Este texto de Miguel Sousa Tavares foi publicado/reproduzido neste blog em 2009.
Mas tenho verificado que o povo anónimo, mas votante, tem memória curta e talvez um pouco, sei lá, de masoquismo.
Como se aproximam épocas eleitorais e campanhas «democraticamente demagógicas» de promessas maioritariamente que nunca irão ser cumpridas (lembrem-se da Grécia e do que o Syriza prometeu, referendou e fez...) achei oportuno (re)postar este texto, que é meramente ilustrativo da política e dos políticos que temos no ativo à imensos anos na sociedade portuguesa e a quem raramente, para não utilizar a palavra «nunca», lhe conhecemos qualquer percurso profissional e ou académico relevante pois viveram sempre desde tenra idade dos partidos políticos e quando por exceção tiveram alguma passagem pela sociedade do trabalho estão quase sempre ligados a supostas «trafulhice» ligadas a dinheiro públicos ou comunitários. Portanto vamos lá a recordar este texto saído no semanário Expresso em 2009:
"O Factor Vara"
Toda a 'carreira', se assim lhe podemos chamar, de Armando Vara, é uma história que, quando não possa ser explicada pelo mérito (o que, aparentemente, é regra), tem de ser levada à conta da sorte. Uma sorte extraordinária. Teve a sorte de, ainda bem novo, ter sentido uma irresistível vocação de militante socialista, que para sempre lhe mudaria o destino traçado de humilde empregado bancário da CGD lá na terra. Teve o mérito de ter dedicado vinte anos da sua vida ao exaltante trabalho político no PS, cimentando um currículo de que, todavia, a nação não conhece, em tantos anos de deputado ou dirigente político, acto, ideia ou obra que fique na memória. Culminou tão profícua carreira com o prestigiado cargo de ministro da Administração Interna - em cuja pasta congeminou a genial ideia de transformar as directorias e as próprias funções do Ministério em Fundações, de direito privado e dinheiros públicos. Um ovo de Colombo que, como seria fácil de prever,conduziria à multiplicação de despesa e de "tachos" a distribuir pela "gente de bem" do costume. Injustamente, a ideia causou escândalo público, motivou a irritação de Jorge Sampaio e forçou Guterres a dispensar os seus dedicados serviços. E assim acabou - "voluntariamente", como diz o próprio - a sua fase de dedicação à causa pública. Emergiu, vinte anos depois, no seu guardado lugar de funcionário da CGD, mas agora promovido por antiguidade ao lugar de director, com a misteriosa pasta da "segurança". E assim se manteve um par de anos, até aparecer também subitamente licenciado em Relações Qualquer Coisa por uma também súbita Universidade, entretanto fechada por ostensiva fraude académica. Poucos dias após a obtenção do "canudo", o agora dr. Armado Vara viu-se promovido - por mérito, certamente, e por nomeação política, inevitavelmente - ao lugar de administrador da CGD: assim nasceu um banqueiro. Mas a sua sorte não acabou aí: ainda não tinha aquecido o lugar no banco público, e rebentava a barraca do BCP, proporcionando ao Governo socialista a extraordinária oportunidade de domesticar o maior banco privado do país, sem sequer ter de o nacionalizar, limitando-se a nomear os seus escolhidos para a administração, em lugar dos desacreditados administradores de "sucesso".
A escolha caiu em Santos Ferreira, presidente da CGD, que para lá levou dois homens de confiança sua, entre os quais o sortudo dr. Vara. E, para que o PSD acalmasse a sua fúria, Sócrates deu-lhes a presidência da CGD e assim a meteórica ascensão do dr. Vara na banca nacional acabou por ser assumida com um sorriso e um tom "leve". Podia ter acabado aí a sorte do homem, mas não. E, desta vez, sem que ele tenha sido tido ou achado, por pura sorte, descobriu-se que, mesmo depois de ter saído da CGD, conseguiu ser promovido ao escalão máximo de vencimento, no qual vencerá a sua tão merecida reforma, a seu tempo. Porque, como explicou
fonte da "instituição" ao jornal "Público", é prática comum do "grupo" promover todos os seus administradores-quadros ao escalão máximo quando deixam de lá trabalhar. Fico feliz por saber que o banco público, onde os contribuintes injectaram nos últimos seis meses mil milhões de euros para, entre outros coisas, cobrir os riscos do dinheiro emprestado ao sr. comendador Berardo para ele lançar um raide sobre o BCP, onde se pratica actualmente o maior spread no crédito à habitação, tem uma política tão generosa de recompensa aos seus administradores - mesmo que por lá não tenham passado mais do que um par de anos. Ah, se todas as empresas, públicas e privadas, fossem assim, isto seria verdadeiramente o paraíso dos trabalhadores! Eu bem tento sorrir apenas e encarar estas coisas de forma leve. Mas o 'factor Vara' deixa-me vagamente deprimido. Penso em tantos e tantos jovens com carreiras académicas de mérito e esforço, cujos pais se mataram a trabalhar para lhes pagar estudos e que hoje concorrem a lugares de carteiros nos CTT ou de vendedores porta a porta e, não sei porquê, sinto-me deprimido. Este país não é para todos.
P.S. - Para que as coisas fiquem claras, informo que o sr. (ou dr.) Armando Vara tem a correr contra mim uma acção cível em que me pede 250 000 euros de indemnização por "ofensas ao seu bom nome". Porque, algures, eu disse o seguinte: "Quando entra em cena Armando Vara, fico logo desconfiado por princípio, porque há muitas coisas no passado político dele de que sou altamente crítico". Aparentemente, o queixoso pensa que por "passado político" eu quis insinuar outras coisas, que a sua consciência ou o seu invocado "bom nome" lhe sugerem. Eu sei que o Código Civil diz que todos têm direito ao bom nome e que o bom nome se presume. Mas eu cá continuo a acreditar noutros valores: o bom nome, para mim, não se presume, não se apregoa, não se compra, nem se fabrica em série - ou se tem ou não se tem. O tribunal dirá, mas, até lá e mesmo depois disso, não estou cativo do "bom nome" do sr. Armando Vara. Era o que faltava!
Acabei de confirmar no site e está lá, no site institucional do BCP.
Vejam bem os anos de licenciatura e de pós-graduação!!!!!:
Armando António Martins Vara
Dados pessoais:
Data de nascimento: 27 de Março de 1954
Naturalidade: Vinhais - Bragança
Nacionalidade: Portuguesa
Cargo: Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo
Início de Funções: 16 de Janeiro de 2008
Mandato em Curso: 2008/2010 Formação e experiência Académica
Formação:
2005 - Licenciatura em Relações Internacionais (UNI)
2004 - Pós-Graduação em Gestão Empresarial (ISCTE)
http://www.millenniumbcp.pt/pubs/pt/grupobcp/quemsomos/orgaossociais//ar
ticle.jhtml?articleID=217516
<http://www.millenniumbcp.pt/pubs/pt/grupobcp/quemsomos/orgaossociais/ar
ticle.jhtml?articleID=217516>
Extraordinário... CV de fazer inveja a qualquer gestor de topo, que nunca tenha perdido tempo em tachos e no PS! Conseguiu tirar uma
Pós-graduação ANTES da licenciatura...
Ou a pós-graduação não era pós-graduação ou foi tirada com o mesmo professor da licenciatura, dele e do Eng. Sócrates...
E viva o BCP e o seu "bom nome"!!!
A propósito de Verdes que são vermelhos
Os Verdes anunciaram pomposamente uma moção de censura. Parece que é para entalar o PS e para darem ao PSD e ao CDS a oportunidade de mostrarem que estão unidos. É a táctica do costume...
Mas o que aqui me traz é o facto de os Verdes serem um partido assim - como dizer? - um pouco para o estranho. Vou tentar explicar porquê.
Os Verdes concorreram sempre às eleições coligados com o PCP na CDU (ou formações anteriores à CDU, como a APU). Nunca foram a votos. Mas são tratados, na Assembleia e por imposição legal na Comunicação Social como se fossem mais um grupo parlamentar. Ou seja, se o PS decretasse que três deputados seus eram do Partido Socialista Liberal, mais três do Partido Socialista Marxista, mais três do Partido Socialista Republicano podia falar o triplo das vezes. Nas cerimónias do 25 de Abril, ou nas interpelações, ou nos debates sobre o Estado da Nação. E podia triplamente apresentar moções e o que quisesse. O mesmo é válido para o Bloco, o PSD ou o CDS.
É estranho que a lei seja assim. Mas talvez seja ainda mais estranho que o PCP se aproveite da lei e nunca seja confrontado com isso. Por mim, acho verdadeiramente fantasmagórico que jamais alguém tenha feito esta pergunta: e o que pensam Os Verdes?
E sabem porque não fazem? Porque basta saber o que pensa o PCP. Eles são dois corpos, mas têm a mesma cabeça.
Por: Henrique Monteiro [Expresso]
Nota pessoal:
Vivemos uma época estranhíssima. Numa época de crise. Não só financeira ou económica, mas também de valores. De toda a espécie de valores - morais, éticos, sociais e até de religiosos ou filosóficos. Vivemos, dizem num regime parlamentar em que alguns insistem em chamar de democracia. Dizem até, os entendidos, que os nossos governantes, embora eleitos por sufrágio do voto popular, não têm legitimidade para governar e não representam o «povo». Dizem que são precisas novas eleições e há até quem diga e patrocine uma base mais alargada de entendimento partidário para governar este país. Dizem as oposições e até, espantosamente (ou não) vozes dos partidos que estão no exercício do poder da governação. Vivemos portanto uma época esquisita. Infelizmente esta miserabilidade de regime não se confina só a Portugal. Ele estende-se com formas mais ou menos similares a toda a Europa Ocidental e até a outros Países também eles ditos democráticos. Mas na minha cabeça ninguém me convenceu ainda que «isto» a que assistimos é Democracia. Para mim, não posso e não quero acreditar que o seja. Recuso-me a aceitar que aquela «coisa» porque aspirámos durante + de 40 anos de regime autoritarista e bolorento, seja «isto» a que estamos a assistir na prática. Vou portanto continuar à espera que cheguemos à Democracia. E vou dizer que deixámos o regime ditatorial e que estamos a atravessar um regime a que vou chamar de «democracia do proletariado». Noutra altura tentarei definir ou explicar o que entendo por «democracia do proletariado».
Entretanto não se esqueçam do que vêm, assistem e sofrem na «pele» quer pelos partidos que nos governam, pelos que nos têm anteriormente governado (e para quem os ouça parece m ter-se esquecido) e para os outros que nunca governaram e até os assusta pensarem que algum dia teriam o azar de poderem ser eleitos, vade de retro, pois seria o seu fim enquanto pseudo vozes de oposição. Um abraço e bom fim-de-semana.
Quando eu fui menino só se viam palhaços no circo, em tempos natalícios, no fim de cada ano civil.
A vida era coisa seria ainda que, como hodiernamente, houvesse muita miséria.
Agora levam-nos ao engano, com a democracia o circo é todo ano, e vemos palhaços todos os dias.
Há palhaços ricos que vivem em certos condomínios fechados, ali para o Restelo, na Freguesia de Belém. E com altos cargos também.
Por todo este país, desde o interior desertificado, onde alguém mandou arrancar vinhas e olivais. Onde outros mandaram retirar maternidades além de outros serviços estatais;
Nos bairros mais diversos das cidades, em que só alguns são sociais, vivem os palhaços pobres que suportam as mordomias, além de termos de pagar as más (boas para quem obteve chorudos lucros) acções de BPNs e luxuosas mansões algarvias, de certos palhaços ricos.
Sempre houve palhaços, uns ricos e outros pobres. Os bons palhaços, ricos ou pobres, costumavam fazer-nos rir, agora há palhaços que nos fazem chorar. deve ser por isso que se não assumem.
É a vida de uma sociedade que continua feudal, de servos e senhores.
Anda por aí uma certa figura pública que afirma a pés juntos não ser nem nunca ter sido político, a dizer, à boca cheia, que “nas últimas décadas os portugueses esqueceram o mar, a agricultura e a industrialização do país”.
Sei que esse tribuno público, a residir ali perto do belenenses (não sei se será sócio, visto que a sua reforma mal lhe dá para viver), foi 1º ministro durante mais de 10 anos, pelo menos uma dessas últimas décadas.
Sei também que esse ancião, nos seus tempos de juventude e de primeiro mandante deste jardim à beira mar plantado, mandou abater navios de pesca e mercantes, incentivou o arranque de vinhas, subsidiou o abate de oliveiras, pagou para que se fechassem fábricas e se abrissem santuários de venda e consumo de produtos importados da europa central e não só.
Sei o seu nome, que tenho quase na ponta da língua, mas a minha memória está um pouco senil. Deve ser o efeito do Alzheimer!
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