À escala europeia, o retrato que o estudo permite traçar é bem revelador das
assimetrias existentes e do fosso de diferenciação entre centro e periferia, relembrando os círculos concêntricos de
Heinrich von Thünen. Os elevados níveis de qualificação do mercado de trabalho nos países do centro e Norte europeu têm como contraponto a
desqualificação do mercado de trabalho nos países da periferia e do Sul, num processo de clivagem e divergência que as
políticas de austeridade e empobrecimento acentuaram nos últimos anos.
Não por acaso, de facto, muitos dos países pior posicionados no
ranking de qualidade do mercado de trabalho são os que registam uma evolução particularmente
negativa em termos de saldos migratórios (como sucede no caso de Portugal, Espanha ou Grécia). Do mesmo modo que muitos dos países melhor posicionados em termos de
qualidade do mercado de trabalho são os que registam
ganhos migratórios mais expressivos nos últimos anos (como é o caso do Luxemburgo, da Alemanha ou da Áustria).
O mercado de trabalho não é pois imune às leis da oferta e da procura, reagindo aos
processos de desregulação laboral, empobrecimento e alegado «ajustamento» das economias. Como referia há tempos o
Luís Gaspar, «
baixam-se os salários no pressuposto que o trabalho é demasiado caro. O trabalho vai-se embora. Mesmo para o mais ortodoxo dos economistas, isto deveria querer dizer que o trabalho não estava caro. A única transformação estrutural da economia arrisca-se a ser esta: em vez de serem os salários que se "ajustam" à economia, é a economia que se ajusta aos salários baixos». Ou seja,
as políticas de austeridade não são almoços grátis, como dizia o outro. Têm contradições e limites intrínsecos, que as tornam
contraproducentes e que se pagam caro, no presente e no futuro.
Talvez sejam dados como os deste estudo que levam
João César das Neves a concluir, nas Jornadas Parlamentares do PSD, que é necessário diminuir a «
rigidez do mercado laboral» de um país que considera «
em vias de extinção», devido à falta de nascimentos e à emigração. Para enaltecer, logo a seguir, o facto de o anterior governo ter sido «
o que mais liberalizou o mercado de trabalho» em Portugal, lamentando por não se ter, mesmo assim, conseguido aproximar o país dos seus parceiros europeus: em matéria de rigidez laboral, segundo César das Neves, «
estamos à frente da tropa toda». Como os dados ali em cima permitem constatar, claro.