Os esquecidos
(14/07/2015 por José Gabriel, Aventar)
No meio de todos os debates cá e lá, das tempestades noticiosas, dos ruído dos predadores tentando dilacerar as presas, não se ouvem novas desta singela e nobilíssima realidade:
na hecatombe trágica dos salvos e mortos do Mediterrâneo, muitos deles
vítimas das “primaveras” patrocinadas pela gula imperial,
quase todos os náufragos são recebidos pela Grécia e pelo Sul de Itália, áreas de que sabemos bem as carências e o desespero,
mas também uma capacidade de solidariedade que é uma lição para as fortalezas do Norte
, cujos navios chegam a recolher refugiados que, em vez de serem conduzidos para o país “salvador”, são imediatamente entregues a estes dois países e esquecidos, melhor, recalcados.
Assim, Grécia e o Sul de Itália vão acumulando um número gigantesco de refugiados,
enquanto a Europa finória vai garantindo que pensará no assunto.
Quando tiver tempo e uns trocos nos bolsos.
Ou meios para construir muros, que é sempre um recurso dos imbecis.
Enquanto sangram a vitalidade dos acolhedores em operações da mais vil chantagem.
Dos nobres valores alardeados pela Europa, vai sobrando só o da moeda que – ironia do destino – foi inventada pelos gregos ancestrais.
Entretanto “os tiranos fazem planos para mil anos”, como dizia o poeta.
Sem ver que o fim pode estar para muito mais cedo.
Se deixarmos.
Leituras
------ «A humilhação a que o governo grego foi sujeito durante a interminável reunião do Conselho Europeu vai ficar na história como o dia em que se perderam todas as esperanças na bondade do projecto europeu.
A Alemanha torturou um governo eleito, obrigando-o a capitular nas mais humilhantes condições para mostrar quem manda e quem obedece. (...)
O que todo o processo nos ensina também é que não vale a pena prometer lutar contra a austeridade sem um plano B.
Foi esse o pecado mortal do Syriza: não ter reconhecido à partida que um projecto antiausteridade não se faz dentro do euro.
O Syriza foi eleito para permanecer no euro e acabar com a austeridade, dois programas incompatíveis, como agora ficou clarinho.
Não vale a pena nenhum partido candidatar-se a dizer que não aceita a austeridade, como fizeram tantos socialistas, a começar por François Hollande, com resultados nulos.
O momento da clarificação chegou.»
Ana Sá Lopes, Deustschland über alles. Toda a Europa está ocupada
------- «O que a Alemanha fez, sob a direcção de Schäuble, a aquiescência de Merkel, a cumplicidade gananciosa de meia dúzia de países e a assistência de uns quantos servos solícitos
como Passos Coelho e a hesitação de uns políticos medrosos, como Hollande e Renzi,
foi a ocupação da Grécia e a substituição do que restava de democracia por uma ditadura financeira.
Não foi uma ocupação militar, mas foi uma ocupação, que roubou a Grécia da réstia de soberania que lhe sobrava.
(...) A austeridade não é um remédio amargo que a Grécia não quer tomar.
É uma invasão de um país por meios não militares, uma usurpação da democracia, uma substituição de governos democráticos e uma forma de eternizar a submissão política dos países.
A austeridade é o novo colonialismo.
E a União Europeia tornou-se a sua ponta de lança.»
José Vítor Malheiros, O fim-de-semana em que a Europa morreu
-------«O acordo que ontem foi imposto, sob ameaça de expulsão, traz de volta a austeridade e sequestra activos fundamentais do Estado grego.
Curiosamente, nessas condições, traz também a discussão da reestruturação da dívida grega, que Schäuble tinha garantido ser contra os Tratados.
(...) A esta Europa, acima de tudo, interessa a destruição da soberania nacional.
Hoje foi um mau dia para a Europa e para a democracia europeia.
Mas deixemo-nos de confortos.
Não tivesse sido esta luta tão isolada e talvez o resultado fosse diferente.
Hoje, não apenas nós, toda a gente conhece as fronteiras da chantagem.
Nessa cartografia o espaço da política depende de nós mais do que nunca.
Os poderosos e os seus colaboradores não querem democracia.
Temos a obrigação de fazer muito mais.
Sabemos hoje, como sabíamos ontem e ignorámos, que
a derrota do capitalismo global precisa de mais do que um governo e um primeiro-ministro.»
Marisa Matias, E agora, Grécia? E agora, nós?
( por Nuno Serra, Ladrões de B., 14/7/2015)
(July 14, 2015 by yanisv
http://yanisvaroufakis.eu/2015/07/14/on-the-euro-summits-statement-on-greece-first-thoughts/#more-9121 )
In the next hours and days, I shall be sitting in Parliament to assess the legislation that is part of the recent Euro Summit agreement on Greece. I am also looking forward to hearing in person from my comrades, Alexis Tsipras and Euclid Tsakalotos, who have been through so much over the past few days. Till then, I shall reserve judgment regarding the legislation before us.
Meanwhile, here are some first, impressionistic thoughts stirred up by the Euro Summit’s Statement.
◾A New Versailles Treaty is haunting Europe – I used that expression back in the Spring of 2010 to describe the first Greek ‘bailout’ that was being prepared at that time. If that allegory was pertinent then it is, sadly, all too germane now.
◾Never before has the European Union made a decision that undermines so fundamentally the project of European Integration. Europe’s leaders, in treating Alexis Tsipras and our government the way they did, dealt a decisive blow against the European project.
◾The project of European integration has, indeed, been fatally wounded over the past few days. And as Paul Krugman rightly says, whatever you think of Syriza, or Greece, it wasn’t the Greeks or Syriza who killed off the dream of a democratic, united Europe.
◾Back in 1971 Nick Kaldor, the noted Cambridge economist, had warned that forging monetary union before a political union was possible would lead not only to a failed monetary union but also to the deconstruction of the European political project. Later on, in 1999, German-British sociologist Ralf Dahrendorf also warned that economic and monetary union would split rather than unite Europe. All these years I hoped that they were wrong. Now, the powers that be in Brussels, in Berlin and in Frankfurt have conspired to prove them right.
◾The Euro Summit statement of yesterday morning reads like a document committing to paper Greece’s Terms of Surrender. It is meant as a statement confirming that Greece acquiesces to becoming a vassal of the Eurogroup.
◾The Euro Summit statement of yesterday morning has nothing to do with economics, nor with any concern for the type of reform agenda capable of lifting Greece out of its mire. It is purely and simply a manifestation of the politics of humiliation in action. Even if one loathes our government one must see that the Eurogroup’s list of demands represents a major departure from decency and reason.
◾The Euro Summit statement of yesterday morning signalled a complete annulment of national sovereignty, without putting in its place a supra-national, pan-European, sovereign body politic. Europeans, even those who give not a damn for Greece, ought to beware.
◾Much energy is expended by the media on whether the Terms of Surrender will pass through Greek Parliament, and in particular on whether MPs like myself will toe the line and vote in favour of the relevant legislation. I do not think this is the most interesting of questions. The crucial question is: Does the Greek economy stand any chance of recovery under these terms? This is the question that will preoccupy me during the Parliamentary sessions that follow in the next hours and days. The greatest worry is that even a complete surrender on our part would lead to a deepening of the never-ending crisis.
◾The recent Euro Summit is indeed nothing short of the culmination of a coup. In 1967 it was the tanks that foreign powers used to end Greek democracy. In my interview with Philip Adams, on ABC Radio National’s LNL, I claimed that in 2015 another coup was staged by foreign powers using, instead of tanks, Greece’s banks. Perhaps the main economic difference is that, whereas in 1967 Greece’s public property was not targeted, in 2015 the powers behind the coup demanded the handing over of all remaining public assets, so that they would be put into the servicing of our un-payble, unsustainable debt.
Uma opinião insuspeita:
[ Económico:
«Banca beneficiada pelo acordo da Grécia
O sector financeiro foi o mais beneficiado com a Grécia em modo "in euro".
Mas a instabilidade ainda paira.»
- M.T.Alves e M.Silvares ]
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Sem papas na língua
Palavras de Krugman
MADRID.- El premio Nobel de Economía de 2008, Paul Krugman, ha vuelto a criticar duramente al Eurogrupo y, principalmente, a Alemania por su actitud y sus exigencias durante las negociaciones sobre un tercer rescate de la economía de Grecia.
En opinión del reputado economista, "la lista de exigencias del Eurogrupo es una LOCURA" que provoca que "el proyecto europeo" haya sufrido "un golpe terrible, tal vez fatal".
"El proyecto europeo (un proyecto que siempre he alabado y apoyado) simplemente ha sufrido un golpe terrible, tal vez fatal.
Y piense lo que piense de Syriza, o Grecia, no fueron los griegos los que lo han dado", escribía este lunes Krugman en un artículo publicado en The New York Times y El País.
El premio Nobel considera que los términos del acuerdo impuestos por el Eurogrupo van "más allá de la VENGANZA PURA, la destrucción completa de la soberanía nacional y la falta de esperanza de alivio".
"Probablemente pretende ser una oferta que Grecia no pueda aceptar;
pero aun así, es una traición grotesca de todo lo que el proyecto europeo se suponía que representa", prosigue el economista.
Todo ello lleva a Krugman a preguntarse si hay una solución que pueda "sacar a Europa del borde del abismo", si alguien podrá volver a confiar en "las buenas intenciones de Alemania" y si Grecia puede lograr una salida "exitosa" de esta situación.
De momento, según el premio Nobel, lo único que ha quedado claro durante estas semanas "es que ser un miembro de la zona euro significa que los aCREEDORES pueden DESTRUIR su economía si se sale del redil".
"Es tan cierto como siempre que la imposición de duras medidas de austeridad y sin alivio de la deuda es una política CONDENADA al FRACASO sin importar lo dispuesto que esté el país a aceptar el sufrimiento.
Y esto a su vez significa que incluso una capitulación completa de Grecia sería un callejón sin salida", sentencia el autor.
(no Público.es , via http://otempodascerejas2.blogspot.pt/ 14/7/2015)
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Debate e lançamento, quinta-feira:
« DE PÉ, Ó VÍTIMAS DA DÍVIDA »
«De pé, ó vítimas da fome: assim começa a "A Internacional", o hino de todas as lutas de classes contra a exploração e todas as formas de opressão.
Se o espectro da fome continua a ser, em última instância, a expressão da compulsão capitalista que
pesa, de forma ainda hoje demasiado invisível, sobre todos os que de seu só têm a força de trabalho para vender,
também é verdade que o capitalismo, ao longo da sua história, foi criando outros mecanismos disciplinadores, de eficácia igualmente variável, que
incidem não só sobre as classes trabalhadoras, mas
também sobre os Estados, e mesmo sobre outras instituições económicas, em particular nas áreas mais subalternas do sistema mundial.»
Organizado por João Rodrigues e Nuno Teles, com textos de Costas Lapavitsas, Eugénia Pires, José Castro Caldas, José Guilherme Gusmão, Mariana Mortágua, Octávio Teixeira, Sara Rocha e Wolfgang Streeck, entre outros,
será lançado na próxima quinta-feira, 16 de Julho, nas instalações do STEC (Largo Machado de Assis, em Lisboa),
a partir das 18h30, o livro «De pé, ó vítimas da Dívida», publicado pelo Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) e pela Deriva.
Um dia teremos saudades da Merkel
(por F. Penim Redondo, 14/7/2015, http://dotecome.blogspot.pt/ )
Um dia teremos saudades da Merkel
Aquilo a que estamos a assistir, dia após dia, é ao lento declínio da Europa em termos da economia globalizada e da influência geopolítica.
À medida que a riqueza atávica vai sendo delapidada vão surgindo os despiques, as indisciplinas e as aberrações típicos das famílias decadentes.
Deixou de haver dinheiro para sustentar parentes ociosos ou viciados e as jóias da família vão sendo vendidas a árabes ou chineses, tanto faz.
A Europa, e o seu estilo de vida incomparável, caminha para o desastre inexorável perante
adversários que não têm escrupulos económicos, nem sociais, nem ambientais, nem sequer humanitários (vidé o ISIS, por exemplo).
Mas todos estes riscos, já de si gigantescos, são potenciados pela tibieza do poder político.
Basta comparar a autoridade e o poder da Comissão Europeia do senhor Junker com os seus concorrentes como Putin, Obama ou Xi Jinping.
À falta de um governo europeu politicamente legitimado é à senhora Merkel que tem cabido a ingrata tarefa de pôr ordem na casa e de impedir que proliferem os escapismos que a pobreza faz crescer por todo o lado.
Por causa disso a Merkel converteu-se no bode expiatório de todas as frustações.
Convinha, no entanto, que aqueles que a acusam de ser mandona percebessem que a Europa não padece de autoritarismo mas sim da vertigem das forças centrífugas.
O que nos espera não é uma Europa idílica, próspera e humanitária;
o que aí vem é a proliferação dos populismos à Syriza ou à Le Pen, com vários tons e matizes.
À medida que a decadência se aprofundar veremos substituir os partidos socialistas por populismos “de esquerda” e os partidos liberais por populismos de extrema direita.
A Grécia é um daqueles microcosmos que ajudam a perceber o cosmos.
A dívida “impagável” da Grécia não assusta a não ser como prólogo das dívidas “impagáveis” de Portugal, da Espanha, da Itália ou da França.
A rebeldia infantil do Tsipras não assusta a não ser como prólogo da rebeldia da senhora Le Pen, ou dos Verdadeiros Finlandeses ou do senhor Victor Orban (para falar só dos que já emergiram).
Do ponto de vista da sobrevivência do nosso modo de vida é preferível uma Merkel musculada à balcanização da europa pelos fanatismos e pelos nacionalismos.
Quando o empobrecimento e as suas sequelas levarem ao poder no Norte da Europa os partidos de extrema direita
e proliferarem no Sul da Europa os demagogos pseudo-revolucionários podemos estar certos de que uma nova guerra se aproxima.
A questão não é a Grécia...
(por AG , causa nossa, 14/7/2015)
"O problema não é a Grécia, está longe de o ser e nunca o foi.
Nem sequer é o euro, que era sobretudo um instrumento politico para integrar mais a Europa.
O problema é a Europa, esse projecto politico: como lembrou o Presidente Hollande, na noite de domingo,
o que está em causa é "a concepção da Europa".
A crise grega foi o sintoma, o estado da Europa é a doença.
A revista alemã 'Der Spiegel', numa capa da semana passada, apresentava Angela Merkel sentada sobre as ruínas da União Europeia.
Sob o título "A Senhora das Ruínas", estava a legenda:
"Se o euro falhar, a chancelaria Merkel falha também".
Com o frágil acordo de ontem, todos se mantêm em jogo, por enquanto.
Veremos o que dizem os europeus.
Veremos que Europa querem os alemães e que Alemanha aceitam os europeus.
A questão não é a Grécia, é a Alemanha!
Eu quero a Alemanha na Europa.
Mas não quero uma Europa alemã".
(Extracto da minha crónica de hoje no Conselho Superior, ANTENA 1. Que pode ser lida na íntregra aqui http://aba-da-causa.blogspot.be/2015/07/contra-uma-europa-alema.html)
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A Europa dos nossos dias
(por Diogo Moreira, 365forte, 14/7/2015)
“A Alemanha não consegue viver entre pares porque se sente superior aos seus pares
e não percebe por que raio deve respeitar os inferiores.”
-José Vítor Malheiros,
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OS DIAS DE ATENAS
Na iminência de receberem os salários de Julho em promissórias, por não haver dinheiro vivo,
os funcionários públicos gregos fazem hoje uma greve geral de 24 horas.
Dezenas de contentores com medicamentos permanecem fechados nos cais do Pireu:
não há dinheiro para os desalfandegar.
E o Governo não pode invocar necessidade pública?
O hipotético empréstimo intercalar que permitiria à Grécia manter a funcionar serviços básicos até obter o terceiro resgate, vai demorar.
Enquanto Atenas não tiver aprovado tudo o que lhe foi imposto, o Eurogrupo não mexe um dedo.
Os Parlamentos da Alemanha, Áustria, Eslováquia, Estónia, Finlândia e Holanda, que têm de aprovar o terceiro resgate da Grécia, vão entrar de férias.
Três ministros do Syriza anunciaram a sua demissão. Pános Kamménos, ministro da Defesa e líder do ANEL (o parceiro do Syriza), já disse que o seu partido vai chumbar no Parlamento o acordo obtido por Tsipras.
Entretanto, ontem, Atenas falhou mais um pagamento ao FMI.
Os bancos continuam naturalmente fechados.
O controlo de capitais impede centenas de empresas de funcionar.
Sem surpresa, Dijsselbloem, ministro das Finanças da Holanda, foi ontem reeleito presidente do Eurogrupo.
(por Eduardo Pitta, 14/7/2015,http://daliteratura.blogspot.pt/
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O mundo perfeito (do Fórum Económico Mundial/ Davos)
(-por josé simões, derTerrorist, 15/7/2015 )
fuck off.jpg
O mundo perfeito do capitalismo das marcas, do crescimento e da criação de riqueza a perder de vista, sem luta de classes, higiénico.
Apesar de tudo não tão perfeito quanto isso já que as relações familiares não são de tios para sobrinhos como nos Disney comics.
(Qatar) «It is an autocracy where women are discriminated against,
migrant workers are exploited and
free speech is curtailed.
But according to the World Economic Forum (WEF),
Qatar is a model of efficient government.» ... ...
"GRAXA E GREXIT"
( http://jumento.blogspot.pt/2015/07/graxa-e-grexit.html )
Os problemas da UE, já vão muito para lá da "graxa e grexit", que cada um use para melhor servir as sua conveniências.
Tsipras com todos os defeitos e virtudes, que se lhe são apontados, consoante o quadrante politico de onde vêm, conseguiu que finalmente as águas se começassem a separar e a tornar mais claras.
Lamento que os atuais lideres comunitários, de uma maneira geral não consigam ver para lá do umbigo.
A sua miopia politica, não os deixa ver que a UE, só tem viabilidade una e indivisível. sem alienar nenhum dos seus membros.
Será que estes senhores não têm a noção dos perigos múltiplos que rodeiam a EU?
Putin face á desunião patente na UE, já se deve estar a considerar de novo senhor da Ucrânia.
Entretanto, vai entreabrindo a porta aos gregos.
Os "camaradas" chinas, tendo em conta os ótimos negócios proporcionados pelo governo português já devem estar à espera que abram os saldos dos ativos gregos do "Fundo de Garantia".
A guerra santa dos fundamentalistas islâmicos, já rodeia a UE, de oriente a sul do Mediterrâneo .
A vaga de refugiados não para na direção do sul de Itália, a mais mediática, mas convém não esquecer que a Grécia tem, e recebe tantos refugiados, quanto a Itália.
Por mais que se esforce, o nosso engraxador de serviço não conseguirá limpar os sapatos aos seus senhores. Anda muita poeira no ar...............
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Graxa e Grexit
As grandes diferenças entre o Syriza e a direita portuguesa é que enquanto os radicais gregos apostaram numa estratégia que ao longo de cinco meses apostou no “grexit”, a direita portuguesa preferiu apostar na “graxa”.
Os resultados estão à vista a senhora Merkel conseguiu impor agora à Grécia algumas medidas que Portugal.
Passos Coelho até se poderia gabar de que também foi ideia sua curvar-se enquanto falava com modestos funcionários das troika, da mesma forma que foi também ideia sua ir além da troika.
Aquilo que foi imposto à Grécia foi mais ou menos aquilo que Passos Coelho adoptou sem que lhe tivesse sido feito qualquer ultimato.
...
... Nada se diz sobre a forma de resolução do problema da dívida,
ignora-se a necessidade de retomar o crescimento,
desprezam-se as consequências sociais.
Os países ricos estão ganhando com a crise, afastada uma reestruturação da dívida os países mais ricos do euro só têm a ganhar com esta situação,
os seus bancos ganham liquidez com a fuga dos depósitos dos países intervencionados,
as suas economias ganham milhões com a entrada de quadros altamente qualificados, com os orçamentos da Grécia e de Portugal
e uma boa parte da procura interna destes países é alimentada com bens importados dos seus parceiros.
A solução encontrada para Portugal e que Passos Coelho teve a ideia de fazer sua é a que interessa aos países ricos do Euro e até aos seus vizinhos, como o Reino Unido.
Vai-se adiando a crise e, entretanto, os recursos destes países vão sendo transferidos para o norte.
Quando a Europa enfrentar a necessidade de reestruturar as suas dívidas os prejuízos que daí possam resultar serão compensados pelos lucros que entretanto foram obtidos.
A verdade é que ninguém vê como Portugal ou a Grécia poderão sair deste pântano em que se estão enterrando.
A solução não está entre a graxa e o grexit e talvez não esteja entre mais austeridade ou menos austeridade,
estes países precisam de conseguir reter os seus recursos financeiros e humanos e apostar num ciclo de desenvolvimento assente na aposta de bens e serviços com maior valor acrescentado.
Isso implica investimento que absorva os quadros mais capazes e uma aposta na qualificação da mão de obra.
A solução dos problemas da Grécia e de Portugal não passa apenas por contas públicas que não obriguem à asfixia da economia, não passa apenas por crescimento económico, passa por políticas de desenvolvimento que apostem na criação de riqueza.
Contas públicas saudáveis não garantem desenvolvimento e nem sempre o crescimento económico significa mais criação de riqueza e mais competitividade.
A Grécia não foi expulsa do Euro.
(13/7/2015, http://maquinaespeculativa.blogspot.pt/2015/07/a-grecia-nao-foi-expulsa-do-euro.html )
Está alguém feliz com o acordo com a Grécia? Não me parece.
Teria sido melhor ter deixado que expulsassem a Grécia do euro? Não me parece.
A seguir à Grécia outros se seguiriam. E olhem que esteve perto.
Os socialistas europeus estiveram sempre bem ao longo deste processo? Não, não estiveram.
Mas acabaram por ser os socialistas que impediram que pregassem os gregos na cruz.
E - disto tenho orgulho - o SG do PS teve uma influência positiva na evolução da posição dos socialistas europeus, que,
depois de alguns terem dito alguns disparates, se afirmaram claramente contra empurrar a Grécia borda fora.
Faz sentido dizer que os gregos não deviam ter aceitado este acordo? Acho que não.
Não nos compete dar lições aos gregos, dizendo que eles não deviam ter aceitado o que aceitaram.
Isso seria muita arrogância nossa face aos gregos.
É fácil fazer revoluções com o sangue dos outros...
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Purgatório
(por Luís Naves, em 14.07.15, http://ofragmentario.blogs.sapo.pt/purgatorio-107909 )
Alexis Tsipras parece ter convencido os parceiros europeus de que será capaz de fazer uma transformação revolucionária na Grécia, acabando com o Estado clientelar, a corrupção e a evasão fiscal.
O Conselho Europeu evitou o Grexit, após uma maratona de negociações que dividiu a zona euro em dois blocos:
o vencedor, liderado pela França;
e o derrotado, chefiado pela Alemanha.
Apesar disso, a narrativa dominante é de que a Alemanha está a destruir a Europa, que o acordo só prolonga a agonia da Grécia e que o projecto da moeda única está mais do que condenado.
No fundo, ninguém acredita em Tsipras, que dependerá do apoio da oposição para fazer as reformas exigidas.
A Grécia será submetida a um programa de austeridade preparado pelos franceses e de concretização aparentemente impossível,
haverá quase de certeza resistência à mudança e talvez violência, mas os comentadores que sublinham estas possibilidades e criticam duramente a Alemanha estão
na realidade a apoiar os argumentos do ministro das finanças alemão, Wolfgang Schauble, que no Conselho Europeu defendeu o Grexit, considerando que este é inevitável
(e se não se pode evitar algo, então para que serve tentar o adiamento?)
A zona euro não tem cláusula de saída e pela primeira vez nas discussões surgiu um mecanismo hipotético para acomodar situações de bancarrota iminente:
chama-se "time out" (ou suspensão temporária do Euro) e coloca os países numa espécie de purgatório
onde são equiparados aos Estados com moeda própria ligada ao euro e que ainda não fazem parte da moeda única, embora por Tratado tenham obrigação de aderir um dia.
Para os comentadores, a hipótese de saída temporária é igual ao fim do mundo, mas o purgatório parece ser um mecanismo capaz de
resolver a rigidez da moeda única, forçando os países ao rigor orçamental e permitindo ajustamento mais rápido por desvalorização cambial.
É no fundo um sair sem sair e, caso não seja possível estabilizar um novo governo em Atenas, o assunto voltará dentro de semanas ou meses.
------------ Partidos políticos
"Um idiota é um idiota.
Dois idiotas são dois idiotas.
Dez mil idiotas são um partido político."
~ Franz Kafka
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Um dia excelente!
Então a Grécia tem um acordo, que é completamente maluco.
Quando o drama (re)começou, a minha chefe perguntou-me o que é que eu achava que ia acontecer. Eu disse que ia haver barulho e depois um acordo à moda do costume.
E eu estava 100% correcta, ou seja, justifiquei o meu salário. Gosto!
A cereja no topo do bolo é que na Bloomberg acabaram de chamar aos dirigentes da UE de loucos. E usaram a citação do Einstein. Ah, pá, foi o que eu postei no outro dia.
Eu sei que em Portugal temos de ser humildes, especialmente se formos mulheres. Que se lixe a humildade. Hoje foi um dia óptimo para mim...
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Afinal era "business as usual"
Sra. Merkel, podia ter dito há mais tempo que toda esta luta de gatos assanhados era normal.
Diz Angela Merkel que o acordo em Bruxelas não foi "nada de especial", apenas envolvia muito dinheiro.
Será que posso acreditar em si?
Não foi você que anunciou o fim da crise há vários anos e que a saída da Grécia estava fora de questão?
O problema das coisas normais é que tendem a recorrer com alguma frequência...
Por falar em normalidade, depois de cinco anos de crise permanente--
acho que uma crise permanente de cinco anos deixa de ser crise para ser status quo; mas divago, como de costume--
, já observámos alguns comportamentos recorrentes.
Acho que o que vem a seguir a um acordo com a Grécia é alguém na Alemanha se virar para Portugal e
dizer que nós não andamos muito bem e que podemos muito bem ver-nos gregos!
(por Rita I Carreira, http://destrezadasduvidas.blogspot.pt/ 13/7/2015)
Sem alternativa à economia de mercado?
(-Maurício Castro , 15 /7/2015, Manifesto 74)
Assim de contundente foi o líder da alternativa eleitoral ao bipartidarismo espanhol vigorante, em declaraçons recentes ao The Wall Street Journal. Num ataque de sinceridade que deveríamos agradecer, Pablo Iglesias afirmou que “nom há umha verdadeira alternativa à economia de mercado”.
Umha sentença que dá continuidade a um pensamento constante nas diversas correntes de pensamento defensoras do sistema em vigor. Talvez a mais conhecida e divulgada tenha sido nas últimas décadas a do filósofo japonês Francis Fukuyama, pensador da direita neoliberal, no seu best seller do fim dos anos 80: “O fim da história”. Eram os tempos da queda do chamado campo socialista no leste da Europa. Lembram?
Porém, na verdade, a origem desse pensamento remonta nada menos que ao maior filósofo do pensamento burguês nascente, a cavalo entre os séculos XVIII e XIX: Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que o formulou, inspirando-se na ascensom das ideias de progresso trazidas primeiro pola Revoluçom Francesa e depois pola extensom do império napoleónico frente ao esmorecimento do Antigo Regime. O genial filósofo idealista alemám afirmava que a monarquia liberal e democrática traria o equilíbrio final em que a civilizaçom mais avançada, a europeia e burguesa, atingiria o fim da história sob um Estado situado por cima das classes e representativo de todas elas.
Bebendo da inesgotável fonte hegeliana, mas também ultrapassando o seu idealismo, outro alemám, Karl Marx, conseguiu desmontar, com base no rigor analítico e na evidência histórica, essa tese do velho Hegel, situando o Estado burguês e o modo de produçom capitalista nos termos reais que lhes correspondem, como mais um entre os diferentes que já tenhem existido na história da humanidade, sempre ao serviço da classe dominante em cada modo de produçom.
Como as anteriores, a conceçom do mundo burguesa carateriza-se pola autoconsideraçom como a melhor, a definitiva e a única possível. Tal como no interior das sociedades escravistas ninguém tinha dúvidas sobre o seu caráter universal e eterno, também o feudalismo se caraterizou por idêntica autoconsideraçom, até um e outro serem ultrapassados polo desenvolvimento das suas contradiçons internas num desenrolar histórico das capacidades e necessidades humanas por cima dos espartilhos impostos polas relaçons sociais de cada época.
Umha versom espanhola e vulgarizada da mesma ideia de Hegel e Fukuyama foi também formulada, como sabemos, polo presidente Felipe González: “Vivemos no melhor dos mundos possíveis”, afirmou o principal artífice da incorporaçom do Estado espanhol a um neoliberalismo cujas conseqüências padecemos em toda a sua crueza.
Sintomaticamente, Pablo Iglesias, o líder carismático que está a encarreirar os indignados para o rego da institucionalidade pró-sistema, também afirma agora o seu compromisso com a conceçom do mundo burguesa-capitalista, que como todas as anteriores é considerada a única possível, universal e eterna, mesmo em plena crise terminal como a que vivemos.
A importáncia dessa afirmaçom nom está na curiosa equiparaçom com os dous antecedentes referidos: Fukuyama e González. O verdadeiramente relevante é o significado dessa leitura da realidade política sobre a qual operam Pablo Iglesias e o seu novo partido: o capitalismo é insuperável e, portanto, só cabem políticas compensatórias das suas intrínsecas desigualdades e injustiças. A redistribuiçom da riqueza, os subsídios aos setores excluídos e a “democratizaçom” de um sistema de exploraçom inevitável.
É essa, no fundo, umha aberta identificaçom com os restos do que historicamente foi a social-democracia. Um movimento que a inícios do século XX aspirou a um progresso linear que conduzisse ao socialismo através do desenvolvimento progressivo e mundial do próprio capitalismo. Que mais tarde deixou atrás o objetivo socialista para se conformar com umha razoável democratizaçom e distribuiçom da riqueza no centro capitalista, numha miragem que pareceu real durante as décadas de Estado de Bem-Estar a cujo fim agora assistimos.
Com aquela social-democracia convertida definitivamente em social-liberal, (i.e, neoliberal)...
Sem alternativa à economia de mercado?
(-Maurício Castro , 15 /7/2015, Manifesto 74)
http://manifesto74.blogspot.pt/2015/07/sem-alternativa-economia-de-mercado-por.html#more
... ...
...
...Com aquela social-democracia convertida definitivamente em social-liberal (i.e., neoliberal), as lideranças neo-reformistas do movimento indignado levantam o punho para reclamar o retorno a 2007, antes do rebentamento da atual crise. Eis o programa de Podemos e, no nosso país, das candidaturas cidadanistas que tam bons resultados obtivérom nas recentes eleiçons municipais.
Nom som relevantes as diversas doses de boa vontade ou oportunismo que podam alimentar essas iniciativas críticas de esquerda reformista. O relevante está na declaraçom de parte que agora Pablo Iglesias verbaliza com a sua frase: “nom há alternativa à economia de mercado”.
Podemos e o chamado cidadanismo, tal como o seu referente grego, Syriza, assumem a conceçom de vida burguesa e a impossibilidade material de quebrar a lógica mercantil-capitalista, hoje representada para nós, como galegos/as, polos poderes institucionalizados na Uniom Europeia, na NATO, na uniom monetária e no Estado espanhol.
Com essa limitaçom autoimposta, nada de substancialmente diferente à decadente barbárie capitalista poderá vir, como nunca véu, da mao de quem nom aspira a ser nada mais que a sua consciência crítica.
-------- *Autor Convidado
Maurício Castro, membro do Colectivo Editor do Diário Liberdade e militante da esquerda independentista galega
A conquista da hegemonia ideológica, condição para a revolução democrática
(-por João Vasconcelos-Costa, 27/5/2015 , http://no-moleskine.blogspot.pt/2015/05/a-conquista-da-hegemonia-ideologica.html )
(Comunicação ao “Congresso da Cidadania. Ruptura e Utopia para a Próxima Revolução Democrática”, Associação 25 de Abril, 2015)
O título deste congresso contém uma expressão pouco habitual: Revolução democrática. A expressão é ambígua. Pode ser, por exemplo, para Piketty, algo de indefinido, idealista, vagamente inspirado na mera vitória do Syriza. Por mim, tomo-a como rotura qualitativa com a situação vigente e não obrigatoriamente de acordo com as normas vigentes.
Entenda-se que, como sempre que se fala em revolução, não é obrigatório que se esteja a referir uma forma violenta de revolução. O que significa é uma mudança radical da filosofia, organização e funcionamento do sistema democrático.
Não é que não seja positiva uma reclamação mais simples de mais democracia, mas o necessário é uma alteração radical do contexto político, social e económico em que ela actua.
Embora a democracia não se esgote no Estado, ele é a sua expressão essencial. Em relação à reforma do Estado inserida na revolução democrática, certamente que haverá muitas propostas concretas no outro painel. Agora, preocupa-me mais o poder: quais as constrições a essa revolução, que ideias para as superar, que forças para lutar.
O capitalismo, nesta sua fase de afirmação hegemónica sob a forma de neoliberalismo, apropriou-se da democracia, reduzindo-a um jogo de espelhos em que a cidadania não tem significado real.
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Em conclusão
Em muitos aspectos, e observando-se mudanças sociais muito aceleradas, não há ainda resposta precisa para essa tarefa. É um processo de reconstrução que se vai fazendo, necessariamente com desdogmatização do que nos tem sido imposto como pensamento único.
O que deixo são apenas algumas posições de princípio, mas tendo em conta que
1.num terreno ainda pouco desbravado e dominado por esquematismos, exige-se a articulação eficaz entre reflexão e debate teórico, e a validação pela acção política.
2.as ações de defesa dos interesses materiais e sociais dos trabalhadores, reformados e desempregados são inseparáveis da consciencialização e da acção para a revolução democrática.
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A conquista da hegemonia ideológica, condição para a revolução democrática
(-por João Vasconcelos-Costa, 27/5/2015 , http://no-moleskine.blogspot.pt/2015/05/a-conquista-da-hegemonia-ideologica.html )
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A ordem democrática, como toda a ordem política, faz parte do sistema estrutural que serve o poder económico.
Como não se vislumbra no tempo de uma geração a derrota do capitalismo, a revolução democrática exige o poder mas, ao mesmo tempo, confronta-se com a dificuldade de esse poder ser obrigatoriamente limitado.
As classes economicamente dominantes não ficarão indiferentes.
Veja-se, por exemplo, as campanhas ferozes na América latina contra os governos progressistas e os partidos que os suportam.
O bloco histórico constituído em torno da oligarquia neocapitalista
ainda hoje domina a intelectualidade orgânica do bloco democrático.
Esta, sem desprimor para muitos casos, remete-se muito para a propaganda tradicional ou o “esclarecimento” de há décadas.
Não entusiasma, não mostra novidade e, assim, ainda não ganhou para o “novo” bloco histórico as largas camadas
objectivamente anticapitalistas (trabalhadores, reformados, desempregados, jovens que nunca acederam ao mercado de trabalho, minorias, etc).
Muito menos lhes facultou meios de informação e reflexão sobre uma revolução democrática.
Entretanto, a vida política reduz o eleitor a um papel pendular,
votando sobre questões conjunturais
ou, pior ainda, por questões de marketing ou clubismo partidário.
O capitalismo neoliberal não oferecerá uma nova democracia.
Pelo contrário, cada vez mais reduzirá a que temos,
como instrumento autoritário para sujeição das classes trabalhadoras à chamada desvalorização interna.
O outro lado da questão é a luta.
Temos de a perseguir, mas ainda com muita coisa em aberto:
que forças sociais se podem mobilizar?
quais as tensões dialécticas que se porão em jogo?
qual o papel de partidos ou de outros agentes políticos?
A luta política tradicional com objectivos quantitativos é indiscutivelmente importante, mas não concentra o foco no essencial:
o combate ideológico à hegemonia do capitalismo neoliberal,
ao “pensamento único” e à alienação dos cidadãos pela “ordem natural das coisas”;
e a reconstrução da democracia, como expressão efectiva da cidadania nos nossos tempos,
de pessoas com recursos tecnológicos, comunicacionais e informativos até há pouco inimagináveis.
Hoje, com posições ideológicas, políticas e económicas extremadas, principalmente na Europa,
as forças mais conservadoras conseguiram que uma larga maioria dos cidadãos aceitasse como senso comum, acriticamente, a sua “ordem natural das coisas”.
É um facto que não devemos esconder.
Um projecto revolucionário de transformação do sistema democrático defronta-se com grande resistência e exige uma ampla frente democrática, forte e principalmente estável.
Mais uma vez, a revolução do 25 de Abril nos serve de lição, com o seu refluxo contra-revolucionário em grande parte às divisões que se instalaram entre os militares de Abril após o 11 de Março.
É manifesto o desejo dos eleitores de unidade política de esquerda
. Para fugir à ambiguidade da categoria esquerda, hoje, aproveito o título deste tema, unidade para a revolução democrática.
Não me parece que seja abusivo, porque não creio que uma nova democracia, nascida revolucionariamente, não venha acompanhada por um conteúdo de verdadeira esquerda, no plano económico, social e cultural.
Na prática, e para além de idiossincrasias partidárias,
a unidade tem estado muito condicionada por factores conjunturais que não dizem directamente respeito à revolução democrática:
a posição em relação à União Europeia,
a questão da dívida,
a defesa do estado social de bem-estar.
No entanto, tenho para mim que as novas atitudes dos eleitorados europeus, a congregar quase espontaneamente vontades unitárias, não se justificam tanto por essas matérias.
Antes por um sentimento de desgosto do eleitorado,
alimentado pelos vícios da democracia representativa,
pela partidocracia, pelo carreirismo político,
pela promiscuidade de relações entre a política e os negócios.
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Fundo de Activos ou Pacote de Indemnizações?
Depois de ter sugerido a Jack Lew que a Europa poderia «ficar com Porto Rico na zona euro, se os Estados Unidos estivessem dispostos a levar a Grécia para o dólar», e de surgir no Conselho Europeu do passado fim-de-semana a hipótese de transferir um fundo de activos gregos (no valor de 50 mil milhões de euros), para uma instituição independente no Luxemburgo, gerida por um banco estatal alemão que tem o próprio Schäuble como chairman e Sigmar Gabriel (líder do SPD e responsável pela pasta da Economia) como vice-chairman, o ministro das Finanças alemão veio ontem dizer que cabe ao governo grego encontrar uma «solução de financiamento temporário para a Grécia», tendo em vista resolver as necessidades urgentes de liquidez.
Se não vivêssemos em tempos virados do avesso, com a Europa dominada pelos interesses financeiros e bancários, em vez de exigir ao governo grego as tais ideias para a constituição do referido fundo de activos (que sirvam de garantia de empréstimos), Schäuble estaria incumbido de uma outra tarefa: a de estimar o valor do pacote de indemnizações a atribuir à Grécia, pela destruição provocada na economia e na sociedade, em resultado do fracasso das políticas de austeridade impostas ao país nos últimos cinco anos.
Aliás, se estivéssemos numa sala com políticos adultos, responsáveis pelas suas decisões e pelas consequências das suas imposições, nenhuma negociação com o novo governo grego, eleito em Janeiro, poderia ter-se iniciado sem que antes fosse feita uma avaliação muito séria do fracasso da austeridade. Mais que isso, nenhum governo europeu que se afirma socialista ou social-democrata - e que reverbera a sua oposição à austeridade - poderia ter condescendido e pactuado com o tipo de medidas impostas à Grécia no célebre «acordo» do passado fim-de-semana. Medidas que insistem no erro, prolongando e acentuando a devastação já causada, e cujo apoio por parte desses governos ditos de esquerda - mas que continuam na defensiva e incapazes de sair da toca dos calculismos - descredibiliza de uma penada, na prática, quaisquer discursos contra a austeridade e em defesa de verdadeiras alternativas para sair da crise.
(-por Nuno Serra,16/7/2015, http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2015/07/fundo-de-activos-ou-pacote-de.html )
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A visão de um dirigente destacado da ala esquerda do Syriza sobre a condução do processo negocial da Grécia
“Toda a abordagem confrontacional [seguida pelo governo grego, consistia na ideia de que] temos que jogar o jogo até mesmo, mesmo, mesmo ao fim e, em seguida, eles [governos da UE e instituições internacionais] iriam recuar, porque supostamente o dano que teriam de aguentar caso não o fizessem seria grande demais. Mas o que realmente aconteceu foi semelhante a uma luta entre duas pessoas, onde uma pessoa corre o risco de perder um dedo do pé e a outra as duas pernas.”
“[Tsipras, Varoufakis e Tsakalotos] acreditaram até ao fim que poderiam obter algo da troika, pensavam que se iria encontrar algum tipo de compromisso entre "parceiros" que compartilhavam alguns valores fundamentais, como seja o respeito pelo mandato democrático, ou a possibilidade de uma discussão racional com base em argumentos económicos.”
“Isto diz muito sobre uma esquerda que está repleta de pessoas bem-intencionadas, mas que são totalmente impotentes no campo da política real. Mas diz muito também sobre o tipo de devastação mental, forjado pela crença quase religiosa no europeísmo.”
Vale a pena ler na íntegra a entrevista de Stathis Kouvelakis ao site Jacobin.
https://www.jacobinmag.com/2015/07/tsipras-varoufakis-kouvelakis-syriza-euro-debt/
--Key Points:
The government was overtaken by the referendum's momentum.
The ideology of left-Europeanism was crippling.
Remaining unprepared for Grexit was deliberate.
The government has two main camps.
The "No" campaign was driven by class.
After the vote, Tsipras revived a discredited opposition.
The Left Platform plans to stay and fight to reclaim Syriza.
Syriza's leadership want to purge the party.
The new agreement is the worst yet.
It's unknown what resistance will follow.
Syriza's left made some errors.
But working within the party wasn't a mistake.
Falhar?
1. Como é que Varoufakis, que reconhecidamente viu o que chama de primavera grega ser esmagada pelo euro-imperialismo, ainda consegue vir apelar à democratização desse projecto regressivo de uma quase moeda mundial? Enfim, depois da tragédia política, temos, infelizmente, a continuação de uma farsa intelectual no campo da prescrição política, que já conduziu ao que sabemos. Falhar pior?
2. A tragédia não terminou, claro. Tsipras, que podia ter sido um libertador, ao estilo do saudoso Néstor Kirchner, só para convocar um exemplo progressista mais recente, optou por se inscrever na desgraçada tradição que vai de Ramsay MacDonald a François Mitterrand, só para convocar dois exemplos social-democratas dos regressivos anos vinte/trinta e oitenta/noventa. Perdeu tudo, incluindo, a fazer fé nas tendências recentes, uma grande parte do partido e as eleições por si convocadas com suposta habilidade política.
3. No meio da tragédia, a única escolha que restava aos que permaneceram fieis ao espírito do oxi era criar um novo sujeito político num contexto muito difícil, de desmoralização e de desmobilização populares: Unidade Popular. Unidade Popular contra os memorandos gerados pelo euro realmente existente. Sejamos optimistas: um novo Syriza a prazo, já que as condições objectivas que o geraram aí estão, mas sem ilusões sobre euros bons e outras farsas trágicas. Tal esforço só pode ter o apoio de uma esquerda que por cá esteja disponível para aprender sempre. Falhar melhor?
(por João Rodrigues , 7.9.15, Ladrões de B.)
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...Mitterrand decidiu seguir a linha alternativa defendida por, entre outros, Jacques Delors. Preferiu a “política de rigor” (hoje “austeridade”) orçamental e subiu a taxa de juro para atrair capitais especulativos, segurando a taxa de câmbio, desse modo travando a inflação importada e, reverso da medalha, aumentando o desemprego.
Ou seja, optou pela livre circulação dos capitais e a recuperação da “credibilidade” da França nos mercados financeiros, desiludindo as classes populares que tinham festejado na Bastilha a sua vitória e deixando cair a estratégia de desenvolvimento industrial já iniciada.
A competitividade viria da “contenção salarial” em vez da desvalorização da moeda.
Esta guinada política foi então justificada pela necessidade de “fazer uma pausa e comprometer a França com o caminho da integração europeia”
para, mais tarde e numa escala superior, se acabar com a especulação através da criação de uma moeda única e da coordenação de outras políticas que levariam à convergência real das diferentes economias.
A conquista da confiança dos mercados ficou selada com a reprivatização dos bancos e a liberalização do sistema financeiro francês.
O drama de Tsipras, na noite do referendo que permitiu aos gregos recusar a chantagem e dizer NÃO aos Memorandos, foi estruturalmente semelhante ao de Mitterrand naquela noite de 1983.
A sua formação cultural e política foi, tal como a de Mitterrand, profundamente marcada pelo ideal do europeísmo,
pela confusão entre nacionalismo e soberania e por um entendimento da globalização que tolhe a iniciativa transformadora à escala nacional.
Tendo que escolher entre a ruptura com um projecto europeu que reconhece ser antidemocrático e prejudicial ao povo grego
e a manutenção da Grécia num espaço político supranacional, à espera de melhores dias,
Tsipras foi fiel aos valores do europeísmo que defendeu nas eleições para o Parlamento Europeu.
A votação do próximo dia 20 é apenas o começo de uma nova etapa na vida política grega. Tsipras bem pode dizer que não tinha alternativa.
Ser-lhe-á lembrado pelos ex-camaradas no Syriza que, em momentos cruciais, um dirigente político lidera.
Um líder não se sente obrigado a seguir a opinião pública dominante no momento.
Encurralado, fez bem ao propor um referendo (por más razões, porque esperava perder para obter um mandato de capitulação, mas o 'NÃO' ganhou)
e, depois, tinha a obrigação de ser consequente com o resultado, recusar a austeridade fazendo a pedagogia da saída do euro.
Mitterrand ficará lembrado por ter metido o socialismo na gaveta.
Tsipras será lembrado por ter dado o golpe de misericórdia no europeísmo de esquerda.
(O meu artigo no jornal i)- por J.Bateira, 4.9.15, Ladrões de B.)
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