Os que se ofendem com o exercício dos direitos democráticos, das ofensas à República, são, precisamente os que se aproveitam dela e do facto de terem sido eleitos não para representar quem os elegeu, mas para seu exclusivo benefício. E, também já sabemos que estes são dos partidos do arco da governabilidade, pois. Sublinhar apenas que o PCP há muitos anos que apresenta projectos de lei sobre as incompatibilidades que proíbem este cenário. Claro que os partidos do arco têm rejeitado sucessivamente.
«Dos 230 deputados à Assembleia da República, 117 estão em regime de part-time, acumulando as funções parlamentares com outras atividades profissionais no setor privado. Advogados, juristas, médicos, engenheiros, consultores, empresários, etc. Em diversos casos, prestando serviços remunerados a empresas que operam em setores de atividade fiscalizados por comissões parlamentares que os mesmos deputados integram. Ao que se acrescem as ligações a empresas (cargos de administração, participações acionistas, serviços de consultoria, etc.) que beneficiam de iniciativas legislativas, subsídios públicos ou contratos adjudicados por entidades públicas visando a execução de obras, o fornecimento de produtos ou a prestação de serviços. Conflitos de interesses ? !! Dezenas de exemplos concretos são apresentados nas páginas deste livro. Dos corredores do poder político para as salas de reunião dos conselhos de administração, e demais órgãos sociais, das maiores empresas portuguesas, com ou sem período de nojo. Um fluxo recorrente entre cargos públicos e privados. Das 20 empresas cotadas no índice PSI 20, por exemplo, 16 contam com ex-políticos em cargos de administração. Por vezes são ex-governantes que decidiram sobre matérias que implicam as empresas para as quais vão depois trabalhar, ou até administrar.»
. De que falam quando choram pelo regime (-por nunotito)
De repente, os comentadores de vários matizes alinharam-se no plano presidencial de “salvação nacional”. Como se a crise não tivesse culpados, como se a crise não fosse uma máquina de guerra que tira direitos aos pobres e dá dividendos e rendimentos aos poderosos. Dizem-nos com um ar de quem sofre um ataque de gases que esta é a última oportunidade de preservar o regime. Como se tivessem a colocar neste barco que se afunda a liberdade e a democracia. Nada mais falso: o regime de que falam é a negação das promessas igualitárias do 25 de Abril. O que os preocupa é garantir o regime dos negócios que permitiu o desenvolvimento de um capitalismo nacional feito à sombra do Estado – Um regime duplamente desigual: desigual porque se trata de um capitalismo, mais desigual porque é um capitalismo que vive de expropriar o Estado dos recursos do contribuinte, para os dar aos grandes grupos privados. Aqui a corrupção não é um desvio criminal, mas a normalidade de um regime económico que tem como realizações simbólicas as swaps e as PPPs, em que quando há lucros, os privados e o capital financeiro recebem dividendos; e quando há prejuízos, o contribuinte é obrigado a pagar. Vivemos num regime em que são privatizados lucros e socializados prejuízos, para o bem estar dos do costume.
Ainda esta semana ficamos a saber que o banco criado à sombra do cavaquismo, o BPN, produziu uma colecção de moedas para assinalar o europeu de futebol que se realizou em Portugal. Não se venderam? Este governo do PSD e CDS encarregou-se de arranjar forma de as comprar com o dinheiro dos contribuintes. Foram quase 27 milhões de euros, o que é isso entre amigos e cavalheiros…
No livro “Os Donos de Portugal” recenseou-se a imensa promiscuidade entre decisores políticos e grandes grupos económicos. Este capitalismo de corrupção tem como capa a alternância dos partidos da governabilidade. O regime em Portugal chama-se bloco central dos interesses (o 'centrão da governação'). Nele não estão envolvidos os militantes e os eleitores do Partido Socialista, mas alguns dos seus dirigentes aparecem alegremente em cargos de responsabilidade de empresas que negociaram chorudos negócios com o Estado. É por isso que também a direcção do PS está preocupada com este regime e participa nestas negociações à sombra de Cavaco Silva.
Quando os papagaios choram pelo regime em perigo e pretendem garantir-nos que só o salvando podemos manter a democracia e a liberdade é preciso fazer-lhes um enorme manguito e dizer-lhes: não há liberdade e democracia com um regime que promove a desigualdade, o desemprego e a miséria. Por nós estejam à vontade, enterrem esta coisa.