De Coerência a 5 de Outubro de 2014 às 23:30
Montes de engenheiros agrícolas que ficaram no desemprego; montes de licenciados em economia que não conseguem emprego, o mesmo com engenheiros, arquitetos, licenciados em direito, e pro aí fora; Porque carga de água é que todos os professores devem ter emprego? Porque é que os meus impostos têm que suportar o emprego dos professores e não os dos outros licenciados? Porque hão-de suportar os meus impostos escolas de formação de professores, quando há cada vez menos alunos?
E depois queixam-se que em Portugal se pagam muitos impostos. PORRA, um mínimo de coerência.
De Lágrimas, resignação ... até à revolta. a 6 de Outubro de 2014 às 12:18
Crato, professores e resignação?
[ turmas sobrelotadas e sem professores colocados ]
O novo episódio da colocação dos professores, concretizado ontem em mais um acto em que Nuno Crato nem cumpriu aquilo a que se comprometera publicamente, ultrapassa tudo o que é admissível.
Centenas (poucas ou muitas) de professores, colocados há algumas semanas e em exercício de funções, foram informados de que, afinal, «não valeu»:
irão para outras escolas ou para o desemprego.
Mesmo que morem habitualmente em Bragança, tenham alugado casa (e pago rendas adiantadas) em Sintra, matriculado aí os seus próprios filhos, etc., etc., poderão ser obrigados a rumar agora até outras paragens – ou nem sequer dar aulas este ano.
Num país decente, normal, ter-se-ia levantado ontem um grande clamor e milhares de pessoas teriam saído à rua em protesto.
Por cá, esse clamor ficou-se pelas redes sociais. Business as usual.
Mas o que me pareceu mais impressionante foi o ar mais ou menos resignado de alguns dos professores atingidos, entrevistados nos telejornais de ontem à noite.
Não vi gritos de revolta, apenas consternação e lágrimas contidas.
Como é possível que tenhamos chegado aqui?
.
-por Joana Lopes, Entre as brumas
De Desgoverno, dolo, burla, ... mentira. a 6 de Outubro de 2014 às 15:12
Cratenstein
(. 04/10/2014 por José Gabriel, Aventar)
Nuno Crato, qual Victor Frankenstein em versão imbecil, não consegue enfrentar o monstro que criou. Mas também não quer. Em vez de ficar horrorizado com o resultado da sua obra, como aconteceu com o original, justifica-a, desculpa-a e, no cúmulo da estupidez, insiste em elogiá-la.
Mas ele que se cuide, não vá a “Criatura” virar-se contra o criador e, como acontece na história de Mary Shelley, atacar-lhe a amada que, no caso de Crato, é a sua posição, o seu cargo, a sua glória efémera junto dos patetas. E, finalmente, exterminar o seu próprio “pai”.
--Menttir é feio
(04/10/2014 por João Paulo )
Lula da Silva costuma dizer que governar bem é fazer o óbvio e o processo de colocação de professores é um daqueles que é tão simples que não é fácil entender de onde vem tanta confusão.
Como já antes escrevi, enquanto o concurso é nacional, corre tudo bem. Quando o Governo resolve introduzir outras variáveis no concurso, então está o caldo entornado.
A explicação é simples: para os concursos dos professores dos quadros, nas escolas “normais” o MEC faz uma lista (de graduação) em que entram apenas dois factores – nota de curso e o tempo de serviço. Simples e eficaz. Completamente aceite por toda a classe como o mecanismo mais eficaz de criar uma lista ordenada.
Quando chega à fase de escolher os professores contratados, Passos Coelho resolve inventar e introduz outras variáveis, nomeadamente nas candidaturas às escolas TEIP (“mais complicadas”) e às escolas com Autonomia (uma coisa que não existe).
E a prova de que o erro está no concurso “especial” resulta deste facto – o concurso dos professores dos quadros não deu erro e o concurso que colocou docentes a contrato nas escolas “normais” está fechado também sem erros.
Só há erros onde Passos Coelho resolveu inventar.
Perante o erro, há duas semanas atrás no Parlamento, um personagem de quem me recuso a dizer o nome, pediu desculpas e acrescentou duas afirmações mais: vamos corrigir o erro e nenhum professor será prejudicado.
Pois, está visto como são sentidas e honestas as palavras dos homens de confiança de Passos Coelho.
E, se me permitem, esta reflexão vai direitinha para Pedro Passos Coelho uma vez que não há Ministro da Educação:
- a Joana é uma mulher com 30 anos. Tem um filho com 5 e vive em Espinho. Foi colocada na Amadora. Tirou o filho do Jardim de Infância aqui no Norte e rumou a sul, montou uma casa nova e começou a dar aulas na sua nova escola. O filhote teve que se adaptar a uma nova realidade. Hoje, a mãe do Pedro, a Joana, foi chamada à Direção: és o elo mais fraco. Estás despedida.
Sabe, senhor Primeiro Ministro, o que eu estimo é o que lhe desejo. Espero que os seus filhos ou os seus netos possam sentir o mesmo que está a sentir o Pedro. E, já agora, aos seus desejo o mesmo que o senhor desejou à Joana.
Escola queimada
(desgoverno neoliberal: «sabotar e privatizar»)
A situação que se vive atualmente nas escolas públicas poderá dever-se, em parte, a incompetência em estado puro e límpido. Embora não deixe de ser interessante na área de jurisdição do Ministro mais excelente da nossa história, o que aqui existe de projeto político é certamente mais relevante. Nuno Crato aumentou o financiamento aos colégios privados, ou seja, aumentou a fatura de todos os contribuintes com as escolas a que só poucos podem aceder.
Mas essa é apenas uma parte de uma estratégia de privatização bem sucedida. A outra parte, absolutamente indispensável, corresponde ao equivalente para a Educação do que foi a tentativa de encerramento da Maternidade Alfredo da Costa para a saúde. Trata-se de atacar todas as instituições públicas que prestem um serviço de qualidade e atacar com ainda mais força as que se atreverem a ser excelentes. Como aconteceu com a privatizações de empresas públicas, o primeiro passo é arruinar e desacreditar os serviços públicos, empurrando para o privado todos os que possam (pagar mais).
Os encerramentos a granel e a concentração dos equipamentos, os cortes no investimento na rede pública, o despedimento de professores que gera o caos que observamos neste momento, a sobrelotação de turmas e os horários sobre-humanos, todos concorrem para a mesma função: degradar ao máximo a qualidade do ensino público, pressionando todas as famílias remediadas com o mais grotescos dos ultimatos: vão para o privado ou dêem uma educação de segunda aos vossos filhos.
A introdução de turmas de nível no ensino público concorre de forma mais subtil e perversa para a mesma função. Amputando a escola pública da sua função de inclusão, gera-se uma estratificação social dentro do que devia ser mistura e colaboração. Quando era deputado e fui a uma sessão do Parlamento Jovem numa escola em Almeirim, ouvi o melhor aluno da escola dizer que discordava das turmas de nível porque "Todos os alunos aprendem uns com os outros e todos devem aprender a trabalhar juntos". A consequência das turmas de nível é acabar com isso e é deliberado. Estratificar dentro da escola pública é o primeiro passo para estratificar fora dela.
A agenda do Governo é, portanto, a da sabotagem. Destruir a escola pública em todas as suas dimensões: encerrar infra-estruturas (em alguns casos, excelentes), despedir e infernizar a vida aos professores, subverter a lógica inclusiva e solidária que lhe dá sentido. Que lhe dá sentido e, já agora, que deu também os resultados, esses sim, excelentes que os indicadores do PISA têm revelado, por oposição aos de outros países que seguiram o caminho que Crato propõe.
(-por J.GUSMÃOÀS, 15.10.14, http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/10/escola-queimada.html )
De .lançar o caos para privatizar. a 24 de Outubro de 2014 às 16:25
Parabéns Nuno Crato
(21/10/2014 por João José Cardoso, Aventar)
Foi um golpe de mestre:
lançar o caos nas colocações de professores contratados para obter a aprovação pública do golpe que faltava:
a selecção directa pelos directores/presidentes de câmara e nalguns casos certamente será ouvido o senhor prior.
Pelos vistos era uma ambição antiga: os ex-ministros aplaudem de pé.
Vai ser um sossego, fazes greve não te renovo o contrato, refilas, aspas, colocas em causa seja o que for, aspas, aspas.
Em termos eleitorais, ganham os caciques um seguro de voto, basta a promessa de trazerem de regresso à terrinha os filhos da mesma que, vejam lá, andam pelo país fora porque se esqueceram de estudar na faculdade e são mais novos que tantos outros.
Claro que esta aplicação da estratégia do choque nunca será comprovada. Só por milagre se provará que os caos foi propositado.
Nuno Crato, um ministro bem escolhido. Maria de Lurdes Rodrigues (que foi bem mais discreta ao soltar a avaliação de professores para ninguém reparar no assassinato da gestão democrática) e José Sócrates roem-se de inveja.
A privatização é já a seguir.
De "rankings", segredo e negócio MEC-priv. a 5 de Dezembro de 2014 às 16:53
------ Ranking de escolas: três perguntas simples
1. Por que continua o Ministério da Educação e Ciência a não exigir, aos colégios e demais escolas do ensino particular e cooperativo, informação de natureza socioeconómica sobre os alunos que as frequentam (nível de escolaridade dos país e percentagem de alunos beneficiários de Acção Social Escolar, por exemplo), à semelhança do que sucede com os estabelecimentos de ensino básico e secundário do sistema público de educação?
Como concilia o ministro Nuno Crato esta duplicidade de critérios com a proclamação e defesa de uma concepção una e abrangente de sistema educativo, que não diferencia o público do privado na relação com o Estado, ao qual caberia unicamente assegurar o cumprimento do direito à Educação, no matter how?
2. Por que continuam os órgãos de comunicação social a elaborar rankings que misturam, de forma superficial e leviana, resultados de escolas públicas e do ensino privado, quando toda a gente sabe que o principal factor explicativo das hierarquias obtidas decorre das diferenças de contexto socioeconómico,
não sendo por isso sério nem credível elencar estabelecimentos de ensino a partir da simples arrumação de resultados dos exames?
Não deveriam os meios de comunicação social que se dedicam a estes exercícios (e unidades de investigação que se lhes associam) recusar-se a produzir rankings conjuntos (com escolas públicas e privadas), até que
o Ministério da Educação se digne assegurar a disponibilização de dados que permitam calibrar adequadamente, para os dois sistemas, os resultados nos exames com os dados de caracterização da origem socioeconómica dos alunos?
3. Que explicação minimamente aceitável tem Nuno Crato para justificar que as bases de dados com os resultados dos exames (e respectiva informação complementar), fornecidas aos órgãos de comunicação social,
não se encontrem disponíveis online (na página do MEC ou da DGEEC, por exemplo), de modo a permitir que quaisquer investigadores, unidades de investigação ou simples cidadãos a elas possam ter acesso,
não ficando assim dependentes das análises e exercícios de construção de rankings efectuados pelos órgãos de comunicação social?
Há uma resposta relativamente simples para estas três questões:
é que o segredo, deliberado ou cúmplice,
é parte integrante da alma dos negócios privados em Educação.
( por Nuno Serra às 3.12.14 ,Ladrões de B.)
Cobardia e falta de escrúpulos
(-por josé simões, http://derterrorist.blogs.sapo.pt/ 6/1/2015)
education pencil.jpg
É dado por todos aceite que, como acontece com outras profissões – médicos, pedreiros, engenheiros, motoristas, arquitectos, mecânicos, etc. , etc. , não cabe ao Estado assegurar o pleno emprego aos professores ou, dito de outra maneira, ser professor não pode, nem deve, ser sinónimo de emprego no Estado até ao dia da reforma.
Daí até à falta de escrúpulos e à cobardia política dos fundamentalistas ideológicos do Estado mínimo e subconcessionado a entidades e empresas privadas,
da deslealdade para com milhares de professores com anos de carreira docente por parte de quem administra temporariamente o Estado,
escondido atrás de uma “prova de avaliação docente”...
vai um bocado assim, tamanho de um país que não votou neste programa político.
«[...] nas condições em que se realiza, a PACC afigura-se "como uma iniciativa isolada, cujo
propósito mais evidente parece ser o impedimento ou obstaculizar o acesso à carreira docente".
[...]. "Em nenhum momento a PACC avalia aquilo que é essencial:
a competência dos professores candidatos para esta função".
Eça Essa é que é essa eça (?) Hesse? Pá, não sei: çou prufeçor
Como defendo que os professores devem ser um escol, a flor das nossas instituições de ensino e das profissões — acrescentada do gosto e do talento para lidar com alunos com esta ou aquela idade —, fico particularmente impressionado com os testes psicotécnicos a que agora são obrigatoriamente submetidos para entrar (ou permanecer) nas malhas do ensino.
Aqui há uns anos (antes do Decreto Regulamentar respetivo, o 26 de 2012) pediram-me que avaliasse um conjunto de colegas, com uma condição: não metia o pé nas suas aulas. Há dois tipos de avaliação do exercício docente: presencial e não presencial. A minha era do segundo tipo.
Inteirei-me da forma como a coisa era feita: havia uns formulários a preencher, com (e atente-se ao vocabulário) «Dimensões», subdivididas em «Domínios», com «Descrição/Avaliação da Actividade Realizada» (a atividade ainda tinha um «c») e, para rematar, «Evidências».
As Dimensões eram, afinal, (1)«Vertentes»: vertente profissional, social e ética, (2)«Desenvolvimentos» (parte I): desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, (3)«Participações»: participação na escola e relação com a comunidade educativa, e (4)«Desenvolvimentos» (parte II): desenvolvimento e formação profissional ao longo da vida.
A primeira dimensão (só um bocadinho mais de paciência, caro Leitor, que já começo o fogo de artifício propriamente dito) refletia-se em três domínios: (1)«Compromisso com a construção e o uso do conhecimento profissional», (2)«Compromisso com a promoção da aprendizagem e do desenvolvimento pessoal e cívico dos alunos», e (3)«Compromisso com o grupo de pares e com a escola».
A segunda dimensão (estamos quase…) incidia em mais quatro domínios: (1)«Preparação e organização das actividades lectivas» (os dois últimos «c» podem ser utilizados pelo Leitor numa ocasião de carência, se assim o entender), (2)«Realização das actividades lectivas«, (3) «Relação pedagógica com os alunos» e (4)«Processo de avaliação das aprendizagens dos alunos». Os pontos 2 e 3 eram, por razões óbvias, excluídos da minha atuação como avaliador sem presença na sala de aula.
A terceira dimensão (está a escaldar!…) versava os três domínios seguintes: (1)«Contributo para a realização dos objetivos do Projecto Educativo e dos Planos Anual e Plurianual de Actividades», (2) «Participação nas estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica e nos órgãos de administração e gestão» e (3)«Dinamização de projetos de investigação, desenvolvimento e inovação educativa e sua correspondente avaliação».
A quarta dimensão tinha de ser… o tempo!: «Formação contínua e desenvolvimento profissional».
Como é que eu lidava com isto tudo? Ora bem: Cada um dos domínios era esclarecido por indicadores e descritores (de que vou dar um exemplo mais adiante), premiado com uma quantificação e — coisa importante — fundamentado por uma evidência (mais uma vez a linguagem). A «evidência» é o fenómeno com existência física comprovada: não basta afirmar «vi uma senhora com doces olhos que se dirigiu a mim num clarão de luz e me interpelou dizendo "António, são 5 horas e 58 minutos, menos uma hora nos Açores, e presta atenção ao que te vou confidenciar"». É necessário captar a senhora em vídeo e passar pela secretaria da escola para dar veracidade à gravação. O professor afirma que em novembro fez uma ação de formação no Instituto Superior Técnico tendo saído de lá com um doutoramento numa área da engenharia de materiais? Sim senhor, mostre lá o canudo. Fez uma visita de estudo com os alunos de Sociologia à Disneyland de Paris? Ok: exiba os bilhetes e os bonés do rato Mickey.
Vamos, então, aos descritores; pego logo no segundo, e adiantemos serviço: trata-se do «Desenvolvimento do ensino e da aprendizagem». São listados indicadores: «Correcção científica, pedagógica e didáctica da planificação das actividades lectivas», «Planificação do ensino de acordo com as finalidades, as aprendizagens previstas no currículo, a rentabilização dos meios e recursos disponíveis e a articulação curricular». Os descritores e os níveis de desempenho respetivos são estes:
(1)«Planifica as actividades lectivas com correcção científica, pedagógica e didáctica, demonstrando uma articulação
...
...articulação lógica e coerente dos diferentes domínio curriculares — Excelente»;
(2)«Intermédio — Muito Bom»;
(3)«Planifica as actividades com correcção científica, pedagógica e didáctica — Bom»;
(4)«Intermédio — Regular»;
(5)«Demonstra graves inconsistências na planificação, sem articulação evidente dos diferentes domínios» — Insuficiente.
Topam?
Vá lá; mais um para o caminho, que está frio: desta vez sobre o «Processo de avaliação das aprendizagens dos alunos». Os indicadores: «Desenvolvimento de actividades de avaliação das aprendizagens, para efeitos de diagnóstico, regulação do processo de ensino e avaliação e certificação de resultados», «Promoção de processos de auto-regulação nos alunos que lhes permitam apreciar e melhorar os seus desempenhos». E, novamente, os descritores e níveis:
(1)«Mobiliza diversas modalidades de avaliação (diagnóstica, formativa, sumativa, auto-avaliação) com regularidade, adequação e rigor, construindo e aplicando instrumentos de avaliação diversificados e representativos dos critérios de avaliação definidos em departamento curricular e aprovados em Conselho Pedagógico — Excelente»;
(2)«Intermédio — Muito Bom»;
(3)«Mobiliza diversas modalidades de avaliação (diagnóstica, formativa, sumativa, auto-avaliação) com regularidade, adequação e rigor, construindo e aplicando instrumentos de avaliação representativos dos critérios de avaliação definidos em departamento curricular e aprovados em Conselho Pedagógico — Bom»;
(4)«Intermédio — Regular»;
(5)«Mobiliza com incorreções graves as modalidades de avaliação» — Insuficiente».
Pescam?
Vamos, então, à pirotecnia: o resultado de todo este processo é que o professor avaliado nunca poderia ter nota superior a Bom. Porquê? Porque não existia avaliação presencial.
Assim sendo, o que poderia acontecer? Que qualquer indivíduo inteligente poderia recolher, de entre o programa aprovado e meia dúzia de sugestões dadas pelos próprios livros adotados — com a respetiva ganga de orientações para a planificações de aulas, execução de testes e fichas, e receituários variados —, a estrutura do seu relatório final; esta seria facilmente verificável pelos sumários e avaliações sortidas feitas aos alunos. Claro, também estaria alinhado com os critérios de avaliação da escola. Imaginemos, agora, que este professor produzia turmas com resultados medianos que, em exame, se iam abaixo com «os nervos» (surgem como nos bifes: quando são examinados). Somente o relatório, fechado antes dos exames, nada tinha a ver com eles. O Bom seria o máximo: 7,9 em 10.
Ao lado, um colega mais descuidado gizaria, à última hora, um relatório feito à pressa, com uma ou outra falha na descrição da atividade, com ausência desta ou daquela evidência ou, simplesmente, lapsos de memória. Baseando-se na sua boa intuição ou na experiência de anos anteriores, produzia a sua planificação de aulas por grandes blocos soltos, sem registos minuciosos. Seja, no entanto — por hipótese —, que produzia turmas com resultados igualmente medianos mas que, em exame, superavam a classificação interna da frequência, fazendo aquilo que se designa por «brilharete». O Bom seria inferior, porque o relatório, que foi entregue antes dos exames, estava bem redigido, mas apresentava deficiências: digamos, 7 em 10.
Vamos admitir que o professor avaliador fez o seu trabalho com correção, de acordo com as boas práticas, definidas pelo ministério, que a escola lhe transmitiu. Em agosto, adormecia, prazenteiro, numa espreguiçadeira algarvia, beirã, ou transmontana (só a espreguiçadeira é de rigueur), aliviado por se ver livre de critérios e tabelas que, muito simplesmente, estava longe de poder verificar: era-lhe vedada a entrada numa sala de aula dos colegas avaliados; nunca os viu ensinar e avaliou-os a partir de paleio de sanzala; enfim, perdão: baseando-se em relatórios de atividade.
O professor medíocre e cuidadoso safou-se com 7,9; o professor excelente mas menos atento à papelada ficou pelos 7. O palerma é o segundo, que não se precaveu e fez um relatório assim-assim. Ora o relatório é que era avaliado (ó palerma!). A comunidade respira fundo: tudo está bem.
Agora, a confidência, a fechar a estória: resolvi o problema cumprindo a lei, mas atribuindo, de acordo com os visados, a mesma nota aos
...
...
...a mesma nota aos avaliados que cumpriram o guião — e foram todos. Sei, por portas e travessas, que eram diferentes como professores, mas não sou abelhudo ao ponto de ter arranjado maneira de urdir um inquérito paralelo para fazer a folhinha a eventuais patifes, levando os outros à glória. Nada disso transparecia proporcionalmente, de qualquer forma, nos relatórios entregues.
Era aquela a bambochata que o ministério encomendara, e teve.
Não serviu para nada.
O Bom, de qualquer forma, foi passado por inerência do cargo a milhares de professores antes disso; limitei-me a produzir mais uns quantos. Não voltei a ser solicitado — se calhar — porque as notas todas iguais irritaram alguém.
A novidade, agora, é os psicotécnicos!
Nunca uma alma, em ministério de que eu me lembre, cuidou de estabelecer uma estrutura de ações de formação rotineiras, para grupos inteiros das escolas, sobre didáticas das disciplinas ensinadas. Não se tornava necessário para quem, em tempos, emergia de um estágio pedagógico tradicional (isso era feito, longamente, lá dentro), mas é absolutamente necessário hoje, se o professor saiu de uma dessas trapalhadas que por aí há a «formar» professores (acreditadas por sucessivos ministros).
Não é feito, mas é feita uma espécie de testezinhos psicotécnicos como expediente para verificar capacidades perfeitamente elementares, lógicas e de expressão na língua materna. Como dizia Carlos Fiolhais nestas páginas, «para excluir os supostamente piores».
Ora o ensino público nacional tem considerável qualidade, apesar das deficiências todas que se lhe aponta (ao sistema, à formação e seleção de professores, às condições materiais de funcionamento, à gestão do curriculum e dos programas, e por aí fora). Essa qualidade é-lhe emprestada, unicamente, por um corpo docente empenhado que continua a sustentar tão bem como pode, com dedicação aos alunos, com brio profissional, e com uma paciência notável, toda a casta de asneiras que sucessivos ministérios põem de pé.
Retire-se-lhe uma resma de papéis idiotas da frente substituindo-a por uma boa ação de formação sobre as matérias que ensina diariamente, e logo se verá o professor a bendizer o tempo empregue, em vez de maldizer a vida e a burocracia. Mas é mais fácil fazer testezinhos manhosos do que didática.
O presente ministério, na sua prática corrente, desvaloriza algumas das boas medidas tomadas com um comportamento geral de espertice saloia: sim, vai apanhar os professores impertinentes num ardil de testezinhos manhosos; sim, vai promover uma cultura da «utilidade», reforçando os conteúdos que, «realmente», servem para alguma coisa; sim, vai desfazer-se dos projetos de investigação que gastam dinheirinho público sem gerar retorno aparente imediato (castigando e premiando os projetos de investigação «como um mestre-escola do antigamente», no dizer de José Vítor Malheiros, citado no De Rerum Natura); sim, vai regular-se por uma enérgica política de avaliação de resultados, transferindo para instituições de ensino critérios do mundo empresarial. Sim, vai pôr Baião a falar Inglês, porque Baião, assim, fica melhor. Diz quem? Diz quem sabe. Holy Cross of the Douro - Bayou terá a sua EQ Foundation, claro (correspondendo i-quiu a um escritor inglês do século 19 chamado, por extenso, Eça de Queirós: escreveu King Solomon's Mines). No restaurante, o arroz de favas é divino (divine)!
O ministério da educação (assim, com letra minúscula) consegue ser sempre igual a si mesmo, por mais que mudem os ministros, porque estes, de conluio com aquele, entendem que devem legislar com mão alvar pondo-se, de seguida, à espreita, em vez de fazerem o seu trabalho — resolvendo.
Os professores precisam de boa formação, não de chicanes.
Se o ministério se sujeitasse aos seus próprios critérios de avaliação de figurino empresarial, estaria despedido em dois dias.
Ah: e com justa causa!
------------------------------------
(-por António Mouzinho, 11/1/2015,
http://dererummundi.blogspot.pt/2015/01/eca-essa-e-que-e-essa-eca-hesse-pa-nao.html#comment-form )
Comentar post