Terça-feira, 28.05.13

« Este blog ainda não adoptou o acordo ortográfico. O autor prefere escrever com erros pessoais a fazê-lo com erros oficiais. » - LNT  e ...
 ... as "vogais e consoantes politicamente incorrectas do acordo ortográfico"  + um Plano de Acção que garante que (a "irreversibilidade" e) o impossível não é mais do que aquilo que ainda não foi possível realizar:
1 – Suspensão imediata do AOPL nos organismos de administração pública e no sistema de ensino;
2 – Revogação automática e prioritária das disposições do AOLP que mereceram reprovação mais generalizada;
3 - Abertura de conversações com Angola e Moçambique para avaliação das discrepâncias entre a norma ortográfica do AOLP e a que vigora naqueles países;
4 – Nomeação de uma comissão multidisciplinar de peritos para uma revisão profunda do AOLP;
5 – Elaboração de um vocabulário otográfico comum, avalizado pela comissão de peritos;
6 – Aprovação de uma moratória de três anos para a entrada em vigor do AOLP, transferindo-a de 2015 para 2018, data em que voltará a ser avaliada a sua aplicação.         ...  (- por LNT )

         O que torto nasce nunca se endireita  (-por Pedro Correia )

Numa semana de Outubro de 1990, dúzia e meia de sábios iluminados reuniram-se no velho edifício da Academia das Ciências de Lisboa para mudarem a ortografia de uma língua falada por mais de 200 milhões de pessoas. Foi assim, neste ambiente de secretismo, quando não havia nenhuma demanda social para esse efeito, que nasceu o acordo ortográfico.
   ... O acordo nasceu torto desde logo por ignorar a esmagadora maioria dos pareceres técnico-científicos sobre a matéria. Foram produzidas notáveis peças de análise crítica por parte de escritores, professores, linguistas - e todas acabaram no fundo de uma gaveta, olimpicamente ignoradas. O poder político fez tábua rasa dos alertas da comunidade científica - não só portuguesa mas também brasileira - que advertiam para as suas inúmeras deficiências técnicas, para as suas incongruências conceptuais, para os seus clamorosos erros.      Temos, portanto, um acordo que quase ninguém defende, que quase ninguém respeita, que quase ninguém aplica na íntegra. O Presidente da República, que o promulgou, confessa numa entrevista que em casa continua a escrever como aprendeu na escola. O Ministro da Educação, que o faz aplicar no sistema lectivo, admite que não gosta de mudar a maneira de escrever. O secretário de Estado que o assinou em nome do Governo português continua a escrever, em blogues e jornais, na correcta grafia anterior ao convénio de 1990.
     Este acordo pretendia unificar o nosso idioma, na sua versão escrita, mas acabou por consagrar grafias diferentes. Hoje o Estado angolano, por exemplo, tem uma grafia diferente da do Estado português. E este, por sua vez, acolheu como boas mais de 200 novas palavras que passam a ser escritas de forma diferente entre Portugal e o Brasil. Palavras como recepção ou excepção, que viram cair o p nos documentos oficiais portugueses, enquanto mantêm o p que sempre tiveram no documentos oficiais brasileiros.
     Entre nós, em resultado das chamadas "facultatividades" reconhecidas pelo acordo, vai-se abolindo o carácter normativo da escrita, dando lugar a uma espécie de ortografia à la carte, ao sabor da subjectividade de cada um. Assim é possível ver órgãos de informação pertencentes ao mesmo grupo editorial escreverem nuns casos sector, com c, e noutros setor, sem c. Há jornais que adoptaram o acordo, mas adiantando desde logo várias excepções à regra, continuando por exemplo a pôr acento na palavra pára. Ainda há dias, a propósito da co-adopção, registámos quatro grafias diferentes desta palavra: com p e sem p, com hífen e sem hífen.
     ... O acordo acabou por conduzir, portanto, ao caos ortográfico.     O que fazer?
Aquilo que deve ser feito quando alguma coisa não está bem:    mudá-la.
     Deve ser constituída sem demora uma comissão de revisão do acordo, com carácter muito alargado e reunindo especialistas dos mais diversos saberes, de modo a produzir um dicionário ortográfico e regras claras, que não violem a etimologia das palavras, como no absurdo espetador em vez de espectador, e não separem famílias lexicais, como na frase «há egiptólogos no Egito».       Enquanto não houver essa revisão profunda e enquanto não for produzido esse dicionário, o acordo deve ser suspenso. E naturalmente a sua aplicação obrigatória, prevista para 2016, deve ser adiada, como aliás o Brasil já fez.

       Alguém me perguntava há dias por que motivo não se ouvem as vozes dos defensores do acordo.

A resposta é simples: essas vozes não se ouvem porque os defensores deste acordo são em número muito diminuto. Basta folhearmos livros que vão sendo publicados, de escritores das mais diversas tendências, das mais diversas escolas estéticas e de todas as gerações para se perceber que fazem questão em escrever estas suas obras na ortografia anterior ao acordo ortográfico de 1990. Isto sucede não apenas com escritores portugueses: ainda agora foi editado um livro póstumo de Antonio Tabucchi, intitulado Viagens e Outras Viagens. Lá vem a advertência, na ficha técnica: «Por vontade expressa dos herdeiros do autor, a tradução respeita a ortografia anterior ao actual acordo ortográfico.»      O mesmo sucede nos jornais: mesmo naqueles que aplicam o acordo, aliás cada qual a seu modo, não faltam colunistas e articulistas que insistem em escrever na ortografia pré-AO.
      Em todos os sectores da sociedade portuguesa a rejeição das normas acordísticas é claríssima. E maior seria ainda se não houvesse a imposição de adoptá-las na administração pública, incluindo nas escolas, onde são largos milhares os professores que se opõem às regras ortográficas emanadas do AO. A estes professores, tal como a todos os utentes qualificados da língua portuguesa, o poder político tem a estrita obrigação de reconhecer e garantir o estatuto de objecção de consciência.   (e Resistência activa ao AO pela Assoc. Estudantes  )
       ... Nós devemos continuar a resistir também. Em nome daquilo em que acreditamos. ... Porque nós, os mais velhos, somos fiéis depositários de valores culturais que temos o dever de legar às gerações futuras. E nenhum valor cultural é tão nobre e tão inestimável como a nossa língua.

        Parabéns !   (-por A. Vidal )A Mia Couto, que acaba de ganhar o prémio Camões. É actualmente um dos meus escritores preferidos de língua portuguesa e o único (repito, o único) que me leva ao sacrifício de ler um livro escrito em acordês. Porquê? Porque, simplesmente, pior do que isso seria não poder lê-lo. Mas é pena que tenha cedido ao AO e ao enganador argumento da uniformização do português. Logo ele, que tem um vocabulário tão próprio e por isso contribui de forma tão expressiva para a diversidade da nossa língua.    

    O Prémio Camões para Mia Couto  (com uma boa mostra de capas dos seus livros)



Publicado por Xa2 às 19:29 | link do post | comentar | comentários (5)

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