Sexta-feira, 21.06.13
Esta coisa da sorte e do azar
consoante a época em quese nasce
é um terreno escorregadio

A teoria da justiça geracional - chamemos-lhe assim - tem vindo a ganhar adeptos entre os que ainda estão longe da reforma, anestesiando-os a um ponto tal que medidas confiscatórias do gabarito das que foram recentemente anunciadas (e das que já estão em prática) são por eles acolhidas com aplausos e louvores. Em síntese, o que a teoria nos diz é que, tal como existe, o sistema de segurança social é um peso para os trabalhadores mais novos e só beneficia quem já tem a sua reforma. Como afirma Henrique Raposo, um dos seus mais notórios arautos, "somos carregados com altíssimas contribuições e, ainda por cima, essas contribuições não assegurarão a nossa pensão em 2030 ou 2040. Estamos apenas a suportar as pessoas que já se reformaram. Tivemos azar: nascemos mais tarde".

Ao contrário de Henrique Raposo, eu acho que ele teve sorte. Aliás, esta coisa da sorte e do azar consoante a época em que se nasce é um terreno escorregadio. Faço-lhe notar que não terá de ser mobilizado para a Guiné, por exemplo, nem de se arriscar a morrer na explosão de uma mina antipessoal, porque quando chegou à idade de ir para a tropa, já tinha acabado a guerra colonial e até já nem havia tropa (no sentido de serviço militar obrigatório em que estou a usar a palavra). Nessa perspectiva, Henrique Raposo teve sorte em ter nascido mais tarde, e ainda bem que assim foi, para ele e para todos nós, uma vez que a guerra acabou. Seria, por isso, gratuito e, até, perverso, obrigá-lo e aos da sua idade a passar por experiências humanas equivalentes apenas para nivelar as gerações e evitar uma gritante injustiça geracional. As pessoas nunca estão em paridade absoluta porque vivem no tempo e na História, o que faz com que a igualdade das gerações perante as circunstâncias, as oportunidades, os desafios, seja uma impossibilidade. O que importa é que as dificuldades que a cada momento se põem às sociedades sejam enfrentadas de forma solidária e socialmente coesa. E é isso que nos dias de hoje o liberalismo ferozmente individualista e egoísta põe sistematicamente em causa.

Eu trouxe a guerra para aqui apenas como um mero exemplo da diversidade das dificuldades que cada geração enfrenta, e para sublinhar a miopia dos que, queixando-se de futuras injustiças geracionais, se comportam como se conduzissem um carro sem retrovisores. Como a guerra já não está, felizmente, no horizonte da generalidade das pessoas que têm agora 30 ou 40 anos, não entra para a contabilidade geracional. Para além dessa miopia, a teoria da justiça geracional assenta num engenhoso jogo de luzes. Na verdade, quem grita contra o actual sistema de reformas não está a falar de um facto concreto mas de uma projecção, isto é, de uma previsível ou eventual injustiça a ocorrer no futuro, quando for a vez dos que agora gritam se reformarem. É, portanto, um raciocínio telescópico cuja principal função é a de legitimar a decisão política de cortar as pensões actuais, dando a esse corte uma aparência de equidade intergeracional.

Com o olhar fixo numa remota miragem e desviado do que realmente importa - a verdadeira injustiça geracional que temos perante os olhos e que dá pelo nome de desemprego jovem -, as pessoas tendem a aceitar a teoria e as suas implicações, que são os cortes. E, para facilitar essa aceitação, têm sido muito úteis conceitos habilidosos como os de "reforma dourada" ou de "pensionista mais endinheirado". Ou seja, jogando com os sentimentos de inveja da população, construiu-se um discurso sobre um alegado privilégio - o grande privilégio de não se ser pobre. Como nos diz o omnipresente Henrique Raposo: "iniciar os cortes nas pensões acima dos 1350 euros parece-me justo. Sim, justo: não só para os mais novos que têm de suportar o sistema, mas também para aqueles pensionistas que recebem 300 euros".

Considerará Henrique Raposo adequado que, no faroeste que advoga, se torne o seu conceito de justiça extensível a outras esferas da vida social, ou a outros proventos ou propriedades? Porque não obrigar quem vive numa casa de quatro assoalhadas a contentar-se apenas com duas? Não seria isso mais justo, atendendo a que há gente que vive em barracas? A visão do mundo dos proponentes da teoria da justiça geracional está, por vezes, mais próxima da dos milenaristas medievais ou da dos bolcheviques do que eles certamente imaginam.

Por: Por João Pedro Marques [i]



Publicado por [FV] às 20:59 | link do post | comentar

Quinta-feira, 03.03.11

Não se muda de políticas, sem mudar de políticos.

 

A manifestação do dia 12 da “geração à rasca” já começa a criar apreensões.

Receia-se que se esvazie o papel dos partidos e dois argumentos são utilizados para diabolizar a manifestação: não se fazem manifestações contra políticos, mas para reivindicar direitos; as manifestações são enquadradas por organizações que representam os cidadãos, pois só estas podem responder por distúrbios ou situações indesejáveis que possam acontecer.

Ora, não se é cidadão, porque há uma organização que o proteja. O cidadão é a razão da política e não o contrário. Ser cidadão é criar expectativas de justiça social e lutar por elas. Um dos direitos fundamentais que os cidadãos têm é de exigir que os políticos sejam coerentes, não criem expectativas falsas e não se aproveitem da “coisa pública” para seu próprio interesse.

Se não há nenhuma organização que represente esta reivindicação, nada melhor que os cidadãos, com sentido de responsabilidade, se manifestarem (uma forma excelente de exercer a cidadania) e com isso criarem condições para que se promovam movimentos que defendam, com energia, os seus direitos.

As organizações são fruto dos movimentos sociais:  isso aconteceu com os sindicatos e, depois, com os partidos. Se estes dão “ares” de se instalarem nos seus interesses, de formarem oligarquias que dominam a política para satisfazer interesses privados, o melhor é os cidadãos virem para a rua manifestarem-se contra esta situação: a política só faz sentido, quando serve a justiça social. Quando esta é negada pelos políticos, não é possível mudar de políticas sem mudar de políticos.     
 # por Primo de Amarante, 2.3.2011


Publicado por Xa2 às 07:07 | link do post | comentar | comentários (7)

Domingo, 06.02.11

Mohamed Bouazizi, um jovem tunisino licenciado que vendia frutas e verduras para sobreviver, imolou-se pelo fogo quando a polícia lhe apreendeu o que tinha na banca. O rastilho pegou e incendiou Tunísia e Egipto, e Síria, Jordânia, Iémen, Marrocos e Argélia. Porquê?

A população árabe tem de fazer o pão com os cereais que compra no mercado, competindo com os fabricantes de rações animais e de biocombustíveis. Os recentes fogos na Austrália dizimaram as culturas, fazendo subir o preço dos cereais. E como os especuladores compram aquilo que sobe, eles ficaram cada vez mais caros, como o petróleo e os juros das dívidas dos países do Euro.

Mohamed Bouazizi tinha produção própria que vendia para comprar o pão.

Como a maioria da população, era um jovem culto e qualificado, mas desempregado.

O emprego, como o preço do pão, depende de um mercado que já ninguém controla. O orçamento adquire-se com pequenos trabalhos e mal dá para comprar pão. Chegada a fome e o desespero, o rastilho pega facilmente.

O que está a acontecer no mundo árabe, e pode acontecer na Europa, é fruto do liberalismo económico.

Os Estados, outrora protectores, reduziram-se à mínima expressão e foram substituídos por elites endinheiradas e corruptas.

Aos povos desesperados, nada lhes resta senão a economia paralela e as instituições religiosas.

Espero que o Ocidente liberal não se queixe daquilo que vier a acontecer.

J. L. Pio Abreu [Destak]



Publicado por [FV] às 19:23 | link do post | comentar

Domingo, 05.12.10

Segundo o DN a "greve selvagem" teve início após a aprovação, em Conselho de Ministros, de uma lei que prevê que os controladores só possam trabalhar 1670 horas por ano (apenas 80 das quais extraordinárias).

Em Espanha há 2300 controladores aéreos, que ganham em média 200 mil euros ao ano (135 ganham mais de 600 mil euros).

Enquanto o mundo continuar, sobretudo, em torno dos mais fortes, este universo terraquio não terá significativas melhoras e muito menos equilibrio social e justiça na distribuição da riqueza produzida.



Publicado por Zurc às 19:21 | link do post | comentar | comentários (2)

MARCADORES

administração pública

alternativas

ambiente

análise

austeridade

autarquias

banca

bancocracia

bancos

bangsters

capitalismo

cavaco silva

cidadania

classe média

comunicação social

corrupção

crime

crise

crise?

cultura

democracia

desemprego

desgoverno

desigualdade

direita

direitos

direitos humanos

ditadura

dívida

economia

educação

eleições

empresas

esquerda

estado

estado social

estado-capturado

euro

europa

exploração

fascismo

finança

fisco

globalização

governo

grécia

humor

impostos

interesses obscuros

internacional

jornalismo

justiça

legislação

legislativas

liberdade

lisboa

lobbies

manifestação

manipulação

medo

mercados

mfl

mídia

multinacionais

neoliberal

offshores

oligarquia

orçamento

parlamento

partido socialista

partidos

pobreza

poder

política

politica

políticos

portugal

precariedade

presidente da república

privados

privatização

privatizações

propaganda

ps

psd

público

saúde

segurança

sindicalismo

soberania

sociedade

sócrates

solidariedade

trabalhadores

trabalho

transnacionais

transparência

troika

união europeia

valores

todas as tags

ARQUIVO

Janeiro 2022

Novembro 2019

Junho 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

RSS