"Apesar de a UE ser o principal doador de Ajuda Humanitária, apresenta-se nesta Cimeira Mundial -ironicamente Organização na Turquia - com a imagem desgraçada pela forma como NÃO tem sabido responder à maior crise humanitária desde a II Guerra Mundial, que resulta da guerra e do terrorismo na sua vizinhança, em particular na Síria, Iraque e Líbia, e da opressão e miséria noutros países da Ásia e de África.
O (infame) negócio UE-Turquia, em violação da Convenção das Nações Unidas sobre os Refugiados, e portanto em violação dos Tratados Europeus e dos mais elementares princípios humanitários, é vergonhoso. À conta dele, hoje na Europa, nos "hotspots" da Grécia há refugiados detidos e atacados, incluindo mulheres e crianças, muitas menores não acompanhados. E há a "sin city" (cidade-acampamento do pecado) em Idomeni.
A actuação europeia na Cimeira será mais um exercício de hipocrisia se a UE prosseguir com políticas de austeridade que projectam desemprego e pobreza em toda a Região Mediterrânica e além dela. E se continuar bloqueada e incapaz de agir para prevenir e resolver conflitos e para ajudar outros povos a acabar com regimes cleptocráticos e opressores". -- (Minha intervenção esta tarde, em plenário do PE, sobre a Cimeira Mundial Humanitária)
"Está iminente o colapso na Venezuela, acelerado pelo preço do petróleo em queda e pela "corruptocracia" a escalar a todos os níveis. Faltam produtos essenciais, como alimentos, medicamentos, cuidados médicos e até energia para os funcionários públicos poderem trabalhar. De país mais rico da América Latina, a Venezuela está a caminho de se tornar o mais pobre. Com inflação a 600%, 3/4 da população a viver abaixo da linha de pobreza, em insegurança e violência totais.
A União Europeia e este Parlamento, ainda para mais com tantos bi-nacionais entre os venezuelanos, não podem deixar de condenar a actuação sectária, populista e delirante do Presidente Maduro, que não governa, desgoverna a Venezuela.
Senhora Mogherini, Não demore a exigir, em nome da UE, ao Presidente e ao Governo da Venezuela que, se têm uma réstea de bom-senso, ponham fim imediatamente à censura e perseguição dos media, dos defensores dos direitos humanos e dos opositores, começando a trabalhar num entendimento patriótico com o Parlamento para salvar o país e o povo da catástrofe". -- (Intervenção que fiz esta noite em debate plenário do PE sobre a situação na Venezuela)
"No mês passado estive na Margem Ocidental, Jerusalém e Hebron. Vim alarmada com o ambiente explosivo e o desespero do povo palestiniano, descrente do Processo de Paz, da própria liderança, da solução dos dois Estados - que todos consideram já inviável face à política de colonatos, deslocamentos forçados, demolições, repressão militar e humilhação prosseguida, cruel e estupidamente, por Israel - sem falar em Gaza, prisão a céu aberto.
Nada melhor para promover a radicalização da juventude e das crianças palestinianas. Na comunidade beduína de Al Hadidiya, no Vale do Jordão, e noutros locais pude ver projectos financiados pela UE que têm sido sistematicamente destruídos por Israel.
Senhora Mogherini, - Como avalia os resultados do diálogo estruturado UE-Israel que deveria congelar as demolições, quando elas têm aumentado? - Já pediu compensações a Israel pelos danos que as demolições e o confisco de estruturas financiadas pela UE estão a causar aos contribuintes europeus? - Vai tornar público o custo dessa destruição?
Pagaremos muito caro, na nossa própria segurança, esses e outros custos da UE não agire deixar morrer o Processo de Paz." -- (Intervenção que fiz no plenário do PE, em debate esta noite sobre as demolições e destruições na Palestina/Margem Ocidental)
A hipocrisia ocidental (OJumento, 19/11/2015) Os serviços de segurança dos EUAconseguem escutar a senhora Merkel, os satélites americanos conseguem saber a marca do relógio de Putin, mas não conseguem saber que países fornecem os carros às centenas, os países que compram o petróleo ao ISIS ou os países irmãos do ISIS que lhes dão os recursos financeiros para contratar dezenas de milhares de mercenários? O terrorismo tem um ódio de morte a Israel mas ninguém consegue ouvir do ISIS a mais pequena referência àquele país, os terroristas não atacam nos Montes Golan, território sírio ocupado por Israel, e apesar de estarem em força na península do Sinai não há qualquer registo de incidentes entre terroristas e israelitas nas fronteiras com Israel? Os terroristas usaram livremente o território da Turquia para entrarem e saírem às dezenas de milhar, atravessando um Estado policial e fortemente militarizado e o governo turco nada tem que ver com o assunto? Durante anos a Turquia não deixou os sírios fugir para o seu território, nem mesmo quando estavam a ser chacinados pelo ISIS e em poucos meses de 2015 centenas de milhares de refugiados atravessa tranquilamente a Turquia para se dirigirem para a costa próxima das ilhas turcas e gregas? E logo de seguida a senhora Merkel vai à Turquia prometer o ingresso deste aliado duvidoso na UE? Será boa ideia bombardear a Síria, (ou) a melhor forma de atingir o ISIS não seria bombardear a Mossad, Riade ou Ancara ?
--... No princípio a diplomacia ocidental tentou fazer passar a ideia de que a Rússia não estaria a atacar o ISIS. ...
--... Como agora se começa a perceber, a principal força que combate o EI / ISIS / Daesh no terreno é a Rússia, com a ajuda do Irão. Todos os outros ou arrastam os pés, ou dizem que atacam o terrorismo e aproveitam para matar uns curdos, outros apoiam os dois lados e dão apoio moral á França e dinheiro aos terroristas. Não admira que há uma semana todos condenassem a Rússia e agora a França já trata a mesma Rússia como um aliado no terreno. A Europa começa a perceber que o futuro não está em apoiar todos os que ataquem a Rússia e os seus aliados, sem querer saber se são terroristas, fascistas ou as duas coisas. ...
----- Missionária, denuncia os autores da guerra da Síria (via RPNarciso, puxapalavra, 25/11/2016)
A RTP transmitiu no telejornal de 2016-11-24 uma entrevista* dada por uma missionária católica argentina - a irmã Maria Guadalupe - a viver em Aleppo, aos seus correpondentes na Síria.
Maria Guadalupe - A Síria era um país muito tranquilo, muito calmo. Precisava de descansar e pedi aos meus superiores que me enviassem para a Síria para Aleppo. Cheguei lá em Janeiro de 2011 e em Março eclode a guerra.
Comentário da Jornalista - Ao longo de quase quatro anos assistiu a todos os horrores inerentes à guerra numa cidade onde a guerra espreita a cada esquina.
MG - Nas ruas, a todo o momento, caíam projécteis, mísseis, havia tiros, obuses… Tantos feridos, tantos mortos... E é algo quotidiano. Urge pensar que quando há um atentado na Europa, um só, fala-se disso toda a semana.
Comentário da Jornalista- Podia ter deixado Aleppo mas preferiu ficar. Foram anos de dor que lhe deram outra perspectiva da guerra.
MG - O que acontece na Síria não é uma guerra civil, não é o povo que se levantou contra o governo; isso é uma mentira daquelas que promovem esta guerra e utilizam e manipulam os mediae a informação para que no ocidente as pessoas acreditem que isto é o povo sírio a combater nas ruas, não…
Jornalista - Quem é ?
MG- São grupos armados do exterior da Síria, grupos terroristas, são grupos mercenários, grupos pagos. Ou seja os que estão a financiar esta guerra, países do Médio Oriente como a Arábia Saudita, e os países do ocidente que apoiam os rebeldes. Estão decididamente a apoiar o terrorismo. Por isso, precisamente, basta de vender armas, basta de vender armas à oposição moderada pois esta não existe e nunca existiu.
A única defesa do povo sírio nestes cinco anos, a única defesa foi o seu próprio exército nacional. E agora ultimamente a Rússia.
Jornalista - Seja como for, matam civis… Ou não?
MG - O que acontece aqui é que só se divulgam os erros de uma parte, e não os da outra. Eu falo do que vivi, do que vi com estes meus olhos…
-- * - vídeo em http://www.rtp.pt/noticias/mundo/missionaria-argentina-em-alepo-desde-2011_v964505.
---------------------------------------- ['postado' originalmente em 8/9/2015] :
Ir à origem do 'problema refugiados' (-V.Moreira, 3/9/2015, CausaNossa)
A declaração desta criança síria diz tudo: a origem da vaga de refugiados que se dirigem à Europa está principalmente na guerra na Síria, que começou por deslocar milhões de pessoas dentro do País e para os países vizinhos (Líbano e Jordânia). A Europa (UK, Alem.,Fra, ...) e os Estados Unidos (e a NATO, Turquia, Arábia, ...) têm grossas culpas no cartório na onda de refugiados que arriscam a vida (e tantas vezes a perdem) no Mediterrâneo, ao terem contribuído para a destruição do Estado e para a instalação da violência, da guerra civil e do caos no Iraque, na Líbia, na Síria (para não falar na criação do "Estado Islâmico"). A reposição da autoridade do Estado e da paz civil nesses países é a primeira condição para resolver o problema do refugiados que ameaça submergir a Europa. Entretanto, até pela sua responsabilidade na situação, a Europa tem a obrigação de cuidar dos desesperados que chegam, com humanidade e meios adequados.
----- A história do 'Estado Islâmico'(by Walead Farwana, 24/8/2014, texto anexo em inglês, http://original.antiwar.com/walead_farwana/2014/08/23/the-history-of-the-islamic-state/ )... Islamic State, ISIS, DAESH, Terrorists, Jihad, ... AlQaeda, ... índice:
-- Jama’at al Tawhid w’al Jihad -- Iraqi Tribal System -- Sectarian violence in Iraq during the US occupation -- Islam and tribalism -- JTJ metamorphoses into Al Qaeda in Iraq -- Sahwa Militias and the disintegration of the Iraqi state -- Describing Jihadi Organizations -- 2011 -- US destabilization of Syria -- Jabhat al Nusra and ISIS -- ISIS -- The Islamic State and Kurdistan -- Notes on the Kurds -- Notes on US involvement . . . ... ISIS has gone through several transformations. I will detail each stage, as well as the US’s role within each of them. They are as follows: 1. Jama’at al Tawhid w’al Jihad (JTJ) 2. Al Qaeda in Iraq (AQI) 3. The Islamic State in Iraq (ISI) 4. The Islamic State in Iraq and Sham (ISIS) 5. The Islamic State (IS).
. ... Notes on US involvementI think it is necessary to recap how the US helped precipitate this crisis:
They invaded Iraq, thus upsetting the balance of power there and leaving a vacuum to be filled by Zarqawi and JTJ
They pursued a policy of sectarian divide-and-conquer, thus effectively setting up sectarian military boundaries in Iraq when they simultaneously armed Sunni tribes alongside the Shiite-dominated central government
The attack on Libya that toppled Gaddafi created the rise of jihadists there and a subsequent flood of weapons into Syria that bolstered ISIS
US support for rebel groups in Syria undermined Assad who was a bulwark against Jihadism in the region, again bolstering ISIS. ..----... Síria: perceber a realidade(18/11/2015, Entre as brumas...)
... Durante a sua campanha eleitoral, Benjamin Netanyahu (que voltou a ganhar embora por margem reduzida) afirmou que, enquanto ele vivesse, jamais os Palestinianos teriam o seu próprio Estado (da Palestina, e que recentemente foi criado e reconhecido por muitos países). Ao fazê-lo, pôs fim a um «processo de paz» que prolongadamente se arrasta, desde os acordos de Oslo (entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat ),há mais de 21 anos. Assim se acaba a miragem da (pacífica) «solução de dois Estados» (Israel e Palestina).
Netanyahu apresentou-se como um “rambo”, capaz de assegurar a segurança da colónia judia esmagando para isso a população autóctone. Os eleitores escolheram a sua via, a da lei da força. ... isso é pouco glorioso e não tem futuro.
Netanyahu substituiu a força de paz das Nações Unidas pelo ramo local da Al-Qaida, a Frente Al-Nusra. Ele providenciou-lhe um apoio logístico transfronteiriço e fez-se fotografar com os chefes terroristas, num hospital militar israelita. No entanto, a guerra contra a Síria mostra-se uma armadilha trágica para todos, para as populações locais, mas também para o Ocidente e para os países árabes (sunitas e wahhabitas) do Golfo. Segundo a ONU, a República Árabe da Síria só consegue garantir o contrôlo de 60% do seu território, mas, este numero é enganoso já que o resto do país é um terreno totalmente desértico, por definição incontrolável. Ora, segundo as Nações Unidas, os «revolucionários» e as populações que os apoiam, quer sejam jiadistas ou «moderados» (...), não atingem mais que 212 mil entre os 24 milhões de sírios. Quer dizer, menos de 1% da população.
O ataque contra o Hezbolla na fronteira do Golã, matando algumas personalidades incluindo um general dos Guardiões da Revolução e Jihad Moghniyé, mas ele foi imediatamente vingado. Enquanto Netanyahu afirmava que a resistência libanesa estava atolada na Síria e não conseguiria replicar, o Hezbolla, com uma fria precisão matemática, matou, alguns dias mais tarde, à mesma hora, o mesmo número de soldados israelitas na zona ocupada das granjas de Chebaa. Ao escolher as granjas de Chebaa, a zona mais guardada pelo Tsahal (significa Forças de Defesa de Israel), o Hezbolla lançava uma mensagem de poderio, claramente, dissuasora. O Estado hebreu compreendeu que não era, mais, o senhor absoluto do jogo, e encaixou esta chamada à ordem.
Finalmente, o PM Netanyahu foi desafiar o presidente B. Obama denunciando, no Congresso dos EUA, os acordos que a sua administração negoceia com o Irão. Os Estados Unidos negoceiam com o Irão uma paz regional, que lhes permita retirar a maior parte das suas tropas. A ideia de Washington é a de apostar no Presidente Rohani, para fazer de um Estado revolucionário xiita uma "normal potência" regional. Os Estados Unidos reconheceriam/ aceitariam a influência/ poder iraniano no Iraque, na Síria e no Líbano, assim como também no Barein e no Iémene, em troca do qual Teerão deixaria de exportar a sua Revolução para África e para a América Latina. O abandono do projecto do Imã Khomeini seria garantido por uma renúncia ao seu desenvolvimento militar, especialmente, mas não apenas, em matéria nuclear (continuam a afirmar que não se trata da bomba atómica, mas de motores de propulsão nuclear). A exasperação do presidente Obama é tal, que o reconhecimento da influência do Irão poderia chegar até à Palestina. ...
As bravatas de Netanyahu visam mascarar o impasse no qual ele mergulhou os colonos judeus. Tendo ganho tempo, durante os últimos seis anos, em vez de aplicar os acordos de Oslo, ele só aumentou a frustração da população indígena. E, assim, vangloriando-se que conseguiu empatar a Autoridade palestina, para nada, ele provoca um cataclismo.
Desde logo, Ramallah anunciou que cessaria toda a cooperação securitária com Telavive se Netanyahu fosse, de novo, nomeado Primeiro-ministro, e aplicasse o seu novo programa. Se uma tal ruptura ocorrer, a população palestina da Cisjordânia, e a de Gaza certamente, deverão ter, de novo, de se enfrentar com o Tsahal (FDI). Isto daria a 3ª "Intifada".
A população israelita não deseja guerra contínua nem nova intifada e os principais oficiais superiores, na reserva, do Tsahal (FDI) formaram uma associação, os Commanders for Israel’s Security (Comandantes pela Segurança de Israel), que não parou de alertar contra a política belicista e de afrontamento do Primeiro-ministro. Na realidade, é o exército, em conjunto, que se opõe à sua política. Os militares compreenderam, muito bem, que Israel poderia ainda estender a sua hegemonia, como no Sudão do Sul e no Curdistão iraquiano, mas que ele não poderia, mais, expandir o seu território. O sonho (sionista) de um Estado colonial do Nilo ao Eufrates é irrealizável, e pertence a um século passado.
Ao recusar a «solução de dois Estados», Netanyahu acredita abrir a via para uma solução mas isso não é viável. O Primeiro-Ministro pode celebrar a sua vitória, mas ela será de curta duração. Na realidade, a sua cegueira abre a via a 2 opções: quer uma solução à argelina, quer dizer a expulsão de milhões de colonos judeus, dos quais muitos não têm nenhuma outra pátria para os acolher, ou uma solução à sul-africana, quer dizer a integração da maioria palestina no Estado de Israel segundo o princípio «um homem, um voto»; a única opção humanamente aceitável.
O general Wesley Clark, antigo comandante supremo da OTAN (NATO), disse à CNN que o Emirado Islâmico (dito «Daesh» ou movimento terrorista "Estado islâmico"/ISIS /Califado Islâmico) tinha sido «criado pelos nossos amigos e aliados para derrotar o Hezbolla» (partido político-milícia libanesa xiita apoiada pelo Irão; e para desestabilizar/ derrubar o regime Sírio de Assad; ...).
O general Clark punha, assim, claramente, em causa a responsabilidade de Israel. Desde 2001, o general Clark é o porta-voz de um grupo de oficiais de alta patente que se opõem à influência israelita sobre a política externa dos Estados Unidos (e logo também da U.E., da NATO e ONU), aos seus desenvolvimentos imperialistas agressivos e à remodelagem do «Médio-Oriente Alargado». Ele opôs-se à implantação de tropas no Iraque e às guerras contra a Líbia e contra a Síria.
----- Notas:
. Israel é uma ocidentalizada democracia (a única, numa região de 'autocracias'/...) onde a origem étnica-social-religiosa/seitas de muitos cidadãos (imigrados dos 'países de leste/Rússia', do 'ocidente/EUA-Europa', 'África/outros', e os 'palestinos/árabes') é um factor importante nas opções político-eleitorais, sendo que a ortodoxia judaica/hebraica é mais militarista e direitista (e sionista). A rede/diáspora e o lobby judaico nos EUA e Europa tem grande poder e influência financeira, mediática e político-governativa.
. Síria (e em parte o Líbano), embora com problemas de governação (interna e também fomentados do exterior), tem/tinha 'aceitável' convivência/tolerância entre diferentes religiões/ seitas (xiitas, sunitas, drusos, cristãos ortodoxos, latinos/católicos, arménios, melquitas, ...), sob um regime republicano 'laico', e servindo de base a diversos movimentos/milícias (de belicosa actuação interna e/ou externa).
. Jordánia tem bastante homogeneidade étnica-social-religiosa e um regime (monárquico ocidentalizado) moderado, mas sendo fortemente influenciada pela guerra Israel-Palestina e os movimentos de refugiados, tal como os outros vizinhos.
.. Estados (e suas agências, militares, políticos, lobbies) e entidades privadas (especialmente multinacionais e oligarcas) apoiam um e/ou outro lado (governo, partido, seita, milícia, ...), favorecendo o continuar do conflito e instabilidaderegional (e beneficiando com isso, tanto em influência (política, militar, religiosa, exportação de ideias/crenças/fiéis), como emlucrativos negócios(de armas, petróleo, "reconstrução/ajuda", investimentos/ moeda$£€, ...), e desviando a atenção e críticas dos seus próprios problemas internos e má governação)... (Ver também o 'post' « Guerra e destruição é oportuno filão para a plutocracia e máfias»).
De Pol Pot ao ISIS: "Qualquer coisa que voe sobre tudo o que se mova" - por John Pilger
Ao transmitir ordens do presidente Richard Nixon para um bombardeamento "maciço" do Cambodja em 1969, Henry Kissinger disse: "Qualquer coisa que voe sobre tudo o que se mova". Quando Barack Obama desencadeia sua sétima guerra contra o mundo muçulmano desde que recebeu o Prémio Nobel da Paz, a histeria orquestrada nos torna quase nostálgicos da honestidade assassina de Kissinger.
Como testemunha das consequências humanas da selvajaria aérea – incluindo a decapitação de vítimas, com suas partes a adornarem árvores e campos – não estou surpreendido pelo desprezo para com a memória e a história, mais uma vez. Um exemplo marcante é a ascensão ao poder do ditador-genocída Pol Pot e seu Khmer Rouge, que tinha muito em comum com o actual Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS, na sigla em inglês). Eles, também, eram feudais implacáveis que começaram como uma pequena seita. Eles eram também o produto de um apocalipse de fabrico americano, desta vez na Ásia.
Segundo Pol Pot, seu movimento consistira em "pouco menos do que uma guerrilha de 5000 homens fracamente armado e incertos acerca da sua estratégia, táctica, lealdade e líderes". Uma vez que os bombardeiros B52 de Nixon e Kissinger começaram a trabalhar como parte da "Operação Menu", o demónio supremo do ocidente mal podia acreditar na sua sorte.
Os americanos despejaram o equivalente a cinco Hiroshimas no Cambodja rural durante o período 1969-73. Eles arrasaram aldeia após aldeia, retornando para bombardear o entulho e os cadáveres. As crateras deixaram monstruosos colares de carnificina, ainda visíveis a partir do ar. O terror foi inimaginável. Um antigo oficial Khmer Rouge descreveu como os sobreviventes "incapazes de pensar e dizer qualquer coisa perambulavam mudos por três ou quatro dias. Aterrorizados e meio louco, o povo estava pronto a acreditar no que lhes era contado... Foi isso que tornou tão fácil para o Khmer Rouge ganhar poder sobre o povo".
Uma Comissão de Inquérito do Governo Finlandês estimou que 600 mil cambodjianos morreram na resultante guerra civil e descreveu o bombardeamento como a "primeira etapa numa década de genocídio". O que Nixon e Kissinger começaram, Pol Pot, seu beneficiário, completou. Sob as suas bombas, o Khmer Rouge cresceu chegando a um formidável exército de 200 mil homens.
O ISIS tem passado e presente semelhante. De acordo com a maior parte das mensurações académicas, a invasão do Iraque por Bush e Blair levou à morte de umas 700 mil pessoas – num país que não tinha história de jihadismo. Os curdos fizeram acordos territoriais e políticos, os sunitas e xiítas tinham diferenças de classe e sectárias, mas estavam em paz, casamentos mistos eram comuns. Três anos antes da invasão, conduzi extensamente e sem medo através do Iraque. Pelo caminho encontrei pessoas orgulhosas, acima de tudo, de serem iraquianos, os herdeiros de uma civilização que para eles parecia presente.
Bush e Blair explodiram tudo isto. O Iraque é agora um ninho de jihadismo. A al-Qaeda – tal como os "jihadistas" de Pol Pot – agarrou a oportunidade proporcionada pela carnificina do Pavor e Choque e da guerra civil que se seguiu. A Síria "rebelde" apresentava ainda maiores recompensas, com a CIA e estados do Golfo a abastecerem de armas, logística e dinheiro que passavam rapidamente através da Turquia. A chegada de recrutas estrangeiros era inevitável. Um antigo embaixador britânico, Oliver Miles, escreveu recentemente: "O governo [Cameron] parecia estar a seguir o exemplo de Tony Blair, o qual ignorou o conselho constante do Foreign Office, do MI5 e do MI6 de que a nossa politica no Médio Oriente – e em particular nossas guerras no Médio Oriente – haviam sido o principal impulsionador no recrutamento de muçulmanos na Grã-Bretanha para o terrorismo aqui".
O ISIS é o rebento daqueles em Washington e Londres que, ao destruir o Iraque tanto como estado como como sociedade, conspiraram para cometer um crime monstruoso contra a humanidade. Tal como Pol Pot e o Khmer Rouge, o ISIS são as mutações de um terrorismo de estado ocidental administrado por uma elite imperial venal que não recua diante das consequências de acções tomadas com grande distanciamento em termos de cultura. Sua culpabilidade não pode ser mencionada nas "nossas" sociedades.
Passaram-se 23 anos desde que este holocausto envolveu o Iraque, imediatamente após a primeira Guerra do Golfo, quando os EUA e a Grã-Bretanha sequestram o Conselho de Segurança das Nações Unidas e impuseram "sanções" punitivas sobre a população iraquiana – reforçando, ironicamente, a autoridade interna de Saddam Hussein. Foi como um sítio/cerco medieval. Quase tudo o que sustentava um estado moderno estava, no jargão, "bloqueado" – desde o cloro para tornar a água potável até lápis para escolas, peças para máquinas de raios X, analgésicos comuns e drogas para combater tipos de cancro anteriormente desconhecidos transportados na poeira dos campos de batalha do Sul contaminados com Urânio Empobrecido.
Pouco antes do Natal de 1999, o Departamento do Comércio e Indústria em Londres restringiu a exportação de vacinas destinadas a proteger crianças iraquianas contra difteria e febre-amarela. Kim Howells, um médico doutorado e parlamentar, subsecretário de Estado no governo Blair, explicou porque: "As vacinas das crianças", disse ele, "poderiam ser utilizadas em armas de destruição em massa". O governo britânico podia escapar impune a um tal ultraje porque os media que informavam do Iraque – grande parte deles manipulados pelo Foreign Office – culpavam Saddam Hussein por tudo.
Sob o falso programa "humanitário" Petróleo por Alimentos, US$100 foram concedidos a cada iraquiano para viver durante um ano. Este quantitativo tinha de pagar todas a infraestrutura da sociedade e serviços essenciais, tais como energia e água. "Imagine", contou-me o Assistente do Secretário-Geral da ONU Hans Von Sponeck, "estabelecer essa ninharia contra a falta de água limpa e o facto de que a maioria das pessoas doentes não tem meios para tratamento e o trauma absoluto de receber dia a dia, e você tem um vislumbre do pesadelo. E não se engane, isto é deliberado. No passado eu não quis utilizar a palavra genocídio, mas agora é inevitável".
Desgostoso, Von Sponeck demitiu-se do cargo de Coordenador Humanitário da ONU no Iraque. Seu antecessor, Denis Halliday, um igualmente distinto alto responsável da ONU, também se havia demitido. "Fui instruído", disse Halliday, "a implementar uma política que satisfizesse a definição de genocídio: uma política deliberada que matou efectivamente bem mais de um milhão de indivíduos, crianças e adultos".
Um estudo do Fundo das Nações Unidas para as Crianças, Unicef, descobriu que entre 1991 e 1998, na altura do bloqueio, houve um "excesso" de 500 mil mortes de crianças iraquianas com idade inferior a cinco anos. Um repórter da TV americana colocou isto a Madeleine Albright, embaixadora junto às Nações Unidas, perguntando-lhe: "Valeu a pena pagar este preço?" Albrigth respondeu: "Nós pensamos que valeu a pena".
Em 2007, o alto responsável britânico pelas sanções, Carne Ross, conhecido como "Mr. Iraque", disse a um comité parlamentar: "[Os governos dos EUA e Reino Unido] efectivamente negaram a toda a população meios para viver". Quando entrevistei Carne Ross três anos depois, ele estava consumido pelo arrependimento e contrição. "Sinto-me envergonhado", disse ele. Hoje é um dos raros que diz a verdade sobre como governosenganam e como os mediacomplacentes desempenham um papel crítico na disseminação e manutenção do engano. "Nós alimentávamos [os jornalistas] com factóidesde inteligência expurgada", disse ele, "ou os congelávamos do lado de fora".
Em 25 de Setembro, numa manchete do Guardian, lia-se: "Confrontados com o horror do Isis nós devemos actuar". O "nós devemos actuar" é um fantasma em ascensão, uma advertência da supressão da inteligência e memória informada, de factos, de lições aprendidas e de lamentos ou vergonha. O autor do artigo era Peter Hain, o antigo ministro do Foreign Office responsável pelo Iraque sob o governo Blair. Em 1998, quando Denis Halliday revelou a extensão do sofrimento no Iraque pelo qual o governo Blair partilhava a responsabilidade primária, Hain insultou a Newnight da BBC como uma "apologista de Saddam". Em 2003, Hain apoiou a invasão de Blair do Iraque ferido com base em mentiras transparentes. Numa conferência subsequente do Partido Trabalhista ele descartou a invasão como uma "questão marginal".
Agora Hain está a exigir "ataques aéreos, drones, equipamento militar e outros apoios" para aqueles "que enfrentam o genocídio" no Iraque e na Síria. Isto promoverá "o imperativo de uma solução política". Obama tem o mesmo em mente quando levanta o que chama de "restrições" a bombardeamentos e ataques americanos com drones. Isto significa que mísseis e bombas de 500 libras [226,5 kg] podem esmagar os lares de camponeses, como estão a fazer sem restrição no Iémen, Paquistão, Afeganistão e Somália – tal como fizeram no Cambodja, Vietname e Laos. Em 23 de Setembro, um míssil de cruzeiro Tomahawk atingiu uma aldeia na Província Idlib, na Síria, matando até uma dúzia de civis, incluindo mulheres e crianças. Nenhuma agitava uma bandeira negra.
No dia em que o artigo de Hain apareceu, Danis Halliday e Hans Von Sponeck por acaso estavam em Londres e vieram visitar-me. Eles não estavam chocados pela hipocrisia letal de um político, mas lamentaram a duradoura, quase inexplicável, ausência de diplomacia inteligente a negociar um simulacro de trégua. Por todo o mundo, da Irlanda do Norte ao Nepal, aqueles que encaravam um ao outro como terroristas e heréticos haviam-se defrontado um ao outro numa mesa. Por que não agora no Iraque e na Síria.
Tal como o Ébola da África Ocidental, uma bactéria chamada "guerra perpétua" atravessou o Atlântico. Lord Richards, até recentemente à testa dos militares britânicos, quis "botas sobre o terreno" agora. Há um tedioso, quase sociopático, palavreado de Cameron, Obama e sua "coligação da vontade" – nomeadamente o estranho Tony Abbott da Austrália – quando prescrevem mais violência despejada de 30 mil pés [9,1 km] sobre lugares onde o sangue de aventuras anteriores nunca secou. Eles nunca viram bombardeamentos e aparentemente amam-no tanto que querem derrubar seu único potencialmente aliado válido, a Síria. Isto não tem nada de novo, como ilustra o seguinte dossier que escapou da inteligência do Reino Unido-EUA:
"A fim de facilitar a acção das forças liberativas [sic]... deveria ser feito um esforço especial para eliminar certos indivíduos chave [e] prosseguir com perturbações internas na Síria. A CIA está preparada e o SIS (MI6) tentará montar sabotagens menores e incidentes de coup de main [sic] dentro da Síria, trabalhando através de contactos com indivíduos... um necessário grau de medo... fronteira e choques de fronteira [encenados] proporcionarão um pretexto para intervenção... a CIA e o SIS deveriam utilizar... capacidades tanto nos campos psicológico como de acção para aumentara a tensão".
Isto foi escrito em 1957, embora pudesse ter sido escrito ontem. No mundo imperial, nada muda no essencial. No ano passado, o antigo ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Roland Dumas, revelou que "dois anos antes da PrimaveraÁrabe", lhe disseram em Londres que estava planeada uma guerra à Síria. "Vou contar-lhe algo", disse ele numa entrevista com o canal LPC da TV francesa, "Eu estava na Inglaterra dois anos antes da violência na Síria devido a outros negócios. Encontrei responsáveis britânicos de topo, os quais confessaram-me que estavam a preparar algo na Síria... A Grã-Bretanha estava a organizar uma invasão de rebeldes dentro da Síria. Eles perguntaram-me mesmo, embora eu já não fosse ministro dos Negócios Estrangeiros, se gostaria de participar... Esta operação vem de trás. Ela foi preparada, pré concebida e planeada".
Os únicos oponentes efectivos do ISIS são demónios certificados do ocidente – Síria, Irão, Hezbollah. O obstáculo é a Turquia, um "aliado" e membro da NATO, a qual conspirou com a CIA, o MI6 e os Estados medievais do Golfo para canalizar apoio aos "rebeldes" sírios, incluindo aqueles que agora se chamam a si próprios de ISIS. Apoiar a Turquia na sua antiga ambição pela dominância regional através do derrube do governo Assad provocou uma grande guerra convencional e o horrífico desmembramento do Estado mais etnicamente diversificado do Médio Oriente.
Uma trégua – ainda que difícil de alcançar – é o único meio de sair deste labirinto imperial; do contrário, as decapitações continuarão. Que negociações genuínas com a Síria fossem vistas como "moralmente questionáveis" (The Guardian) sugere que as suposições de superioridade moral entre aqueles que apoiaram a guerra criminosa continuam a ser não só absurdas como também perigosas.
Juntamente com uma trégua, deveria haver uma cessão imediata de todos os despachos de materiais de guerra para Israel e o reconhecimento do Estado da Palestina. A questão da Palestina é a mais supurada ferida aberta da região e a frequentemente declarada justificação para o crescimento do extremismo islâmico. Osama bin Laden tornou isto claro. A Palestina também dá esperança. Ao dar justiça aos palestinos começa-se a mudar o mundo em torno deles.
Mais de 40 anos atrás, o bombardeamento de Nixon-Kissinger do Cambodja desencadeou uma torrente de sofrimentos dos quais aquele país nunca se recuperou. O mesmo é verdadeiro em relação ao crime de Blair-Bush no Iraque. Com cronologia impecável, o mais recente livro em causa própria de Henry Kissinger acaba de ser divulgado com o título satírico, "Ordem mundial" ("World Order"). Numa resenha adulatória, Kissinger é descrito como um "perfilador chave de uma ordem mundial que permaneceu estável durante um quarto de século". Diga isso ao povo do Cambodja, Vietname, Laos, Chile, Timor-Leste e todas as outras vítimas da sua "arte de governar". Só quando "nós" reconhecermos os criminosos de guerra em nosso meio é que o sangue começará a secar.
Arin Mirkan, membro das Unidades de Protecção Popular (curdas), para que não a matassem ou fizessem prisoneira (e escrava), fez-se explodir, no passado Domingo, lançando-se contra quem a cercava, e terá matado dezenas de jihadistas.
Segundo as últimas notícias que li, «o Estado Islâmico terá conseguido conquistar o quartel-general das forças curdas que defendem Kobani, dominando já quase metade da cidade curda no Norte da Síria». Durante mais de dois anos, Kobani foi poupada ao conflito, acolhendo milhares de deslocados árabes, curdos e turcomanos. Recentemente, foi o êxodo de cerca de 200.000 para a Turquia, acossados pelo avanço do Estado Islâmico.
Qualquer que seja o desfecho, infelizmente cada vez mais sinistramente previsível, desta tragédia, Arin ficará como símbolo heróico da valentia de um povo – e da nossa vergonhosa impotência também. (-por J. Lopes, Entre as Brumas, 10/10/2014)
------ A Turquia não intervém porque, para além de ter um governo fundamentalista islâmico, interessa-lhe que os curdos sejam dizimados, para afastar de vez o seu desejo de independência. Para os USA, o mesmo de sempre, não lhes interessa dar armas pesadas aos curdos a fim deles não as utilizarem posteriormente contra a Turquia (seu aliado na NATO). Pobres curdos, peões de mais uma canalhice ocidental !!
Palestina e Israel: de 1917 até ao presente. Fonte
Uma nova onda de violência se espalha entre Israel e Palestina, e mais crianças foram mortas. Não basta apenas pedir mais um cessar-fogo. É hora de uma ação pacífica para acabar com esse pesadelo de décadas. Nossos governos fracassaram. Enquanto falam de paz e aprovam resoluções da ONU, eles mesmos (e grandes empresas internacionais) continuam financiando, apoiando e investindo na violência. A única maneira de interromper esse ciclo infernal no qual Israel confisca as terras palestinas, famílias palestinas inocentes são punidas colectivamente diariamente, o Hamas (partido/governo na Faixa de Gaza, Palestina) continua a lançar foguetes e Israel não cessa seu bombardeio à Gaza, é tornando o custo econômico desse conflito alto demais. Sabemos que essa estratégia funciona. Quando os países-membros da União Europeia emitiram diretrizes para não financiar os assentamentos/ colonatos israelenses ilegais, a medida fez o chão tremer nos gabinetes. E, quando uma campanha cidadã persuadiu com sucesso um fundo de pensão holandês, o PGGM, a retirar seus recursos dos assentamentos, foi um alvoroço político. Talvez não pareça que esse tipo de ação acabe com a matança atual, mas a história nos ensina que aumentar o custo financeiro da opressão pode abrir o caminho para a paz. Clique para pressionar os 6 principais bancos, fundos de pensão e negócios com investimentos em Israel a retirarem tais investimentos. Se cada um de nós tomar essa atitude agora e ajudar a fazer pressão, eles poderão retroceder, a economia de Israel vai sofrer um impacto e poderemos derrubar os extremistas que lucram politicamente com essa situação infernal: https://secure.avaaz.org/po/israel_palestine_this_is_how_it_ends_rb/?bSmLncb&v=42870 Nas últimas seis semanas, três adolescentes israelenses foram mortos na Cisjordânia (território da Palestina na margem oeste do rio Jordão), um garoto palestino foi queimado vivo, e um jovem americano foi brutalmente espancado pela polícia de Israel. Quase 100 crianças de Gaza já foram mortas em ataques aéreos feitos pelo exército de Israel. Isso não é um "conflito do Oriente Médio", mas sim uma guerra contra as crianças. E estamos nos tornando insensíveis a essa vergonha global. A imprensa teima em dizer que este é um conflito insuperável entre duas partes de igual força, mas não é. Os ataques dos extremistas palestinos contra civis inocentes não têm justificativa e o anti-semitismo do Hamas dá nojo. Mas esses extremistas reivindicam legitimidade após lutarem por décadas contra a grotesca repressão do Estado de Israel. Atualmente Israel ocupa, coloniza, bombardeia, ataca, e controla a água, comércio e fronteiras de uma nação legalmente livre reconhecida pelas Nações Unidas. Em Gaza, Israel criou a maior prisão a céu aberto do mundo, e fechou as saídas. Agora, ao passo em que as bombas caem em Gaza, não há como sair de lá. Isso é crime de guerra e não aceitaríamos se estivesse acontecendo em outro lugar: mas porque aceitamos na Palestina? Há 50 anos, Israel e seus vizinhos árabes entraram em guerra e Israel ocupou a Cisjordânia e Gaza. A ocupação de territórios após uma guerra acontece com frequência. Mas nenhuma ocupação militar pode se transformar numa tirania de décadas, apenas alimentando e dando força aos extremistas que usam o terrorismo contra inocentes. E quem sofre? A maioria das famílias em ambos os lados que anseiam apenas por liberdade e paz. Para muitos, principalmente na Europa e na América do Norte, pedir que empresas retirem seus investimentos, diretos ou indiretos, da ocupação de Israel sobre território palestino parece algo completamente parcial. Mas essa campanha não é anti-Israel -- trata-se da estratégia de não-violência mais poderosa para acabar com o ciclo de violência, garantir a segurança de Israel e alcançar a libertação da Palestina. Embora o Hamas também deve ser foco de atenção, ele já está sob sanções e sendo pressionado por todos os lados. Comparados a Israel, o poder e riqueza palestinos são mínimos. Mesmo assim, Israel se nega a interromper a ocupação ilegal de territórios. O mundo precisa agir ou o custo disso será insuportável. O fundo de pensão holandês ABP investe em bancos israelenses responsáveis por patrocinar a colonização da Palestina. Bancos de peso, como Barclays investem em fornecedores de armas israelenses e outras empresas envolvidas com a ocupação. A britânica G4S fornece amplo equipamento de segurança utilizado pelas Forças de Defesa de Israel na ocupação. A Veolia, da França, opera o transporte para os colonos israelenses que vivem ilegalmente em terras palestinas. A gigante da informática Hewlett-Packard oferece um sistema sofisticado que monitora o movimento dos palestinos. A Caterpillar fornece tratores que são usados para demolir casas e destruir fazendas palestinas. Se criarmos o maior apelo global da história para que essas empresas retirem seus investimentos em negócios ligados à ocupação, vamos mostrar claramente que o mundo não será mais cúmplice deste derramamento de sangue. O povo palestino está pedindo ao mundo que apoiemos essa solução e israelenses progressistas também a apoiam. Vamos nos juntar a eles: https://secure.avaaz.org/po/israel_palestine_this_is_how_it_ends_rb/?bSmLncb&v=42870 Nossa comunidade tem trabalhado para trazer paz, esperança e mudanças a alguns dos conflitos mais intensos do mundo. Em muitas ocasiões, isso exige que tomemos atitudes duras para atacar a raiz do problema. Durante anos, temos procurado soluções para este pesadelo, mas com essa nova onda de horrores em Gaza chegou a hora de apelar para sanções e corte de investimentos e, finalmente, dar um fim ao conflito entre israelenses e palestinos. Com esperança e determinação, a equipe da Avaaz.org ------ Notas: Confira a página de perguntas e respostas e os infogramas sobre a segregação/apartheid: cidadania, recursos, acessos, deslocalizações forçadas, ...). Tanto no Estado de Israel (uma democracia) como na Autoridade Palestiniana (Estado da Palestina) existem bons exemplos de cidadania e tolerância contudo, em ambos (e no exterior), há facções (político-militares-religiosas) extremistas que impedem um acordo para a paz e fazem aumentar a escalada da violência.
O Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, discursa perante a Assembleia Geral (AG) das Nações Unidas no dia 23 de Setembro para pedir o reconhecimento do Estado Palestino. O estatuto de membro efectivo da ONU precisa de acordo do Conselho de Segurança (CS), não basta ir a votos na AG. Antecipando o veto norte-americano no CS (ai Obama! onde vai o discurso do Cairo...), os palestinos poderão limitar-se a ir à AG, e ficar-se pelo estatuto de "Estado observador", como tem, por exemplo, o Vaticano. Será indubitavelmente um progresso político, pois hoje a Autoridade Palestina só tem estatuto de "Entidade Observadora" na ONU. O jogo fica muito mais complicado se os palestinos exigirem mesmo uma posição do Conselho de Segurança. Para os palestinos, mas também para os EUA e para a Europa. Até o equilibrista Tony Blair já foi mobilizado para evitar a todo o custo que a questão vá a votos no CS!... Aliás, a Europa parece ser, singularmente, quem está mais embaraçada, porque poderá aparecer mais uma vez dividida,(Líbia, crise do euro) apesar de todas as posições comuns que foi tomando sobre esta fundamental questão, desde a Declaração de Veneza (1980). Mesmo que os palestinos acabem por desistir de ir ao CS para não alienar os EUA, como já têm votos mais do que necessários na AG, mais do que o resultado final, contará na AG quem vota e como vota. E lá deverá ficar a divisão europeia a descoberto! Para além do esforço político, diplomático e também financeiro na região e, muito em particular, na Palestina, será muito negativa uma posição fragmentada da UE relativamente ao reconhecimento do Estado Palestino. Como muito bem explicam Daniel Levy e Nick Witney, num relatório do European Council on Foreign Relations (http://www.ecfr.eu/page/-/ECFR_IsrPal_memo.pdf), cuja leitura recomendo, a UE esteve sempre na linha frente no apoio a uma solução para o conflito israelo-palestino passando por dois Estados, com base nas fronteiras de 1967. Votos europeus negativos às aspirações palestinas (Alemanha, Italia, Holanda e Republica Checa estarão inclinados a votar contra) no actual contexto, não seriam apenas desastrosos para a influência da Europa sobre os palestinos e na promoção do processo de paz: seriam também machadadas nos ideais e aspirações que estão na génese da Primavera Árabe. E assim, não ajudariam em nada a dar segurança a Israel: a Primavera Árabe não foi sobre Israel, mas iria lá chegar, como o recente ataque à embaixada israelita no Egipto já ilustra... Quem realmente queira defender Israel, tem de defender Israel de si próprio: a campanha encarniçada do governo israelita contra o reconhecimento do Estado Palestino, só pode resultar numa escusada, estúpida e contraproducente derrota política para Israel. Quem realmente queira proteger Israel tem de parar de ser conivente com a impunidade de que tem beneficiado este seu governo de extrema direita, que tudo tem feito para descredibilizar os interlocutores palestinos e se obstina no não-retorno à mesa das negociações (apesar do patético "spinning" em que se desunham por estes dias os representantes oficiais israelitas). O reconhecimento do Estado Palestino nada tem de contrário à segurança de Israel e, muito menos, à paz no Médio Oriente. Bem ao contrário, sem Estado Palestino ao seu lado, Israel corre riscos existenciais, desde logo não podendo conceber-se como Estado judeu. O reconhecimento do Estado Palestino poderá ser mesmo a única maneira de evitar que os ventos da Primavera Árabe ateiem o rastilho da revolta contra Israel na região.
E Portugal, onde está? Tendo até hoje particulares responsabilidades como membro do CS e com a campanha que fez para lá ir parar? O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, falou no dia 2 de Setembro, à saída da sua primeira reunião de MNEs europeus, na Polónia, para dizer que a Europa tudo fará pela Palestina e "nada contra Israel". O "soundbyte" ressoou em todos os meios de comunicação social, apesar de nada esclarecer sobre a posição de Portugal. Dizer o que disse o Ministro Paulo Portas é o mesmo que não dizer nada. É saída à xico-esperto, a esconder-se atrás dos parceiros europeus. É pôr Portugal em cima do muro, a ver para que lado cai a bola. Só que a borrasca é da grossa e ninguém vai poder passar entre os pingos da chuva. Portugal só pode ter uma posição e deve afirmá-la para influenciar a definição europeia:a favor do reconhecimento do Estado Palestino.
...Impossível não começar e acabar, hoje, pelo Mediterrâneo: o acto de pirataria cometido por Israel em águas internacionais contra a flotilha de navios turcos que transportava ajuda humanitaria para Gaza abre os noticiarios e provoca manifestações de indignação em todas as latitudes.
Eu não fiquei propriamente surpreendida pela abordagem brutal israelita (recordo as imagens escalavradas de outros navios que Israel impediu de chegar às praias de Gaza), mas esperava uma calibragem mais inteligente em reacção à provocação que a flotilha representava
- uma provocação justificável face a essa outra provocação à comunidade internacional que resulta do bloqueio israelita a Gaza (e ainda na semana passada Israel tentou estupidamente impedir uma delegação do PE de se deslocar a Gaza, forçando-a a entrar pelo Egipto).
Evidentemente que partilho a indignação e a condenação geral.
1. Pelos mortos - a esta hora já vão em 19 - e pelos feridos.
2. Pelos palestinianos - o bloqueio que Israel impõe a Gaza não é só desumano, ilegal e uma afronta às Nações Unidas, logo a todos nós: acaba por ser fuel da radicalização do Hamas e "desculpa" para a tirania deste em Gaza.
3. E também pelos israelitas - que parecem condenados a unir inimigos e alienar velhos aliados (agora os turcos, há semanas a Administração Obama), ficando com a sua segurança comprometida e a imagem do seu país deslegitimada pela vertigem machista dos politicos de extrema-direita que puseram no poder.
Só nos faltava mesmo mais esta: ver um compungido Bibi, de voz embargada e trejeitos contraídos, a queixar-se de que os rambos atacantes, que desceram de helicóptero sobre os navios turcos, foram - tadinhos - ... agredidos. Com Bibis como este, para que precisa Israel de inimigos?