Castas (-por OJumento, 16/5/2015)
Mas as consequências deste modelo social que se tem vindo a instalar em Portugal não se limita a aprofundar as diferenças sociais. Tem também implantado na sociedade portuguesa um verdadeiro sistema de castas muito semelhantes ao que há muito se tenta eliminar na Índia. Alguns grupos sociais ou profissionais têm vindo a estratificar-se e a defender os privilégios limitando o acesso a eles aos familiares (nepotismo) e amigos (/ parceiros em negócios ...).
Na política (no partido), na advocacia e nalgumas profissões liberais, na justiça, nos altos (e médios) cargos da Administração Pública multiplicam-se os (disfarçados) esquemas de favorecimento de grupo que asseguram que os privilégios são um exclusivo do grupo social que está instalado. Os dirigentes de algumas instituições públicas proporcionam aos seus filhos carreiras fulminantes que lhes garantirão um currículo que mais tarde proporciona acesso mais fácil a altos cargo, foi o que sucedeu com a colocação do filho de Durão Barroso no BdP, mas há vários filhos promissores, ainda que alguns circulem de forma mais discreta.
Na política sucede a mesma coisa, os grandes partidos estão tomados por barões que decidem quem vai singrar na política (, na administração e empresas públicas ou participadas). Quando um jovem adere a um partido tem o seu futuro quase traçado, se for apadrinhado pela família 'bem instalada' tem um futuro garantido a viver da política, com direito a muitas mordomias, que vão da garantia de vencimento ao pinga pinga de muitos esquemas e facilidades a que se acede com o factor cunha.
Na justiça sucede o mesmo e não é por acaso que a actual procuradora-geral é filha de um antigo procurador, aliás é uma família que em vez de apelido devia usar a categoria de cada um na carreira do Ministério Público. Basta ler a lista de apelidos (familiares e seus afins: filhos, consortes, irmãos, sobrinhos, primos, ... amantes) de muitas instituições e organizações para se perceber a forte concentração de grupos familiares em determinadas instituições ou actividades do país.
Esta estratificação da sociedade portuguesa em castas que defendem os seus interesses barrando o acesso a muitas actividades aos que não contam com a protecção do grupo. O português comum dificilmente terá (acesso e/ou) sucesso em determinadas carreiras profissionais ou instituições dominadas por estas castas.
As consequências disto é o apodrecimento lento do país, é uma sociedade mais injusta, menos competitiva e menos dinâmica, é uma democracia gerida por políticos cada vez mais fracos, com compromissos de poderosos grupos e lóbis que se sobrepõem aos interesses do país, são instituições dóceis ou com agendas políticas e sociais próprias.
(Também por esta via) Portugal está mais pobre, mais injusto e com estas castas está também mais podre. (e corrupto).
----- [e a CRESAP (Comissão de Recrutamento e Selecção de dirigentes para a Administração Pública) 'carimba o "mérito" de dirigentes ao serviço d... ...' ? (ver comentários...)]


Só nestas "coisitas" o país reduziria a despesa em 2 mil e100 milhões de €uros.!! mas há mais :

...(entretanto) o ministro alemão das Finanças informou que o seu país "despendeu com a crise das dívidas soberanas 600 milhões de euros, todavia, em contrapartida, já lucrou 41 mil milhões de euros graças à queda dos juros da sua própria dívida" (e aos juros agiotas cobrados aos países "resgatados"). ... e os lacaios (fantoches) portugueses que nos (des)governam querem continuar a impingir-nos mais monstruosidades, a coberto da Merkel/Troika/mercados ... cabe-nos correr com eles o mais depressa possível.
A revolta contra as "mordomias dos políticos"
por Daniel Oliveira

Muito se tem falado das
mordomias de políticos e ex-políticos. Os
subsídios imorais que mantêm. A forma súbita como alguns
enriquecem depois de saírem do governo. A
revolta dos cidadãos com estes casos pode ser natural, positiva, perigosa, míope ou hipócrita. Ou tudo isto ao mesmo tempo.
É (revolta) natural porque os mesmos que nos exigem sacrifícios, que roubam o 13º mês e o subsídio de férias aos funcionários públicos, que falam das "gorduras do Estado", que aumentam impostos e que, com as suas medidas, destroem o nosso futuro, se isentam sempre a si próprios de qualquer esforço.
É positiva porque revela que, apesar de tudo, as pessoas ainda têm a capacidade de se indignar com o que é indigno. Que ainda não desistiram deste País. Que não estão completamente anestesiadas.
É perigosa porque demasiadas vezes beneficia o infrator. Pondo todos os políticos no mesmo saco acaba por absolver quem se aproveita da política para interesse próprio. E muitas vezes alimenta e alimenta-se de um discurso contra o papel social e económico do Estado. Um poder político desacreditado é um poder político frágil. Os interesses privados agradecem a sua fraqueza.
É míope porque trata o sintoma como se fosse a doença. A nossa democracia foi sequestrada. Comprada pelo poder do dinheiro. O mais grave assalto ao que é de nós todos não são estas "curiosidades". Isto são trocos (embora sejam milhares e criticáveis).
Ele é evidente no tratamento fiscal de exceção à banca.
Ou quando Ricardo Salgado se dirige à sede do governo horas antes de Pedro Passos Coelho apresentar o Orçamento. Ou nas Parcerias Público-Privado, sempre ruinosas para o Estado e lucrativas para quem dele se aproveita.
Ou nos ministros que saltam de empresas para ministérios - para a saúde, Coelho hesitou entre Isabel Vaz, presidente do BES Saúde, e Paulo Macedo, fundador da Médis - e de ministérios para empresas - Jorge Coelho na Mota-Engil, Ferreira do Amaral na Lusoponte.
Ou nos ex-políticos que se dedicam, depois de abandonarem as suas funções, ao tráfico de influências económicas junto do poder político.
Ou nos financiamentos de empresários a partidos - apesar do financiamento público ser o bombo da festa, não se percebendo que o que se pouparia aí sairia muito mais caro nos favores que os "mecenas" receberiam em troca.
Ou nas privatizações de monopólios a saldo que se preparam.
Ou no financiamento público a colégios privados no mesmo momento em que se fazem cortes violentos na Escola Pública.
Tudo sintomas da mesma coisa: um Estado que é refém do poder económico. A democracia roubada aos cidadãos. Não falta quem tenha bom remédio: menos Estado ou até menos democracia. É como dizer que a melhor forma de atacar um enfisema é arrancar o pulmão ao paciente.
É hipócrita porque muitos dos que se revoltam são os primeiros a demitir-se das suas obrigações de cidadão.
Se há eleições, não votam porque "eles querem é poleiro".
Se há uma greve, nem querem saber porque "a minha política é o trabalho".
Se há um protesto, devemos é ficar quietos que isso nunca dá em nada.
Indignados sem causa, comportam-se como clientes maldispostos. Como se a democracia fosse uma coisa de políticos. Como se não fossem elas próprias a ter de a defender. E, quando votam, não hesitam em eleger homens como Isaltino Morais ou Alberto João Jardim. A qualidade da nossa democracia é um espelho do que nós somos.
Ontem vi, no DocLisboa, um documentário sobre a revolta egípcia. No início, alguns dos que arriscaram a vida na Praça Tahrir queixavam-se da apatia e do medo da maioria dos seus compatriotas. Da sua mesquinhez. Da sua indiferença. Ao fim de trinta anos de ditadura e corrupção, foi preciso a crise bater à porta para que o povo se revoltasse. E, afinal, o que parecia improvável aconteceu. O poder desmoronou-se sem um tiro. Foi preciso que uns tarados corressem todos os riscos para que os restantes acordassem.
Na verdade, tudo era mais fácil ali do que numa democracia. Ali queriam conquistá-la. Aqui, temos de cuidar dela. Ali só havia esperança. Aqui há desencanto. Ali o inimigo tinha um nome. Aqui nem se sabe bem quem ele é (a finança agiota, oligopólios e grandes empresas rentistas). Mas num e noutro caso, nenhum poder corrupto sobrevive sem a demissão do seu povo. Acham que a nossa democracia foi capturada? Libertem-na!
Não é preciso ficar à espera que apareça um salvador. Ele não existe. Só que para correr o risco de assumir uma posição é preciso empenhamento e compromisso. A saúde da nossa democracia não está à distância de um e-mail com muitos pontos de exclamação. Eles só servem de alguma coisa se corresponderem a um pouco mais. Felizmente, não faltam neste País heróis anónimos e generosos que nunca desistiram. No seu bairro, no seu local de trabalho, na sua associação, no seu sindicato. Esses, e não indignados inconsequentes (mesmo que cheios de razão), são a esperança da nossa democracia.
A revolta contra quem se serve da política para amealhar uns trocos é justa. Ainda mais em tempo de crise. Mas não é, não pode ser, um programa político. Falta-lhe o programa. Mas, acima de tudo, falta-lhe a política.

Estas sábias palavras foram escritas por Ângelo Correia o ano passado.
Como se pode então considerar as recentes declarações do «dono da voz»
quando refere em relação às subvenções vitalícias dadas aos ex-políticos?
«Os direitos que nós temos são...direitos adquiridos!»