Mais um
referendo, mais uma derrota para o europeísmo realmente existente, ou seja, para o imperialismo na versão actualizada de comércio dito livre: o
“acordo” UE-Ucrânia foi chumbado na Holanda. Entretanto, o próximo referendo é no Reino Unido e há quem
não desista:
“A
UE está irreversivelmente comprometida com a privatização, os cortes no Estado social e a erosão dos direitos sindicais. É por causa disto que as forças dominantes do capitalismo britânico e a maioria da elite política são a favor da permanência na UE. A UE está irrevogavelmente comprometida com a
Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) e com outros
acordos comerciais (CETA, ...), que representam a
maior transferência de poder para o capital a que assistimos numa geração.”
Vale a pena ler a
entrevista a João Ferreira do Amaral no i:
“
Não temos futuro dentro da zona euro. Sou um adversário muito grande desta
moeda única porque põe em causa três aspetos que, para mim, são fundamentais: a independência nacional;
a democracia, porque reduz brutalmente as opções de política económica e social ao dispor de um país; e
o próprio Estado social, porque os seus maiores inimigos são o desemprego e a estagnação económica. Põe em causa tudo o que, para mim, é valioso na política.”
Dada a desgraçada realidade da divergência económica e da subalternidade política, agora é um pouco mais fácil defender pontos deste tipo do que era, por exemplo, em 1995. Numa altura em que a sabedoria convencional andava toda contentinha com as ficções da união, da “partilha da soberania” ou do “pelotão da frente”, ficções que ainda se arrastam por aí já sem qualquer confiança ou futuro, João Ferreira do Amaral escrevia heresias sensatas destas:
“O
Tratado da União Europeia constituiu, no domínio económico, um verdadeiro golpe de Estado, ao
impor concepções e instituições ultra-liberais aos cidadãos europeus apanhados desprevenidos. E, nem o facto deste golpe ter sido depois legitimado pelas ratificações parlamentares e por alguns referendos, pode esconder a realidade do erro histórico que se cometeu, só possível devido ao
défice democrático na Europa. A parte económica do Tratado constituirá uma amarga experiência para os europeus que constatarão mais uma vez, à sua custa, que subordinar a concertação de interesses nacionais às abstracções ideológicas é a via mais rápida para o desastre.”
Foi por estas e por outras que o Ricardo Paes Mamede e eu (João Rodrigues) escrevemos
este capítulo sobre o contributo de João Ferreira do Amaral para um
livro em sua homenagem.
E é precisamente porque não temos futuro nesta zona que é irresistível pensar no pós-euro: