Sábado, 21.01.17

-- olha para o que digo e não para o que faço  (-H.Araújo, 15/1/2017, 2dedos de conversa)

   Um dos argumentos que mais me incomoda num debate é o que aponta a diferença entre o que uma pessoa diz e o que faz. Como se o facto de alguém agir de modo diferente daquilo que propõe bastasse para tirar valor à proposta.
      Mal iria o mundo se, em vez de se orientar pelos melhores princípios, optasse por se medir pelo alcance dos gestos de quem ousa formulá-los - é a diferença entre atar o arado às estrelas ou aos cordões dos sapatos.
    Não sei se as pessoas recorrem a este tipo de argumentação para impedir o debate ou se têm prazer especial em humilhar os outros. Mas sei duas coisas: argumentar assim não ajuda causa nenhuma, excepto a da cacofonia no espaço público, e ninguém está livre de ser alvo deste tipo de ataques quando apela para um mundo melhor. Por muito exemplar que seja o seu comportamento, haverá sempre maneira de virar contra si aquilo que diz. Não, ninguém está livre disso, nem sequer Jesus Cristo - sobre o qual há um certo consenso de ter sido uma pessoa realmente especial e um grande exemplo para todos. Imagino Jesus a tentar fazer-se ouvir hoje, e o ruído das redes sociais a desvalorizar o discurso com base em insinuações e acusações sobre o seu comportamento:
 --Jesus: "quem nunca pecou, atire a primeira pedra" / O ruído: "o que tu queres sei eu! que tu gostas é das mulheres da laia desta, estas desavergonhadas sem moral - esta aqui, está-se mesmo a ver que logo à noite já te vai pagar em géneros, é para isso que a proteges!"
--Jesus: "perdoai aos vossos inimigos" / O ruído: "ah! dessa não te lembraste tu quando te deu para arrear sem dó nem piedade nos vendedores do templo, não é?"
--Jesus: "deixai vir a mim as criancinhas, não as impeçais..." / O ruído: "olha-me este! a gente bem desconfiava que ele andava metido com o outro, aquele Pedro, e afinal é verdade, e - está-se mesmo a ver - são pedófilos!"
--Jesus: "...porque quem não for como as crianças não entrará no Reino dos Céus." / O ruído: "hades, hades. claro, um vadio inútil que anda por aí de casa em casa, a viver do esforço dos outros, não admira que tenha estas ideias tolas. vai trabalhar, malandro! arranja uma família, torna-te responsável! cai na real, ó lírico!"
--Jesus: "apartai-vos de mim, malditos (...); porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes." / O ruído: "estás a falar comigo?! ao teu amiguinho, o cobrador de impostos, não vais pedir tu! ele é que tem o dinheiro todo, ele que ajude! para mais, andas para aí a armar-te que és o filho de Deus. vai pedir ao teu paizinho, ele que resolva!"
           Nem Jesus se livraria de ser humilhado. Aliás: não se livrou.
Insisto: olhemos para o que as pessoas dizem e não para o que fazem. Discutamos as ideias e a justeza dos apelos e das propostas, em vez das limitações (reais ou imaginadas) da pessoa que os verbaliza.

---  olha para o que digo e não para o que faço (2)  (-H.Araújo, 16/1/2017)

     A propósito do post anterior, transcrevo dois exemplos práticos de como se ataca o mensageiro em vez de debater a mensagem. Não me entendam mal: não tenho nada contra confrontar as pessoas com os seus actos (desde que sejam realmente actos delas, e não torpes insinuações nossas). Mas quando se está a falar de uma questão concreta, deve-se falar apenas dessa questão concreta. Todos ganhamos se aprendermos a debater as ideias independentemente do contexto das pessoas que as emitem.
      1. Meryl Streep faz um discurso no qual diz:
"And this instinct to humiliate, when it’s modeled by someone in the public platform, by someone powerful, it filters down into everybody’s life, because it kinda gives permission for other people to do the same thing. Disrespect invites disrespect, violence incites violence. And when the powerful use their position to bully others we all lose. O.K., go on with it.
O.K., this brings me to the press. We need the principled press to hold power to account, to call him on the carpet for every outrage. That’s why our founders enshrined the press and its freedoms in the Constitution. So I only ask the famously well-heeled Hollywood Foreign Press and all of us in our community to join me in supporting the Committee to Protect Journalists, because we’re gonna need them going forward, and they’ll need us to safeguard the truth."
   No facebook escreve-se (como encontrei mencionado no mural de uma amiga - e também podia copiar para aqui inúmeros artigos em inglês que dizem mais ou menos o mesmo):
    "Eu entendo perfeitamente o desabafo de Meryl Streep na entrega do seu prémio. Ela pertence a uma classe privilegiada, de milionários de Hollywood, que deve sentir bastante empatia pela classe política de Washington. Tal como estes, os primeiros existem para as pessoas, de que dependem igualmente; vivem rodeados de toda a atenção mediática e de todos os luxos e acabam por ficar igualmente alienados e distantes dessas pessoas que os alimentam. São contra muros, mas o que conhecem do Mundo é limitado pelos muros que rodeiam as suas luxuosas propriedades e pela cortina que os separa da classe económica."
     "Hollywood é altamente subsidiada pelo estado, ao contrário do que muita gente pensa, que aquilo é tudo investimento privado e não sei o quê. É mais do que conhecida a proximidade dos Democratas com essa elite cheia de excentricidades, que dentro do seu pequeno mundo de mansões, iates e jactos privados, e idolatria onde quer que vão, fazem por influenciar a opinião das pessoas sempre no mesmo sentido, não conhecendo de todo a realidade dura do dia a dia dos seus próprios compatriotas. É muito fácil opinar favoravelmente ou contra algo, quando isso não nos atinge diretamente. A Meryl Streep tem direito a ter a sua opinião, mas só tenho pena que os mesmos não se tenham insurgido contra as guerras que o Obama criou, ou contra o incidente diplomático que podia ter tido consequências graves aquando da expulsão dos diplomatas russos, etc, só se interessam com "muros específicos", são muito selectivos."
     "Mas o meu post era algo simples. Uma reflexão apenas, dirigida aos fofinhos ditadores do pensamento único que ficam ofendidos quando alguém ousa pensar diferente. O teu comentário leva as coisas mais longe do que pretendia sequer. É que estava a tentar ser simpático para com a velha sonsa. haha Porque ela sendo uma grande actriz, conseguiu fazer passar muito bem a imagem de querida fofinha, apenas preocupada com o bronco que venceu as eleições. Na verdade, vivemos um momento de conspiração actual fantástico. Parece que ninguém reparou por exemplo no facto de nao terem passado imagens do Pontes de Madison County na montagem da Streep, filme onde ela até foi nomeada por melhor actriz. Nao será por o seu realizador ser o Republicano Clint Eastwood, claro, que nao... Hoje em dia cala-se o que nao interessa, com uma lata que faria corar qualquer censor anterior."
       2. Marisa Matias publica no facebook um post com imagens da situação desesperada dos refugiados apanhados sem abrigo num terrível inverno europeu, com este texto:
"Europa, 2017. Retrato de um inverno que vem de dentro. Fila para o pão. Sem tecto. Abandono. Repito, 2017."
   Comentários no seu mural:
     "Engraçado, por acaso nunca a vi a si nem a ninguem (com responsabilidade social) publicar fotos de nossos sem abrigo, na rua ao frio e à chuva e com fome!!!!! Porquê???? Não há????? Isto é para ficar bem perante o lugar que ocupa no PE ??????"
     "essa senhora com o ordenado que imagino que recebe que o troque por comida para esses"
     "Quem decide a sorte destes refugiados vive em palácios e entopem-se de comida.
Esses gravatinhas da UE deviam ser todos engaiolados, não têm vergonha na cara."


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Sexta-feira, 27.03.15

E lá vai mais um  (-por J.V. Costa, 23/3/2015)

 
Assistiu-se ontem a mais uma operação tipo OPA em que um grupo de pessoas, não querendo inserir-se num partido, usa-o como instrumento de candidatura eleitoral às legislativas, reservadas aos partidos. Trata-se do grupo (quantos? com que expressão?) talvez dueto, Joana Amaral Dias (JAD) e Nuno Ramos de Almeida (NRA), que se aliou ao quase esquecido Partido Trabalhista Português (PTP) para constituir a candidatura PTP/AG!R.     O outro caso mais recente é o do Tempo de Avançar, em que o partido barriga de aluguer é o LIVRE. Aqui ficam algumas notas, em geral para comparar ambos os casos.
    Em princípio, não posso discordar da criação de novos partidos, e facilitada ao máximo. É a contrapartida de um sistema que, salvo nas autárquicas, limita aos partidos a capacidade eleitoral passiva. No entanto, sou sensível à preocupação de muita gente de esquerda que receia a divisão ou mesmo pulverização, embora eu admita que, em casos concretos, o alargamento da oferta possa ter efeitos positivos, por exemplo em relação à diminuição da abstenção.   Também pode haver reflexos negativos na imagem da esquerda entre os eleitores que nela não estão fixados mas que é necessário atrair. Neste sentido, há diferenças consideráveis entre os dois casos, que agora só enumero muito sucintamente.
O LIVRE/Tempo de Avançar é uma plataforma de um partido de esquerda (concorde-se ou não com o seu programa e funcionamento) e de um número indeterminado mas não negligível de pessoas com conhecida intervenção política, individualmente ou no âmbito de organizações como o Fórum Manifesto ou a Renovação Comunista. No entanto, não dei muita atenção ao Tempo de Avançar porque dele me afasta, irrefutavelmente, a sua posição de abertura à viabilização de um governo PS que, como tudo indica, em nada mude as posições do PS em relação à Europa, à dívida e ao euro.
    O AG!R era uma incógnita, tendo demorado largos tempos a dar sinais da sua posição política. Como um dos seus pais me disse que ontem ia haver uma grande surpresa, lá me pus em jeito de gato curioso. O que vi e ouvi, descontando alguma reacção minha instintiva a tiques e vedetismo, ultrapassou tudo o que imaginava. salvo melhor opinião, cai dentro daquela margem de factos políticos que afecta toda a esquerda. Ou melhor, não. Estou a ser injusto, porque não ouvi qualquer invocação de esquerda, o que, aliás, certamente seria recusado pelo partido de acolhimento.
    Antes de ir mais longe, lembre-se que há dois tipos essenciais de discurso político (a que se pode juntar um terceiro, o teórico). Há o discurso protestativo, panfletário, de denúncia, emotivo, a ir de encontro ao sentimento. Há o discurso programático, propositivo, em que a denúncia dos males é acompanhada de propostas de medidas correctivas.
    É dramático que quem proclama que os eleitores estão alheados da política por falta de alternativas insista num discurso quase exclusivamente protestativo. Falem com o homem comum, que dirá que “todos dizem o mesmo, não mostram saída”. De certa forma, é a versão à esquerda do TINA (“there is no alternative”, Thatcher) do pensamento único. Que a austeridade mata, que os filhos emigraram, que as reformas estão a ser comidas, as pessoas sabem. O que querem saber é como sair disto.
    O Tempo de Avançar tem um programa. Não concordo com muita coisa, mas parece-me uma proposta honesta para discussão pelos eleitores. Também o LIVRE tem um programa. Da mesma forma, não concordo de todo com ele. O que é aceitável é banal e o que não é banal é inaceitável, nomeadamente o seu extremado europeísmo. Em todo o caso, há um programa.
    Na sessão final da Conferência deste fim de semana do AG!R, NRA e JAD intervieram exclusivamente num discurso de protesto, sem uma única proposta. “A democracia está em crise. As pessoas não se sentem representadas. Confrontamo-nos com a simples sobrevivência e, ao contrário das lições de Aristóteles, não estamos a pensar o impossível como abertura para novos possíveis (gostei!). Não temos autonomia política, não temos autonomia económica, não temos autonomia financeira. A austeridade é um crime”.
    Quais são as posições positiva, programáticas, do AG!R? Não se sabe. Ontem, tomando notas apressadas, vi que eram: 1. necessidade de aprofundar a democracia, contra a elite medíocre e os interesses privados [Nota, JVC: o que é uma democracia aprofundada, em relação à actual?]. 2. luta contra a corrupção, quer a do Estado e da administração, quer a das sentidas privadas. 3. não aceitar o discurso troikiano da nossa culpa, não nos intimidarmos com o “não há dinheiro” [JVC: mas não dizem como se obtém o dinheiro].   A mais, slogans com fartura. Como exemplo, o já gasto 1% e 99%.      Hoje, o seu mural do Facebook traz o compromisso que foi assinado entre o grupo/duo NRA/JAD e o PTP. Como verão os que o lerem, não enganei na caracterização que fiz atrás.
   Mas parece que vai haver programa, feito à moda, como por cá se pensa que fez o Podemos  (erradamente, como mostrarei um destes dias), “com as pessoas”, sem propostas centrais, tudo em lógica assembleist e só com propostas mínimas.     Com que bases ideológicas não percebi.   Mas ouvi o suficiente para me permitir localizar o AG!R.   Desde logo, a desvalorização da dicotomia esquerda-direita, em relação a “os de cima” e “os de baixo”. Que o essencial hoje é unir todos os democratas [JVC: como se estivéssemos em fascismo], lembrando que a clivagem é entre os bancos e os seus explorados e devedores (!).    Parece que tudo isto ainda vai ser elaborado, com o contributo dos grupos e movimentos que aderirão ao AG!R.   Mas, seja qual for esse contributo e o respeito pelo diálogo, uma coisa já está definida:  a cabeça-de-lista será JAD.  Isto é que é democracia.
    Outra diferença em relação ao Tempo de Avançar tem a ver com as alianças. Como tantas vezes temos dito, outros e eu, a disponibilidade para servir de muleta ao PS, no caso, mais do que provável, de ele manter a sua política, é a pedra de toque dos novos partidos que se apresentam como preenchedores de um vazio à esquerda. É o caso do LIVRE/Tempo de Avançar, mesmo que não se concorde com essa posição. Mas é honesta.
    Mas já o AG!R não é de esquerda, não diz o que pensa em relação à resolução da crise austeritária e do problema da dívida, não diz uma palavra sobre o estado social de bem-estar. O que é, claramente, é um partido/movimento populista, com apelos vagos a uma democracia “que é de todos”. “Agir é essa proposta: não interessa se és de esquerda, de direita, de centro, ou não te reconheces em lugar nenhum, o que interessa é a tua vontade de participar nesta ruptura popular e construir uma verdadeira democracia.” O primarismo ideológico e a demagogia de tudo isto são confrangedores.
   Muito se disse, mas ficaria forçosamente incompleto sem se falar do partido mãe de aluguer.  Até ontem, já nem me lembrava de que existia um Partido Trabalhista Português (PTP), insignificantemente sempre inferior a 1% (de votos), excepto no caso de umas eleições madeirenses em que serviu de candidatura ao candidato amalucado, José Coelho.     Interveio ontem o seu presidente, Amândio Madaleno, dizendo transparentemente coisas que, fosse eu a estar na mesa com ele, me enfiaria chão abaixo.   Fez largos anos de carreira partidária no PSD, em particular na área sindical. No tempo de Manuela Ferreira Leite, entendeu que “o partido não ia a parte nenhuma” e, de um dia para o outro (?!) fez o PTP, cujos estatutos dizem ser de centro-esquerda. No entanto, ele define-se como social-democrata, sob a grande inspiração de Sá Carneiro. E, como objectivo principal, dar voz a todos os que estão descontentes com o CDS e com o PSD. É com este homem que NRA e JAD se querem sentar à mesa? Ou estão confiantes de que o vão empalmar?  Vejam o MPT (Movim. Partido da Terra)!    Quanto à pessoa, devo dar todo o benefício da dúvida, mas a impressão com que fiquei foi a de um advogado provinciano, pouco culto e de fraca estruturação mental. 
    E já basta de AG!R.     Virá a seguir o MAS/Juntos Podemos. Lembremo-nos de que inicialmente estavam todos junto numa tentativa infantil e desinformada de fazer um Podemos, depois zangaram-se e houve uma guerra de registo de nomes, também acusações de João Labrincha a NRA de manobrismo já desde o tempo do Que se Lixe a Troika (com vagas alusões ao PCP). A novela promete. Tudo isto é triste e fraudulento, mas dá vontade de rir.
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    O movimento «Nós Cidadãos»    entregou hoje cerca de 8500 assinaturas no Tribunal Constitucional para se constituir como partido político e poder candidatar-se às próximas eleições legislativas, informou o porta-voz Mendo Henriques.  "Ao longo dos últimos meses reunimos ... e entregámos mais do que as assinaturas necessárias (7500) para ser um partido político, "... para poder dar voz aos cidadãos  ... nas eleições legislativas" , sublinhou.   ... o programa eleitoral está a ser constituído juntamente com "associações e movimentos cívicos", e terá "medidas que farão a diferença". ... espera "que no prazo de dois meses" o movimento/partido esteja "cá fora". 
    Quanto à pessoa que vai ser o rosto da candidatura do Nós Cidadãos às próximas legislativas (de 2015), Mendo Henriques referiu apenas que "o cabeça de lista será escolhido em congresso". Porém, admitiu que o movimento está "em contacto com muitas personalidades independentes e que vêm de quadrantes que estão insatisfeitos com as políticas (e medidas neoliberais) do arco da governação", mas cujos nomes só serão revelados "em devida altura".
    Em relação ao eleitorado que pretendem atingir, ... são os "abstencionistas", as pessoas que "estão indignadas com as soluções" dos últimos governos e que, por isso, "querem mudar o país".  ... criticar "o pior que há da esquerda", que classificou como "confisco fiscal",   e da direita, que chamou de "um conjunto de facilitadores e de privilegiados".     A entregar as assinaturas no TC estavam outras seis pessoas, entre elas, o antigo deputado afeto à lista do PSD  P.Quartin Graça.
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O líder do PS-Madeira e candidato da    COLIGAÇÃO  MUDANÇA (PS-PTP-PAN-MPT), Victor Freitas, defende Renegociação da Dívida, o pagamento da dívida indexado ao crescimento económico e admite coligação pós-eleitoral, mas só à esquerda (BE, PCP, ...).
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                Parem para pensar e ser cidadãos activos e coerentes:
        No nosso sistema político-eleitoral os portugueses só podem decidir o seu presente e futuro colectivo  através  de partidos ou coligações (para eleições legislativas...) ... abstenções e votos nulos não levam a nada. 
     Os principais partidos que têm responsabilidades no estado em que está o país são os 3 partidos do "arco da governação", da promiscuidade e do  "centrão de interesses privados e obscuros"
     Porque razão somos 'casmurros'...?  Porque não dar o benefício da dúvida a outros partidos para  limpar o sistema democrático e republicano dos que têm destruído o país e a sociedade portuguesa? 
     Se não te reconheces "nisto-e-neles", participa na mudança para uma melhor democracia e sociedade mais justa e transparente
     E a solução é ... ser activo na cidadania e política e, no mínimo, Votar noutro partido ou coligação que não seja do rotativo "centrão de interesses privados e obscuros".


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Terça-feira, 24.09.13

        ELOGIO   DAS   AUTÁRQUICAS      (-por JPP)
Copy of DSC00174   É fácil gozar com os candidatos das autárquicas e a Rede está cheia desse gozo, como local mal frequentado que é em Portugal. Gente que não é capaz de dizer nada contra a campanha ilegal de Menezes, em que o dinheiro escorre por todo o lado, as listas “Isaltino” e “Valentim Loureiro”, as propostas absurdas de manuais escolares e medicamentos gratuitos para todos, tuneis e pontes por todo o lado, propostas chocantes em candidatos do PSD e CDS, e capaz de no virar da esquina vir exigir os cortes retrospectivos às pensões dos reformados e despedimentos nas função pública (e silêncio sobre os trabalhadores das autarquias que irão para a rua depois das eleições), e desatar-se a rir com as cenas dos candidatos mais boçais, os cartazes ridículos, as palavras de ordem de duplo sentido, os trajes domingueiros e casamenteiros de candidatos e candidatas. De facto, eles não têm dinheiro para pagar a agências de comunicação, contratar empresas de marketing político e comprar centenas de outdoors.

     Mas a única, insisto a única, verdadeira, genuína, intensa, participação de milhares de portugueses na democracia, para além do voto e das manifestações, é esta. Uns querem o bem de si próprios, outros o bem dos seus interesses, outros o bem dos seus partidos, outros o bem das suas terras. Estes últimos são muitos, tem que ser muitos porque da sua participação não vai restar nada, a não ser despesas, cansaço e algumas zangas. Aqui a democracia ainda é o que devia ser, imperfeita, desigual, muitas vezes ineficaz onde devia ser eficaz, desregulada no pior sentido, com sistemáticas violação da lei, mas tudo ponderado, os milhares de candidatos populares e dedicados, merecem todo o respeito.
                A  CAMPANHA  DO PSD NAS  AUTARQUIAS
     Tenho observado em primeira mão algumas actividades de campanha do PSD, sozinho ou coligado com o CDS, e está completamente enganado quem pensa que, ao nível das campanhas, os estragos da governação e a hostilidade ao governo e aos seus partidos se reflectem no enfraquecimento da mobilização das candidaturas. É verdade que este tipo de mobilização interior é muito enganador, principalmente onde já o partido está no poder, e é também verdade que partidos como o PSD são hoje essencialmente partidos autárquicos. Mas, merece reflexão.
    A dimensão nacional funciona por outros mecanismos de influência, que não são “orgânicos”, nem de proximidade, e essa mesmo em campanhas autárquicas mobilizadas, está claramente em crise. É possível assistir a jantares de campanha onde estão centenas de “laranjinhas” e não ouvir o nome de Passos Coelho uma única vez. Num partido como o PSD, muito assente em lideranças pessoalizadas, é uma ruptura com o passado. E mesmo quando alguns oradores convidados fazem o possível para falar dos méritos da governação, a resposta é nula na multidão e gélida nas conversas mesa à mesa. Onde as coisas estão pior é nas ruas. Em muitas terras, habitualmente PSD e CDS, as campanhas “não são mal recebidas”, mas fora do casulo dos candidatos e suas comitivas, não há empatia. E em muitos sítios há antipatia, bocas, insultos. Aliás os candidatos que sabem disto, evitam abrir a campanha à rua principalmente nas cidades, onde por comparação com o passado, há muito menos contactos directos com a população.
               O VERDE
    Todos os cartazes, PSD e PS, tendem a ser verdes. Mais verde, menos verde, mas muito verde. Ou azul, raras vezes vermelho, quase nunca laranja. O CDS sozinho mantem o azul, o PSD sozinho abandonou o laranja para o verde e o azul, a CDU permanece com uma linha muito tradicional, e o Bloco também. Os símbolos dos partidos no PSD são ocultados por toda a parte, do CDS menos. O PS ostenta-os quase sempre. A CDU já é há muito uma maneira de ocultar a foice e o martelo. Mas, cada vez é mais difícil a uma certa distância diferenciar os partidos e cada vez mais a propaganda assenta essencialmente em outdoors. Pode haver alguns papéis – poucos – e alguns “brindes” – muito menos do que no passado. Os autocolantes estão em crise, porque nos actuais costumes políticos pouca gente está disposta a andar com o candidato na lapela. Ou qualquer outro símbolo. Só em grupo, naquilo que agora se chama “arruadas” e mesmo assim é ver as pessoas a arrancar os autocolantes, mal acaba o ajuntamento.
     As palavras de ordem são cada vez mais vazias, menos interessantes, e desprovidas de sentido e demarcação política. “Todos juntos”, “com todos”, “tudo por (nome da terra)”, “mudança”, “compromisso para mudar”, “mudança tranquila”, “pela nossa terra”, “com (nome da terra) sempre”, “(nome da terra) primeiro”, “vamos ganhar”, “juntos fazemos”, “sentir (nome da terra), “com o coração”, “com as pessoas”, etc., etc. – uma falta de imaginação total e absoluta.
     A figuração dos cartazes é igual aos reclames dos bancos e das lojas de compra de ouro. Quem anda à procura de documentação, fotos, materiais de campanhas, antes de estar com o nariz em cima de uma sede (quase sempre fechada), está sempre a enganar-se pela semelhança com os reclames em que os bancos prometem empréstimos e propagandeiam as suas contas, com uma família dinâmica e jovem na montra, e as meninas apessoadas do ouro ou do imobiliário. É tudo tão igual, que enjoa. Bem vistas as coisas, de facto, nenhuma campanha é igual à anterior, são é todas iguais hoje.
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     As  novas  listas  de  « independentes »    (-por Ricardo Alves, 20/9/2013)

       Nas eleições autárquicas de 2005 e 2009, as listas «independentes» venceram em sete câmaras municipais. Creio que o leitor mais informado se recorda dos personagens mais conhecidos, a nível nacional, por serem presidentes de câmara independentes nesses mandatos: Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Fátima Felgueiras eram os rostos das listas independentes. Os três eram percepcionados pelos cidadãos em geral como «corruptos e demagogos», e apareciam frequentemente nos media acusados de práticas menos claras ou mesmo ilegais, e foram entretanto afastados da política pela lei de limitação de mandatos e/ou pelos tribunais. A sua «independência» era uma consequência de se terem tornado incómodos (por más razões) para os partidos.
     Nas eleições de 2013, não só os independentes poderão governar, pela primeira vez, câmaras maiores do que Gondomar ou Oeiras, como as suas principais caras já não são as de «foragidos» à justiça. Mais: em 2013 as listas independentes parecem resultar mais de cidadãos incomodados com os partidos do que do contrário. Se esta é uma evolução positiva (por evidenciar que a política não se esgota nos partidos), também explica que os partidos pareçam ter começado a tentar «instrumentalizar» as listas de independentes. O exemplo mais flagrante: a «Plataforma de Cidadania» (Lisboa) é apenas um disfarce para uma coligação da direita radical (PPM/PND/PPV). Outro exemplo: o BE apoia listas independentes em cidades da dimensão de Braga e Coimbra, onde teria certamente militantes suficientes para apresentar listas próprias. Terceiro exemplo: a candidatura de Rui Moreira (Porto) é apoiada oficialmente pelo CDS e tem dois vereadores do PSD como nº2 e nº3. Em todos estes casos, concelhias inteiras de partidos ou entenderam que a sigla prejudicaria uma candidatura, ou que tinham sido ultrapassados no terreno local.
     Finalmente, há casos (como Sintra, Oeiras, Gaia ou Matosinhos), em que as eleições autárquicas confrontam (frequentemente em duas das três listas que ficarão melhor colocadas), duas facções diferentes da mesma concelhia (PSD ou PS). São «duelos» que poderiam ser evitados se os partidos permitissem «primárias» abertas a simpatizantes (e se as direcções nacionais aceitassem os resultados...).
     De qualquer modo, o panorama geral indica que este é o primeiro ano em que as listas de independentes podem ser um sinal de como a sociedade não se revê nos partidos actuais.


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Quinta-feira, 28.02.13

O  bloqueio           Não queria começar por falar dos agentes políticos, mas pela responsabilidade dos eleitores. Por isso, fiquei-me ontem, na análise dos resultados eleitorais italianos, por isso. Mas a verdade é que os eleitores, irritados, não se sentiram mobilizados por nenhuma alternativa real a Berlusconi e Monti. A crise é aguda e as condições para construir, em Itália, uma alternativa política existiam. No entanto, nem o Partido Democrata (ex-Partico Comunista), nem a esquerda anti-austeridade conseguiram mobilizar o eleitorado. Ele foi para o voto de protesto sem consequências políticas para o futuro. Os italianos não se abstiveram - pelo contrário. Mas optaram por uma espécie de abstenção ativa.

     O Partido Democrata tinha tudo para conseguir um bom resultado. Tudo, entenda-se, que não dependesse dele. Uma revolta dos italianos, uma oposição maioritária à política da austeridade, uma descrença nas soluções que a Europa apresenta para a crise, um Monti impopular e um Berlusconi fora de prazo. Faltava o próprio Partido Democrata. O PD é a caricatura dos complexos ideológicos do centro-esquerda europeu. Abandonadas as suas raízes ideológicas - de um comunismo sempre heterodoxo -, vive na completa ausência de identidade política. Apoiou a brutal reestruturação da FIAT mas continua a falar como se fosse o representante dos interesses laborais, queria apresentar-se como alternativa a Monti mas ninguém consegue perceber no que realmente se distingue dele e é incapaz de esboçar um discurso compreensível sobre a política de austeridade e a Europa.

     À esquerda do PD, alinhavam-se duas forças. Esquerda Ecologia e Liberdade (SEL), liderado por Nichi Vendola e que integrava a coligação Bem Comum, do democrata Pier Luigi Bersani, e a Revolução Cívica, liderada por Antonio Ingroia, que junta a Refundação Comunista com movimentos ambientalistas e anti-Mafia. A SEL, nascida da confluência de várias organizações, onde se inclui uma das muitas cisões da Refundação Comunista, e a RC, que tentou juntar os cacos de uma esquerda em desagregação, não conseguiram garantir uma mobilização social que permitisse serem vistos como uma verdadeira alternativa política. Uma teve 3,2% e a outra ficou fora do parlamento, com apenas 2,2%. Ou seja, quer a estratégia de aliança com o centro-esquerda, quer a estratégia do enfrentamento com ele, falharam. Assim como falhou a pastosa e incaracterística moderação de Bersani. Os italianos preferiram, para protestar, votar num comediante. A manifestação de descrença na esquerda tradicional - centrista, social-democrata de esquerda e radical - não podia ter sido mais esclarecedora.

     As conclusões a tirar não são fáceis para a esquerda. A questão não está na moderação ou na radicalidade. Mais moderado do que o PD é difícil e fica provado que a velha ideia de que "as eleições ganham-se ao centro" vive de uma cartografia eleitoral simplista. Mas a radicalidade da Revolução Cívica não produziu grandes efeitos. Nem deputados conseguiram eleger. A questão também não está na capacidade da esquerda anti-austeridade se conseguir entender com o centro-esquerda. A Esquerda Ecologia e Liberdade teve um resultado pouco melhor do que os que ficaram de fora e só elegeram muitos deputados porque o sistema eleitoral beneficia as coligações. A questão está na construção de uma alternativa mobilizadora e credível.

     Não basta, mostra Itália, repetir o discurso do Syriza para ter os resultados do Syriza. Não basta, mostra Itália, juntar a esquerda para vencer eleições. Não basta, mostra Itália, que a alternativa à direita seja pior do que má. Não basta, mostra Itália, que o centro esquerda se ponha tão ao centro que já ninguém perceba o que ele defende. É preciso que as pessoas acreditem que há um caminho e que ele é alternativo ao que está a ser seguido. E é preciso, não desprezemos isso, que haja lideranças que protagonizem para esse caminho capazes de mobilizar as pessoas e de interpretar com eficácia o que elas sentem e querem.

     Porque não somos italianos, é improvável que um qualquer Grillo consiga este resultado. Mas os bloqueios à esquerda têm muitas semelhanças com o que se passa em Itália: um centro-esquerda que não é capaz de balbuciar uma alternativa, uma esquerda mais radical que é incapaz de sair da sua zona de conforto para defender um programa credível protagonizado por gente um pouco mais arejada e heterodoxa do que os seus quadros mais fiéis.

     Sair desta encruzilhada, num momento em que a esquerda tem tudo para reverter politicamente a situação que se está a viver no sul da Europa, não depende exclusivamente de cada um dos atores. Seria preciso que os socialistas se definissem, de uma vez por todas, em relação às razões estruturais desta crise, e que, nessa condição (e não a qualquer preço), os que estão à sua esquerda estivessem dispostos a mais do que defender o seu quintal. Seria necessário que uns e outros, em simultâneo, conseguissem perceber que, com esta crise, a política irá mudar radicalmente. E que isso implica fazer tudo de forma diferente.

     É por isto tudo que, quando me perguntam se o que eu defendo é uma aliança entre o PS, o Bloco e o PCP, eu respondo sempre que a questão não é meramente aritmética. A questão não é apenas quem se junta com quem. É se há alguma coisa que seja suficientemente forte e mobilizadora para que cada um abandone o que sempre fez para se juntar a alguma coisa. A questão não é se se fazem alianças, é se é possível fazer alguma aliança em torno de propostas claras. Que incluem um discurso sobre as alternativas à austeridade, a forma de defender o Estado Social, um novo caminho para a União Europeia e a posição a ter em relação ao euro. Mas também o combate à corrupção e uma reforma do sistema político. E a questão é, igualmente, porque as pessoas contam, se há quem protagonize a liderança dessa alternativa.

     Esta é a parte mais difícil de perceber por quem vive viciado na política como sempre se fez: a questão não é saber como se fazem os arranjos para ganhar eleições, a questão é saber se, nos atores políticos atuais, alguém quer realmente correr os riscos de construir uma alternativa.

Por mim, estou cada vez mais convencido que essa alternativa, ou pelo menos a pressão para que ela ganhe forma, nascerá fora dos partidos. Que, à esquerda, todos os partidos estão bloqueados nos seus próprios vícios, nos seus próprios medos e nas suas próprias lógicas internas. Esperemos, ou pelo menos espero eu, que o que vier de de fora deles seja mais construtivo do que um qualquer Grillo (comediante 5estrelas).

             (-por Daniel Oliveira, Arrastão e  Expresso Online)



Publicado por Xa2 às 19:20 | link do post | comentar

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