---- Venda da TAP: lucro máximo, risco nulo (-por J.M.Cordeiro, 22/11/2015, Aventar)
Imagine o seguinte negócio. Você tenciona comprar uma bela mansão com um problema nas caleiras mas com luxuosos e numerosos quartos. Precisará de investir algum dinheiro e de resolver um problema num anexo que o anterior dono comprara à toa, mas, no geral, o potencial de turismo de habitação dá-lhe boas perspectivas de lucro. Aliás, não fora o raio do anexo e nem o anterior dono precisaria de vender. Acontece que as suas posses financeiras não são propriamente as de Abramovich e precisará de recorrer à banca para fazer o negócio. Para complicar, o anterior dono já tinha feito uma hipoteca à mansão e a banca só aceitará a mudança de dono caso você lhe indique um fiador. Apesar destas condicionantes, você conseguiu convencer um parente com vastos recursos a ser fiador e levou o negócio a bom termo. E o arranjo global até é animador. Se o negócio der lucro, você paga à banca e amealha o que sobrar. Por outro lado, se algo correr mal, você deixa de pagar a mensalidade da mansão e o fiador entra em despesas por sua causa. Lucro máximo para si, com risco nulo.
Que tal lhe parece este negócio? Interessante, não acha? Excepto para o fiador, claro. Agora troque, no anterior negócio, a mansão pela TAP, o Consórcio Azul toma o seu lugar, o anexo é a Varig Engenharia e Manutenção e o fiador é o Estado. As caleiras representam os problemas estruturais e a banca é mesmo a banca. Já está? Pronto, fica explicada a venda da TAP, feita pelo governo PSD/CDS. Com uma nuance: no negócio da venda da mansão era claro que seria você quem nela iria mandar, enquanto que na venda da TAP continuamos sem saber quem terá o controlo da empresa.
O Expresso teve acesso ao documento que deu origem ao acordo entre a Parpública e os bancos, sob despacho do Governo, que dá garantias às instituições credoras. Em caso de incumprimento ou desequilíbrio financeiro, os bancos têm na prática o direito de obrigar a Parpública (holding do Estado que detinha a totalidade do capital da companhia aérea) a recomprar a TAP. As negociações de última hora deram aos bancos a segurança de que, se for necessário, o Estado repõe a garantia pública à dívida bancária. Em causa estão quase €770 milhões, que incluem uma dívida bancária de €646,7 milhões e €120 milhões adicionais pedidos pelo consórcio comprador para financiamento corrente, como o Expresso noticiara. O que terá essa direita da boca cheia sobre fraudes e golpes, tão crítica de acordos secretos, a dizer sobre os termos de um contrato público que ainda não é conhecido e que foi assinado à porta fechada em lugar incerto? e por um governo demitido/ em gestão?
Já agora, parece que alguém precisa de actualizar o seu post. : «(…) se a dívida avalizada for transferida para a Parpública ou para qualquer outro veículo que onere o contribuinte pode ter a certeza que rectificarei esse ponto, e duramente o criticarei.» [daqui]
Consta que transferência de risco para o Estado é um veículo com elevado potencial de onerar o contribuinte. Quem aspire fazer uma FAQ cheia de ar sério não deixará, certamente, de atender a este pequeno detalhe. : «A privatização ocorre para desonerar o contribuinte, também, da dívida da TAP.» [daqui]
Nós sabemos como são as boas intenções. Mas neste negócio, a banca preferiu nem as considerar e fez como faz com os fiadores na compra de casa. Se não pagar o dono, então paga o contribuinte. Bela desoneração. E se der lucro, terá o contribuinte alguma vantagem, ou só será chamado para assinar cheques?: Isabel Castelo Branco autorizou “conforme proposta” e Sérgio Monteiro assinou estar “de acordo”. [Expresso]
Enquanto representante de um consórcio privado, Sérgio Monteiro assinou um contrato de 'swap' que depois foi resgatado com enorme prejuízo pelo Estado, através da negociação de Sérgio Monteiro mas, agora, como representante do Estado, tal como se pode ler nesse perigoso baluarte da esquerda que é o Observador. São estas as pessoas, prenhas de ética, como se constata, que o governo de Passos Coelho colocou a resolver os “problemas” do Estado. Felizmente que a direita é boa a fazer “as contas”, como se viu quanto à devolução da sobretaxa do IRS, caso contrário estaríamos tramados.