Abstenção não é solução (é 'voto'/ajuda ao 'centrão')
As autárquicas são, de facto, eleições uninominais. Elege-se uma lista, mas na verdade está-se a escolher o presidente de câmara. É também esta personalização que leva a que o presidente recandidato seja, inevitavelmente, reeleito. Não por acaso, pouco mudará no poder autárquico no próximo domingo. Dos 308 presidentes de câmara no poder, a larga maioria recandidata-se e, salvo raríssimas excepções, terá a reeleição assegurada. No poder executivo, a renovação tem de ser imposta por lei. É o que, em boa hora, acontece em Portugal desde 2005: os presidentes de câmaras municipais passaram a só poder ser eleitos para três mandatos consecutivos.
Esta limitação de mandatos tem consequências: há perto de 200 concelhos onde os presidentes, caso ganhem as eleições de domingo, se preparam para iniciar o seu último mandato, ficando impedidos de se recandidatar em 2013.
Mas uma coisa é também conhecida sobre o modo como os dinossauros do nosso poder autárquico gerem a sua própria sucessão. Quando se aproxima o fim de ciclo, abandonam o mandato a meio, entronizando o seu número dois, que depois se candidata na posição vantajosa de presidente em exercício. É isso que faz com que, no próximo domingo talvez valha a pena, um pouco por todo o país, esquecer por um momento quem é o primeiro da lista e olhar atentamente para quem aparece em segundo lugar. Em cerca de 200 concelhos, o mais provável é que o discreto número dois seja o presidente daqui a não muito tempo.
[Arquivo, Pedro Adão e Silva]
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