http://aventar.eu/2015/10/14/desenrasquem-se/#more-1236659
Desenrasquem-se
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... o seguinte: das 95% pessoas que deram como motivação para emigrar a carreira e a realização profissional, 80% considera que também houve razões económicas como melhores salários e fuga ao desemprego.
Ou seja, no fundo, só 15% das pessoas é que emigra “somente” por questões de realização. Só 15% das pessoas emigra sem nenhum tipo de pressão externa.
Isto é, a própria questão da realização profissional está, evidentemente, muito ligada a questões económicas.
Alguém que tirou um doutoramento mas que agora está a trabalhar num call center tem de facto um emprego, mas é evidente que não se sente realizado a nível profissional (e que não ganha o suficiente para compensar sete anos de estudos superiores).
Alguém que tem estudos universitários pode até ter um emprego bem renumerado mas não está a trabalhar na área que quer e portanto emigra.
É óbvio que se pode argumentar que a culpa é destas pessoas: elas emigram porque querem.
Se não quisessem emigrar que tivessem tirado um curso mais acessível.
Isto é um argumento que os fans do governo apreciam porque lhes retira alguma culpa:
porque razão é que alguém vai tirar um doutoramento em astrofísica ou em sociologia se em Portugal não há condições para trabalhar nessas áreas?
(Não há laboratórios, não há lugares nas universidades etc.)
É evidente que estas pessoas teriam de emigrar se quisessem trabalhar na área de estudo.
Isto é, devo dizer, uma argumentação legítima. É verdade. Mas também é verdade o seguinte: não interessa.
Não interessa de quem é a culpa porque quem perde é o país.
Se toda a gente que tira cursos “inúteis” ou que não vão dar trabalho (imensos, desde as ciências ás humanidades porque alguém que estuda matemática pura também não vai ter trabalho) se vai embora então o país vai ficar cada vez mais vazio.
Ou seja, trocando por miúdos:
o país gasta dinheiro a formar esta gente que depois aos 20 e poucos anos se vão embora e nunca mais voltam,
ou voltam na reforma, para gastar ainda mais dinheiro ao Estado (porque nem descontaram em Portugal).
Entretanto, estas pessoas casaram lá fora e tiveram filhos “lá fora” e esses filhos por lá fora vão ficar
e vêm a Portugal nas férias como agora acontece com os emigrantes franceses de segunda geração.
Resumindo:
temos um país que tem um problema gravíssimo de natalidade,
um país que não sabe quem é que daqui a 50 anos vai pagar reformas,
com uma crescente emigração de “cérebros”,
de pessoas que já custaram dinheiro ao Estado mas que nunca o vão pagar porque não planeiam trabalhar em Portugal.
Mas o que interessa no meio disto tudo é que a culpa, ao menos, "não é do Governo" PSD/CDS.
Portugal não está a garantir a sucessão geracional mas ao menos a culpa não
é dos partidos medíocres que temos mas das pessoas que tiram cursos que não servem para nada
em vez de Economia ou Gestão para depois serem muito empreendedores e fazerem start-ups companies que irão FALIR passados 3 meses.
Emigrar, meus amigos, não é fácil e esta romantização da emigração é no mínimo, insensível.
Alguém que vai para fora porque acha que devido ás qualificações que tem merece ganhar mais,
alguém que vai para fora porque não arranja trabalho na sua área não está a emigrar sem pressões externas.
Não está a emigrar porque “quer”.
Está a emigrar porque acha que merece mais, porque o esforço que depositou no seu percurso académico merece ser recompensado.
Isto não é o mesmo que emigrar de “livre vontade”.
A pressão, nestes casos, não é tão urgente como o “emigrar porque não tem o que comer ou onde viver” – mas é uma pressão à mesma.
Podemos culpar estas pessoas. Pode-se fazê-lo para evitar culpar os governos ou razões estruturais.
Eu estou-me a borrifar porque são estes partidos e respectivos cheerleaders que vão ter de lidar com o país do futuro.
E o país do futuro vai ter muitos problemas.
Nós em princípio é que já não vamos estar cá para ver.
Desenrasquem-se.
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Os “paradoxos” de Schengen
-- Tomada de posição de um grupo de cientistas sociais da área das migrações
http://www.observatorioemigracao.pt/np4/4612.html
-- Emigrantes, Refugiados; Fronteiras; geoestratégia; União Europeia; Neoliberal; agressão; terroris
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