País e para os países vizinhos (Líbano e Jordânia). 
     A Europa (UK, Alem.,Fra, ...) e os Estados Unidos (e a NATO, Turquia, Arábia, ...) têm grossas culpas no cartório na onda de refugiados que arriscam a vida (e tantas vezes a perdem) no Mediterrâneo, ao terem contribuído para a destruição do Estado e para a instalação da violência, da guerra civil e do caos no Iraque, na Líbia, na Síria (para não falar na criação do "Estado Islâmico").      A reposição da autoridade do Estado e da paz civil nesses países é a primeira condição para resolver o problema do refugiados que ameaça submergir a Europa.
    Entretanto, até pela sua responsabilidade na situação, a Europa tem a obrigação de cuidar dos desesperados que chegam, com humanidade e meios adequados.

        «Comprendre la situation en Syrie en cinq minutes»

(Le Monde, via http://memoriavirtual.net/)

   ISIS: how the terror group made its billions  (como os terroristas do "estado islâmico" se financiam)

-----   história  do  'Estado Islâmico'  (by Walead Farwana, 24/8/2014, texto anexo em inglês, http://original.antiwar.com/walead_farwana/2014/08/23/the-history-of-the-islamic-state/ )                 ...  Islamic State, ISIS, DAESH, Terrorists, Jihad, ... AlQaeda, ...
                      índice:

-- Jama’at al Tawhid w’al Jihad
-- Iraqi Tribal System
-- Sectarian violence in Iraq during the US occupation
-- Islam and tribalism
-- JTJ metamorphoses into Al Qaeda in Iraq
-- Sahwa Militias and the disintegration of the Iraqi state
-- Describing Jihadi Organizations
-- 2011
-- US destabilization of Syria
-- Jabhat al Nusra and ISIS
-- ISIS
-- The Islamic State and Kurdistan
-- Notes on the Kurds
-- Notes on US involvement .
.          . ... ISIS   has gone through several transformations. I will detail each stage, as well as the US’s role within each of them. They are as follows:
1. Jama’at al Tawhid w’al Jihad (JTJ)
2. Al Qaeda in Iraq (AQI)
3. The Islamic State in Iraq (ISI)
4. The Islamic State in Iraq and Sham (ISIS)
5. The Islamic State (IS).

.  ... Notes on US involvementI think it is necessary to recap how the US helped precipitate this crisis:

  1. They invaded Iraq, thus upsetting the balance of power there and leaving a vacuum to be filled by Zarqawi and JTJ
  2. They pursued a policy of sectarian divide-and-conquer, thus effectively setting up sectarian military boundaries in Iraq when they simultaneously armed Sunni tribes alongside the Shiite-dominated central government
  3. The attack on Libya that toppled Gaddafi created the rise of jihadists there and a subsequent flood of weapons into Syria that bolstered ISIS
  4. US support for rebel groups in Syria undermined Assad who was a bulwark against Jihadism in the region, again bolstering ISIS. ..----... Síria:   perceber a realidade   (18/11/2015, Entre as brumas...)


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Quinta-feira, 07.05.15

Netanyahu anuncia o  fim da «solução de dois Estados»  (-Thierry Meyssan,   )

      ...   Durante a sua campanha eleitoral, Benjamin Netanyahu (que voltou a ganhar embora por margem reduzida) afirmou que, enquanto ele vivesse, jamais os Palestinianos teriam o seu próprio Estado (da Palestina, e que recentemente foi criado e reconhecido por muitos países). Ao fazê-lo, pôs fim a um «processo de paz» que prolongadamente se arrasta, desde os acordos de Oslo (entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat ),há mais de 21 anos. Assim se acaba a miragem da (pacífica) «solução de dois Estados» (Israel e Palestina).   

     Netanyahu apresentou-se como um “rambo”, capaz de assegurar a segurança da colónia judia esmagando para isso a população autóctone.    Os eleitores escolheram a sua via, a da lei da força.  ... isso é pouco glorioso e não tem futuro.

     Netanyahu substituiu a força de paz das Nações Unidas pelo ramo local da Al-Qaida, a Frente Al-Nusra. Ele providenciou-lhe um apoio logístico transfronteiriço e fez-se fotografar com os chefes terroristas, num hospital militar israelita. No entanto, a guerra contra a Síria mostra-se uma armadilha trágica para todos, para as populações locais, mas também para o Ocidente e para os países árabes (sunitas e wahhabitas) do Golfo. Segundo a ONU, a República Árabe da Síria só consegue garantir o contrôlo de 60% do seu território, mas, este numero é enganoso já que o resto do país é um terreno totalmente desértico, por definição incontrolável. Ora, segundo as Nações Unidas, os «revolucionários» e as populações que os apoiam, quer sejam jiadistas ou «moderados» (...), não atingem mais que 212 mil entre os 24 milhões de sírios. Quer dizer, menos de 1% da população.

     O ataque contra o Hezbolla na fronteira do Golã, matando algumas personalidades incluindo um general dos Guardiões da Revolução e Jihad Moghniyé, mas ele foi imediatamente vingado. Enquanto Netanyahu afirmava que a resistência libanesa estava atolada na Síria e não conseguiria replicar, o Hezbolla, com uma fria precisão matemática, matou, alguns dias mais tarde, à mesma hora, o mesmo número de soldados israelitas na zona ocupada das granjas de Chebaa. Ao escolher as granjas de Chebaa, a zona mais guardada pelo Tsahal (significa Forças de Defesa de Israel), o Hezbolla lançava uma mensagem de poderio, claramente, dissuasora. O Estado hebreu compreendeu que não era, mais, o senhor absoluto do jogo, e encaixou esta chamada à ordem.

     Finalmente, o PM Netanyahu foi desafiar o presidente B. Obama denunciando, no Congresso dos EUA, os acordos que a sua administração negoceia com o Irão. Os Estados Unidos negoceiam com o Irão uma paz regional, que lhes permita retirar a maior parte das suas tropas. A ideia de Washington é a de apostar no Presidente Rohani, para fazer de um Estado revolucionário xiita uma "normal potência" regional. Os Estados Unidos reconheceriam/ aceitariam a influência/ poder iraniano no Iraque, na Síria e no Líbano, assim como também no Barein e no Iémene, em troca do qual Teerão deixaria de exportar a sua Revolução para África e para a América Latina. O abandono do projecto do Imã Khomeini seria garantido por uma renúncia ao seu desenvolvimento militar, especialmente, mas não apenas, em matéria nuclear (continuam a afirmar que não se trata da bomba atómica, mas de motores de propulsão nuclear). A exasperação do presidente Obama é tal, que o reconhecimento da influência do Irão poderia chegar até à Palestina.   ...

      As bravatas de Netanyahu visam mascarar o impasse no qual ele mergulhou os colonos judeus. Tendo ganho tempo, durante os últimos seis anos, em vez de aplicar os acordos de Oslo, ele só aumentou a frustração da população indígena. E, assim, vangloriando-se que conseguiu empatar a Autoridade palestina, para nada, ele provoca um cataclismo.

Desde logo, Ramallah anunciou que cessaria toda a cooperação securitária com Telavive se Netanyahu fosse, de novo, nomeado Primeiro-ministro, e aplicasse o seu novo programa. Se uma tal ruptura ocorrer, a população palestina da Cisjordânia, e a de Gaza certamente, deverão ter, de novo, de se enfrentar com o Tsahal (FDI). Isto daria a 3ª "Intifada".

     A população israelita não deseja guerra contínua nem nova intifada e os principais oficiais superiores, na reserva, do Tsahal (FDI) formaram uma associação, os Commanders for Israel’s Security (Comandantes pela Segurança de Israel), que não parou de alertar contra a política belicista e de afrontamento do Primeiro-ministro. Na realidade, é o exército, em conjunto, que se opõe à sua política. Os militares compreenderam, muito bem, que Israel poderia ainda estender a sua hegemonia, como no Sudão do Sul e no Curdistão iraquiano, mas que ele não poderia, mais, expandir o seu território. O sonho (sionista) de um Estado colonial do Nilo ao Eufrates é irrealizável, e pertence a um século passado.

    Ao recusar a «solução de dois Estados», Netanyahu acredita abrir a via para uma solução mas isso não é viável. O Primeiro-Ministro pode celebrar a sua vitória, mas ela será de curta duração.
    Na realidade, a sua cegueira abre a via a 2 opções: quer uma solução à argelina, quer dizer a expulsão de milhões de colonos judeus, dos quais muitos não têm nenhuma outra pátria para os acolher, ou uma solução à sul-africana, quer dizer a integração da maioria palestina no Estado de Israel segundo o princípio «um homem, um voto»; a única opção humanamente aceitável.

----- O general W. Clark revela que o Daesh é um projecto israelita    (26/2/2015)

     O general Wesley Clark, antigo comandante supremo da OTAN (NATO), disse à CNN que o  Emirado Islâmico (dito «Daesh» ou movimento terrorista "Estado islâmico"/ISIS /Califado Islâmico) tinha sido «criado pelos nossos amigos e aliados para derrotar o Hezbolla» (partido político-milícia libanesa xiita apoiada pelo Irão; e para desestabilizar/ derrubar o regime Sírio de Assad; ...).
     O general Clark punha, assim, claramente, em causa a responsabilidade de Israel.  Desde 2001, o general Clark é o porta-voz de um grupo de oficiais de alta patente que se opõem à influência israelita sobre a política externa dos Estados Unidos (e logo também da U.E., da NATO e  ONU),  aos seus desenvolvimentos imperialistas agressivos e à remodelagem do «Médio-Oriente Alargado». Ele opôs-se à implantação de tropas no Iraque e às guerras contra a Líbia e contra a Síria.
----- Notas:
. Israel é uma ocidentalizada democracia (a única, numa região de 'autocracias'/...) onde a origem étnica-social-religiosa/seitas de muitos cidadãos (imigrados dos 'países de leste/Rússia', do 'ocidente/EUA-Europa', 'África/outros', e os 'palestinos/árabes') é um factor importante nas opções político-eleitorais, sendo que a ortodoxia judaica/hebraica é mais militarista e direitista (e sionista). A rede/diáspora e o lobby judaico nos EUA e Europa tem grande poder e influência  financeira, mediática e político-governativa.
. Síria (e em parte o Líbano), embora com problemas de governação (interna e também fomentados do exterior), tem/tinha 'aceitável' convivência/tolerância  entre diferentes religiões/ seitas (xiitas, sunitas, drusos, cristãos ortodoxos, latinos/católicos, arménios, melquitas, ...), sob um regime republicano 'laico', e servindo de base a diversos movimentos/milícias (de belicosa actuação interna e/ou externa).
. Jordánia tem bastante homogeneidade étnica-social-religiosa  e um regime (monárquico ocidentalizado) moderado, mas sendo fortemente influenciada pela  guerra Israel-Palestina  e os movimentos de refugiados, tal como os outros vizinhos.
.. Estados  (e suas agências, militares, políticos, lobbies)  e  entidades privadas (especialmente multinacionais e oligarcas)  apoiam um e/ou outro lado (governo, partido, seita,  milícia, ...), favorecendo o continuar do  conflito e  instabilidade regional  (e  beneficiando com isso, tanto em influência  (política, militar, religiosa, exportação de ideias/crenças/fiéis), como  em lucrativos negócios  (de  armas,  petróleo, "reconstrução/ajuda", investimentos/ moeda$£€, ...), e desviando a atenção e críticas  dos seus próprios  problemas internos e má governação)... (Ver também o 'post' « Guerra e destruição é  oportuno  filão para a  plutocracia  e  máfias»).


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Terça-feira, 10.02.15

Sauditas e Wahhabitas – Mil e uma noites de hipocrisia e terror*  (-por A.Santos)

   Os estado-unidenses têm uma forma curiosa de lidar com a morte. No velório, em vez do pranto e das assoadelas, escuta-se o álbum favorito do falecido e contam-se anedotas sobre a sua vida.   E o cemitério, que dificilmente um português escolheria para um agradável piquenique, é, para o americano, apenas um relvado: sem cruzes tétricas nem largos lutos, nem nada de lúgubre até onde a vista alcança.   E no entanto, nem os mais pronunciados matizes da cultura, nem os sempre complexos rendilhados da língua, explicam o singular critério de Barack Obama para a morte de outros chefes-de-estado.  
     Lembro-me por exemplo dos termos de Obama, em 2013, aquando da morte do presidente Hugo Chávez: «A Venezuela entra num novo período da sua História; os EUA continuarão a patrocinar medidas que promovam a democracia e o respeito pelos direitos humanos».   Já no passado dia 27 de Janeiro, o falecimento do Rei Abdullah da Arábia Saudita mereceu todo um outro tipo de considerandos. A delegação fúnebre dos EUA incluiu figuras de topo como o Secretário de Estado John Kerry, o Director da CIA John Brennan, o Comandante do Comando Central Lloyd Austin e o chefe dos republicanos John McCain.   Para Obama, que encurtou a sua visita à Índia para «homenagear» o rei defunto, «não seria esse o momento para falar de direitos humanos». Afinal, segundo o presidente galardoado com o Nobel da paz, Abdullah foi um «reformador», que malgrado «modesto» nos seus esforços, contribuiu para a «estabilidade regional».   Outros foram mais longe: David Cameron (1ºMin.RU), elogiou o monarca pelo seu «esforço para a compreensão entre fés»; Christine Lagarde (FMI), não corou ao chamar-lhe «forte defensor das mulheres, embora discreto» e Ben Rhodes, o Conselheiro para a Segurança Nacional dos EUA, declarou que «os sauditas são essenciais para deter a barbárie das decapitações pelo Estado Islâmico». O Presidente de Israel, Rivlin, disse que «as suas sábias políticas contribuíram muito para a nossa região e a estabilidade do Médio Oriente».   Hollande e Fabius (Fr.) deslocaram-se a Riade para prestar tributo ao rei saudita e à «sua visão duma paz justa e duradoira no Médio Oriente»– visão bem patente na Síria.
     A Arábia Saudita nunca foi alvo das grandes campanhas mediáticas e políticas contra o fundamentalismo islâmico. Porque a verdadeira questão é outra. A Arábia Saudita e o seu «capitalismo avançado»  (International NYT, 24.1.15) estão do mesmo lado da barricada que Obama, Hollande, Cameron e o sionismo.   É a hipocrisia sem limites dos chefes imperialistas.
     Direitos humanos na Arábia Saudita.  Na verdade, o processo judicial do Estado Saudita é uma cópia do seguido pelo Estado Islâmico: só em Janeiro de 2015 o Reino da Arábia Saudita decapitou 16 pessoas. Nesta monarquia absoluta onde o Corão é a constituição, pelo que a interpretação da lei islâmica (sharia) aplica-se mediante cortes de mãos e de pés, apedrejamentos e chicotadas. A Ulema, um grupo de clérigos sunitas bárbaros, controla todos os aspectos da vida, do sexo à higiene passando pela alimentação e pela leitura, impondo uma estrita segregação sexual que proíbe homens e mulheres de frequentarem os mesmos espaços. As mulheres sauditas não podem conduzir nem passar pelas portas usadas por homens, estão obrigadas a ter um «guardião» do sexo masculino e não podem estudar, viajar ou casar sem a sua autorização. Se uma mulher saudita violar a segregação sexual e entrar em contacto com um homem fora do seu círculo familiar, é julgada por adultério e prostituição, crimes castigados com a morte.     Na própria semana em que Obama foi render tributo aos reis sauditas, Layla Bassim, uma mulher birmanesa, foi decapitada em público na cidade de Meca. Enquanto Obama falava, Raif Badawi, recebia as primeiras de 1000 chicotadas por criticar o governo num blog. Na ditadura saudita, não existem quaisquer direitos democráticos ou liberdade de expressão e opositores como Badawi são perseguidos, torturados e executados.  
     A História de um Estado-Cliente.   Mas o Estado Islâmico e a Arábia Saudita têm em comum algo mais importante que as decapitações: os EUA. Uma ligação que recua ao colapso do Império Otomano, quando os britânicos instalaram ao leme da região uma família de latifundiários sunitas, os Saud. Arábia Saudita significa literalmente a Arábia dos Saud, a família que ainda hoje é proprietária do país e cujos cerca de 7000 príncipes ocupam, com autoridade absoluta, todas as posições do Estado. Mas Muhammad bin Saud, o fundador do primeiro Estado saudita, não impôs apenas o nome e a descendência ao novo país: também cunhou a religião. Para conquistar o território, bin Saud estabeleceu um pacto com os seguidores do Wahhabismo, a corrente ultra-reaccionária do islamismo sunita que hoje dita a lei na Arábia Saudita e também no Estado Islâmico. 
      Nascido para servir o imperialismo britânico, cedo os EUA compreenderam a utilidade deste cliente reacionário e avesso a todo o progresso social:  nos anos 70, os sauditas armaram, a mando da CIA, os Taliban e a Al-Qaeda para derrubar o Estado afegão; na primeira Guerra do Golfo, em 1991, deram estacionamento a meio milhão de tropas americanas; mais tarde, em 2003, as bases sauditas permitiram 286 000 ataques aéreos contra o Iraque. Peça central para o avanço do imperialismo no Oriente Médio, a Arábia Saudita compra anualmente aos EUA 30 mil milhões de dólares em armas.     Em contrapartida, exporta fundamentalismo religioso, petróleo barato e desestabilização política. Neste negócio perigoso e de corolários tão volúveis como a Jabhat Al-Nusrah, a Ahrar ash-Sham e o próprio Estado Islâmico, quem perde sempre são os povos. Da Chechénia, da Bósnia, a da Líbia, da Síria, do Iraque ou do Afeganistão.


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Segunda-feira, 12.01.15

(-por Ana Gomes, 8/1/2015)

...com o coração e a cabeça ainda mais pesados de apreensão.

Não apenas por causa dos ataques de ódio que já proliferam contra muçulmanos por essa Europa fora (até a mesquita apareceu conspurcada, oiço de Lisboa) e outros primarismos perigosos. Derivas "bushistas" fazem as democracias degradar-se, descendo ao nível dos terroristas e fazendo o jogo do terrorismo: pois não são as liberdades e os direitos humanos, que são fundamento das sociedades democráticas, justamente o que o terrorismo quer destruir?!
    Pesam-me ainda mais coração e cabeça porque oiço declarações sobre Schengen, PNRs, "guerra contra o terrorismo" e o mais. E temo o pior. 
    Ao longo destes anos não vi a UE fazer o que a luta contra o terrorismo implicava. E implica.  Vi tremenda falta de Europa: o cada um por si, polícias consumidas em rivalidades internas, serviços de informação a fazer caixinha com os congéneres e sem meios para investir em "inteligência humana" (a francesa falhou e não foi por falta de "tuyaux" dos americanos...); magistraturas lentas, alheadas, sem meios e pouco cooperantes entre si; governos a competirem estupidamente a apaparicar - na mira de negócios de armas, outros contratos e investimento - os financiadores sauditas, qataris e turcos do dito "Estado Islâmico", ou da Al Nusra, ou de outras declinações da hidra Al Qaeda
     Não vi investimento em programas de prevenção da radicalização de jovens e, ainda menos, de desradicalização:    pelo contrário, vejo o materialismo desenfreado, a sociedade sem valores a não ser o dinheiro (denunciada pelo Papa a quem os fanáticos da austeridade, embora se digam crentes, fazem orelhas moucas), vejo o desemprego, o desinvestimento na escolarização, no modelo social europeu, nas responsabilidades sociais dos Estados. Tudo factores que fomentam a desintegração das famílias, a marginalização e a alienação individual, que transforma demasiados jovens europeus - como os franceses perpetradores destas chacinas - em ardorosos jihado-nihilistas.
     A ninguém escapa no Iraque a relação entre a tragédia de Paris e aquela que cruamente golpeia a sua martirizada população e a da vizinha Síria, mesmo antes de se saber que um dos terroristas franceses reclamou agir pelo EI ("Estado Islâmico"). 
No Curdistão iraquiano está hoje a linha da frente do combate a esta banda de cruéis e desvairados criminosos. 5000 jihadistas entraram num só dia, vindos da Turquia... e hoje controlam a região de Mossul, antes com 3 milhões de habitantes.
     Passamos a 10 km do que lá chamam "Daesh" (o "Estado Islâmico") em Mahkmoud, depois a 40 km de Mossul,  na estrada para Dohuk. A caminho de visitar as comunidades yazidis e cristãs que tiveram de fugir das montanhas do Sinjar e das planícies de Ninewa, alvos de massacres e violências indescritíveis (todos choramos ao ouvir os relatos daquelas miúdas de 15 e 17 capturadas pelos jihadistas para os servir como escravas sexuais...). 
     200.000 refugiados sírios e um milhão e meio de IDPs (deslocados internos) que o  Governo Regional e a população do Curdistão acolhem como podem. Enquanto nós, europeus egoístas e insensatos, fechamos fronteiras a desgraçados forçados a atirar-se ao mar, os curdos recebem refugiados e deslocados internos que representam um acréscimo de 35% da sua população (5 milhões).    Claro que as condições são más, muito más, e só podem convencer aldeias inteiras de vítimas de perseguição e  massacres que não têm mais futuro no Iraque: todos  anseiam por emigrar para... a Europa!
     A mesma Europa que não faz o suficiente, nem o que é preciso, para os ajudar a ter condições para ficar. Incluindo e antes de mais, condições de segurança - derrotar e eliminar militarmente o "Daesh" ( EI) é possível, indispensável e urgente. 
Mas, mais uma vez, falta-nos Europa - nem sequer os fornecimentos de armas aos peshmerga, que lutam no terreno, governos europeus coordenam entre si... nem sequer a ajuda humanitária que a UE presta se coordena com a que prestam alguns Estados Membros; para não falar  da coordenação da acção humanitária com ajuda de desenvolvimento (não há escolas nos campos de refugiados, que regurgitam de crianças e jovens). Nem há o imperativo  mas trabalhoso apoio político à tão necessária reconciliação intercomunitária... Quando Mossul cair, tudo se agravará com nova crise humanitária, desta vez afectando sobretudo populações sunitas. 
    Como nos disseram os abades de Al Qosh: "Estamos a procurar fazer sobreviver: as pessoas  e ancestrais culturas pré-islâmicas, que a Humanidade está à beira de ver eliminadas na terra onde nasceram, no próprio berço da civilização".
      Ou os governos europeus acordam e fazem finalmente o que é preciso fazer, o que exige mais solidariedade e políticas internas e externas mais coordenadas, mais inteligentes e mais estratégicas   - ou seja, precisamos mesmo de mais Europa! 
Ou preparemo-nos para o pior:  esta barbárie pode ainda só ter começado.
-----------
Não há unidade - nem republicana, nem democrática nem ocidental ... só farsa de Liberdade!  
     
Esta é mesmo das raras fotografias que vale mais que mil palavras. Os líderes das chamadas "democracias ocidentais" desfilaram juntos pelas ruas de Paris, unidos contra o terrorismo e em defesa da liberdade. Juntos, mas longe de toda a a gente, numa rua deserta e cercados de seguranças, porque a segurança deles termina onde começa a nossa liberdade. A fotografia não é só poderosa porque nos mostra Hollande do outro lado do espelho e a encenação por detrás das câmaras, mas é igualmente a demonstração sobrante do que eles querem dizer quando falam de liberdade de expressão: uma farsa. Afinal, a manifestação deles era como a sua liberdade, só para alguns.
               tomar como nossas as dores.  


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Sexta-feira, 02.01.15
Sobre o movimento PEGIDA - "Patriotas europeus contra a islamização do ocidente" na Alemanha é recente, mas não assim tão surpreendente, como Sascha Lobo explica no artigo que  Lutz Bruckelmann traduz.

Anda tudo muito distraído ou o facto dos alvos serem muçulmanos explica o silêncio ? (antes foram os judeus, ciganos, anarquistas e comunistas, ... e quando os ALVOS forem os vossos/nossos vizinhos e familiares? vão reagir? esconder a cabeça na areia? fugir?).

      Nada ver, nada ouvir, dizer muito     - Uma crónica de Sascha Lobo (*Der Spiegel, 18.12.2014)

No Facebook, PEGIDA tem dezenas de milhares de seguidores. São eles todos estúpidos? Certamente não. Mas isso mesmo é parte do problema.PEGIDA é por enquanto um dos poucos fenómenos políticos na Alemanha que funciona online e offline. Na altura da "Nona caminhada da noite" em Dresden, em 15 de dezembro, com cerca de 15.000 participantes, a sua página do Facebook teve mais de 50.000 fãs, ela cresce atualmente em cerca de 10.000 seguidores por dia e tem taxas de interação surpreendentemente altas.
     Com as redes sociais surgiu uma nova perspetiva de observação. É possível acompanhar conversas, comentários, opiniões, cujos ecos anteriormente se perderem nas cantinas, nas mesas de café e nos corredores. Embora quase 30 milhões de pessoas estão entretanto ativos no Facebook na Alemanha, é claro que disto não resulta automaticamente uma imagem representativa. Mas podem identificar-se padrões de pensamento recorrentes. Isso também é necessário porque a política e os meios de comunicação estão atravessados por uma imagem distorcida do PEGIDA.
     Ralf Jäger (SPD), Ministro do Interior que consistentemente fala de forma confusa, por exemplo, rotulou os organizadores "Nazis bem-vestidos"["Neonazis in Nadelstreifen" N.T.: Nadelstreifen é sinónimo de um fato de qualidade de topo]. O chefe do PEGIDA, o chefe de cozinha de formação Lutz Bachmann, fugiu da prisão para a África do Sul, cumpriu dois anos de prisão por roubo e está atualmente em liberdade condicional por um delito de drogas. Menos "Nadelstreifen" não é possível. Mas porque a aliteração absurda soa tão escorreita como um título de best-seller, a tirada "neo-nazis em riscas" até fez uma carreira internacional. O "Guardian" traduziu isso numa condensação ainda mais errada como "pinstriped nazis".
     A treta mesclada do "Ocidente" com um primário racista
     "O povo é, infelizmente, muitas vezes estúpido", escreveu Franz Josef Wagner no órgão central da estupidez popular [o tabloide "Bild"]. Um tenor similar - todos idiotas - há também no Twitter, o órgão central do despeito popular. Seria conveniente se os manifestantes e fãs do PEGIDA fossem todos estúpidos. Infelizmente, não é tão simples.
     Porque para além dos - à primeira vista - estúpidos, enormemente estúpidos e galacticamente estúpidos fãs do PEGIDA existem não poucos que parecem vir, intelectualmente, do centro da sociedade. Que, a avaliar pela ortografia, pela gramática e pelo tom dos seus comentários no Facebook não são primariamente estúpidos. E quem já tenha lido uma vez os comentários sob um artigo online da "Bild" sobre Israel, tem de reconhecer que, infelizmente, a maioria dos comentários PEGIDA (salvo algumas falhas) se apresentam quase como civilizados.
     Superficialmente. Pois trata-se de ressentimentos civilizados. Muitos comentários no Facebook usam um código de linguagem em que "islamização" não refere uma religião, mas é sinónimo para árabes e turcos, e mesmo para estrangeiros em geral. Sob "islamização" essas pessoas entendem o adolescente de cabelos pretos que identificam a distância duma centena de metros como "islâmico", baseado na sua aparência. Isso revela uma fundação racista do movimento, e é a explicação para a treta mesclada do "Ocidente", que já está misturada no nome. Este também é um código, ou seja, a demarcação do "Oriente", ou seja, novamente turcos e árabes, independentemente de qualquer eventual religião.
      Um novo tipo de cidadão sobe ao palco:  o nazi  latente
      O sucesso de PEGIDA baseia-se em enviar sinais xenófobos, sem que o seu emissor ou recipiente tenham de admitir isso perante si próprios. Os códigos de identificação funcionam mesmo de forma tão inequívocos que se pode dispensar-se do constante distanciamento postiço, "Nós não somos nazis", "Não temos nada contra os estrangeiros", "Estamos a favor do direito de asilo". Estas frases já nem sequer necessitam o anteriormente típico "mas" a seguir. A gente já assim se entende.
     O jornalista da "taz"- Philip Meinhold twitou: "Os nazis estragaram a reputação dos nazis de tal maneira, que hoje nem nazis querem ser nazis." Isso é engraçado, mas incompleto. Antes chega com o PEGIDA um novo tipo de cidadão político ao palco - a pessoa de extrema direita inconsciente ou o nazi latente.
     Isto é, pessoas que defendem posições da extrema direita sem o saber ou sem querer saber que são da extrema direita. E cujo pressentimento de que as suas atitudes podem ser problemáticas, precisamente não os leva a reconsiderar a sua posição, mas a distanciar-se antecipadamente por mera afirmação. Sem tirar das suas próprias palavras o mínimo de consequências. Declara-se que se está a favor do direito de asilo, mas condena-se ao mesmo tempo os "Asylanten", [os requerentes de asilo]. Exatamente esta supressão da realidade é um motivo para a maior preocupação, por trás dela está um problema de proporções chocantes.
     Não tirar do seu próprio blabla nenhumas consequências
Pois não é a estupidez a característica mais marcante dos adeptos do PEGIDA, mas a sua mundivisão hermética e a acompanhante dissociação de qualquer causalidade. E, perturbantemente, tendem para esta dissociação até pessoas que não são estúpidas a tempo inteiro, por exemplo está este modelo conceitual também largamente presente no antigo partido dos professores [universitários] AfD, chegando até a sua direção. E muito além. Essas pessoas não querem que a sua verdade sentida seja estragada por factos irritantes. Portanto, é lógico que os protestos contra a islamização são realizadas em Dresden, onde existe uma percentagem de muçulmanos tão pequena que quase já não mensurável.
     PEGIDA é um sintoma da sociedade alemã, e uma vista para dentro das mentes dos protagonistas na Internet ajuda a classificar o sintoma. O ministro da Justiça Heiko Maas tem cem por cento razão ao dizer que PEGIDA é uma "vergonha para a Alemanha". No entanto, não é uma vergonha surpreendente. Com PEGIDA brota uma semente que foi semeada na Alemanha por muitas décadas, também na Alemanha Ocidental. Porque precisamente no que respeita a xenofobia, a dissociação da sua própria atitude, declarada em alta voz, dos atos dela decorrentes é padrão.
     O blabla político que a Alemanha é um "país cosmopolita e hospitaleiro", derramou de centenas de bocas para milhares de microfones, enquanto ao mesmo tempo, também por decisões políticas de governos alemães, nas fronteiras trancadas da Europa se destroçaram ou afogaram milhares de pessoas. Fantochadas políticas como a "portagem para estrangeiros" ou o quotidiano tratamento absurdo e desumano de refugiados são a prova constante de que aqui funciona o mesmo mecanismo como no PEGIDA, mesmo sem ser estúpido ou inculto ou nazi: não tirar consequências do próprio blabla. Nós instalamo-nos numa sociedade de negação da realidade e do ressentimento (de décadas e transversal a toda a sociedade), e PEGIDA é a consequência pouco apetitosa disto.
  *   http://www.spiegel.de/netzwelt/web/sascha-lobo-ueber-pegida-der-latenznazi-a-1008971.html 

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Por outro lado, a realidade económico-social (especialmente agravada pelo desemprego e crise criada por políticas neoliberais e pela financeirização, especulação e exploração global), os ataques terroristas de extremistas islâmicos (europeus, árabes, africanos,...), e imagens de manifestações  no RU, Holanda, França, ... de muçulmanos fanáticos a defender a sharia ('lei religiosa' bárbara), a exigir tratamento diferenciado adequado à sharia, a atacar a liberdade e direitos humanos, a ocupar significativamente diversos bairros e cidades europeias, ... alarmam muitos cidadãos e governos, e levam ao apoio de medidas securitárias (condicionando a liberdade e direitos de cidadania) e de líderes e movimentos anti-islâmicos, xenófobos e de extrema-direita.



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Segunda-feira, 29.09.14

Situemos el problema: El sistema-mundo en profunda crisis o la excusa del islamismo radical   (-C.Martinez G., ATTAC Andalucia, 28/9/2014)

     Cuando en los años cincuenta y sesenta del siglo XX surgió el nacionalismo y el pan-socialismo árabe, teñido de antiimperialismo o al menos de lo que hoy conocemos como multilateralismo o “tercerismo” en el lenguaje político de la época, fraguado en las luchas anti-coloniales y espoleado por la creación del estado de Israel, los EE.UU, Gran Bretaña, Francia y el propio Israel comenzaron un largo y duro trabajo para eliminar esta amenaza a sus intereses neocoloniales o de dominio.

     El ya mítico FLN-Frente Nacional de Liberación- de la independencia de Argelia o la Unión Nacional de Fuerzas Populares de Marruecos también forjada en la lucha frente a los franceses. El Destur original tunecino. El BAAS o Partido Socialista Árabe del Renacimiento de Siria e Irak. La figura clave en la construcción del socialismo árabe Gamal Abdel Nasser el líder de la revolución egipcia, Así como la irrupción de la OLP y las fracciones palestinas socialistas y marxistas más radicalizadas, todos ellos laicos aunque muy respetuosos con el Islam, fue para los árabes el inicio de su modernización entrando en el siglo XX de manos de un marxismo moderado, un modelo socialista propio y una posición política independiente cuando no hostil hacía sus antiguos colonizadores. Era el renacimiento como llevaba el BAAS por bandera. Era la búsqueda de la unidad árabe por primera vez, desde las ideas de igualdad, transformación, creación del estado social, en lugar de la caridad religiosa y era la conquista de sus materias primas y energéticas en lugar del Califato de Estambul y de las antiguas colonias. Era la defensa de las fronteras palestinas diseñadas por la ONU y sistemáticamente violadas por el estado racial y religioso de Israel. Occidente judeo-cristiano y la guerra fría no podían consentir el nacionalismo popular y soberanista de la nación árabe.

     Una anécdota: Cuando a finales de los años cuarenta y principios de los cincuenta del siglo XX, la España franquista inició una campaña reivindicando Gibraltar español –ciertamente, lo es. Es una colonia del decadente Imperio Británico y una base militar extranjera- se hicieron muchas manifestaciones estudiantiles propiciadas por el SEU el sindicato estudiantil falangista y la propia estructura juvenil de FET y de las JONS el partido fascista del régimen. Las algaradas ante la embajada británica eran frecuentes. En una de ellas el ministro de la gobernación –el de Interior- llamo al embajador preguntándole si enviaba la Policía Armada-era como se llamaba la actual Policía Nacional- a disolver la manifestación, a lo que el embajador británico le respondió “Mejor no me mande los estudiantes”.   Pues bien, eso es lo que ha ocurrido en una parte importante del mundo árabe, las potencias centrales, la CIA y el MOSSAD han creado la manifestación yihadista, las milicias islámicas radicales de todo tipo y ahora envían a la Policía Armada, es decir sus drones, aviones y misiles a disolver a sus criaturas del emirato o antes de Al Quaeda. Criaturas que con su acción favorecen los intereses del Imperio central y occidental, así como de su hijo Israel, pero que a su vez reflejan la frustración y desesperanza de la nación árabe, engañada, ninguneada y utilizada al menos de forma descarada desde 1918 al final de la I Guerra mundial.

     El socialismo árabe tras la temprana muerte de Nasser, sufrió desde golpes de estado, cercos económicos, agresiones militares a su propia crisis de valores o la llegada de la corrupción, cuando no la traición o la usurpación de su legado por personajes autoritarios y militaristas. Pero que sin embargo siguieron siendo laicos y respetuosos con las importantes minorías cristianas de Irak, Siria, Palestina y el propio Egipto. Cristianos árabes que apostaron muchos de ellos por el apoyo a estos partidos que eran laicistas y progresistas. Cierto es que se cometieron errores, pero las mujeres circulaban libremente sin pañuelos ni velos por las calles, maquilladas si era su deseo, vestidas como consideraban oportuno y comenzaron a ir a la universidad. Apareció la sanidad e instrucción pública y se crearon infraestructuras como la presa egipcia de Asuán o el potente sistema sanitario público iraquí hoy destruido.

     Pero ilegalizaron a los hermanos musulmanes y muchas cofradías religiosas musulmanas fueron perseguidas. También en algunos de esos países se reprimió el chiismo, que sin embargo gobernó y gobierna en Siria,- no solo en el actual Irán-, que en esos momentos –Irán- era el aliado fundamental de los EE.UU en la zona.

     La guerra fría y la alianza estratégica de muchos de estos regímenes con la Unión Soviética –la Rusia y Repúblicas de su influencia de la extinta URSS- así como sus derrotas militares frente a un agresivo y conquistador estado de Israel, minaron el nacionalismo pan-árabe. La invasión soviética de Afganistán, marcó un antes y un después.   En esos momentos, ante la revolución iraní y la presencia militar soviética en Afganistán, los EE.UU fraguan una sólida alianza con las monarquías corruptas y ultra-religiosas árabes del Golfo, Jordania o Marruecos en el Magreb, que siendo rigurosos partía de décadas anteriores.    Frente al socialismo o nacionalismo popular árabe, se potencia un islamismo rigorista, reaccionario, financiado por los sauditas y otros aliados de la región y se crean, arman hasta con misiles de última generación de la época a las guerrillas islámicas, los movimientos de un Islam anti-comunista y anti-socialista, anti-progresista con una lectura del Libro (al Corão), más que discutible hasta el momento e influenciado por un Islam asiático, muy riguroso que además considera el diablo, todo lo que previamente han construido los socialistas pan-arabistas y/o los regímenes aliados de la URSS. Frente a antiimperialismo, religión. En esa operación la CIA y los servicios secretos de Israel juegan un importantísimo papel.

      De aquellos polvos, estos lodos. Liquidado el socialismo árabe, el nasserismo, solo queda la religión como esperanza y la caridad como sistema de protección social. Cierto que, también desde el islamismo surgen tendencias anti-imperialistas y soberanistas árabes o persas, sobre todo en Líbano, Irán o el Hamas palestino, que propiciara el Mossad y que ahora tan caro le cuesta.

     Occidente, la OTAN, los EE.UU lo que tratan de controlar no es a regímenes crueles y opresores, pues las monarquías del Golfo lo son. Lo que se trata de controlar son las rutas de abastecimiento de crudo y cercar militarmente por su interior a Rusia y China.    Rusia lleva años advirtiendo del peligro del yihadismo radical. Denunciado su apoyo occidental y al mismo tiempo reprimiéndolo con mucha dureza en el interior de sus fronteras, en el Cáucaso a los islamistas chechenos.

La pregunta que todas y todos nos hacemos es ¿Cómo la mayor potencia militar del mundo-por ahora-no ha detectado la formación de un ejército –el del Emirato- en una zona desértica en el centro de Irak? Además ¿Cómo es que todo el armamento que porta el Emirato es de fabricación occidental o de sus aliados?

     Siria ha sido envuelta en una cruel guerra civil, cruel por ambas partes, pero en la que los aliados de los EE.UU y las monarquías del Golfo o la civilizada Francia, son mayoritariamente, las mismas milicias que han fundado el Emirato. El Levante al que en su nombre se refieren, los hasta ahora aliados de los EE.UU son los estados de Líbano y Siria, mucho ojo. Es decir se pretende construir un estado teocrático entre Irak, Siria, Líbano y parte de Turquía. Pero ese sueño ha tenido padres, impulsores como Arabia Saudita, los emiratos del golfo y los EE.UU e Israel.

     Pero claro, la frustración árabe y la ausencia de valores diferentes al islam o modernizadores del mismo en estos países, así como la eliminación incluso física de la mayor parte del socialismo árabe, provocan que ahora el yihadismo sea la última esperanza de unos pueblos saqueados y engañados, se vuelva contra sus antiguos padrinos. Ahora el diablo ya no es el comunismo o la Unión Soviética o el socialismo nasserista, ahora el diablo son los EE.UU y Occidente.

      La realidad final es que todo esto no es sino el tablero bélico con el que el capitalismo de las potencias centrales, con los EE.UU a la cabeza trata de mantener y acumular riquezas. Controlar el mundo para disponer de reservas de crudo y de paso impedir que los estados emergentes se repartan la riqueza mundial. Es una forma de combatir la crisis del capitalismo de las potencias centrales mediante la guerra. Asustar a las poblaciones europeas y norteamericanas y entretenerlas con nuevos enemigos de forma que no descubran que el verdadero enemigo es el sistema, son los detentadores de la riqueza, la globalización neoliberal.

     La lenta decadencia de los EE.UU según señala Immanuel Wallerstein. Los problemas cada vez más graves del dólar muy cuestionado por los BRICS emergentes y que comienzan a utilizar nuevas monedas. Las crisis constantes de la zona euro y la UE que continuamente cae cuando parce que va a levantarse, provocadas por sus suicidas políticas de austeridad y recortes. La crisis de Ucrania y las agresiones criminales del estado de Israel contra el pueblo palestino. Todo ello, no es sino la manifestación de un mundo que de forma inexorable se está reordenando y por ello la OTAN y sus aliados se enfrascan en guerras locales, con la excusa de exportar la democracia a tiros.

     Será para peor o para mejor si logramos que los principios del sentimiento Portoalegre se abran paso y el reparto y la justicia, construyan la paz mundial. Pero el mundo está cambiando. En estos momentos, al capitalismo no le interesa la paz. En estos momentos los capitalistas para seguir acumulando necesitan menos democracia, nada de reparto e invasiones y bombardeos que garanticen su control de las rutas comerciales estratégicas y los oleoductos.



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